terça-feira, 24 de agosto de 2010

Bom Dia


Eles eram a água e o vinho. Ela era o vinho, um bom vinho, com qualidades nobres, um vinho jovem, por assim dizer, mas, mesmo assim, um vinho de grande qualidade.  Um vinho de uma família nobre, orgulho por suas qualidades, como todo o bom vinho, exigiria do seu degustador uma tripla habilidade e uma extrema sensibilidade: exige o olhar, o nariz e a boca, esses três, sem falta. Mais do que três sentidos, requer-se sensibilidade dos três sentidos, sensibilidade extrema, não basta sentir, não basta ver, não basta cheirar, é preciso uma conjunção quase sobrenatural para compreender o que se vê, o que se cheira, o que se sente. É isso que esse vinho exige, como uma mínima moralia existencial, ou seja, ou o degustador tem essa habilidade ou perdeu de provar o melhor dos vinhos. O vinho é a bebida dos deuses para alguns, cultuado e adorado por gerações, passou pela idade da pedra, pelos egípcios, pelos cânticos chineses (receitando-o para aliviar a tristeza). E ela era o vinho que via em outras famílias de vinho a qualidade, a nobreza e o retinto igual ao seu, vinhos com traços jovens, verdes, por assim dizer, com um bouquet jovem, que precisariam ainda de tempo para saber se se tornariam um bom vinho ou eram apenas um vinho. Dela, todos sabiam, a espécie de uva e a cepa que pertencia, seu bouquet encantava a todos revelando traços que só esse vinho tinha, nenhum outro seria capaz, por isso vivia entre os melhores vinhos e assim seguia, de garrafa em garrafa, de bouquet em bouquet procurando uma conjunção capaz de produzir uma uva e um vinho superior. Ele era a água, observava com distância tudo, invejando-a por suas qualidades, sem que pudesse se aproximar, afinal era simplesmente uma H2O, duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio, era facilmente trocável por qualquer outra bebida que se fosse encontrada à mesa, bastava um daqueles refrigerantes, aos quais alimentava uma ojeriza incrível, que seria trocado. Diferente do vinho, quando muito era insípida, inodora e incolor, qualidades precípuas de uma boa água, mas que, em geral, não correspondem as qualidades apresentadas. Ficava extremamente triste por não ter degustadores em seu entorno, debatendo suas qualidades, sua família, seu bouquet. Aliás nem bouquet tinha, o que deixava a água extremamente entristecida. Ela nutria uma admiração e paixão por aquele vinho, que deixava todos à mesa estupefatos. Essa atitude gerava riso entre os outros vinhos. Ela, que era um vinho nobre, olhou com bons olhos o amor da água, mas sentia não poder corresponder, por ser um vinho. Não menosprezou ou fez troça do amor d’água, apenas não via compatibilidade. A água seguia indelével no seu desejo de estar com aquele vinho, sabia que tinham diferenças, que eram diferentes, mas e daí, por que não a água com um vinho? O vinho começava, pouco a pouco, a acreditar numa conjunção improvável e dessas improbabilidades o vinho começou a querer estar com a água. Num dia desses, desses que são tão mágicos que não precisam ser datados, ela foi de mansinho e ingressou na garrafinha d’água, misturaram-se e, dizem os especialistas que presenciaram o fenômeno, que ali surgia o melhor vinho já conhecido na história. Os outros vinhos caíram em inveja, as águas disseram que aquilo seria fugaz, mas até hoje, dentro de uma dimensão de tempo, que só os deuses sabem contar, essa conjugação permanece intacta, alimentada pelo amor entre o vinho e a água. Te amo.

Beijos, Hector

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Eu, tu, ele

"(...)Sei pouco de ti, apenas suspeito da tua existência desde quando descobri que nem eu nem ele éramos os donos de certas palavras. Como se tivesse percebido um espaço em branco entre ele e eu e assim - por exclusão, por intuição, por invenção - te adivinhasse dono desse espaço entre a luz dele e o escuro de mim. Tateias, também? De ti, quase não sei. Mas equilibras o que entre ele e eu é pura sombra."

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

cinza

preciso fazer tudo logo, logo, logo pra ver se o tempo
passa, deve ser o caio me afetando eu não sinto mais vontade de pontuação
tô me obrigando a colocar vírgulas onde não quero "virgular" talvez me
sinta assim ofegante queira dizer tudo emendado grudado colado sem sentido
nem respiração parece agora que és meu blog pessoal parece que me sinto à
vontade pra compartilhar todas as coisas que eu sinto mesmo quando falta a
respiração pros pensamentos (seria respiração mental o espaço entre um
pensamento e outro?) mas sei que contigo me sinto em casa sofá fofo chá na
mesa pés pra cima e tu aqui como se fosse meu psicólogo (respiração mental)
mesmo eu sabendo que és meu companheiro nunca em sã consciência teria a
cara de pau de dividir contigo essas coisas que tô dividindo agora
(respiração mental procuro processo respiração mental mordo a borracha abro
a bala tiro a pulseira reclamo do esmalte descascado abro página computador
lento respiração mental batuco a régua merda de computador lerdo que não
anda merda de tarde cinza que não azula nunca merda de cabelo molhado que
eu não posso prender respiração mental não posso falar tanto palavrão assim)
sinto sua falta sem ponto nem vírgula nem nada que separe todas as razões
de só querer estar contigo nessa tarde cinza nesse dia frio nesse cais
vazio nessas nossas tantas razões de querer e de gostar e de valorizar que
eu já perco tudo perco a vírgula perco o ponto perco o trilho o caminho a
vontade e escrevo já e que vá pro raio que o parta se reclamarem que estou
escrevendo respiração mental não devo mandar todos ao raio que os parta ia
ficar feio eu gosto daqui gosto do sol na cabeça do cais brilhando atrás de
mim de ver teu sorriso às seis quando me esperas descer as escadas do
antigo prédio amarelo quando trazes balas ou quando eu escrevo mil bilhetes
que nunca te entreguei talvez porque sejam tão sem sentido que eu teria
vergonha que tu os abrisse ainda mais na minha frente respiração mental
porque tens a mania de abrir meus bilhetes na minha frente aí fico roxa
azul e já não me aguento mais de tanta vergonha acho tudo que escrevo bobo
feio estúpido estúpido sem sentido como tudo o que escrevo agora e não sei
porque clicarei naquele botão que diz "send" ali em cima e te enviarei
todas as minhas loucuras respiração mental talvez minha cabeça não esteja
mais pensando e sim só os meus dedos digitando e vejo carro placa carro
placa computador flor mesa café maçã mulheres trabalho trabalho papel
processo processo óculos uma mancha de dedo nos meus óculos só não vejo a
ti procuro em todos os lados e tu és a única coisa que não encontro nem na
mesa nas cadeiras nas plantas nas estantes nos livros na carteira nos
processos nos papéis nos colegas nos monitores nas maçãs nem nos cafés só
te vejo aqui e isso merece um ponto pra separar de todas as outras
maluquices porque talvez seja a única coisa mais sã que possa aparecer
entre tantas as bobagens que estou escrevendo e dizendo que bobagem mas que
mesmo assim vou enviar de qualquer jeito. só te encontro em mim. 

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ando

"Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis."

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

15 minutos

As tardes estão cada vez mais corridas. A vida passa bem debaixo do meu nariz e mal tenho tempo de senti-la passar por mim, não tenho tempo de sentar e observar o sol descer, nem nascer, nem brilhar. Minha frase favorita - ou, se não favorita, ao menos a mais utilizada - tem sido "NÃO TENHO TEMPO". Não tenho tempo de dar um longo abraço em quem eu amo ao me despedir, nem de me perder na cama por mais quinze minutos ao acordar, nem de me pegar lendo um livro no meio de uma tarde de sol na beira do cais. Não tenho tempo, corro de um lado para o outro sem tem a mínima ideia de onde quero chegar. E, quanto mais corro, mais me sinto perdida. Menos vejo sentido em todos esses papéis, em toda a burocracia, rituais e pequenos sacrifícios a que me submeto. Porque se a vida é feita de pequenas delícias, pequienos prazeres, tenho morrido sozinha nos meus pequenos sacrifícios. É o tempo que me falta para o abraço, para o beijo, para dizer eu te amo, para dizer eu sinto sua falta. Falta da minha casa, dos meus livros, de andar de pijama, da minha amiga com quem eu ando tão relaxada. Ela é o que mais me dói em toda a correria, é a parte que mais me machuca de toda essa vida passando assim. É dela que eu sinto falta quando viro as costas à essa montanha de papéis inúteis e que não me trazem nenhuma felicidade. É dela que eu sinto falta, quando viro as costas e vejo, logo atrás de mim, o cais a brilhar e as lembranças nossas que ele traz, suaves como a brisa e devastadores como o mar.

