sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Temo / Te amo

Hoje é mais um daqueles dias que eu escrevo, apago, escrevo, apago e nunca consigo chegar exatamente onde eu queria chegar, nas palavras que eu queria usar, nas coisas que eu queria dizer. Tenho as ideias circulando pela minha cabeça sempre bagunçada, em 2011 usarei uma agenda para tentar acabar com essa desorganização generalizada em que se transformam os meus pensamentos cada vez que me descuido por um pequeno segundo de vigiá-los, parece que têm próprias pernas, próprias vontades e seus meios caprichosos e egoístas de me confundir e me fazer acreditar que cada um deles é mais importante do que todos os outros e que, por isso, deve ser mais destacado/valorizado/pensado/sei-lá-eu. Dá um desespero tentar organizar a cabeça e não conseguir, mas já houve um grande avanço nesse ano que se encerra: em 2010 organizei os meus sentimentos. Coloquei nas gavetas certas as vontades, os ímpetos, as certezas e consegui, inesperadamente, vencer alguns dos meus medos e dos meus determinismos - com eles comecei a escrever, umas duas ou três vezes, o texto de hoje, pensando que consegui vencer as coisas que eu acreditava que determinavam a minha vida, quando na verdade a única coisa que determina a vida, descori tardiamente, é a minha vontade -, consegui vencer a mim mesma e nada melhor do que a sensação de vitória e derrota ao mesmo tempo, nada melhor do que ser superado por si mesmo e se descobrir algo além do que se imaginava possível. Nada melhor do que a vitória e o fracasso no mesmo sentimento, na mesma ocasião, acredito eu nessa situação.
Ontem assisti, mais uma vez, O Segredo Dos Seus Olhos, e não pude deixar de perceber novamente o caderninho de Espósito, o temo anotado em letras grandes, o temo que se transforma lentamente em te amo. O temo que se divide em dois, se parte ao meio e permite à sua segunda parte mais uma letra para tornar nobre todo o seu sentido. E o não mais temo, o te amo, trasnformou todo o meu jeito de pensar o mundo e de pensar sobre mim mesma. O não mais temer fez de mim alguém mais leve, mais entregue e hoje me sinto satisfeita por saber que se hoje estou aqui foi porque eu quis e não porque tive medo de levar adiante algo que desejei ou a sensação de estar aqui porque cheguei. Estou orgulhosa por chegar ao fim deste ano exatamente onde queria estar, com todas as coisas que queria fazer; estou orgulhosa por, no fim deste ano, ser exatamente aquilo que tanto pedi para que eu pudesse me tornar: alguém que tivesse coragem de fazer aquilo que sentisse vontade. Ouvi meu coração e não me arrependo. E com certeza o mérito não é todo meu.
Por transformar temo em te amo.
Love is all, love is you.

P.S.- Em 2011, eu prometo que vou tentar ser mais gentil, mais legal e até mais simpática. Em 2011 eu até tentarei fazer alguns novos amigos.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Poesia

" Fazer as coisas pela metade
é minha maneira de terminá-las."

Fabrício Carpinejar, em Cinco Marias.

Por sinal, o blog dele aqui.
Em alguma outra vida, quem sabe, serei uma baita escritora, assim como ele.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal

Só passei para desejar um Feliz Natal. Eu adoro Natal, família reunida e a coisa toda. O que menos dou bola, de verdade, são os presentes. Os presentes são a coisa chata do Natal, é o que enche o saco, desperdiça tempo e dinheiro. Pena que só um evento assim, uma vez por ano, seja capaz de cultivar em nós a vontade de nos reunirmos, juntar a família em torno da mesa e celebrar as alegrias. Uma pena que seja só uma vez ao ano. Queria eu ver a minha família assim todos os dias.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Let's Talk About Love

Quase madrugada de uma quase segunda-feira, ao som de chuva e ao som de Chico.
Impossível não querer falar de amor.
Mas hoje as palavras me fogem e, se escrevesse, não saberia mais escrever sobre um amor genérico. Tenho um tipo de amor único que me acomete, amor primeiro em sua forma e conteúdo, primeiro em substância e primeiro em intensidade, que me mantém suspensa em um êxtase constante que já fico muda aos outros amores e às outras relações, fico muda, surda e cega aos outros amores, às outras situações, aos outros sambas que não esses que me embalam nesse sentimento que parece nunca mais ter fim, que me parece tão vasto que chego a perder de mim mesma as pontas desse amor que já se tornou um emaranhado de sensações e metáforas e hipérboles e outras diversas figuras de linguagem que me visitam desde a hora que abro os olhos e pulo violentamente da cama em busca de iniciar mais um dia até a hora em que os fecho, abraçada num coração que parece me abraçar inteira e me fazer desnortear do mundo, flutuar, little wings on my shoes, acho que agora eu sei o que a expressão gostaria de dizer. Me sinto forte e absolutamente vulnerável aos caprichos desse sentimento que agora me dita as regras, não o inverso, como me acostumei que fosse, um amor que é uma grave doença e sua cura - ao mesmo tempo -, e me faz congelar e derreter como mais uma das figuras de linguagem como esse amor se apresenta e se esconde e se metamorfoseia sessenta vezes por segundo. Tenho um amor que é impermanente dentro de sua permanência, uma apresentação inconstante da constância e coerência de um sentimento que não se esvai como a areia que escorre por entre os dedos, mas como a areia de uma ampulheta, que oscila entre os bulbos mas que se mantém sempre no mesmo vidro, contando o tempo, em movimento, em contato, em dança, em beleza, em sintonia. Tic tac tic tac tic tac. Um amor que não permanece o mesmo, apesar de no fundo ser sempre igual, um amor antitético, hiperbólico, metonímico, metafórico, paradoxal, entre tantas outras que não consigo recordar. Um amor que possui uma face nova a cada dia mas que nunca deixa de ser um "amor-pleonasmo". Se repete e repete e repete. Passado, presente e futuro dentro de sua singularidade.
Passado, presente e futuro se surpreendendo com as novas delícias de um velho amor.
Um novo. O mesmo. Um paradoxo só.

Te amo.
Sem antíteses. Sem hipérboles. Sem metáforas. Sem catacreses.
Me vejo crescendo no fundo dos teus olhos.
Obrigada por essa sensação única.

domingo, 19 de dezembro de 2010

...

"Perdoo tudo por preguiça de carregar peso."

(Ziris)

Extraído do blog (bem legal) que me indicaram, Costurando Estrelas.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Love Song For No One




Mais uma fase musical. A noite nunca foi tão vazia.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Canção Pra Você Viver Mais



"Não tenho muito tempo
Tenho medo de ser um só
Tenho medo de ser só um
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar

Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais..."
(Pato Fu)

Saudades de todas as saudades que tive. E de todas que não tive também. Como é bom deixar as lágrimas rolarem pelo rosto só pela emoção de uma música.

Marry You



Tirada do álbum perfeito pra uma noite de insônia.
(B.B.King & Eric Clapton, o álbum é "Riding With The King")

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Pequenas reflexões das três pras onze

Não, eu não sou estudante de curso nenhum. Não estou no 2º ano de porra nenhuma. Não sou gremista nem colorada. Não sou meiguinha nem lindinha nem cheia de amiguinhos. Não sou apaixonada por música. Não sou viciada em esmaltes, ou em Coca-Cola. Sou mais do que uma definição. Sou mais do que qualquer coisa que se possa colocar entre aspas. Minha criação faço eu. Nada que é de outro me determina, me define, me delimita.
Ainda bem.

