sábado, 29 de janeiro de 2011

To Zion

"Unsure of what the balance held
I touched my belly overwhelmed
By what I had been chosen to perform
But then an angel came one day
Told me to kneel down and pray
For unto me a man child would be born
Woe this crazy circumstance
I knew his life deserved a chance
But everybody told me to be smart
Look at your career they said,
"Lauryn, baby use your head"
But instead I chose to use my heart

Now the joy of my world is in Zion
Now the joy of my world is in Zion

How beautiful if nothing more
Than to wait at Zion's door
I've never been in love like this before
Now let me pray to keep you from
The perils that will surely come
See life for you my prince has just begun
And I thank you for choosing me
To come through unto life to be
A beautiful reflection of his grace
See I know that a gift so great
Is only one God could create
And I'm reminded every time I see your face

That the joy of my world is in Zion
Now the joy of my world is in Zion
Now the joy of my world is in Zion
Now the joy of my world is in Zion

Marching, marching, marching to Zion
Marching, marching
Marching, marching, marching to Zion
Beautiful, beautiful Zion"


(Lauryn Hill)

P.S.sempre quis poder dedicar essa música.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cheiro

Adoro ser acordada de manhã com o cheiro leve do sabonete de uva que perfuma a casa inteira quando ele sai do banho, depois de ter pulado da cama dez minutos mais cedo só para poder se arrumar sem atrapalhar o meu tempo. Adoro os inícios de manhã com o sol encoberto pelas nuvens de algodão-doce lilás que logo dão espaço ao céu alaranjado que observo pela fresta da janela que fica sempre aberta. Adoro chegar na cidade quando ela ainda desperta e os barulhos vão crescendo gradualmente, como se uma fina camada de preguiça fosse evaporando e dando lugar ao perfume do pão quentinho e aos movimentos de um centro que começa a dar os ares do trabalho. Adoro o barulho metálico que rasga o canto dos passarinhos no meio da praça quando as lojas abrem, adoro os minutos que ainda restam de silêncio na rua movimentada que dá para a minha janela, adoro a sensação de friozinho do início da manhã.
A única coisa que não gosto é o cheiro de combustível que vai substituindo o cheiro fresco da grama ainda molhada, esse cheiro que vai sufocando o respirar e tensionando a rotina. O cheiro de cidade. O cheiro que me lembra que o melhor perfume é o despertar de uva e pão. Que me faz agradecer por ter alguns minutos para devorar o algodão-doce do meu céu.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

No Recreio


"Só é possível te amar..."
(Composição do Nando Reis, interpretação da Cássia Eller)

Poemas Diversos

Tem aquele poema do Paulo Leminski que começa dizendo que nascemos em poemas diversos, e que o destino quis que a gente se achasse. E nascemos em poemas diversos, nos livros mais distantes, passamos por muitas outras histórias para chegarmos onde hoje estamos. Somos como as poesias que encerram os livros, só que sem a minha mania de ler de trás para frente, fui obrigada a esperar passar os dedos sobre todas as poesias anteriores, seus dedos manchando, dobrando e rabiscando as folhas com aqueles traços tortos e característicos, chaves e comentários, remissões, aprendizados e viradas de páginas. Passei pelo mesmo ao encontrar contigo. Deixei passar por mim os mais diversos poemas, dos mais apaixonados aos dramáticos, dos cômicos aos trágicos, sempre sem riscar as páginas, com minha mania de nunca dobrar uma folha para me obrigar a reler a obra inteira na busca de uma única passagem; deixei passar por mim todas as poesias a que poderia ter me agarrado com as duas mãos. Passamos por muito e hoje nos encontramos aqui. Na mesma estrofe, mesmo verso, mesma frase. E "mistas, a minha, a tua, a nossa linha". 

És o último dos poemas. E creio que o autor tenha, realmente, deixado o melhor para o final.

Música para cortar o coração

"Nunca pensei um dia chegar
E te ouvir dizer:
Não é por mal
Mas vou te fazer chorar
Hoje vou te fazer chorar

Não tenho muito tempo
Tenho medo de ser um só
Tenho medo de ser só um
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar

Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais
Faz um tempo que eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais

Deixei que tudo desaparecesse
E perto do fim
Não pude mais encontrar
O amor ainda estava lá
O amor ainda estava lá

Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais"

Uma música que fala de morte mas me lembra de alguém vivo. O único assunto que me recuso a falar aqui.
Faz um tempo eu quis fazer uma canção pra você viver mais (pelo menos dentro do meu coração).