E volto ao trabalho.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

caio

"Eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada só olhando e pensando meu deus mas como você me dói de vez em quando"

domingo, 1 de agosto de 2010

Sunny



P.S.: you make the sun come up on a cloudy day.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Teresa

Com aquela caneta azul, que rabiscava o vidro, rabiscava em mim, voltava ao vidro, ao espelho, escrevia em meu corpo, me desenhava corações, escrevia em si próprio, voltava ao vidro, apagava para reescrever. Com aquela caneta azul, com aquele rabisco em mim, me senti Teresa. Como parte de um livro, um livro escrito em mim, com as páginas perdidas pelas paredes do nosso banheiro, a história misturada com o cheiro do nosso apartamento, o sabor em nossas taças de cristal com o resto do vinho da noite passada, com a vela perfumando o ambiente e o sol entrando por aquela fresta tímida que ele fazia questão de tapar para me proteger dos olhares curiosos. Com um pequeno rabisco, me senti viva. Um desenho no peito, um número, um coração e me senti Teresa. Realmente o centro de alguma coisa, talvez por uma única vez.

E quem sabe eu vá desistir disso aqui para me tornar Teresa. Para deixar que ele escreva toda a sua história em nossas paredes, em nosso chão, nas nossas taças, nossos livros, em mim.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Apaixone-se

"Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada dois em um: duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.  
Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto. Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém."

( John Lennon )

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Baby I Love Your Way




Uma música maravilhosa embalando um final de semana maravilhoso.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Fragmentos disso que chamamos de "minha vida"

"Há alguns anos. Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos.

Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania."

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ordinary World

 
"What is happening to me?
Crazy, some'd say
Where is my friend when i need you most?
Gone away

But i won't cry for yesterday
There's an ordinary world
Somehow i have to find
And as i try to make my way
To the ordinary world
I will learn to survive"

(Duran Duran)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Cinza

Hoje o céu pode estar do azul que quiser. Pra mim, ele ainda estará cinza.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Veja Bem, Meu Bem

"Enquanto isso, navegando vou sem paz.
Sem ter um porto, quase morto, sem um cais.


E eu nunca vou te esquecer amor,
Mas a solidão deixa o coração neste leva e traz.


Veja bem além destes fatos vis.
Saiba, traições são bem mais sutis.
Se eu te troquei não foi por maldade.
Amor, veja bem, arranjei alguém
chamado "Saudade'."

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Será

Deve ser amor o nome dessa pontinha doída no meu coração. Deve ser amor o que me faz olhar mil vezes para a mesma janela, abrir mil vezes a mesma porta, mesmo sabendo que não há ninguém ali. Deve ser amor o nome que se dá à essa esperança de te encontrar em cada esquina. Deve ser amor o nome que se dá ao meu sorriso bobo e meu coração quase pulando fora do peito. Deve ser amor o nome de todas as formas como eu te olho e como te imagino e como sonho que seremos nós. Deve ser amor o nome de toda a vontade de te ver e também deve ser amor o nome daquela contagem dos dias que eu faço pra te reencontrar.
Deve ser amor tudo isso que eu sinto. Deve ser de amor tudo isso que eu falo.

Mais que amor, isso se chama saudade.

O Ritmo da Chuva


"Olho para a chuva que não quer cessar
Nela vejo o meu amor
Esta chuva ingrata que não vai parar
Pra aliviar a minha dor

Eu sei que o meu amor pra muito longe foi
Numa chuva que caiu
Oh, gente! Por favor pra ela vá contar
Que o meu coração se partiu

Chuva traga o meu benzinho
Pois preciso de carinho
Diga a ela pra não me deixar triste assim...
O ritmo dos pingos ao cair no chão
Só me deixa relembrar
Tomara que eu não fique a esperar em vão
Por ela que me faz chorar 
(...)"

domingo, 11 de julho de 2010

Luz Negra

Pedida pro fim de sábado é o meu dvd novinho da Fernanda Takai. Lindo, gostosíssimo e que vou deitar pra assistir do início ao fim, com direito a todos os extras. Vai faltar o vinho, faltar aquela companhia, mas uma voz suave e músicas bonitas já são suficientes para encher uma sala de poesia e o meu coração de felicidade. O dvd chama Luz Negra e, como eu não entendo porra nenhuma de música, não sei dizer quais notas com inspiração de fulano de tal e quais melodias com inspiração em qualquer-estilo-musical-que-não-sei-de-onde-veio-em-1950. Só sei que são letras bonitas, algumas regravações de Nara Leão, um pouquinho de Roberto Carlos (resumindo, um deleite pra minha humilde opinião musical) e que ela, com a voz macia que tem, faz ficar delícia e com uma perspectiva nova algumas antigas conhecidas e me faz apaixonar por mil outras desconhecidas. Vale a pena dar stop na rotina pra aproveitar esse momento.

Já postei duas outras desse dvd. Mais uma não fará mal a ninguém.



"A saudade me dói, o meu peito me rói
Eu estou na cidade, eu estou na favela
Eu estou por aí
Sempre pensando nela."


P.S.- só vai faltar você.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

É (2)


Somos como bêbados que juram saber a hora de parar. Será que sabemos?

terça-feira, 6 de julho de 2010

Janela

Ela espera, observando a rua vazia através da janela. Ela vê a neve esbranquiçar o pátio, o sol sair, as folhas caídas pela grama verde, o desabrochar das flores... E o tempo vai passando. Ela espera, mesmo sem nunca ter declarado que lhe esperaria, não deixa um dia de ir até a janela e se flagrar fitando os carros que param por aí, na esperança de ver aquele rosto descer de braços abertos e malas na mão.
Ela espera mesmo tendo dito sempre não. Ela quer mais, o mais que nunca demonstrou que desejava e o mais que nunca soube se ele seria capaz de lhe dar. O mais que a enche de vida, que rubra a face, esquenta as mãos e faz as veias saltarem animadas na expectativa de ver a porta abrir a qualquer momento. As cartas se acumulam, as folhas caem no chão e as do calendário caem igualmente, arrancadas com raiva de tanto esperar por algo que ela sabe que nunca vai chegar - mas que, mesmo assim, espera.

Nas suas mãos, um bilhete amassado; no seu coração, partes de um todo desmoronado. No papel amarelado, a tradução de um sentimento em cacos. No papel, amassado, velho e meio apagado, duas frases: "Você não veio amor, você já me esqueceu."

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dura Na Queda

Perdida
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural


Esquinas
Mil buzinas
Imagina orquestras
Samba no chafariz
Viva a folia
A dor não presta
Felicidade, sim


O sol ensolarará e estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

O sol ensolarará e estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas


Bambeia
Cambaleia
É dura na queda
Custa a cair em si
Largou família
Bebeu veneno
E vai morrer de rir

Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chorar


O sol ensolarará e estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol,a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

O sol ensolarará e estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol,a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

Você Já Me Esqueceu


"Você já me esqueceu
E eu não vejo um jeito de fazer você lembrar
De tantas vezes que eu ouvi você dizer
Que eu era tudo pra você

Você já me esqueceu
E a madrugada fria agora vem dizer
Que eu já não passo de nada pra você
Você já me esqueceu"

Se

"[...] Se agora eu choro, é porque toca Chico. Se é Chico, eu choro porque ele é a terceira pessoa de nós dois. O tradutor dos meus imensos - confusos, porém imensos - sentimentos. A razão de eu te escrever hoje, a razão de eu agradecer pela tua presença não só no meu caminho, mas no meu coração. Mais uma das razões de tanto te querer, cantando com afeto no meu ouvido.

P.S.- serás o meu amor, serás a minha paz."

domingo, 4 de julho de 2010

Trevo de Quatro Folhas


Vivo esperando e procurando
Um trevo no meu jardim
:)

Nova Postagem

Abri essa janelinha sem saber direito o que quero dizer. Não lembrava como meu cachorro era maravilhoso, até sair pela Avenida mais uma vez com ele, o meu companheiro. Não lembrava mais como era bom colher os maracujás do pé que tem nos fundos da minha casa, chegar em casa e ver que realmente são frutas e cheirar e tatear e fazer um ótimo suco. Não sabia mais como era bom passear pela areia com uma tarde ensolarada, fechar os olhos ao caminhar contra o sol. Ah, o sol.... Enfeitou a tarde. 
E acho que é só isso que eu queria dizer. E precisaria de algo mais?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Hoje

Há tantas coisas que eu preciso lhe dizer... Tantos sentimentos que me sufocam nessa madrugada fria e me impedem de fechar os olhos em paz. São tantas as emoções que bombardeiam esse coração meio esfolado e tanto batido, que não consigo me focar em traduzir essas badaladas dentro do meu peito em palavras compreensíveis, como um sino prestes a desmoronar uma catedral inteira com sua vibração intensa. Não sei o que fazer com tantos sentimentos - aqueles nossos velhos conhecidos, alguns novos e alguns, apesar de velhos, tão repaginados que quase irreconhecíveis. Não sei como lhe expressar o que eu penso hoje, não sei lhe traduzir racionalmente as memórias e as projeções que se confundem dentro de mim.

