domingo, 27 de fevereiro de 2011

Domingo

Corre o vento. É domingo. Brilha o sol.
Vou passear com meu amor.
Como é bom ver os dias por outro ângulo.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Lanterna dos Afogados



"E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar..."

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Maioridade Sentimental

Sempre imaginei que, ao fazer dezoito anos, teria as condições e a vontade para sair de casa. Imaginava que na data eu já teria um emprego fixo, apartamento encaminhado, móveis novos e um guarda-roupa cheio de novos sonhos para me vestir. Assim como a maioria dos adolescentes, me enganei. Pensava que no dia em que eu completasse dezoito anos, iria correndo encher a cara, afinal agora já era permitido beber - e não bebi nenhuma gota. Imaginava que no outro dia já estaria nas aulas de direção para a cobiçada carteira de motorista - que não tirei até hoje. Tinha a certeza que iria para alguma festa, para poder mostrar a todos que eu já era maior de idade e não era mais ilegal sair à noite - e ninguém nunca pediu a minha identidade.
Hoje tenho dezenove e meio e finalmente sinto como se estivesse fazendo dezoito anos. Estou saindo de casa, arrumando as últimas coisas para amanhã e olhando nostalgicamente para as paredes que me guardaram nos últimos dez. Estou fazendo as bolsas e curtindo a que pode ser a última tarde de adolescência, o dia inteiro no computador e a música alta com a mãe batendo à porta para pedir que eu diminua o volume do som. Hoje tenho que me preocupar com as contas, com os novos móveis da casa, com as compras que ainda faltam, com o carro que ainda não saiu, com o maldito vizinho que estaciona o carro na minha vaga, com quem vai me ensinar a fazer canjas quando eu precisar. Vão ficar aqui os meus bichos de pelúcia, a minha colcha da Mônica, a minha cama de solteiro, as conchinhas que eu catava quando era criança, a ampulheta que eu virava o dia inteiro quando tinha doze anos. Mas, mais do que isso, vão ficar guardados aqui os momentos mais importantes da minha vida, as coisas que eu nunca valorizei o suficiente e as coisas que eu valorizei como mereciam.
Só completamos dezoito anos quando conseguimos criar coragem para virar as costas para a nossa casa, para o nosso quarto, para (re)fazer uma vida inteira num novo lugar, com uma nova pessoa, sem aquelas pessoas que foram sempre referência na vida. 

Finalmente cheguei aos meus dezoito anos. E desejo mais do que nunca voltar aos quinze.
Só quero o colo da minha mãe e ter hora marcada para voltar pra casa.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Janela

Poderia ir a qualquer lugar. Poderia fechar o que restou das bolsas ainda desorganizadas pelo chão dos últimos tempinhos do nosso espaço aqui e me contentar com qualquer outro lugar. Poderia ser feliz em quase qualquer circunstância. Só faço uma pequena exigência, mesmo sem conseguir exigir. Queria poder levar a janela. É, os vidros e as nuvens que a preenchem todos os dias pelo lado de fora e que sempre me preenchiam de felicidade por ter um observatório particular. Assim como a criança faz manha para ganhar o brinquedo ou o doce ou o salgadinho ou o colo dos pais durante o passeio na Avenida, eu queria fazer manha para carregar a janela. Queria que ela fosse comigo, para que eu não me sentisse assim tão longe de tudo nem tão triste por abandonar uma das coisas mais gostosas do meu dia. Mas vou a qualquer lugar, não sou criança teimosa. Vou mesmo, apesar de deixar, a cada novo dia, crescer a saudade daquela janela que me acordava com algodão enfeitando os olhos.

Mas um dia eu volto. E aí me atiro no chão. Vou aprender a ser criança teimosa e ter, someday, minha janela de volta. Quem sabe em outra janela ou em um novo lugar, mas ainda assim uma para chamar de minha. Para acreditar que o céu é todo pra mim e que as nuvens só se desenham para me acordar. Bem bonitas, como me acordaram hoje. Pela última vez.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Estrada do Sol

"É de manhã, vem o sol
Mas os pingos da chuva que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre que me traz esta canção

Quero que você me dê a mão
Vamos sair por aí sem pensar
No que foi que sonhei
Que chorei, que sofri
Pois a nossa manhã
Já me fez esquecer
Me dê a mão vamos sair
Pra ver o sol"


(Dolores Duran e Tom Jobim)