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Frase Acidental

Dei de cara com uma frase do Saramago agora, enquanto cavava algumas para alimentar o hábito incansável da minha agenda preenchida de ilustres e me parei a pensar numa porção de coisas. Como quando nos decidimos a fazer (ou não fazer) algo, não adiantam justificativas, das plausíveis às absurdas, que nos façam mudar de ideia daquilo que, bem no fundo, já escolhemos fazer.
Alimentamos pretextos, falsas prerrogativas que justifiquem as nossas intenções mais injustificáveis. Mentimos para nós mesmos buscando enganar os outros e fazê-los crer que não escolhemos verdadeiramente o que estava já há muito escolhido. Minha decisão já foi tomada há tempos. Agora encontrei os motivos perfeitos para justificá-la.

"De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos." (José Saramago)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Com carinho, fulano

Mais do que uma questão de respeito e bom senso, deveria ser proibido ler as dedicatórias dos livros dos outros. Desrespeito a isso deveria ser caso de polícia. De pedir indenização por danos morais. Prisão perpétua. Pena de morte. As dedicatórias são as poucas linhas de muitos sentimentos que não foram escritos, são sentimentos exteriorizados com uma assinatura, sigla ou letra indecifrável que deveria ser inacessível a um terceiro. Dedicatórias são as cartas que não foram enviadas, os "eu te amo" silenciados, as piadas íntimas. Invadir a dedicatória do outro é mais grave do que violar a sua nudez mais pudica.
Certa vez não resisti à curiosidade de uma letra num fundo vermelho. Foi caso de prisão perpétua, caso de morte: para mim. Morri de ciúmes, nas entrelinhas daquelas palavras rabiscadas e das palavras sem sentido senão para aquele a quem elas foram endereçadas, se confessavam sentimentos e intenções e se escondia o remetente dos terceiros curiosos através de uma assinatura ininteligível; morro na minha prisão perpétua, ao relembrar aleatoriamente daquele papel grosso e vermelho riscado com força, na demonstração de uma vontade que eu nunca compreenderei bem qual era. Confessei meu crime e fui absolvida. Ouvi uma história, o presente, o contexto, o remetente, a assinatura. Mas de (quase) nada adiantou. A memória de invadir algo que não deveria ter feito, encontrar algo que não queria ter visto e aquela assinatura com um ponto perfurando o papel cartão, mesmo que não significasse mais nada, para mim era uma assombração de uma derrota perante eu mesma.
Hoje fujo das dedicatórias alheias.
E, só para constar, não empresto livros com dedicatórias. Já dizia a minha vó: curiosidade mata.
Minhas dedicatórias são o secreto da minha biografia.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Pequenas Sensações Cotidianas