Me perdi do tempo real, não sei mais se sou presente, passado ou futuro..Perdi as contas e as medidas dos sonhos, perdi a noção da realidade nem que seja por alguns minutos, onde eu deito com a cabeça no travesseiro e algo ecoa tão fundo quanto o sino do meu peito, são os pensamentos dentro da tentativa de esvaziar a minha mente. Eles me relembram que, apesar de tudo, você está lá, e não me culpe se só por hoje eu não tiver a mínima ideia do que quero fazer com você ou com o caos que habita o meu corpo. O caos me habita e nenhum lugar melhor pra se refugiar do que na cama, ao som da chuva, tentando compreender e organizar essas milhares de coisas que se estendem bagunçadas pelo chão dos meus pensamentos. Piso em tudo, nos pensamentos, em mim, nos sonhos, nas vontades, recuo e avanço, não sei mais onde estou, não sei mais pra onde vou nem como quero chegar lá. Hoje eu perdi um pouco da noção das coisas, perdi noção do linear e daquilo que quero fazer com tantas projeções de linhas que vivo a traçar e rabiscar e redefinir em busca de rotas alternativas e mais interessantes.

Hoje eu não faço ideia do que eu quero dizer. Estou em tempo psicológico, totalmente sem ordem. Talvez seja, pela primeira vez, meu coração tentando falar. O coitado ainda tem muito o que arrumar, mas nada com uma boa dose de inspiração para iniciar uma reforma. Hoje vou dormir com chuva, os pingos artificiais tão aleatórios e desordenados quanto os pensamentos que pingam dentro de mim - e quem sabe são aqueles que fazem as imagens mais bonitas. Os frutos do tal acaso, de que eu fujo tanto. 

P.S.- pra quem também não consegue dormir, sugiro minha chuva artificial!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Linger



"But I'm in so deep. You know I'm such a fool for you.
You got me wrapped around your finger, ah, ha, ha.
Do you have to let it linger? Do you have to, do you have to,
Do you have to let it linger?"

The Cranberries

terça-feira, 29 de junho de 2010

Um Ano!

Hoje esse espacinho completa um ano de rotina. Rotina de riso, de choro, de fossa, de comemoração, de encanto e desencanto. Hoje esse site completa um ano da nossa rotina. Aquela rotina do coração, que a gente mal percebe se não for documentada. Bem, talvez seja a hora de dizer que a ideia do blog surgiu a partir de um pé na bunda, como um modo de desabafar e também como maneira de perceber como mudamos, crescemos e superamos todas aquelas coisas que acreditamos insuperáveis em um determinado momento de nossas vidas. Olho meus textos, de um ano atrás, e não reconheço nada além da minha veia explosiva característica, pois já não há mais aqueles sentimentos como também não há mais algumas pessoas e fatos na minha vida.
O interessante é dar data aos sentimentos e, para alguém que nunca se comprometeu com nada, o mais interessante é registrar e criar mais uma rotina - aquela de olhar para dentro, analisar e exteriorizar os sentimentos. Finalizo um ano admirando a capacidade que tive de me comprometer com a ideia de registrar meus sentimentos, seja para lembrar de como eram bons, seja para entender que tudo passa e que não devemos dar mais importância às coisas do que elas realmente merecem ou seja somente para dar umas risadas pensando em como já falei bobagens.
Um ano... quem diria.

:)


P.S.- Obrigada, Liana, minha parceira de empreitada.

Nem em vão


Quando não se espera mais por nada, quando as expectativas estão esgotadas
As respostas desafiadas,
O tempo passa lentamente
E a vida assusta, nos prega peças nas nossas rotas mal traçadas
O que era errado fez sentido, parece certo se vem do coração
A inspiração vem dos dedos frios da solidão
Vem da tristeza dos dias corridos dessas calçadas
Vem da respiração ofegante da ansiedade de ver seu rosto no meio da multidão
Vem das surpresas escondidas nos sinais que se pintam de vermelho
Para chamarem a minha atenção
De que nada nessa vida é por acaso e nem em vão

domingo, 27 de junho de 2010

Under Pressure



"Insanity laughs under pressure we're cracking
Can't we give ourselves one more chance
Why can't we give love that one more chance?
Why can't we give love give love give love give love
give love give love give love give love give love
'Cause love's such an old fashioned word
And love dares you to care for
The people on the edge of the night
And love dares you to change our way of
Caring about ourselves
This is our last dance
This is ourselves
Under pressure"


Estou ouvindo essa versão maravilhosa do dvd Rock Montreal, de 1981.
P.S.- I love you

Resumo

É muito ruim convidar a família para ir a um bom restaurante no domingo e ser obrigada a ouvir que só faço isso pra controlar as pessoas, pra mante-las à minha disposição.

Às vezes sinto vergonha dela.
Perdoai, papai do céu, pois ela não sabe o que faz.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

drops

"Estamos próximos mas estamos há uma distância incomensurável, estamos próximos mas estamos sós."

Ernesto Sabato

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Desses Tantos Modos

"Hoje acordei querendo mais você. Tudo que meu coração pede é você. Tudo que meu corpo quer é você. É com você que eu quero brigar durante dois segundos. É por você que quero morrer de ciúmes. É com você que quero ser normal. Deixe-me ser imperfeita para você. Não quero ser alguém que se encaixe nos seus sonhos. Eu quero ser eu. Aceito ser imperfeita, não aceito ser incompleta. Você me completa. É…me completa, sabia? Mesmo quando eu quero a terra e você o mar. Mesmo com minha vida fast-food e seu arroz com brócolis (não ria!)… Porque quando você quer, eu quero também. Porque quando eu choro, você chora também. Porque quando você me quer, eu te quero mais. Porque eu sei que quando eu penso em você, você está pensando em mim. Porque você é a certeza de todas minhas incertezas. Porque amo seu coração maior que 1.88m. Porque fiz as pazes com o meu coração que me trouxe você, e fez tudo ficar infinito.
Ainda que eu quisesse… Ainda que eu pudesse, já não consigo voltar, porque tudo sem você é vazio, e absolutamente nada consegue ser colorido.
Obrigada pelo brilho nos olhos e a paz no coração.

[E ainda bem que a gente tem a gente]
 
ps: quem disse que minha havaiana não combina com seu bermudão? ;)"


terça-feira, 22 de junho de 2010

Bossa

"Uns são mais
Coordenados, determinados
Obcecados
E outros atrás
Vão levando a vida
E quem ousa dizer
Que é pior?
(...)
Hei!
Você que sabe tudo
Me diga como perguntar
Se eu não sei
Você que pensa em tudo
Me mostre o quanto pode amar."
(Cidadão Quem)

há quanto tempo não ouvia essa música... por isso ela merece um espacinho aqui hoje.

Voltei A Cantar


Hoje eu saí mais cedo. Pude ver o sol, ver um coelho fugindo do viveiro na praça e pude ver o mesmo coelho voltando ao viveiro de onde saiu. Pude ver uma pomba que tinha uma perna só. Pude ver uma menina cantando pelo centro que, assim como eu, cantava Chico. Pude ver o cais, o sol beijando a água, a reflexão dos pássaros que voavam indo pra qualquer lugar. Pude rever minha biblioteca, voltei ao lugar que já tanto me mostrou e fiz todas essas coisas em meia hora. Hoje eu posso dizer que vivi, de verdade, meia hora do meu dia.
Voltei a cantar, cantei e cantei e cantei pelo meio da rua, me espreguicei bastante no sol, comi bregeré no banco da praça, passei pelas crianças vestidas de caipira, dancei um pouco mais com o meu amigo sol. Eu já sentia a falta dos seus beijos no meu rosto, nos meus olhos fechados. Sentia a falta da sua luz me esquentando como um abraço carinhoso e que me faz sentir menos a falta dos abraços carinhosos que tanto me faltam.
Voltei a cantar. E cantei muito mais enquanto vinha pra casa. Estudarei cantando, feliz por estudar e mais feliz ainda por cantar. Feliz por esse tal de tempo que hoje a tarde de mostrou ao meu lado. Feliz por poder abrir tranquila um livro e poder dedicar meu tempo a algo que eu quero mesmo fazer. Minha voz se libertou do silêncio burocrático daquela sala em meia luz, por meio turno. Abençoado seja o meio turno. Graças a ele, minha voz saiu. E agora, ninguém mais a segura.

"Voltei a cantar
porque senti saudade
do tempo em que eu andava pela cidade
Com sustenidos e bemóis
Desenhados na minha voz
E a saudade rola, rola
Como um disco de vitrola
Começo a recordar
Cantando em tom maior
E acabo no tom menor"
(Chico)

P.S.- nosso cais, Liana. Ele ainda nos espera.