"Eu era mal humorada ...
quando nasci, sou mal humorada hoje e serei mal humorada pelo resto da minha vida…que alivio!"
(Lucy Van Pelt)

Caminhos, Escolhas, Destinos Diversos

You know, nos envolvemos em diversos planos, nos cercamos de muitas certezas e pouco espaço damos à vida para que ela aja livremente pelos seus caminhos, como aquele fio d'água que vai desenhando o chão e que teimamos em desviar o curso. Mas algumas vezes é impossível impedir o destino de desenhar sua própria estrada e o que nos resta é aceitar os seus traços e descobrir que, felizmente, o caminho do tempo é muito generoso e pode ser muito melhor do que jamais sonhamos. Nos ocupamos tanto com tantos planos e metas e objetivos que acabamos esquecendo dos presentes diários que a vida pode nos dar, acabamos nos esquecendo dos presentes que o nosso próprio corpo pode nos dar, mesmo quando tudo parece, se não impossível, ao menos muito improvável. O destino se apresenta e agora somos nós que temos que mudar o nosso curso para permitir que ele entre em nossas vidas, agora somos nós o risco d'água. O destino nos dá pequenas e sutis chances, cabe a nós saber quando permitir que elas entrem em nossas vidas. Todos os dias, novas chances. Todos os dias, a cada momento, bate à porta a chance de uma vida nova.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Quem Te Viu, Quem Te Vê



"O meu samba assim marcava na cadência os seus passos
O meu sonho se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão"

Meu trecho favorito, queo Chico excluiu da música.
Hoje o samba saiu, lá lá lá iá.

Recorte

"Apesar dessa incompletude de nossa investigação, arrisco-me a fazer algumas observações conclusivas. O programa de ser feliz, que nos é imposto pelo princípio do prazer, é irrealizável, mas não nos é permitido - ou melhor, não somos capazes de - abandonar os esforços para de alguma maneira tornar menos distante a sua realização. Nisso há diferentes caminhos que podem ser tomados, seja dando prioridade ao conteúdo positivo da meta, a obtenção do prazer, ou ao negativo, evitar o desprazer. Em nenhum desses caminhos podemos alcançar tudo o que desejamos. No sentido moderadoem que é admitida como possível, a felicidade constitui um problema da economia libidinal do indivíduo. Não há, aqui, um conselho válido para todos; cada um tem que descobrir a sua maneira particular de ser feliz. Fatores os mais variados atuarão para influir em sua escolha. Depende de quanta satisfação real ele pode esperar do mundo exterior e de até que ponto é levado a fazer-se independente dele; e também, afinal, de quanta força ele se atribui para modificá-lo conforme seus desejos. Já neste ponto, a constituição psíquica do indivíduo, à parte das circunstâncias externas, será decisiva. Aquele predominantemente erótico dará prioridade às relações afetivas com outras pessoas; o narcisista, inclinado à autossuficiência, buscará as satisfações principais em seus eventos psíquicos internos; o homem de ação não largará o mundo externo, no qual pode testar suas forças. Para o segundo desses tipos, a natureza de seus dons e a medida de sublimação instintual que lhe é possível determinarão onde colocará seus interesses. Toda decisão extrema terá como castigo o fato de expor o indivíduo aos perigos inerentesa uma técnica de vida adotada exclusivamente e que se revele inadequada. Assim como o negociante cauteloso evita imobilizar todo o seu capital numa só coisa, também a sabedoria aconselhará talvez a não esperar toda satisfação de uma única tendência. O êxito jamais é seguro, depende da conjunção de muitos fatores, e de nenhum mais, talvez, que da capacidade da constituição psíquica para adaptar sua função ao meio e aproveitá-lo para conquistar prazer."

Freud, em O Mal Estar na Civilização

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Quando você me escreve cada palavra linda que você sabe bem que me escreve, cada frase linda que você desenha no papel, no guardanapo ou em mim, você sabe que eu gostaria de mostrar ao mundo todas as cartas e os guardanapos e todos os rabiscos que guardo espalhados pelo meu corpo de Teresa - lembra de Teresa, bem? -, mas eu bem sei que nunca lhe mostraria dessa maneira, não o deixaria nu em frente a todos os outros, principalmente pois digo nu quando o falo sentimentalmente, e não no sentido que normalmente atribuem à palavra, e a sua nudez sentimental é tão bonita, desprovida de pudores, livre dos constrangimentos dos olhos dos outros e  de tantas outras reprovações cheias de inveja, que eu teria até um certo ciúme de partilhar com tantos muitas vezes mal-intencionados tantas palavras de carinho e tantas partes de um eu-Teresa. Pois é meu bem, você sempre me avisou que felicidade incomoda e mais uma vez lhe dou ouvidos e olhos e razão e deixo de expor aqui mais das muitas palavras que gostaria de compartilhar, não por exibicionismo nem por provocação, que acredito que já saibas que não fazem muito parte do meu vocabulário muito menos da minha postura, mas dividir pela beleza e pela singularidade de versos tão bem arranjados, como muitas vezes já partilhei aqui inúmeros versos tão singelos sem que esses fossem endereçados à mim, mas pela sua essência apaixonada - e apaixonante -, que seria uma afronta nem ao menos cogitar partilhar logo aqueles versos a mim remetidos; cogitei e logo desisti da ideia, mais uma vez lhe darei razão.
Razão pois a vida vem sendo muito generosa conosco.
Razão, pois as tuas palavras são minhas.
E tuas.
E só.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Playlist













Pra ouvir numa terça à noite.

Frouxo

Tem nada - ou quase nada - no mundo que me deixe tão irada quanto homens frouxos. Nada que me deixe mais insuportavelmente irritada do que a combinação frouxidão (e sei lá eu se esse termo existe) mais irresponsabilidade. E hoje meu problema é particularmente com os homens.
Irresponsáveis, cretinos. E não, isso não é discursinho feminista nem algo que o valha. É pura ira pela classe masculina que, coitada, não tem, em 99,9% da sua composição, nem argumentos para se defender. Deixa eu me explicar melhor: há um conjunto de atitudes masculinas que vêm me irritando há algum tempo e eu pude observar como os homens são frouxos e até apelativos quando precisam de alguma coisa.
Enfim... Os homens são chorões feito crianças quando, por exemplo, estão precisando de uma nota pra não ir a exame e, pra conseguirem, não medem esforços na apelação: vale e-mail, vale viagem, casamento, mãezinha doente e até abordagem quase em tom de choro no meio dos corredores e vale também infernizar o meu final de semana para não precisar fazer uma provinha. Mulheres, salvo raríssimas exceções, conectam um neurônio no outro, assumem que não fizeram o suficiente, vão para a prova e fazem o que têm de fazer. Sem choro, sem fiasco nem cachorrinho morto.
Os homens são frouxos para assumir um relacionamento. Os homens são frouxos para manter um relacionamento. Os homens são ainda mais frouxos para terminar um relacionamento. Não têm coragem de falar a verdade e muito menos de valorizar sentimentos. Homens são uns frouxos quando cedem à pressão dos amigos e terminam com as namoradas pra "curtir o verão". Homens são irresponsáveis quando a única equação que surge à cabeça é a quantidade de mulheres com quem deixam de ficar para estar com "uma só". Homens são ridículos quando não valorizam relações nem felicidade. Homens são estúpidos quando não percebem que, do outro lado de uma relação, não há só um corpo, um objeto: há uma pessoa, há um coração, há pretensões. Homens são medíocres quando tentam justificar todas as merdas que fazer com as mulheres com a velha esfarrapada desculpa do instinto.
Às mulheres, peço desculpas por tornar público um sentimento e, mesmo depois de pensar muito, perceber que não posso propor nenhuma solução para a estupidez masculina. Ao homens, que aprendam a enxergar relações como elas devem ser estimadas e não mais como ações numa bolsa de valores, como investimentos, objetos, como coisas.  Àquelas nós que, por um pouco de sorte e outro muito de critérios, temos a sorte da exceção masculina, não nos deixemos nunca sucumbir aos pensamentos degradantes, frouxos e estúpidos com os quais os homens ao nosso redor muitas vezes nos contaminam; valorização, cuidado e carinho não têm sexo. Aqueles que, por obra da vida ou por obra de si mesmos, se tornaram estes animais sem sensibilidade, "perdoai-os, Papai do Céu, pois eles não sabem o que fazem".

