quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Pequeno Detalhe

Quando não estás, fico cercada de ti. Nas músicas, no pensamento, no cheiro da cama e das roupas, no rastro das camisas dobradas em cima do sofá, na caixa de lápis de cor com as tuas cores favoritas espalhadas fora da embalagem, na pilha de livros que se amontoam em torno do meu computador e na nossa mesa, sobre o som, sob a mesa, sobre as folhas e os fios. Por sinal, foram os livros que me fizeram escrever hoje. Esses livros abertos, dispostos desordenadamente sobre todas as nossas coisas são o pequeno lembrete que me deixas a cada vez que és obrigado a sair de madrugada para enfrentar mais uma das viagens que nos desagradam tanto. São os pequenos detalhes da nossa vida cotidiana, das páginas ainda não devoradas, dos trechos ainda não riscados, das obras ainda inacabadas, dos sonhos ainda esboçados, da vida construída dia-a-dia na simplicidade de um marcador de página feito de controle remoto ou de papéis dobrados ou notas de supermercado - ou toda a sorte de utensílios que são dispensados para essa finalidade, basta para isso caírem na tua mão. Contei vinte e seis livros e uma infinidade de marcadores improvisados. Li cada uma das vinte e seis páginas que ficaram por terminar. Não tive coragem de mover nenhum deles do seu lugar. E finalmente pude perceber que somos um marcador do outro. Improvisados, como o controle do aparelho de dvd que divide grosseiramente as páginas de um dos teus (tantos) Alexy.  Mas marcadores, ao relembrar um ao outro de onde continuar essa história a cada dia, marcadores ao permitirmos dividir as muitas cenas de uma mesma história, marcadores por permanecermos dançando - juntos - pelas páginas dessa vida inacabada.
Descubro um pouco mais sobre nós cada vez que sou obrigada a encarar sozinha esse que é o nosso lugar. Revelo em cada cantinho pequenas pistas, pequenas marcas deixadas ao acaso, pequenas demonstrações dessa vida a dois. Roupas dobradas do teu jeito, as toalhas penduradas, a vela aromatizada que acendi hoje para aliviar a saudade daquele final de semana às escuras, bilhetes, o casaco despretensioso no encosto da cadeira, a caixa de cereal e a embalagem do leite que te aguardam pela metade até a sexta-feira. Assim como eu. Pela metade nessa casa. Inteira nessa história. Dividindo sonhos, teu marcador.


Os teus livros dizem para mim: espera amor, eu estou voltando para terminar de ler as páginas que marquei.
Eu digo para ti: volta logo amor, para terminar de me escrever.
Tenho mil páginas em branco e um coração preenchido de sonhos.

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