Daqui a um mês

Daqui a um mês você vai acordar e poder enxergar o sol novamente. Vai abrir os olhos com um pouco de dificuldade, o sol vai invadir de surpresa o seu quarto, como eu lhe disse que aconteceria - e você nunca quis acreditar. Seu apartamento vai estar completamente arrumado e outro alguém vai enfeitar sua mesa com flores, sua vida com flores. Daqui a um mês, você vai sair de casa e enxergar outras pessoas. Vai enxergar outra vida, outras formas, outras cores. Daqui a um mês você vai finalmente me dar razão. Vai correr no Parcão, vai voltar à bossa nova sem rastro de melancolia, vai sorrir e não se preocupar com o cabelo bagunçado por algum tempo. Vai esparramar seus livros pelos lugares que eu ocupava, até que - daqui a um mês - outro alguém venha se espreguiçar naquela cadeira onde só eu gostava de dormir. Daqui a um mês, você vai ouvir Gardel e não mais querer dançar comigo. Vai descobrir outro caminho. Vai ser feliz.

Daqui a um mês, Chico vai lhe sussurrar enquanto alguém vai preparar um bolo com açúcar, com afeto. E esse alguém vai usar meu avental, já um pouco empoeirado, onde não restará nenhuma marca de que algum dia passei por ali. Daqui a um mês, você escolherá um novo apartamento. E pintará sozinho as paredes com as técnicas que lhe ensinei, e você nem lembrará onde foi que aprendeu; vai escolher novos móveis, novas telas, vai colorir sua casa com novas flores que não as que eu costumava comprar. Daqui a um mês você nem vai lembrar do meu nome. Mal vai conseguir lembrar do modo como eu arrumava seus cabelos.

Daqui a um mês, você vai adotar um cachorro. Vai pensar em casar e ter um filho. Vai finalmente crer que é hora de se ajeitar. Vai dispensar a vida solitária e abdicar de uma prateleira de livros para os perfumes de outra mulher. E nenhuma mulher vai preencher a sua casa como eu jamais preenchi, mas isso não importa, pois você não lembrará mais de mim. Daqui a um mês, você será pai. Você rasgará os planos que algum dia fizemos juntos, sob a luz da mais bela lua que já teremos visto. Você vai abrir um livro e lá estarei eu, uma página amarelada e esquecida, com algum bilhete anotado, um rabisco em tinta preta e algumas manchas de lágrimas pingadas. Pode lhe render algumas memórias, boas risadas, mas nunca valerá por uma história de verdade. Você vai olhar para os lados, agradecer pela vida que tem e pelos caminhos que algum dia nos separaram.

Daqui a um mês pode ser daqui a um ano ou daqui a uma década. Mas, certo dia, você vai acordar e não vai sentir minha falta ao seu lado. E, finalmente, você não vai me perceber. E vai ver que a nossa história não passou de um raio, que partiu o céu, estremeceu o chão e se foi sem deixar vestígios. Como um flash.

P.S.- mas eu lhe garanto que mulher alguma usará meu perfume ou lhe dará flores tão belas.

Defenestrar

Atirar pela janela todas as coisas pesadas que me consomem, pra bem longe aqueles medos que eu nunca consigo superar, atirar toda a raiva pela janela. Queria jogar tudo por ela e me reconstruir, reciclar um coração, reciclar minhas ideias, minhas atitudes. Renovar lindamente o armário da minha mente, comprar-lhe uns sapatos bonitos, casacos coloridos e muitos óculos de lentes para enxergar o mundo cor-de-azul (porque rosa é terrível, convenhamos).E, se eu não gostar, lá vou eu jogar tudo fora mais uma vez.
Fazer aquele vuuuuuuuuuuuuush cinematográfico pela janela. E na minha cena, seriam desde aquários a pessoas voando em slow motion cenário afora. Cada vez mais eu vejo que é necessário me reformar, comprar um closet novinho pra minha alma, sem essa de querer guardar o que ainda pode ser usado "algum dia desses". E vou repaginar minha vida, vou mudar meus conceitos, vou ver o mundo por outro ângulo, vou aumentar o grau dos meus óculos, vou pintar as unhas de outra cor, vou beber aquilo que nunca bebi antes, vou escrever e escrever e escrever e vou me dedicar a qualquer coisa que me faça feliz. Vou despirocar geral.
Virar meio hippie, vou vender colar na Avenida, não me importa. Vou brincar de ser feliz um pouquinho. Vou matar um dia de trabalho, vou atrasar meu relógio alguns minutos, vou trocar as músicas que eu ouço, vou deixar o preto de lado e vou brincar um pouco de me refazer. Me desfazer, desmontar, arremessar longe e fazer de novo. Tudo de novo.

E o mais legal é que quem me conhece sabe que eu não vou fazer porra nenhuma. Vou continuar aqui - de preto, meio cega, pontual, com as unhas esquisitas e do meu jeito simpatiquinha. Sempre inerte, com a esperança de que algum dia alguma onda gigante venha, me acerte e me arraste pra qualquer lugar. Qualquer um.

Por Perto



"Pode ser numa canção
Pode ser no coração
Eu só quero ter você
Por perto"
(Pato Fu)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Trecho

“Vi muitas coisas. Algumas eram muito bonitas. Outras eram assustadoras. De algumas eu já estou esquecendo. Um determinado olhar, nuvens. Essas imagens ficarão comigo muito depois da luz se apagar. Como cego eu acho que vejo muito melhor do que quando tive visão. Porque eu não acho realmente que vemos com os nossos olhos. Acho que vivemos na escuridão quando não olhamos para o que é verdadeiro em nós ou nos outros ou na vida. E quando você vê o que é verdadeiro em si mesmo, então você viu o bastante. E você não precisa de olhos para isso. Você verá muitas coisa, mas elas não significarão nada se você perder de vista aquilo que você ama.”
Trecho extraído do filme "À primeira vista."

Texto

"Se um homem quer você, nada pode mantê-lo longe;Se ele não te quer, nada pode fazê-lo ficar.Pare de dar desculpas (de arranjar justificativas) para um homem e seu comportamento.Permita que sua intuição (ou espírito) te proteja das mágoas.Pare de tentar se modificar para uma relação que não tem que acontecer.Mais devagar é melhor. Nunca dedique sua vida a um homem antes que você encontre um que realmente te faz feliz.Se uma relação terminar porque o homem não te tratou como você merecia,”foda-se, mande pro inferno, esquece!”, vocês não podem “ser amigos”. Um amigo não destrataria outro amigo.Não conserte.Se você sente que ele está te enrolando, provavelmente é porque ele está mesmo. Não continue (a relação) porque você acha que “ele vai melhorar”.Você vai se chatear daqui um ano por continuar a relação quando as coisas ainda não estiverem melhores.A única pessoa que você pode controlar em uma relação é você mesma.Evite homens que têm um monte de filhos, e de um monte de mulheres diferentes. Ele não casou com elas quando elas ficaram grávidas, então, porque ele te trataria diferente?Sempre tenha seu próprio círculo de amizade, separadamente do dele.Coloque limites no modo como um homem te trata. Se algo te irritar,faça um escândalo.Nunca deixe um homem saber de tudo. Mais tarde ele usará isso contra você.Você não pode mudar o comportamento de um homem. A mudança vem de dentro.Nunca o deixe sentir que ele é mais importante que você… mesmo se ele tiver um maior grau de escolaridade ou um emprego melhor.Não o torne um semi-deus.Ele é um homem, nada além ou aquém disso.Nunca deixe um homem definir quem você é.Nunca pegue o homem de alguém emprestado.Se ele traiu alguém com você, ele te trairá.Um homem vai te tratar do jeito que você permita que ele te trate. Todos os homens NÃO são cachorros.Você não deve ser a única a fazer tudo…compromisso é uma via de mão dupla.Você precisa de tempo para se cuidar entre as relações. Não há nada precioso quanto viajar. Veja as suas questões antes de um novo relacionamento.Você nunca deve olhar para alguém sentindo que a pessoa irá te completar.Uma relação consiste de dois indivíduos completos,procure alguém que irá te complementar… não suplementar.Namorar é bacana. mesmo se ele não for o esperado Sr. Correto.Faça-o sentir falta de você algumas vezes… quando um homem sempre sabe que você está lá, e que você está sempre disponível para ele, ele se acha…Nunca se mude para a casa da mãe dele. Nunca seja cúmplice (ou co-assine qualquer documento) de um homem.Não se comprometa completamente com um homem que não te dá tudo o que você precisa. Mantenha-o em seu radar, mas conheça outros…Compartilhe isso com outras mulheres e homens (de modo que eles saibam). Você fará alguém sorrir, outros repensarem sobre as escolhas, e outras mulheres se prepararem.O medo de ficar sozinha faz que várias mulheres permaneçam em relações que são abusivas e lesivasVocê deve saber que você é a melhor coisa que pode acontecer para alguém e se um homem te destrata, é ele que vai perder uma coisa boa.Se ele ficou atraído por você à primeira vista, saiba que ele não foi o único.Todos eles estão te olhando, então você tem várias opções.Faça a escolha certa."
OPRAH

domingo, 20 de junho de 2010

Harriet

“Sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus…como você me doía! De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme…só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando!”

Caio Fernando Abreu, em Harriet.