A vida gratifica.
A vida ensina.
E o tempo muda tudo.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Eu queria falar sobre como as mulheres conseguem ser burras quando o assunto é amor. Queria falar sobre a capacidade que temos de nos entregar de corpo e alma. Queria falar que eu não consigo deixar de me chocar cada vez que vejo um homem aprontar com uma mulher que o ama. Queria dizer que não suporto ver mulheres se submetendo às mais diversas coisas a que se submetem em nome do amor.
Mas, mais que tudo isso, quero dizer que eu não sei dizer sobre nada disso.
Somos mulheres, puro coração.
E, já diria Djavan, "se errar por amor, Deus abençoa".
Assim nós esperamos.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Amor Bastante

quando eu vi você
 tive uma idéia brilhante
 foi como se eu olhasse
 de dentro de um diamante
 e meu olho ganhasse
 mil faces num só instante

 basta um instante
 e você tem amor bastante


Paulo Leminski
 
 

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Chuva

O céu fechou.
Há tempos não observava espetáculo tão bonito através da minha janela.
Ah! Quero tomar banho de chuva
Acabou de soar o primeiro trovão
Logo os raios riscarão o céu de metálico
Brilho
E eu, na minha janela
Daria tudo por um raio
bem no meio da cabeça

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Your Latest Trick



Dire Straits.
Essa música me dá arrepios.

Ócio Criativo

Impossível criar algo quando não temos tempo para dar uma respirada o dia todo.
A cabeça precisa de ar fresco, respiração lenta e os pés para cima ao menos por vinte minutos.
Deve ser por isso que as pessoas não tem tempo de refletir sobre nada. Deve ser por isso que os sentimentos se atrofiam (e a cabeça também). Deve ser pela correria que perdemos o hábito de olhar à nossa volta.
Preciso de um tempo para pensar.
Todos os dias, eu funciono bem melhor quando tenho meia hora para encarar o céu.
Meia hora para me encarar no espelho.
Meia hora para olhar para dentro, para enfrentar meus pensamentos e questionar minhas emoções.
Preciso de um tempo precioso. Preciso, de verdade, de um pouco de ócio criativo.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Poema

A poesia está guardada nas palavras - é tudo que
eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.

Poema, Manoel de Barros, em "Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo".

Cara de Pau


Não pretendia escrever nada hoje pela manhã. Mas me deparei com uma situação um tanto aborrecedora logo agora, tomando meu café com leite depois de (no máximo) quatro mal-dormidas horas. Hoje tenho que trabalhar o dia todo, tenho prova às sete e meia e ainda sou obrigada a dar de cara com essas coisas - e olha que eu nem tive que procurar. Não sei se me sinto ofendida ou lisonjeada. O fato é que uma menina desconhecida me visitou no orkut. Até aí tudo bem. Visitei o orkut dela de volta, logo agora. Ok, nada de anormal. Eis que, lendo a descrição do perfil, algo me soa estranho. Conheço essas palavras. Conheço essa pontuação. Conheço o itálico daquele P.S.. Conheço até mesmo o meu arrastado característico de fúria em cada uma daquelas linhas.
Ok. Meu texto foi plagiado. Sem dó nem piedade. Sinto uma dorzinha chata, apesar de ficar até meio contente que alguém além de mim ainda leia esse blog. Mas pô, custava nada acrescentar os créditos de quem realmente fez o trabalho, não é? Meio chato ter, além das ideias copiadas, cada uma das palavrinhas I-D-Ê-N-T-I-C-A-S, supostamente criadas por outra pessoa. Agora acho que sei bem o misto de orgulho - pois, ainda assim, alguém se identificou com as coisas que escrevo - e frustração que isso causa em quem cria, mesmo que seja um escritor de fundo de quintal tipo eu. Fiquei momentaneamente sem palavras. E sinto que todas elas podem estar prestes a ser roubadas.
E não, isso não é fúria. É só um pouquinho de frustração mesmo.

p.s. abençoado seja MESMO Freddie Mercury.
p.s.² não custa nada MESMO dar o crédito ali embaixo, né.

Planos

Fim do ano chegando e, para a maioria das pessoas, é essa a época de colocar o ano na balança e pensar o próximo na ponta do lápis. É em dezembro, já batendo à nossa porta, que formulamos toda aquela lista de uma ou mil coisas para começar a fazer ou deixar de fazer. São maus hábitos para se livrar, dietas para iniciar, metas a cumprir, poupanças a engordar, compras a fazer, mudanças, viagens, casamentos, filhos, livros para ler, lugares para conhecer, pratos para saborear, manequins para reduzir, etc etc etc. A única pena na listagem de todos os anos é que - além do fato óbvio que nunca cumprimos nem metade das pequenas metas que estipulamos a nós mesmos - nunca nos importamos em fazer apontamentos simples das coisas que não deixaremos de fazer. Para dois mil e onze, eu decidi fazer essa lista. Pensando bem, há muitas coisas que eu não quero deixar de fazer, muitas coisas das quais a rotina nem o cansaço podem se apoderar. Em 2011... Eu não vou deixar de entrar no chuveiro de roupas, quando der vontade. Não vou deixar de comer leite condensado na lata porque eu posso estar engordando. Não vou deixar de engordar meu guarda-roupas de personagens infantis. Não vou deixar de dançar no meio da rua, nem de cantar sozinha pela cidade. Não vou deixar de ser implicante com a minha mãe, nem vou deixar de mimar a minha irmã. Não vou deixar de comer papel. Não vou deixar de escrever as maiores bobagens que eu escrevo. Não vou deixar de ouvir muita música ruim. Não vou deixar de ouvir muita música. Não vou deixar de dar espaço aos meus pequenos acessos consumistas. Não vou deixar de olhar para o lado. Não vou deixar de sorrir para estranhos. Não vou deixar de dar doces para crianças que choram no ônibus. Não vou deixar de cuidar de algumas plantas. Não vou deixar de correr na praia com meu cachorro. Não vou deixar da minha vida de pequenas alegrias. Não vou deixar.
E se eu precisasse colocar em uma lista os meus planos para 2011, um pedacinho de folha já estaria mais do que bom.
Em 2011, serei trezentos e sessenta e cinco vezes mais eu.
Trezentos e sessenta e cinco vezes mais surtos, mais crises, mais felicidades e mais surpresas. Para o deleite e desespero do meu bem.
Trezentos e sessenta e cinco dias de olhos vendados e coração aberto.