Poesias

Hoje eu queria te escrever uma poesia. Eu não nasci com o dom de ser poeta, mas eu sei exatamente o que eu gostaria de te dizer. Queria te dizer que a minha inspiração é teu toque, teu cheiro, meu arrepio, tua pele, meu suor, teus lábios, a carne macia da tua língua e o sabor das minhas unhas esfregadas na tua barba. O cheiro das roupas espalhadas, o cheiro de casa, de creme, de uvas, de cama, do amor. O sabor do ventre, das bocas,  dos pés e dos olhos, da respiração úmida e do beijo ofegante. Minha inspiração é o meu desejo de me tornar melhor a cada dia para te surpreender. O que me reinventa a cada manhã é a certeza de poder me tornar uma nova mulher ao despertar; o que me faz adormecer tranquila é a felicidade de ser livre para viver verão, outono, inverno e primavera num só dia. Sou tua mulher inconstante, e a constante da tua presença mesmo diante de toda minha impermanência é o que me inspira e me faz te escrever sem que eu saiba direito onde chegar com tantas sensações perdidas e reencontradas sem alguma lógica. Talvez porque o amor não tenha mesmo lógica alguma, seja sempre esse emaranhado de sentimentos e furtos e incompreensíveis sentidos aparentemente desconexos mas no fundo, bem no fundo, conectados por um único e grande desejo denominado amor.
Gostaria de te escrever uma poesia. Sei te escrever tudo o que em ti me inspira, sei te descrever em tudo o que me encanta, sei te admirar a cada dia sob uma nova perspectiva. Mas não sei rimar. E, quem sabe, poesia não seja necessariamente a rima. Poesia talvez seja mesmo esse emaranhado de palavras - que não colam, não batem, não rimam - ordenadas e dispostas de acordo com um único ritmo: o tum-tum do meu coração. Coração que bate forte.
Que não sabe te escrever poesia.
(Acho que com meus tum-tum acabo de te escrever uma música)



quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mais uma vez, A carta

Engraçado uma música que faz lembrar diferentes fases, diferentes épocas e sentimentos. Engraçada essa música que, quando toca, parece abrir uma caixa sem fundo de memórias empoeiradas e misturadas, sem data, sem nome, sem lugar. Essa música é "A Carta", do Erasmo Carlos, que já repeti no mínimo uma meia dúzia de vezes aqui e que poderei passar o resto da vida repetindo e lembrando, a cada vez, de algum momento diferente. É incrível pensar que uma música resistiu ao tempo, aos amores, às decepções e se perpetuou como um hino de lembranças - boas, ruins e indefiníveis -, sem que ficasse presa a um rosto ou a um nome. Ao ouvir, consigo lembrar de mim em vários momentos, consigo sentir o coração doer ou se alegrar, mas não consigo conectar sua melodia a alguma das faces que passou por mim. Talvez seja por isso que ela se mantém na minha lista, talvez seja por não ter rosto, nome, lenço nem documento, que ela continue sendo repetida e repetida e motivo de despertar tantos momentos e aquela sensação de estar viva. De já ter vivido. De estar melhor.

"do sempre, sempre teu..."
É bom ver que temos amigos. É bom ver que a nossa felicidade é também a daqueles que nos querem bem. É bom trazer boas notícias a quem nós amamos.
Prevejo um final de semana ensolarado de felicidades.
Das sutis, das verdadeiras.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Stop Crying Your Heart Out

Get up
Come on
Why you scared?
You'll never change what's been and gone

'Cause all of the stars
Are fading away
Just try not to worry
You'll see them some day
Take what you need
And be on your way
And stop crying your heart out

(Oasis)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Mãos

Tuas mãos gesticulam de forma engraçada. Pressiona os dedos e tenta apalpar as palavras que te fogem da boca enquanto conversas comigo. Tua aliança salta do dedo com o polegar apoiando por baixo, como eu já te fiz perceber antes. Tuas mãos voam destinos, voam livros, contam histórias. Tuas mãos me contam muito mais do que tua boca poderá algum dia dizer.
Tuas mãos se rendem ao toque leve dos meus dedos, adormecem quando eles passeiam vagarosamente saboreando cada esquina da tua pele e das tuas unhas. Me seguram a cintura, me acariciam o ventre e invadem timidamente o meu umbigo. Me perfumam, seguram os meus cabelos, massageiam e desvendam a minha pele e os segredos que ainda guardo para serem revelados a cada encontro sutil e desejado das tuas com o meu corpo.
Tuas mãos encontram as minhas nos momentos mais raros. Tuas mãos contam comigo os dedos que virão, apontam as estrelas e a ponta do meu nariz. Tuas mãos me dizem aonde ir. Tuas mãos me levam contigo aonde quer tu vá.
Tuas mãos são a minha certeza da felicidade. O guia perfeito de um caminho junto com as minhas.