Casinha Branca

"Às vezes você constrói uma casa. Tudo pensado com carinho. Cada cômodo, cada mobília… Você quer sua casa aconchegante, quer receber as pessoas que ama, quer ser feliz.


Com o tempo você vai percebendo que a casa é quente. Percebe que os móveis trazem desconforto por causa do calor… O fogão não está muito bom… Ou a comida fica crua ou queima. Com o tempo aquela casa se torna um pesadelo… Mas é a SUA casa. A casa que você levou tempos para construir… Então tudo é uma questão de paciência. Você compra um ar-condicionado, reforça as telhas, faz uma piscina. Todos os dias você cozinha na esperança de desta vez vai dar certo…se já deu uma vez, por que não vai dar de novo? Mas não dá…ela queima de novo ou ficou crua de novo. Você não entende por que o ar-condicionado não funciona direito. Talvez seja a instalação mal feita. Talvez seja defeito de fábrica… Mas você espera. Vai ver o dia estava muito quente.

Com o tempo a sua casa só te dá tristeza. Mas é a SUA casa. Você não quer vender… Você construiu com tanto carinho… Vai ter um jeito. O tempo vai melhorar. Você vive cada dia… Não dorme, não tem mais paz. Mas você espera, porque o tempo vai melhorar. A comida você vai acertar. Deixa o carpete, porque por mais que 90% dos dias sejam quentes, vai chegar pelo menos um dia de frio.
Você espera o frio. Você espera o tempo da comida. Você pensa em mudar… Você pensa em vender… Mas é a SUA casa. Todo trabalho, todo esforço… Não é justo. Você tem pena de se desfazer do que construiu. E você já se esforçou tanto… Você gastou tudo que tinha. Você tenta todos os dias, mas aquela casa não te faz mais feliz. Não é mais aconchegante. Não parece mais com você. Por quê? Você fez de tudo… Colocar à venda? Melhor esperar alguém que se interesse. Você não pode deixar tudo para trás… São suas esperanças… sua casa…sua vida.

Um dia você acorda suada, com fome e doente.
Escuta…Vai embora…Vai embora! Não adianta… Tudo que você poderia fazer, você já fez. Não espere o tempo melhorar. Não espere a casa voltar ao que era…Você já tentou… Talvez por falta de sorte… Não importa. Vai embora…Não fique com pena do dinheiro que gastou. Não fique com pena das noites sem dormir. Não lamente todo esforço. Vai embora! Mesmo que não tenha aonde ir. Não tente mudar os móveis de lugar. Não tente consertar o que quebrou. Não pense mais no que você pode ter feito de errado… Vai embora! Vai embora agora! Não leve nada com você, não olhe para trás…saiba desistir do que te faz infeliz.

Pessoas vão dizer que você não se esforçou.
Vão dizer que poderia ter tentado mais.
Vão dizer que a culpa é sua, porque não ouviu quem entendia mais que você.
Vão dizer que a culpa é sua, porque você é teimosa.
Vão dizer que a culpa é sua, porque você tinha que ter feito diferente.

Algumas pessoas vão te apoiar, mas nenhuma vai te oferecer abrigo.
Outras não vão saber por onde você anda.
Muitas não vão saber o que te dizer.

Só você pode se ajudar.
Só você sabe o que é melhor para sua vida.
Só você sabe de suas dores.

E só Deus vai te dar forças para começar tudo de novo."

texto retirado daqui!

O novo mês

Estou farta dessa baixaria
Dessas frases, dessas entrelinhas
Chega dessa lengalenga que finge muito bem o que quer
Chega de conversa, mole, dura, tanto faz
Não quero mais ouvir seus murmúrios, suas lamúrias, suas desventuras
Eu quero é paz,
Eu quero é mais e só

Cansei de amolação, de lamentação, de declaração barata
Eu quero é a mesa farta, a cama farta, a trama na lata
Cansei de me fingir de cega, de muda, de surda
Eu quero é gritar, chorar, escutar o que eu quiser ouvir
Eu quero é pedalar pra longe dessa farsa que você diz ser feliz
Eu quero é me esquecer do mundo que você continua a construir
Mesmo sem admitir todas essas coisas que você faz e desfaz
Sem ligar, sem achar que poderá ferir
Os corações que você esquece que habita
Ainda que há muito não faça uma visita

Vou sair pra rua, pra aventura, pra loucura insana dos meus novos dias
Hoje é o dia 1 do novo mês, do mês que eu inventei
Que você não poderia entender
O prazer de se viver na sua própria companhia
E nada melhor do que comemorar a reciclagem dos amores e das dores
Porque ninguém é de ferro, mas eu sou de mármore.

Barriletes

"Estaciones de reconstrucción
Barriletes de mi corazón
Enganchados a un poste de luz
Como aquel divino sueño azul
Barriletes de desilusión
Todo cambia y también cambio yo."

Reforma

Eu tô fechada pra reforma. Hoje é o dia 1. Há coisas demais que precisam mudar na minha vida. É demais pra mim. Me deram um tapa e eu ofereci a outra face. Mas não mais. Estou em reforma, sim. Resolvi pintar as paredes, trocar os quadros. Retirar as fotos velhas, comprar cortinas novas. Vou abrir mais janelas e perdes as chaves antigas, pra nunca mais voltar pra onde eu estava. Está na hora de perguntar mais o que eu quero. Eu nunca fui rebelde. Eu nunca me revoltei. Eu sempre aceitei as coisas como elas são. Hoje eu me sinto assim. Querendo jogar tudo pro algo. Gritar um chega bem alto! Pra que aquele que já erraram, escutem e os que pensam em errar, estejam avisados. Comigo, nunca mais. Hoje é o dia 1. O dia que eu nunca mais vou deixar alguém me machucar. Nunca mais vou deitar a cabeça no travesseiro supervalorizando um sentimento ruim. Nunca mais vou guardar mágoa de ninguém e nem pensar que a culpa foi minha. Eu vou lembrar daqueles que me fazem bem. E daqueles momentos que eu soube aproveitar. E perguntar pra todas essas pessoas que se acham os donos da verdade, super maduros e verdadeiros: Quem deu permissão pra brincarem com os corações alheios? Essas coisas deixam marcas que só o tempo pode apagar... e o tempo, ainda não passou por aqui.

Selvageria

 
Deve ser a terceira vez que sento para assistir "Ensaio Sobre a Cegueira". Um ano antes do filme ser lançado, eu tive a oportunidade de ler o livro e fiquei imaginando, constatando algumas coisas que voltei a pensar hoje, agora, enquanto o filme passa aqui na televisão. Só consigo pensar que vivemos em uma completa selvageria disfarçada de civilidade, onde qualquer empurrão, mesmo de leve, consegue desequilibrar toda a estrutura da nossa sociedade. Somos o pior tipo de animais. Não poupamos mulheres, idosos, crianças. Não respeitamos ninguém. Somos o pior tipo de animais pois somos animais pensantes e que, infelizmente, usamos os limitados dez por cento de nossa capacidade para sermos egoístas e mesquinhos - o tempo todo.
Qualquer mínima alteração em nosso ambiente e abandonamos completamente toda o revestimento humano que usamos diariamente. E quem dera essa selvageria só acontecesse em caso da cegueira branca, diante de um mundo inteiro cego e desorientado, brigando por comida e sem saber como viver. Mas nos confrontamos todos os dias com a selvageria em sua forma mais pura, bem embaixo do nariz e bem no centro daquilo que chamamos civilização. Dentro do ônibus, em encontros de estudantes, em diversas situações onde esquecemos que a educação existe e deixamos aflorar aquilo que carregamos de nossos ancestrais: mulher pelos cabelos, tacape na mão. Basta uma ou duas garrafas de cerveja, não muito mais que isso, para enxergarmos selvageria por todos os lados. Gente estúpida, mal-educada, imbecis da melhor qualidade, verdadeiros animais. Parece que ainda nem descemos das árvores.
É incrível como Saramago - mais valorizado, como todos os outros, agora que morreu - conseguiu captar a essência do ser humano e retratar de maneira tão verossímil aquilo que somos e como nos comportamos quando nossa redoma de segurança e conforto é quebrada. Mais incrível ainda é não conseguir negar aquilo que assisto no filme, de que nos comportamos exatamente dessa maneira. E o pior de tudo é sentir vergonha da raça humana, é sentir vergonha de fazer parte de tudo isso. Nos achamos tão grandes, tão superiores, espertos e inteligentes, quando na verdade somos a pior espécie de selvagens. Não poupamos os mais fracos, não protegemos uns aos outros nem nos preocupamos com nada além de nossos umbigos e nosso egoísmo besta. Somos os piores animais do mundo, sem dúvida.
Nesse exato momento o filme acabou, portanto eu acabo por aqui também. Sem saber direito onde quero chegar, sem dizer muitas coisas relevantes, sem saber porque tive essa vontade de escrever.