E que venha dezembro.
Para o surto das compras de Natal.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Something like this

Alguns dias eu sinto que não presto pra nada. Nem o que eu tento produzir me tira da vala comum. Alguns dias me sinto tão mas tão mas tão impotente, queria gritar, espernear, esbofetear alguém só pelo prazer do tapa, mesmo. Alguns dias eu queria ser menos polida e menos tranquila, alguns dias eu queria que pequenos deslizes me tirassem da minha sanidade habitual, que algo cutucasse o meu eterno marasmo existencial e queria poder dizer todos os desaforos e até mesmo todas as coisas boas que eu tenho vontade de dizer. Alguns dias eu queria chegar no meu trabalho e poder abraçar as pessoas, sabe. Alguns dias eu queria deixar de ser eu mesma - aquela eu que todo mundo conhece para ser um pouco mais daquele eu que eu guardo sempre escondidinho só pra mim. Alguns tapas iam sair mas, surpreendentemente, alguns bons abraços apertados também.

para as paredes 004


Aí eu sinto falta de todos os amigos que eu não fiz. 
Sabe, bem, você sabe, sabe tão bem ou até melhor que eu, do quanto eu sou distante de todo mundo e como as pessoas foram sendo substituídas por músicas e livros na minha vida, meu bem, você sabe que eu sempre achei um desperdício de tempo ser simpático com todo mundo, sabe como eu sempre fui desconfiado e mal-educado com quase todos ao meu redor e isso se reflete basicamente na enorme coleção de ficções e na interminável lista de LP's e CD's que eu já ouvi e que muitas vezes ainda te surpreendem; cada disco se tornou um amigo, cada melodia me serviu de ombro em cada momento, cada acorde vibrou comigo uma diferente vitória ou me chorou uma derrota - e hoje eu não estou muito orgulhoso disso, dear. Hoje eu senti falta das coisas que eu não fiz seja pela teimosia, pelo humor ácido ou pela chatice que me é característica.
Você sabe como eu sou nostálgico e como em alguns dias as minhas melhores amigas músicas me encravam uma dor fina porém constante no fundo do peito e me fazem repensar e assim eu vivo repensando e refazendo e reestabelendo na minha mente dez mil diferentes planos que eu nunca cumprirei pois em dez minutos aparece outra amiga música que novamente me alegra (não muito, mas) o suficiente para me dissuadir da ideia de virar bonzinho e sair pela rua abraçando os outros e me esforçando para trazer para casa algum amigo que não seja de vinil nem que se conte pelo número de páginas/ E sabe, bem, eu não sei explicar porque eu mais tenho vontade de te escrever quando estou triste, ou nostálgico como prefiro dizer, já que a tristeza profunda não costuma se apoderar de mim há muito tempo, como gosto de me orgulhar de um certo equilíbrio interno no meu pequeno mar de solidão mas eu te escrevo sobre minhas nostalgias e saudosismos e pensamentos e reflexões talvez porque eu tenha a mais absoluta certeza de que é com você que a compreensão vem tão calma e tão certeira que eu me tranquilizo de ter alguém em quem eu tenha investido (e me orgulho disso).
Toca um beautiful jazz aqui em casa, apareça você por aqui, faça uma visita mas venha para ficar como você sempre fica, sabe bem, sua presença enfeita a minha bagunça de livros e músicas, silencia um pouco meus pensamentos melódicos e me auxilia a elaborar frases que não sejam citações de muitos dos meus amigos que me cercam empoeirados e meio abandonados dos meus cuidados - droga, não sou bom em cuidar nem de amigos inanimados -, mas você aparece e essa sujeira nuvem cinza e fina que me rodeia vai temporariamente embora. Você traz muita luz para essa casa. Você nem precisa trazer maçãs, nem jazz, nem livros, nem um vinho para olharmos para as estrelhas a noite toda. Traga apenas o seu coração que, do resto, eu me encarrego. 
Você faz falta todas as semanas, de segunda a terça, quando o único jeito de me compensar de tudo é recorrer aos meus amigos inanimados. Dusty Springfield nos ouvidos e alguma boa literatura nas mãos. Estou sempre esperando você voltar.
Você é a única falta das coisas que eu realmente fiz.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Hey Jude

Sempre fui apaixonada por essa música, Hey Jude. Mas ela começou a me emocionar de verdade no dia em que vi o Flash Mob Londres da música, que eu cheguei até a postar quando descobri (aqui, pra quem ainda não assistiu) e, depois, quando assisti o show do Paul McCartney "Live in Red Square", em Moscou (aqui), que mostrava milhares de pessoas cantando juntas - inclusive, no vídeo, aparecem pessoas chorando, emocionadas com a canção -, e aquele "nananana" que não precisa de fluência no inglês para fazer um belo coro. Mostrei para a minha irmã, que não era lá grande fã do Fab Four, e foi suficiente para que ela ficasse na mesma emoção que eu. Enfim, quando caí em mim, percebi que não podia mais nem cantar a música na rua que começava a ficar emocionada. Foi quando veio o show do Paul, e o acerto de que a Hey Jude (engraçadamente, a maior música do show), seria a que eu ganharia de presente para assistir nos ombros do boyfriend. Quando chegou o dia, quando chegou a hora, 28 músicas depois do início do show, caem as luzes e Paul entoa, no piano bonitinho, a minha Hey Jude. Prontamente caçei a máquina e gravei a música toda para a minha irmã, que tinha ficado em casa. E nunca chorei tanto. A emoção de mais de cinquenta mil pessoas cantando juntas um hino tão lindo me faz chorar agora, enquanto escrevo esse post. E escrevo não porque alguém gostaria de saber sobre isso, mas porque eu precisava desabafar sobre a emoção doida que foi assistir, na minha frente, o mesmo Paul que eu passei a vida inteira assistindo na tv, nas músicas, nos vídeos, na vontade de ter nascido nos 60's. O mesmo Paul que, junto com John, Ringo e George, ajudou a mudar para sempre os rumos da música. O mesmo Paul que, duas semanas após o show, não consegue me fazer parar de chorar. O arrepio de todos juntos entoando aquela música nunca mais vai sair da minha pele.




P.S. só não posto minha gravação da música porque o canto e o choro descontrolado estão quase vergonhosos - vergonhosos só se não fossem em frente ao Paul, lógico.
P.S.² ali na frente, bem pequena, mexendo só o braço esquerdo (porque com o outro eu tava gravando a música), estou eu. :o)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Alguma Vez