Algumas sensações invadem nosso cotidiano de forma quase imperceptível mas, ao mesmo tempo, de um modo que alteram completamente o dia, o jeito de ver as coisas, as pessoas, de enxergar o mundo. Hoje tive que descrever uma das coisas que mais gosto no meu trabalho; percebi que, em todas as pessoas com quem convivo, gosto de coisas que não as mais óbvias. Gosto da risada de uma das minhas chefes: é leve, gostosa, parece uma gargalhada de criança, é um dos melhores sons para se ouvir durante o dia, forma quase uma melodia com os carros passando com seus motores rosnando em bom tom. Gosto do cheiro de esmalte que invade a sala quando outra delas sempre traz uma novidade para experimentarmos. Gosto do tom sereno como uma delas fala; gosto do rosto de saudade de quando uma conta dos seus sobrinhos e da irmã que mora longe. Gosto do barulho do salto alto em contraste com as teclas que digitam manhãs inteiras. Gosto do cheiro do café que perfuma a cozinha bem cedo, logo quando chegamos, e promove sempre o primeiro assunto do dia... "Quem vai querer café?". Gosto da voz nasalada e do jeito que lembra muito a minha dinda; gosto dos antúrios e os cactos que ficam perto das poltronas que pegam sol através das telhas de vidro. Gosto do cheiro do sabonete líquido, sempre o mesmo cheiro, sempre a lembrança da água gelada escorrendo pelos pulsos nos dois ou três minutos em que me tranco no banheiro quando o cansaço bate forte.
Saio do trabalho e experimento talvez a melhor sensação do dia quente no centro da cidade: sento durante um ou dois minutos na beira do lago com um chafariz, no meio da praça, no meio do centro, no meio de tudo, fecho os olhos e deixo que a água seja borrifada lentamente pelo vento nas minhas costas, no meu rosto, nos meus braços meio ardidos pelo caminho pouco protegido do sol do meio-dia. Chego em casa e gosto de tirar os sapatos, gosto de sentir o piso frio da casa fechada; corro para a cozinha, ouço o ranger das portas do armário meio velho, abro a geladeira sem procurar nada específico, é pelo puro prazer do gelado nos pés com o gelado no corpo. Deito no sofá, nada mais delicioso do que um sofá gordinho de almofadas para nos recepcionar depois de uma manhã trabalhada e o início de uma tarde preguiçosa.
Gosto de encontrar o meu bem, me esperando em casa, cheiro sua pele e desvendo nos seus dedos tudo o que tocou durante o tempo que estive ausente. Meio maluco, mas gosto das impressões que o olfato nos permite, dos registros que as mãos fazem, muitas vezes apenas pela delícia de tocar. Gosto do jeito como ele segura a aliança, firmando o polegar por baixo, fazendo o anel saltar por cima do dedo marcado de compromisso. Gosto das golas das camisas, sempre esgaçadas (ou seria esgarçadas?, não sei) e com um cheiro inconfundível. Gosto da barba por fazer, do barulho que as unhas fazem ao percorrê-la. O cheiro da comida. 
Descrevo minha rotina sob outra perspectiva, meu cotidiano com outros olhos.
Descubro o novo no velho, o prazer na rotina, o amor na simplicidade de um abraço no último gesto da noite. Teus braços, sempre me esperando abertos para que eu possa dormir tranquila. Lá se conjugam o riso, o banho de chafariz, o perfume, o cheiro, a unha, a barba, o esmalte, o café, o gelado, os estalares, a doçura, o açúcar, o afeto.
E encontro, em cada dia, uma nova delícia diante dos mesmos verdes olhos.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A Coberta de Lã

"Não é um jantar iluminado, não é o cinema de mãos dadas, não é sentar na praça observando os aviões recortando as nuvens enquanto as crianças buscam enrolar as correntes do balanço no arco com pulos cada vez mais altos.
Não é o medo de perdê-la para outro homem. Nem o medo de me perder par aa infância. O amor se resolve na banalidade. São os cílios, os farelos, os botões, os brincos, os cabelos que não enxergamos cair no chão. São as quedas mudas, as gentilezas brandas, o costume silencioso de seguir procurando um ao outro mesmo depois do casamento.
Minha mãe, por exemplo, antes fazia a bênção em minha testa quando pequeno, nas saídas de madrugada paraa escola. Hoje ela faz questão de abrir e fechar o portão ao partir de sua casa. Tenho o controle, mas ela não me permite. Apertar o botão vermelho é seu jeito de continuar mantendo o sinal da cruz. Agora no rosto da estrada. Com as grades levantando lentamente.
Sei que você me ama quando deito no sofá para assistir televisão. Estou sozinho, desmantelado, nem escuto o que vejo, pouso em um canal, estável, deitando a cabeça no encosto duro. A altura desajeitada, imensa, mal cabendo naquele engradado de molas. As pernas balançando perto do abajur.
Não conversamos, suspiro sem cópia carbono. É nesse momento em que não estamos juntos que nos amamos. Porque não a vejo provando que me ama, nem me vejo confirmando que a amo.
Vacilo as pálpebras algumas vezes até desistir. Tento comentar notícias, mas guardo para amanhã. Não tomei banho, não escovei os dentes, sentei um pouco para respirar e fiquei. Acabei de chegar do trabalho, das aulas que permaneço de pé.
Não me acorda, não me empurra a cumprir horários. Me deixa ali. Até amanhecer.
Não duvido que muitos pensem que me abandonou para desfrutar os dois lados da cama. E ler tranquila, longe da minha insistência, não precisando explicar a história do livro.
Pareço um morto. Um morto que pode nascer de novo. Um morto obediente.
O morto só será de uma mulher quando ela o velar em vida. Tenho certeza disso. Feliz da viúva que pode dizer: meu morto! Sem ter que dividi-lo. Na dor, não queremos dividir, queremos não competir com mais ninguém. A morte é a única liberdade para sofrer.
E acordo assustado, procurando fixar o horário e o dia da semana. Olhos em remela, boca em ressaca. Seca. Vejo que estou amorosamente acomodado. Diferente do estado em que adormeci.
Alguém pôs um travesseiro, alguém retirou meus sapatos, alguém me livrou do cinto. Alguém colocou uma coberta de lã para não tremer com as janelas.
Esse cobertor, não há dúvida, ainda é seu corpo."