P.S.- e o pior de tudo é que eu sei um curso de uma faculdade que é conceito "A" em formação de selvagens.

sábado, 19 de junho de 2010

Leve

"Não me leve a mal
Me leve à toa pela última vez
A um quiosque, ao planetário
Ao cais do porto, ao paço

O meu coração, meu coração
Meu coração parece que perde um pedaço, mas não
Me leve a sério
Passou este verão
Outros passarão
Eu passo

Não se atire do terraço, não arranque minha cabeça
Da sua cortiça
Não beba muita cachaça, não se esqueça depressa de mim, sim?
Pense que eu cheguei de leve
Machuquei você de leve
E me retirei com pés de lã
Sei que o seu caminho amanhã
Será um caminho bom
Mas não me leve

Não me leve a mal
Me leve apenas para andar por aí
Na lagoa, no cemitério
Na areia, no mormaço

O meu coração, meu coração
Meu coração parece que perde um pedaço, mas não
Me leve a sério
Passou este verão
Outros passarão
Eu passo

Não se atire do terraço, não arranque minha cabeça
Da sua cortiça
Não beba muita cachaça, não se esqueça depressa de mim, sim?
Pense como eu vim de leve
Machuquei você de leve
E me retirei com pés de lã
Sei que o seu caminho amanhã
Será tudo de bom
Mas não me leve

O meu coração, meu coração
Meu coração parece que perde um pedaço, mas não
Me leve a sério
Passou este verão
Outros passarão
Eu passo"
(Chico Buarque)


P.S.- com pés de lã.

Rabisco

Mais uma vez quero falar sobre mil coisas e não consigo ordenar meus pensamentos. Mais uma vez vou esperar a consciência voltar para poder escrever sobre tudo o que eu quero dizer. E por hoje, o meu lamento pela morte do Saramago e só a certeza de que os gênios deveriam ser imortais. 

"Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo." (José Saramago)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Some more

We have everything we need, not all we want
We have each other’s hands and that's all I dream about
We can sing our happiness out loud
Accept my heart and my words and then I can show you
How your life can look so pretty in old pictures too
But tell me, whisper it slowly so I can hear you well
Tell me that you will be free in some way, somehow
That I'm the one who can ring the bell
And suddenly I can believe that I'll be free today or even now
It's only love we are talking over
Don't be so afraid, it's only the true consequence of us
No, don't look at me that way like everything sounds absurd
It may be not love,but it's what this feeling does
It’s already some light very bright
And I don't want this to go waste
Because I won't feel the same
Let me know how you taste
And let me show you it lives anywhere,
'cause it's all around in my air
This is the moment that I've been wainting for
And I want some more, some more
Of you.

See The Sun


Eu só quero ver o sol colorindo os meus dias.
E nem acho que isso seja pedir demais

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Vermelho


Tão natural quanto o fluir das águas que valsam no rio. Deveria ter sido uma porta para a redenção. Uma chance do inesperado e belo acontecer, enfim. Um capítulo colorido. Um andar de mãos. Um sonhar sincero. Músicas embalariam a história mais bonita. E a Lua enfeitaria o cenário, como se estivesse escrito em algum lugar, os passos e até mesmo as quedas.
Para ela, ele foi como uma estrela cadente. Tão brilhante que ela teve que fechar os olhos no momento em que ele cruzou o seu céu de estrelas. Mas ele caiu. Como todas as estrelas cadentes fazem. E as palavras, as poucas palavras que trocaram colidiram ocasionando desastre e beleza, como dois planetas em desordem no infinito. O impossível.
E era mesmo impossível. O que poderia ter sido, não foi. E o que foi, poderia não ter sido. De repente, um invadiu os pensamentos do outro e há quem diga que era algo parecido com paixão. Como o vermelho do blusão dela, o seu coração bateu tão forte que ela não conseguiu controlar a confusão em que a sua cabeça se encontrava. O chão havia sumido, havia nuvens por todo o lugar. Ela se lembrava do jeito que ele falava e na singularidade dos assuntos. Da delicadeza dos cuidados e das afinidades sem querer descobertas entre ambos. E decidiu que não era real. Que era imaginação. Mais uma vez. O personagem perfeito.
Ele cruzando a cidade pensou no que havia acontecido. No que iria acontecer. Entre as pessoas que passavam e os sinais que o caminho havia preparado, ele simplesmente se perguntava por que se envolveu tão absurdamente no perigo, na insensatez. Será que havia perdido a cabeça? Quanto tempo ele precisaria para enxergar os buracos que na estrada havia? Era loucura. Seu coração estava selado. Ela também era um personagem, era claro que não era verdadeiro. Não podia ser, podia?
E ela voltou para o lugar em que havia parado. Na sinaleira do amor, estava vermelho. Assim como ele o fez. De volta para a realidade. De volta para o café. Para os livros de romance no bidê. Ele voltou para as juras, os carinhos, as dúvidas diárias de uma relação da qual ele gostava de fazer parte. Retornar para aquela que tinha o coração quente e gloss de cereja parecia certo. Ela apostou em quem podia levá-la para dar uma volta, tomar um chocolate quente numa tarde qualquer. Pra quem pudesse aquecê-la nos dias que seu coração poderia cair, como uma pedra de gelo, igual ao do suco de laranja que ele havia tomado na manhã passada.

Rotina

Tem dias que a gente se sente como se um caminhão tivesse passado por cima. Nesses dias, a única vontade que eu tenho é de sentar e chorar e chorar e chorar, vontade de jogar tudo pro alto e dormir pela semana inteira, sem ter horário pra seguir, sem ter jornada pra cumprir. Mas infelizmente eu recobro rápido o juízo e vou parar de escrever porque tá na hora de me arrumar, pra poder ter cinco minutos pra almoçar e pra depois correr com chuva até o trabalho. Eu reclamo demais, mas até esse direito eu acho que tô adquirindo. Se eu reclamo, ao menos eu faço. A última coisa que podem dizer de mim é que não faço nada. Isso na-não.

Rosa


Tenho fugido. Constantemente. Para as letras das músicas que falam o que receio confessar. Para as poesias escondidas nas histórias que leio. Para as orações que preenchem o silêncio que eu crio em mim. Eu me sinto um plágio de mim mesma. Ouvindo pela milésima vez o mesmo cd, pelas mesmas sensações.
Que irônica a vida é e eu me pergunto... Por quê?
O que ela quer me mostrar? Sinto como se tivesse apanhado de um lado do rosto e tivesse dado a outra face. Não entendo como posso ser feita de tantos opostos.
Eu quero sair por aí descobrindo o prazer das pequenas coisas, mas parece que a maioria das pessoas enquanto isso está trancada em casa, em romances, em medos, em passados. Sabe-se lá. As estradas da vida são confusas e podem nos deixar cegos. Mas uma coisa é certa, ainda bem que eu gosto de ficar na minha própria companhia.


"No quiero soñarmil veces la mismas cosas ni contemplarlas sabiamente.
Quiero que me trates suavemente."

La vida es...

"No quiero que lleves de mi
Nada que no te marque,
El tiempo dirá si al final
Nos valió lo dolido.
Perderme, por lo que yo ví
Te rejuvenece.
La vida es más compleja de
Lo que parece.
Mejor, o peor, cada cual
Seguirá su camino.
Cuánto te quise, quizás,
Seguirás sin saberlo.
Lo que dolería por siempre,
Ya se desvanece."

Jorge Drexler

terça-feira, 15 de junho de 2010

Vida de Adulto

Essa tal vida de adulto, que minha mãe sempre me falou, é uma droga mesmo. Passei os últimos dias com os olhos o dia todo no relógio, meus hábitos alimentares jogados no ralo, litros de coca-cola e quilos de chocolate pra aguentar o dia inteiro de pé, horário controlado até pra respirar e, pela primeira vez, tenho vontade e não tenho tempo de estudar. Nessa vida de adulto, ouço há uma semana as mesmas músicas, corro de um lado pro outro, já usei salto alto mais vezes do que em todo o ano passado e nem pras minhas corridas e caminhadas amadas eu tenho um minutinho. Minha mãe tinha razão, agora eu sei como ela se sente. Como um mero sobrevivente da vida. É correr de um lado pro outro pra chegar no fim do mês e nem salário ter na conta. É colocar em jogo os relacionamentos, as amizades e todas as coisas que precisem de tempo. Falando nele, só pra dar um exemplo, hoje eu saí e comprei dois esmaltes às duas da tarde e só AGORA eu reparei que tô com esmalte colado no cabelo. E, pra piorar, o esmalte é vermelho. Há uns dias não paro pra me encarar no espelho, há uns dias só escovo os dentes com a escova que fica na bolsa e nem lembro mais o que seria dormir no sofá, dar um cochilo no meio da tarde.