Alguma vez numa manhã de segunda-feira paramos para observar o sol despertar por entre as nuvens e os prédios do meio dessa cidade que às vezes nos sufoca e outras vezes nos permite olhar pra cima e, nesses poucos momentos de lucidez perante a insanidade da correria e da rotina, podemos perceber o quanto a vida é generosa e perfeita, mesmo em todos os seus 'acasos' e imperfeições. Alguma vez numa manhã de segunda-feira, conseguimos finalmente enxergar o que há muito estava coberto e aquela clara certeza de que somos construídos por tudo o que vivemos mas também por tudo aquilo que optamos por não viver surge como um leve suspiro de alívio e rendimento aos pequenos milagres diários que o mundo nos proporciona. Alguma vez numa manhã de segunda-feira, as coisas fazem mais sentido do que nunca e podemos nos sentir gratos por todas as experiências e podemos também sentir se esvair todo o sentimento de culpa e de arrependimento, que dá lugar à convicção de que nada nesse mundo é por acaso e que todas as nossas pequenas e grandes aventuras e acertos e tropeços são nada mais do que lições que surgiram num momento ideal com a intenção de nos ensinar alguma coisa. Alguma vez, numa mesma manhã de segunda-feira, respiramos aliviados, mesmo sabendo que o trabalho espera, que as provas estão aí, que a correria é muita e o dinheiro é pouco; alguma vez, pelo menos uma vez, somos invadidos por um desprendimento incomum, onde já não importa mais o trabalho, nem as notas, nem o dinheiro nem as contas que temos para pagar: somos invadidos pela sede de sermos um pouco mais humanos. Alguma vez, mesmo que em apenas uma manhã de segunda-feira na vida, todos nós olharemos para cima e compreenderemos o milagre de estarmos vivos, compreenderemos a alegria dos aprendizados e a certeza de cada uma das experiências. Nessa segunda-feira em que acordamos brilhantes para o mundo, ele não só brilha de volta como inaugura um novo ciclo: não aquele de sete dias, iniciado pela segunda no nosso calendário semanal, mas um ciclo de uma vida inteira mais satisfeita e completa.
Alguma vez, nessa segunda-feira de manhã, eu olhei para o céu.
Ainda bem.


sábado, 20 de novembro de 2010

Seu Nome

“se eu tivesse um bar ele teria o seu nome
se eu tivesse um barco ele teria o seu nome
se eu comprasse uma égua daria a ela o seu nome
minha cadela imaginária tem o seu nome
se eu enlouquecer passarei as tardes repetindo o seu nome
se eu morrer velhinho, no suspiro final balbuciarei o seu 
[nome
se eu for assassinado com a boca cheia de sangue gritarei o 
[seu nome
se encontrarem meu corpo boiando no mar no meu bolso 
[haverá um bilhete com o seu nome
se eu me suicidar ao puxar o gatilho pensarei no seu nome
a primeira garota que beijei tinha o seu nome
na sétima série eu tinha duas amigas com o seu nome
antes de você tive três namoradas com o seu nome
na rua há mulheres que parecem ter o seu nome
na locadora que frequento tem uma moça com o seu nome
às vezes as nuvens quase formam o seu nome
olhando as estrelas é sempre possível desenhar o seu nome
o último verso do famoso poema de Éluard poderia muito 
[bem ser o seu nome
Apollinaire escreveu poemas a Lou porque na loucura da 
[guerra não conseguia lembrar o seu nome
não entendo por que Chico Buarque não compôs uma 
[música para o seu nome
se eu fosse um travesti usaria o seu nome
se um dia eu mudar de sexo adotarei o seu nome
minha mãe me contou que se eu tivesse nascido menina 
[teria o seu nome
se eu tiver uma filha ela terá o seu nome
minha senha do e-mail já foi o seu nome
minha senha do banco é uma variação do seu nome
tenho pena dos seus filhos porque em geral dizem “mãe” 
[em vez do seu nome
tenho pena dos seus pais porque em geral dizem “filha” em 
[vez do seu nome
tenho muita pena dos seus ex-maridos porque associam o 
[termo ex-mulher ao seu nome
tenho inveja do oficial de registro que datilografou pela 
[primeira vez o seu nome
quando fico bêbado falo muito o seu nome
quando estou sóbrio me controlo para não falar demais o 
[seu nome
é difícil falar de você sem mencionar o seu nome
uma vez sonhei que tudo no mundo tinha o seu nome
coelho tinha o seu nome
xícara tinha o seu nome
teleférico tinha o seu nome
no índice onomástico da minha biografia haverá milhares 
[de ocorrências do seu nome
na foto de Korda para onde olha o Che senão para o 
[infinito do seu nome?
algumas professoras da USP seriam menos amargas se 
[tivessem o seu nome
detesto trabalho porque me impede de me concentrar no 
[seu nome
cabala é uma palavra linda, mas não chega aos pés do seu 
[nome
no cabo da minha bengala gravarei o seu nome
não posso ser niilista enquanto existir o seu nome
não posso ser anarquista se isso implicar a degradação do 
[seu nome
não posso ser comunista se tiver que compartilhar o seu 
[nome
não posso ser fascista se não quero impor a outros o seu 
[nome
não posso ser capitalista se não desejo nada além do seu 
[nome
quando saí da casa dos meus pais fui atrás do seu nome
morei três anos num bairro que tinha o seu nome
espero nunca deixar de te amar para não esquecer o seu 
[nome
espero que você nunca me deixe para eu não ser obrigado a 
[esquecer o seu nome
espero nunca te odiar para não ter que odiar o seu nome
espero que você nunca me odeie para eu não ficar arrasado 
ao ouvir o seu nome
a literatura não me interessa tanto quanto o seu nome
quando a poesia é boa é como o seu nome
quando a poesia é ruim tem algo do seu nome
estou cansado da vida, mas isso não tem nada a ver com o 
seu nome
estou escrevendo o quinquagésimo oitavo verso sobre o seu 
nome
talvez eu não seja um poeta a altura do seu nome
por via das dúvidas vou acabar o poema sem dizer 
[explicitamente o seu nome”
 
(Fabrício Corsaletti)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

De "Júblio, memória, noviciado da paixão"

"
IV

Que boca há de roer o tempo? Que rosto
Há de chegar depois do meu? Quantas vezes
O tule do meu sopro há de pousar
Sobre a brancura fremente do teu dorso?
Atravessaremos juntos as grandes espirais
A artéria estendida do silêncio, o vão
O patamar do tempo?
Quantas vezezs dirás: vida, vésper, magna-marinha
E quantas vezes direi: és meu. E as distendidas
Tardes, as largas luas, as madrugadas agônicas
Sem poder tocar-te. Quantas vezes, amor
Uma nova vertente há de nascer em ti
E quantas vezes em mim há de morrer."

(Hilda Hilst)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

One day

Há umas duas semanas eu ouvi me perguntarem que, se eu pudesse escolher um único dia para viver, qual dia seria esse e eu não soube muito bem o que responder, não sabia se algum dos momentos que eu já vivi teria carga suficiente para ser o único dia a ser vivido novamente e, como boa indecisa, não respondi nada. Pois acontece que, em um único dia, eu reformei a minha (ausência de) resposta e tive a certeza que aquele dia poderia ser o único a ser vivido e revivido e repetido centenas e milhares e milhões de vezes. O dia foi este último domingo que, como e muito mais do que eu imaginava, ficará na memória. Claro que pelo show maravilhoso do Paul McCartey (o que já era previsível dada a "Síndrome Pré-Paul" que me fez virar noite e chorar descompensada antes, durante e depois da apresentação) e, certamente muito mais, pela surpresa linda que me aconteceu nesse dia. A gente sempre imagina que certos momentos vão ser como nos filmes mas a gente nunca ousa sonhar que os momentos mais especiais podem ser ainda melhores do que as cenas na telona. A gente sempre imagina que vai ter joelhos, um anel lindo e flores.. Mas é impossível imaginar que vai ser embalado a Beatles, com o próprio Paul fazendo a trilha ao vivo, com cinquenta mil pulando e cantando, chorando e vibrando o mesmo momento, mesmo que não pelas idênticas razões. A gente nunca se permite sonhar que a realidade um dia pode ser melhor que a ficção. Que o anel era o único, e tinha que ser aquele e que, surpreendentemente, serviu perfeitamente. Que o par era único, a ida única, a noite única, o final de semana único em que todos os momentos conspiraram para o sete, três dias que 3+7 resultaram num belo dez, o número da perfeição, do equilíbrio entre o homem e a mulher, de pontos brilhantes numa noite cheia de estrelas e chuva de papel picado.
E voltando ao dia único, aquele que eu reviveria pelo resto da vida, escolho o último sete. Porque quando a vida nos surpreende de maneira tão magnífica e conspira para uma conjunção inacreditável de emoções e beleza, sortudos somos nós que vivemos e elencamos para que seja revivido para sempre, mesmo que só na memória do dia mais incrível de toda a minha vida.