Crônica extraída do livro "Mulher Perdigueira", de Fabrício Carpinejar. 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Outros

Um dia teu cheiro decidiu que iria me sufocar. Lentamente, os teus traços tomavam conta do armário e de todo o espaço do meu coração. Teus gostos soterraram o que me restava de mim e fui, como um processo arrastado e quase imperceptível, perdendo o espaço dentro daquilo que chamava de mim. Um dia teu coração decidiu que não viveria mais sozinho e teus passos decidiram que precisariam dos meus passos para qualquer caminhada à beira-mar. Um dia teu sono se viciou no meu. Teu corpo dependeu de mim, teu alimento, teu sono, teus planos, teus sonhos se tornaram uma extensão daquilo que antes tinha por meu; tua fome era de mim, tua sede de mim, tua vontade de mim, tuas mãos precisavam de mim, teu equilíbrio, tua força. Não sobrava quase nada para que eu pudesse dedicar àquele eu perdido em qualquer pedaço dessa conjunção. Teu corpo, teu tempo, teus dias, tuas noites, tudo me sugava e terminava com qualquer plano, sonho, desejo, vontade que eu pudesse sentir por mim.
Um dia teu cheiro decidiu que iria acabar com o meu; não suportava mais viver dividindo o corpo com outro cheiro estranho a ele. Um dia teu corpo decidiu que engoliria o meu. Teus sonhos decidiram esganar o que restava dos meus. Tuas forças acabaram com as que me sobraram. Tua vontade resolveu abandonar o teu corpo e se possuir do meu. Tuas fomes e tuas sedes só se saciavam em mim. Teus gestos não se expressavam mais no teu corpo. Tuas expressões eram formas claras de mim, teus traços se foram e se renderam a mim, mesmo querendo me dominar. Teus dedos não queriam mais te tocar; desejavam meu corpo, minhas vestes. Pensando que queria me dominar, teu eu só queria sucumbir. Não viveria mais sem mim.

Um dia juntei as malas dos meus sentimentos. Me mudei de mim.
Aqui dentro não cabíamos nós dois.

Saudades

Minhas amigas fazem muita falta. Não sei onde foi que eu perdi o contato com aquelas que estão longe, não sei onde foi que me distanciei das que estão perto. Hoje parei para ver as fotos de uma delas, mora longe, e nunca mais tive notícias. As vidas seguem rumos diferentes, estamos separadas por algumas dezenas de centenas de quilômetros, mas nenhuma justificativa é suficientemente boa para entender porque ela não está mais presente na minha vida. Algumas coisas que eu faço, talvez só ela fosse entender. Ou rir. Algumas coisas só ela mesmo achava graça. E assim cada uma das minhas amigas, particulares, especiais, diferentes. E assim nos distanciamos todas, seja pela distância geográfica ou por aquela que implantamos nas nossas convivências. Sinto falta das minhas amigas.
Parece que um grande pedaço de mim não está aqui. Parece, às vezes, que o coração vai cair do peito.
Amo vocês.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Férias!

Estou tirando férias de mim mesma: férias forçadas. Acordando muito cedo, minha cabeça não trabalha muito bem durante o dia inteiro e todas as coisas que eu penso em escrever acabam sendo engolidas pelos meus bocejos matinais e pelo cochilo da tarde. Tô desmontada. A boa notícia é que nos sábados ainda consigo ouvir Beatles, e num volume muito alto (agradecimentos ao amor que trouxe finalmente pra nossa casa um som que esbanja decibéis), ainda consigo dormir até as onze e ainda sei cozinhar e comer algo além de leite e frutas e sopas Vono (meu desagradável almoço de segunda a sexta). A boa notícia é que ainda tenho 2/7 dias para me sentir viva. A má notícia é que estou desaprendendo o português, mas pretendo resolver meus problemas, até então inéditos - com vírgulas -, em breve. Estou apaixonada por Carpinejar, ele rouba todos meus sentimentos e transforma em palavras sensíveis, doces, sinceras. Estou apaixonada por mim, já que apenas me encontro comigo nos finais de semana, diminuí assim, consideravelmente, o número de conflitos internos. Já descobri a equação: meus dois 'eu' não podem, nem devem, se encontrar. O pensador e o trabalhador devem ficar cada um no seu lado da muralha. 
Essa é a fórmula da minha (instantânea) felicidade.
Felicidade é o pôr-do-sol da minha sacada.
Felicidade é passar o dia sem fazer nada.