Minha mãe tinha razão, mais uma vez. E agora eu vou correr, correr pra chegar nem sei onde e sem nem saber o porquê. Vou correr e nem é a corridinha que eu adoro, é a minha mais nova maratona diária: aquela quase invencível, contra o relógio.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O que você achava

"Bem, eu não posso te dar tudo o que você quer
Mas eu poderia te dar tudo aquilo que você achava que precisava
Um mapa para colocar abaixo do seu assento
Você vai lê-lo para mim e te levarei até lá rapidamente
Mas dobre-o de modo que não consigamos achar o caminho de volta em breve
Ninguém sabe que estamos aqui
Nós poderíamos estacionar a van e andar até a cidade
Achar a garrafa de vinho mais barata que conseguíssemos
E falar sobre a estrada que ficou para trás
e sobre como se perder não é perda de tempo
E o porto vai nos levar para casa
E em certo momento nós vamos cantar enquanto a floresta dorme
É tudo isso pelo simples motivo de chegar com você
Bem, é tudo isso pelo simples motivo de chegar com você
Bem, eu vou fazer um catálogo em uma cama
A vela está queimando seu próprio tempo para descansar
Não podemos trazer de volta coisas que já foram
Eu posso lhe dar promessas para guardar
E eu só as pegaria de volta
Se elas se tornassem as suas próprias promessas e você as desse para mim
É tudo isso pelo simples motivo de chegar com você
Bem, é tudo isso pelo simples motivo de chegar com você
Nós poderíamos fazer isso em qualquer coisa
Nós podemos desenvolver isso e nos tornarmos o que devemos ser
Isso pode nos transformar em qualquer coisa
Isso pode nos transformar em mais do que você pode ver
É apenas como se sente"

Jack Johnson - What you thought you needed

(12 de junho)

(12 de junho)
Hoje é dia dos namorados e mais uma vez eu vou dizer que não gosto do dia dos namorados. Não gosto da ideia de uma data específica para declarar o que sentimos, para presentear e ser presenteado. Não gosto do dia dos namorados pois, ao gostar, eu concordaria que esse seria o grande dia para dizer "amor, eu amo você" e eu discordo totalmente disso.

O dia do amor tem que ser todo dia e não um doze qualquer inventado para ser uma data comercial. O dia do amor tem que ser cada vez que se olha nos olhos da pessoa amada e que se sente aquele aperto gostoso no peito, aquela vontade irresistível de se declarar mais uma vez, aquela sensação que diz que depois de nós não existe mais ninguém. O dia do amor tem que ser cada vez que dermos as mãos, cada vez que trocarmos carinhos e cada vez que fizermos qualquer coisa juntos. O dia de presentear pelo amor é qualquer dia, afinal amamos o ano inteiro. Mas é muito injusto, logo no dia dos namorados, dizer não gostar da data.

Então não me prolongo mais e desejo a todos, sejam solteiros ou namorados, um feliz dia dos namorados. Um belo dia do amor, consigo e com os outros. Desejo felicidade, seja ela dependente ou não de companheiro. Desejo amor, somente amor. Sem precisar de complemento, de objeto, de aliança no dedo e faixas no calçadão. Amor purinho, uma delícia que todo mundo deve provar algum dia.

P.S.- a música do amor é, por hoje, Till There Was You.




"There was love all around
But I never heard it singing
No I never heard it at all
'Til there was you..."
(The Beatles)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Imersa

Eu nunca soube fazer poesia, verdade
Tento usar as palavras certas pra decifrar o que eu nunca entendi
Esses meus sentimentos confusos que se contradizem a cada novo dia
Eu nunca soube dizer as coisas de um jeito simples e seguro
Parece que em cada frase há algo escondido, algo que nem eu sei que está lá
Mas nesses momentos que eu paro as minhas pernas e meu olhar
Deixo o que há em mim fugir desse lugar frio e escuro que nasce e morre em mim, sempre.

Eu já nem sei, eu que sei
O frio vem chegando de mansinho, trazendo o que eu já havia esquecido
Os pequenos deleitos que existem pra nos confortar nessas noites estranhas que o sono não vem
É a falta do estímulo que vem de dentro, é a falta do sonhar, é o não devo, o não posso, o não tem.
Eu sabia até ontem do que eu precisava.
Hoje sinto que estou imersa no que restou de você.

É

É tanto, é tão pesado e tão complexo e ao mesmo tempo é tão pouco, tão leve, tão bonito, tão colorido e tão simples. É tanta contradição, é tanta confusão. São tantas as coisas que eu gostaria de dizer que eu não consigo organizar nada de um jeito mais ou menos coerente, como já diria Kafka. Não consigo ordenar meus pensamentos, não quero enxergar os sinais que a vida me dá. Por mais que sejam eles tantos, tão gritantes e óbvios, eu ainda busco uma rota alternativa. Eu vou fugir daqui, vou pra qualquer lugar levando só a mochila e um coração meio colado, meio caído, meio qualquer coisa. Esse coração que eu faço questão de pisotear e deixar que seja chutado, constante e violentamente. Esse coração, que bate tão devagar, já vai pensando em parar de bater. Em jogar a toalha. Não há mais bordas, os cacos estão muito finos para serem colados.
Já não é mais um coração, são cacos de cristal. Já não sou mais eu, sou o passageiro de qualquer lugar.
Sou não sei quem, vim de não sei onde, vou pra lugar nenhum.
As always.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

carta

"Querida Karen,

Se está lendo isso é porque eu realmente tive coragem de enviar.

Então, bom para mim!

Não me conhece muito bem, mas se deixar, verá que tenho tendência a falar que tenho dificuldade para escrever, mas isso... Isso é a coisa mais difícil que já tive que escrever. Não há maneira fácil de dizer, então vou falar logo.

Conheci uma pessoa.

Foi um acidente. Eu não estava à procura e não estava preparado.

Foi uma tempestade perfeita. Ela falou algo, eu também. Quando vi, queria passar o resto da minha vida nessa conversa. Agora estou com a intuição de que ela pode ser a mulher certa.

Ela é totalmente louca, de um jeito que me faz sorrir, altamente neurótica. Uma grande dose de manutenção necessária.

Ela é você, Karen. Essa é a boa notícia.

A má é que não sei como ficar com você nesse momento. E isso assusta pra caralho. Porque se não ficar com você agora, sinto que nos perderemos. O mundo é grande, mal, cheio de reviravoltas. As pessoas costumam piscar e perder um momento. O momento que poderia mudar tudo. Não sei o que está acontecendo entre nós, e não posso dizer por que você deveria gastar um pouco de fé em alguém como eu.

Mas como seu cheiro é bom, como o lar! E faz um ótimo café, isso tem que valer alguma coisa.

Me liga.

Infielmente seu,

Hank Moody."

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ô meu Deus


























A vida anda muito chata mesmo
Que não resta muita coisa nossa
A vida anda muito monótona
Que a gente tem que se preocupar com a vida dos outros
Pra se sentir importante, se sentir útil, se sentir vivo
A vida anda sem graça
Que a gente tem que fazer piada da vida dos outros
Pra ter do que rir
A vida anda muito triste
Que a gente tem que inventar desculpas
Pra poder confundir a vida dos outros
A vida anda muito desonrientada
Que temos que nos preocupar com o rumo que a vida dos outros toma
A vida anda muito vazia
Que a gente tem que comentar do cabelo novo da colega
A vida anda muito deprimente
Que a gente tem que assistir a novela e fingir que acredita que é real e até chora
A vida anda muito sem sal
Que a gente tem que sair e chamar a atenção de todo mundo numa festa
A vida anda muito confusa
Que a gente tem que mentir pra quem julgamos amar
A vida anda muito competitiva
Que temos que passar por cima dos outros pra nos sobressairmos
A vida anda muito difícil
Que a gente tem que ser egoísta e cuidar dos nossos interesses
A vida anda muito violenta
Que mais um tiro ou menos um, não faria diferença. Faria?
A vida anda muito cansativa
Que a gente tem que se distrair fazendo besteiras
A vida anda muito desarmônica
Que temos que esquecer dos nossos problemas e falar do dos outros
A vida anda muito cruel
Que temos que ser cruéis também criticando a todos, até a quem nem conhecemos
A vida anda muito o quê mais, meu Deus?
A gente que faz a vida do jeito que ela é.
Coitado daqueles que ainda não sabem escrevê-la com as próprias palavras
E precisam de interfúgios, mentiras, fofocas.
Ô gente mesquinha, meu Deus!
E eu estou preso aqui na Terra com todos eles...