"All my loving I will send to you
All my loving, darling, I'll be true."

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Síndrome Pré-Paul

Acho que nunca fiquei tão ansiosa para algum evento, muito menos para um show. É, talvez isso se deva ao fato de que nunca fui apresentada a nenhuma ocasião que merecesse essa sensação estranha que estou sentindo agora, talvez por não ter realmente muitos ídolos, talvez por nunca me importar muito mesmo com eventos dessa dimensão, talvez por não gostar muito de amontoados de gente, talvez por ser pobre mesmo e não ter saco (leia-se: dinheiro) para poder ir a outros desses mega-super-shows. 

Pois então. Meu querido Hector me deu de presente o ingresso para o show do Paul. Tudo bem se fosse só um ingresso e fosse só um show, tudo bem se fosse só um tal de "Paul". Mas não. Paul é aquele, isso, aquele mesmo, dos Beatles, do cabelo de penico dos anos 60, daqueles quatro bonitinhos que revolucionaram a música no mundo inteiro, daqueles sabe, que eu tenho uma camiseta, daqueles que eu tenho a discografia e um livro lindo, daqueles que cantam a minha música favorita (e aqui um claro protesto por saber que não vou ouvir esse Paul cantar a minha "Don't Ever Change" nesse domingo), daqueles que tenho um bottom e dez mil vontades de ter sido uma adolescente no auge dos 60's. O mesmo Paul daqueles Beatles, daquela década que é a mais próxima de resumir meu gosto musical, é a década de ouro de Elvis, Ronettes, entre dez mil outros, incluindo os brasileiros que também amo de paixão. E, quando eu penso em tudo isso, "Paul" deixa de ser "Paul" e passa a ser algo como uma lenda, um mito e eu encho o olho de lágrimas de ouvir aqui Hey Jude e pensar que domingo serei eu lá, junto com 50 mil, "na na nananana nanana hey juuuuuuuude". Paul passa a ser o mesmo pretty face, o mesmo rostinho que emociona multidões há meio século. Meio século, vai saber o que é isso...

Enfim, pela primeira vez eu sinto o mais próximo que eu talvez vá sentir na minha vida inteira daquele sentimento que chamam de fã. Tenho certeza que nessas duas noites que faltam, eu mal vou dormir. Mal consigo controlar a minha ansiedade e não tô conseguindo dormir, única razão para vir escrever a essa hora mesmo sabendo que amanhã cedo preciso deixar tudo arrumado para me jogar para Porto no sábado pela manhã. Ouvindo Beatles, bebendo suco de uva e sonhando com a noite do dia sete. Sete né, tinha que ser sete. A noite que, muito provavelmente, vai ser uma das mais mágicas da minha vida. É a oportunidade única de ver o sonho se tornar realidade. De deixar os vídeos em p&b para ver ao vivo a minha paixão de pequeninha. Para me juntar aos outros 50 mil para brindar a vida, a música e nananana hey juuuuuuuuuuude.

P.S. - Agora talvez eu entenda aquela legião de fãs histéricas dos 60. E certamente logo logo serei mais uma nessa multidão.

domingo, 31 de outubro de 2010

Carta de amor

"Queria te escrever uma poesia. Queria te acordar no meio da madrugada te repetindo pela milésima vez o tamanho do amor que eu sinto. Queria conseguir transformar em belas palavras um sentimento tão lindo que se deixa transparecer nos meus olhos. Queria sussurrar no teu ouvido que vamos embora daqui, pra qualquer lugar. Queria poder te dizer "eu caso", e casar no mesmo momento.

Essa noite, queria que as coisas fossem todas mais simples. Que não existissem nem estradas, nem ônibus, nem uma distância imensa entre nós. Queria poder ouvir teu coração no meu ouvido e não somente no meu coração. Queria virar a madrugada lendo e relendo todos os trechos e frases e músicas e rabiscos que marquei pra nós. Queria virar a noite mergulhada nos teus olhos, e quem sabe virar um dia e mais uma noite e mais um dia talvez. Queria te pegar pela mão, só por hoje. Te pegar pela gola da camiseta, daquele jeito que entrega as minhas intenções. Queria poder simplificar essa equação insolúvel e enigmática que somos nós. Queria poder entender todas as razões que nos trouxeram até aqui.

Queria relembrar tudo o que já vivemos e, ao mesmo tempo, não precisar lembrar de mais nada. Queria não lembrar do passado, nem que há futuro, nem das horas, nem da rotação da Terra, nem do ar dos meus pulmões, nem dos mais se seis bilhões de seres que não conseguem se parecer contigo - porque, pra mim, rudo em ti é especial e encantador, não importa o quão banal tal coisa possa parecer aos outros -, nem de quantas estrelas eu já tentei contar e de quantas vezes eu te espero a semana toda pra te ver voltar pela mesma porta de onde eu te disse adeus pela última vez.

Essa noite eu queria simplificar todas as coisas do mundo. Pode parar de girar a Terra, só por essa noite. Pode faltar o ar, o mar, o chão, eu não me importo. Desde que eu possa ter você aqui, só por hoje, só por essa noite. Pra poder transformar tantos quereres em realidade. Pra poder te beijar a boca de um jeito bem real e te fazer entender aquelas três palavras que não se dizem em português para que a gente possa continuar sempre fingindo que nunca disse. Eu te amo. Mesmo que só por essa noite."

Assinado, com açúcar e muito afeto.
P.S. - se dane o evangelho e todas aquelas outras mil coisas que já cansei de tentar lembrar da ordem.


P.S.(outro) - porque um sentimento tão bonito não merece ficar guardado numa caixa de e-mail pelo resto dos seus dias.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Em Xeque


Por à prova, todos os dias, os mesmos sentimentos. As mesmas sensações, confrontar o velho e o novo, descobrir e redescobrir paixões empoeiradas num canto do peito. Acreditar em destino, duvidar dele, não acreditar em nada. Mas não conseguir desacreditar do cheiro que parece não apagar nunca mais do olfato, daquelas velhas memórias que invadem e das novas que vêm para repartir o espaço e tentar tomar-lhes o lugar e, feliz ou infelizmente, não conseguirem. O que me importa, já está há muito demarcado no coração. E parece que as velhas-novas sensações são tão surpreendentes como se fosse sempre uma nova primeira vez.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Nós e os ET's

"(...)
Se formos os únicos no Universo, deveríamos nos perguntar por que tratamos tão mal a nós próprios?
Por que boa parte das pessoas busca o dinheiro como se fosse o bem maior do Universo?
Por que somos incapazes de saciar a fome, resolvendo uma das necessidades fundamentais de tudo o que vive?
Por que somos tão estúpidos a ponto de acharmos que não somos tanto assim?
            Se os alienígenas existirem, e um dia nos visitarem, deveríamos nos apresentar como criaturas menos rústicas do que temos sido.
Deveríamos demonstrar que a Terra é um mundo que pertence a todos os que vivem aqui e isso significa que todos deveriam ter abrigo, alimentos e respeito.
            Mas, costumeiramente, nos referimos aos alienígenas como instâncias exóticas e isso faz com que sejamos incapazes de aprender nada com eles.
            Mesmo se, de fato, eles não existirem."