"Me dê a mão
vamos sair por aí
sem pensar no que foi que sonhei, que chorei, que sofri
pois a nossa manhã
já me fez esquecer
me dê a mão
vamos sair pra ver o sol
o sol
o sol..."

te amo.

P.S. texto pensado e escrito a quatro mãos. E um coração a 160 bpm.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Moving

Mudar é sempre um saco. Mas é a oportunidade de poder recomeçar em um novo lugar, novos ares, novas pessoas e coisa e tal. Quando tudo se arranjar, eu volto para publicar os rascunhos que deixei pra trás nesses dias.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Pequeno Detalhe

Quando não estás, fico cercada de ti. Nas músicas, no pensamento, no cheiro da cama e das roupas, no rastro das camisas dobradas em cima do sofá, na caixa de lápis de cor com as tuas cores favoritas espalhadas fora da embalagem, na pilha de livros que se amontoam em torno do meu computador e na nossa mesa, sobre o som, sob a mesa, sobre as folhas e os fios. Por sinal, foram os livros que me fizeram escrever hoje. Esses livros abertos, dispostos desordenadamente sobre todas as nossas coisas são o pequeno lembrete que me deixas a cada vez que és obrigado a sair de madrugada para enfrentar mais uma das viagens que nos desagradam tanto. São os pequenos detalhes da nossa vida cotidiana, das páginas ainda não devoradas, dos trechos ainda não riscados, das obras ainda inacabadas, dos sonhos ainda esboçados, da vida construída dia-a-dia na simplicidade de um marcador de página feito de controle remoto ou de papéis dobrados ou notas de supermercado - ou toda a sorte de utensílios que são dispensados para essa finalidade, basta para isso caírem na tua mão. Contei vinte e seis livros e uma infinidade de marcadores improvisados. Li cada uma das vinte e seis páginas que ficaram por terminar. Não tive coragem de mover nenhum deles do seu lugar. E finalmente pude perceber que somos um marcador do outro. Improvisados, como o controle do aparelho de dvd que divide grosseiramente as páginas de um dos teus (tantos) Alexy.  Mas marcadores, ao relembrar um ao outro de onde continuar essa história a cada dia, marcadores ao permitirmos dividir as muitas cenas de uma mesma história, marcadores por permanecermos dançando - juntos - pelas páginas dessa vida inacabada.
Descubro um pouco mais sobre nós cada vez que sou obrigada a encarar sozinha esse que é o nosso lugar. Revelo em cada cantinho pequenas pistas, pequenas marcas deixadas ao acaso, pequenas demonstrações dessa vida a dois. Roupas dobradas do teu jeito, as toalhas penduradas, a vela aromatizada que acendi hoje para aliviar a saudade daquele final de semana às escuras, bilhetes, o casaco despretensioso no encosto da cadeira, a caixa de cereal e a embalagem do leite que te aguardam pela metade até a sexta-feira. Assim como eu. Pela metade nessa casa. Inteira nessa história. Dividindo sonhos, teu marcador.


Os teus livros dizem para mim: espera amor, eu estou voltando para terminar de ler as páginas que marquei.
Eu digo para ti: volta logo amor, para terminar de me escrever.
Tenho mil páginas em branco e um coração preenchido de sonhos.

felicidade

Não faz quase nenhum sentido que agora que eu estou bem eu quase não tenha vontade de escrever. A escrita me motiva quando preciso desabafar, quando angustio, choro ou quase morro. Pouco me serve descrever a felicidade, já dizia Tolstói que "todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira". Talvez seja por isso que minha criatividade esteja mais parada do que nunca. Talvez seja pela sensação maravilhosa de completude que vem me invadindo lenta e gradualmente nos últimos tempos, aquela sensação de que tudo está dando certo e se encaixando, que as coisas funcionam e que a vida é realmente maravilhosa. Talvez seja essa tal de felicidade mesmo.
Quando tudo deixar de ser um grande segredo, abrirei um refrigerante para comemorar e compartilharei minhas alegrias. Um diário de bordo da felicidade. Afinal, é assim que venho me sentindo diariamente. Feliz, serena e completa. Mesmo que sem ter nada muito importante para escrever.