,,,

E o que que a vida fez da nossa vida?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Fly


"Gotta find a way
Yeah, I can't wait another day
Ain't nothin' gonna change
If we stay 'round here
I gotta do what it takes
Because it's all in our hands
We all make mistakes
Yeah, but it's never too late to start again (yeah yeah)
Take another breath
And say another pray


Then fly away from here
To anywhere
Yeah, I don't care
If we just fly away from here
Our hopes and dreams
Are out there somewhere
Won't let time pass us by
We'll just fly


If this life
Gets any harder now
It ain't no nevermind
Ya got me by your side
And anytime you want (fly fly fly)
Yeah we catch a train
And find a better place
Yeah, 'cause we won't let nothin'
or no one keep gettin' us down
maybe you and I
Could pack our bags and hit the sky


Then fly away from here
To anywhere
Yeah, I don't care
If we just fly away from here
And our hopes and dreams
Are out there somewhere
Won't let time pass us by
We'll just fly


Do you see a bluer sky now
You could have a better ride now
Open your eyes


'Cause no one here can ever stop us
They can try but we won't let them
No way-ay-ay-ay-yeah-ah


Maybe you and I
Could pack our bags and say good-bye


Then fly away from here
To anywhere
No Honey, I don't care
If we just fly away from here
Our hopes and dreams
Are out there somewhere
Fly away from here
Yeah, Anywhere
 

Now honey, I don't I don't I don't fly (yeah)

We just fly (fly away)"




P.S.- coloquei a música inteira porque não consegui escolher só um trecho lindo dela.

domingo, 6 de junho de 2010

Estranho é não sentir


Estranho é não sentir saudades
De fato, o que ficou não foi a ausência
Eu olho para a minha parte inteira agora

Aprendi a ter paciência
Que a chuva não chega enquanto o terreno não estiver arado
Aprendi a obter a plenitude dos sentimentos
Que nada pode completar o vazio que há em nós a não ser nós mesmos

Estranho é não sentir saudades
É não doer o peito quando se pensa no que passou
Deixar a água cair sobre os olhos e ao fechá-los, não lembrar mais se foi verdadeiro

Eu continuo, eu continuo.
Eu olho pela janela as pessoas pequeninas lá fora, com pensamentos e desejos
Que bela que é a vida e seus fios enrolados que nos puxam para cima e para baixo
Até que a linha acabe
Que belos são os sentimentos puros, eles nos fazem tanto de bem
Curam as feridas abertas, purificam a alma das tristezas sofridas
Enchem de emoções nossos grandes corações
Há sempre a chave certa para reabrir um baú de medos há muito fechado
As estações mudam as cores que pintam os nossos dias
Como quadros, como relíquias.
Amores passados, amores terrenos, amores selados por não mais.
Amores bem-vindos, amores sorrindo, amores selados por bom dias.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Promessas

As promessas não foram suas
Nem minhas
Foram do vento, foram do tempo
São como ondas que quebram, que desaparecem e
se tranformam em outras ondas que pertencem à maré.
A maré muda, trazendo conchas novas para a beira da praia.
Eu as pego emprestado e depois as devolvo para o mar.
E nesse momento uma gaivota não sabia parar de voar
sem olhar para os azuis
que colidiam num beijo salgado.

Assim são os amores, as dores, as flores
Elas morrem no vaso para outras virem enfeitar
a casa com a nova cor da estação.
Assim são as folhas que caem, as nuves que passam.
São os ciclos da vida. Os ciclos do coração.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Firmamento


"entre o céu e o firmamento

não há ressentimento

cada um ocupando o seu lugar

(...)

entre o céu e o firmamento

existe mais coisas do que julga

o nosso próprio pensar

que vagam pelo tempo

e aquele sentimento de amor eterno"

Cidade Negra

terça-feira, 1 de junho de 2010

Desapego


"Quando o vento chega e oscila o bambu, o bambu não guarda o som depois que o vento passou. Quando os gansos atravessam o lago, o lago não conserva seus reflexos depois que eles se foram. Da mesma maneira, a ment das pessoas iluminadas está presente quando ocorrem os acontecimentos e se esvazia quando os acontecimentos terminam".

O desapego nos leva a desenvolver um conceito novo sobre liberdade. Aprendemos a confiar em nós mesmos, sem precisarmos de alguém ou algo para nos completar. O que temos de mais valioso é exatamente o poder das nossas atitudes que refletem o quanto estamos interados com nossa evolução e por conseqüência nossa espiritualidade.

Ao percebermos que tudo na vida terrena é passageiro, alcançamos o objetivo pleno de deixar todas as coisas livres, assim como elas são e não sofrermos por isso. Não possuímos nada além de nossa sabedoria íntima e a fé que construímos com o amor incondicional à vida. Tudo que acontece no universo é natural. Tem um motivo, um propósito. Por isso, criar mágoas devido às perdas naturais não é viver com sabedoria e sim com egoísmo e vaidade.

Ao alimentarmos nosso ego, nos enganamos profundamente sobre o amor verdadeiro. Afinal, apesar da separação física, nada destrói o que é verdadeiro. A paixão e o desejo podem acabar até porque deveriam acabar, afinal, nada é por acaso. Porém, os laços de amizade e admiração não há tempo nem espaço que destruam em corações bondosos prontos para o perdão, compreensão e afetividade espontânea.

Mulher


Já se foi o tempo em que os nossos cabelos e o cachorro eram as únicas coisas que tentávamos domar. Domar pelos do corpo, o temperamento dos filhos e do chefe, domar o marido rabugento de manhã cedo e domar as adversidades, por mais absurdas que se mostrassem. Nós mulheres nos tornamos verdadeiras mestres na arte de domar as coisas que vemos pela frente - e não, esse não é um texto feminista. Onde eu quero chegar? Bem, não satisfeitas com o cabelo e o cachorro bem domados, o chefe bonzinho e o marido descansado, com os grandes amores batendo à porta e o mundo girando a nosso favor, decidimos que seria bom se pudéssemos domar também a nós mesmas. Somos moldadas para sermos perfeitas: boas mães, lindas mulheres, excelentes profissionais, donas de casa exemplates, além de gostosas, boas de cama, atenciosas, cheias de amor pra dar e ainda por cima sempre de bumbum durinho, bem maquiadas e depiladas.
Então decidimos que domar nossos sentimentos seria uma alternativa não somente viável e sim muito interessante, ao menos para tentar simplificar um pouco do tanto que devemos (e, acreditem, conseguimos!) fazer. Domamos o que sentimos e o que não sentimos, fazendo sempre malabarismo e conta de cabeça com o coração. Pesamos nossos relacionamentos não somente com a medida do amor, mas levando em consideração todos os mil fatores envolvidos em qualquer relação, colocando na balança coisas que jamais deveríamos ousar mensurar. Nos tornamos mestres em acorrentar os próprios corações, muitas vezes nos sacrificando pelo conforto ou pela felicidade cômoda de uma relação espreguiçada no tempo. Criamos desculpas esfarrapadas para os outros e passamos a vida inteira tentando nos convencer que assim seremos mais. Mais felizes, mais completas, mais mulheres. Passamos, então, a vida inteira tentando ludibriar nossas belas cabecinhas do cabelo domado.
Nos tornamos meio mulheres, meio mães, meio profissionais, meio satisfeitas, mas sempre com um sorriso no meio da cara. Somos condenadas a carregar o peso de uma relação que, se não dá certo, deve ser encarada como um fracasso e aí fazemos o possível (e o impossível) para não deixar morrer algo que muitas vezes já está morto. Nos tornamos sempre menos do que podemos ser, contentadas com uma felicidade morna com nome de relação estável, com uns dois ou três nomes de crianças gritados pela casa, com o nome de uma profissão. Nos contentamos em escolher o nome do cachorro, em troca do nome que leva nossa verdadeira felicidade. Nos contentamos em escolher o caminho mais fácil, aquele que é mais bem visto, aquele que é mais cômodo. Escolhemos ser, no fim, sempre metade. Metade de felicidade, metade de potencial, de vida. Metade de tudo aquilo que poderíamos ser, de tudo o que poderíamos escolher por nós mesmas se houvesse um pouquinho mais de coragem para jogar as convenções para o alto, para rasgar os planos amarelados pelo tempo, para quebrar correntes já enferrujadas. Metade do que poderíamos ser se fossemos um pouco mais egoístas. Um pouco mais desligadas. Um pouco mais mulheres - sem o codinome mãe, esposa, profissional, bumbum durinho ou o raio que o parta. Mulher de verdade, de sutileza e gritaria. Mulher de verdade, feita somente de felicidade.


segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mais

A cada dia percebo que meus sentimentos ficam melhor explicados através de melodias do que de palavras, por mais que eu tente colocá-las em ordem correta, organizadas com a pontuação que o português manda e com a coerência que eu me esforço para conseguir. As músicas vêm tão de leve, tão suaves, as melodias sempre me desarmam e as letras traduzem momentos, sensações e bailes particulares; particulares de ambiente, particulares de sensações, de coração. As músicas suprem as lacunas e desapropriam as palavras, tomam nossas mãos, nosso silêncio e transformam o momento em beleza pura, em uma mensagem sutil e, ao mesmo tempo, na mais forte das mensagens. Cada música é carregada de significado, muitas vezes mais de um. Cada música tem sua história para contar, seus bailes para embalar e seus amores para encantar. Cada uma delas deixa um pouco de si e leva um pouco de nós. Cada uma delas tem o seu momento e essa é realmente para hoje. Para ouvir de manhã e levantar bem disposto, enfeitando a cara com um belo sorriso; porque beleza vem de dentro, e não me importa mais se hoje o céu está cinza. Eu vou sair cantarolando por aí.






P.S.- bom dia!