Ulisses Capozzoli, no blog da Scientific American Brasil

A Noite do Meu Bem

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem

Hoje eu quero paz de criança dormindo
E abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de um barco voltando
Quero a ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ah, eu quero o amor, o amor mais profundo
Eu quero toda a beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de um barco voltando
Quero a ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ah,como esse bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda a pureza que quero lhe dar


P.S. Belo achado num cd de Maysa e Dolores Duran.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Monday, monday

Tem dias que bate uma saudade gostosa, não chega a ser aquela deprimente e sufocante, não chega a ser uma saudade que massacra mas é aquela que faz criar asinhas no peito e mais asinhas ainda nos pés. Nesses dias, eu viro as costas para o trabalho e encaro por alguns minutinhos a rua e finalmente consigo ver um sorriso estampado na cara, tenho vontade de sair daqui e fugir do caminho do ônibus da aula e da responsabilidade - essa última que nunca foi o meu forte -, fugir do caminho do sempre e sentar feliz para tomar um sorvete na beira do cais, o sorvete que eu tanto queria hoje não por estar muito calor nem eu por muita vontade do sabor geladinho e doce, muito mais pelo sabor refrescante que o sorvete me traz de uma liberdade ainda que temporária e fugitiva e imediata; tem dias que eu sinto uma pequena vontade de bombardear minhas fraquezas de trabalho e estudos e a insegurança e a frustração e a acomodação que me incomodam tanto pelas escolhas não tão acertadas que fiz nesse sentido, e essa vontade se transforma numa vontade de sair por aí de pés descalços, de abandonar vez por todas o protocolo que tenho que seguir e perder meu tempo por aí, olhando o mar, lendo os meus livros e quem sabe pintando um quadro ou aprendendo música... pois nesses dias a frustração bate mansinha, feito a água da lagoa que beija o cais logo aqui em frente mas que mal tenho tempo de olhar, e sinto a vontade mais intensa ainda de me entregar à poesia ou à dança ou quem sabe somente me entregar à vida, quem sabe alguma vez tomar as rédeas daquilo que desejo fazer e me encontrar em algum cantinho meio escondido, meio escurecido, algum cantinho não importa onde, mas um canto onde eu possa ter um pouco mais de certeza de me ver contente e sorrindo, de frente pro mar, com o meu tão sonhado troféu gelado na mão.

O breve e longo e relativo tempo

Porque quando passa esse filme todo na cabeça, a única confusão que me acontece é a incerteza do tempo real de tamanho acontecimento, é a dúvida sobre quantos são os anos a olhar no fundo dos mesmos olhos, a incerteza das mãos que já podem ter sido outras mãos e os toques outros toques mas, mesmo que outros, ainda os mesmos e ainda com os mesmos sentidos e as mesmas sensações e aquele mesmo brilho místico de fundo e ainda as mesmas belas baladas de embalo, mesmo que estas fossem outras mais condizentes com os tempos que se passaram, mesmo que ainda nem houvesse baladas e nem brilho místico e quem sabe nem um vínculo nem uma mão dada, ainda tudo sempre igual, sempre o mesmo, sempre intocável, imutável, firme e certo. O eco de antigas palavras, já diria Chico, hoje refletido quem sabe em outras histórias que no fundo a mesma história, que se confunde, se perde, se renova e se acha no mesmo chão, nos mesmos passos, na mesma cadência - na cadência dos teus passos (...), no carinho dos teus braços -, mesmo que em outros corpos, outros tempos, outros continentes, outros sonhos, sempre o mesmo. Aquele velho, os escafandristas vieram, encontraram e reencontraram algo que só se reencontra dentro daquele mesmo peito. Por isso me perco no tempo, aquele tempo que não sei mais se é tanto ou tão pouco, se é novo acontecimento ou velha lembrança, pois tudo acontece de maneira tão sutil e (sobre)natural que o relógio e o calendário se confundem e já não há mais tanta importância em contar naqueles dias que inventaram divididos naqueles mesmos meses e naqueles mesmos anos, já que faltariam meses e anos e décadas e séculos e milênios .para saborear a infinidade daqueles sentimentos tão engrandecidos pelo tempo e tão bem concebidos através das eras, faltariam braços e abraços e certamente coração para dimensionar cada uma dessas sensações que, mesmo tão novas, tão velhas e tão conhecidas, tão comuns, naturais e mesmo assim tão raras e tão únicas. Tão breve, tão longo, tão relativo tempo. Tempo todo que me perco bem no meio dos teus braços.

"Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você"


(Futuros Amantes - Chico Buarque)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Undecided



Não sei porque, mas são dias e dias cantarolando essa música sem parar.

"Ooh, It's time to let you know
I don't want to hear you cry no more
Step inside the door
I don't want to hear those lies, I'm sure
I've heard it all before

And you left me waiting so long,
I was waiting so long
I've been waiting so long

Ooh it's undecided love
But you never believe me and maybe I know
Oh, honey, I know, it's undecided love
But you never believe and maybe I know
Honey I know, it's undecided love"

(Magic Numbers)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

broken

O que se quebra, dificilmente volta a ser inteiro.
Infelizmente.

domingo, 17 de outubro de 2010

Te Amo

(...)
E se o tempo levar você, e um dia eu te olhar e não te reconhecer
E se o romance se desconstruir, perder o sentido e me esquecer por ai
Mas nós somos um quadro de Klimt, O beijo para sempre, fagulhando em cores
Resistindo a tudo seremos dois velhos felizes de mãos dadas numa tarde de sol
Pra sempre
Te amo, te amo, te amo
Te amo, te amo, te amo

P.S. E estás aqui do meu lado.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

07

Desconsidere o padrasto, desconsidere as outras 50 mil, desconsidere tão pouco tempo.
Sete é o nosso dia.
E tu sabes muito bem do que eu estou falando.

A dica é aquela do B.B. King. M. Y.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

E finalmente chegará um dia onde eu vou criar coragem e vou romper com esse silêncio. E nesse dia, mesmo que o teu rosto esteja cheio de rugas e meio desfeito pelo tempo, minha memória fará questão de refazer reorganizar rearranjar todos os teus traços e voltarei a te enxergar com os quase dezesseis com que te encontrei, voltarei a me enxergar no espelho como aquela velha que batia na porta e novamente nela baterei, meio escorada meio amparada por aquela parede rosada naquela ruela que demorei muito tempo para aprender o nome mas que nesses últimos trinta e cinco anos  - ou quarenta ou até quarenta e cinco, já não sei mais há quantos não te vejo - nao me sai nunca mais da cabeça, aquele nome comprido e esquisito que eu prefiro não escrever nesse diário; sei que encontrarei nesse dia novamente aquela porta branca da maçaneta engraçada que me deixava esperando do lado de fora e encontrarei mais uma vez teus olhos de menino encravados numa pele enrugadinha ou gordinha ou qualquer outro simpático diminutivo que dê a ti a graça com que te conservas nas minhas memórias. E nesse dia talvez mais uma vez eu te pegue pela mão ou te dê aquele beijo estalado na bochecha que ainda deve ser tão gordinha como costumava ser sob a sombra daquela mesma árvore há tantos verões atrás ou te encontre mesmo sem saber teu próprio nome como pode acontecer de um dia eu perder completamente os sentidos que me sobram mas com a certeza de que sem saber meu próprio nome eu recordarei teus olhos verdinhos corroídos por uma ferrugem natural e recordarei diversas noites sob a lua na beira da praia mesmo sem saber direito quantas primaveras se foram sem que eu pudesse ter o prazer de pegar a tua mão ou qual seria o nome do par de olhos com que sonhei por toda a minha vida. São todos os devaneios de uma velha louca que relembra um par de olhos, um cheiro, uma música e uma mão - e mais o nome da rua e a casa rosada e a portinha branca -, são as vontades de escrever a ti de quem já nem sei se lembro como pronunciar o nome, de te contar que vivi muito bem, obrigada, que passei feliz todos os últimos anos que pareceram décadas e todas as décadas que pareceram cada uma um milênio inteiro perdida a pensar em coisas que não deveria e me culpando por não poder pensar nas coisas que realmente pensei, de te contar do peso e te pedir desculpas por ter te deixado - mesmo quando sei que tu me deixaste também -, mas eu era para ter insistido, esperneado, batido muitas outras vezes na velha portinha branca e não só ter virado as costas deixando uma mensagem e um beijo no rosto e do não saber que cada um desses dias de ausência seria um peso que tantos anos depois eu descobriria que nunca se fora completamente e que a cada dia que passa a memória se torna mais viva e completa e enfeitada - deve ser o efeito dos meus remédios ou desses tantos anos que fazem com que a história adquira um brilho que originalmente não tinha e talvez nunca tivesse caso algo no rumo da coisa tivesse se dado de modo diferente. Te diria que não faria nada diferente e relembraria da imensa briga que comprei por ti - aquele outro que até hoje deve me odiar também - e te diria que depois de tudo também não mudaria nada, tua presença também se fez mais necessária nos meus sonhos do que na minha vida. Te agradeceria por manter por tantos anos o meu coração quente, te agradeceria por ter ido embora.
Te agradeceria por me fazer sentir um amor que eu jamais sentira.
Vou pegar o primeiro ônibus, quem sabe seja hoje o dia de bater à tua porta. Espero não te encontrar tão velho a ponto de não me reconhecer. Espero te encontrar tão jovem que eu consiga te encontrar. Tão jovem que eu possa fazer o que talvez sempre quis: me encontrar de volta de onde me tomou teus olhos.


"De você, não esqueço jamais."

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

desejo

Que seja doce e seja belo e raro e simples e mesmo que seja tão fluido tão rápido tão leve seja sublime seja inesquecível seja incomparável seja inesquecível e quem sabe assim seja tão eterno tão amável tão inigualável e se torne tudo tudo tudo - mesmo que por um instante não seja muito mais do que nada.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Outra Vez

Quando tudo desanima, me bate sempre a mesma saudade. E eu ouço todas as vezes a mesma música. Aquela que corta o coração, de um jeito gostoso, de um jeito saudoso, de um jeito que nenhuma outra música me faz. Um dia o coração ainda cai, a saudade se esvai, o amor se acaba, os sonhos se perdem. Um dia, que não precisa ser hoje.




"Ah!
Você foi!
Toda a felicidade
Você foi a maldade
Que só me fez bem
Você foi!
O melhor dos meus planos
E o maior dos enganos
Que eu pude fazer...

Das lembranças
Que eu trago na vida
Você é a saudade
Que eu gosto de ter
Só assim!
Sinto você bem perto de mim
Outra vez....
"

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Forever Lost

Hoje durante a aula caiu a ficha: o tesão acabou. Há algum tempo eu já me perguntava porque a conversa comigo mesma já não tinha a mesma fluência e hoje a resposta veio sutil e devastadora, ao mesmo tempo. Eu perdi, lentamente, a capacidade de me olhar. De me reconhecer. De conversar comigo mesma. E precisei ter um trabalho de antropologia enfiado goela abaixo para ver que já não flui mais. Eu perdi a capacidade de pensar profundamente, perdi a capacidade de dissertar, de escrever, de contestar, de criar, de mandar tudo pro raio que o parta e começar do zero. Estou acomodada, escorregando pela pelagem do coelho, como diria o filósofo no O Mundo de Sofia. Eu perdi a capacidade de olhar bem dentro dos olhos do mágico que tirava o coelhinho da cartola. Parece que estou anestesiada, forever lost mesmo. Não é à toa que venho buscando mais cronistas do que nunca, buscando que os outros escrevam por mim aquilo que eu sinto. Estou me juntando aos que querem apenas ser representados. Quero é só me identificar. Como se alguém arrancasse os pensamentos da minha cabeça, colocasse num papel e fizesse o favor de me comunicar o que eu sinto. E é como o tesão que se esvai, como a areia que escorre por entre os dedos: não sobrou nada, n-a-d-i-n-h-a.
Sentimentos, sensações óbvias hoje passam completamente despercebidas. Estou anestesiada para o mundo, estou inerte ou, pra me expressar melhor, NÃO ESTOU. Fui dar uma volta em mim mesma e pode ser que não volte nunca mais, que não reencontre minhas críticas, minhas crises, minha identidade confusa e minha. Odeio ter que escrever sobre as crises. Hoje poemas me fluem melhor que os meus próprios sentimentos. Hoje eu não consegui escrever sobre algo que, em qualquer outro tempo, não teria faltado palavra nem linha nem argumento nem profundidade. Estou inerte. Preciso de um tapa na cara, nem precisa ser real, pode ser dos metafóricos mesmo, pode ser uma xícara de chá de depressão ou meia xícara de euforia. Eu estou morna, e eu nunca soube trabalhar em temperatura ambiente. Parece que bailo em mim, coisas automáticas, tum tum tum e acabou o dia, não tive cinco minutos para esfregar a cara no espelho e dizer pra mim mesma "vem cá hein o que tu pensa que tá fazendo da vida?". Cadê as minhas crises, meu Deus? Eu tenho que passar pelo vexame de ter uma crise por não ter mais crises, tsc tsc tsc, mamãe se envergonharia, não é essa a filhinha que ela conhece. Nunca fui eu a conformada, a certinha, a preocupada. Hoje quero agradar, mas eu não nasci pra agradar não, e isso soa tão tão tão falso que não sei se odeio mais quem eu agrado ou se as pessoas que eu tento agradar conseguem me odiar mais.
Once again eu preciso de um choque de realidade. Eu preciso de um pouco de tempo. Eu preciso olhar pra minha cara, mas olhar de verdade, olhar fundinho, me enxergar mais uma vez. Eu preciso me reencontrar. Eu preciso nunca mais me perder.

Sem Fantasia

Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perde-te em meus braços
Pelo amor de Deus

Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu

Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver
Custou tanto penar
Não vou me arrepender
Só vim te convencer
Que eu vim pra não morrer

De tanto te esperar
Eu quero te contar
Das chuvas que apanhei
Das noites que varei
No escuro a te buscar
Eu quero te mostrar


As marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa
Dos carinhos teus

(Chico Buarque)

domingo, 26 de setembro de 2010

Insone

Te vejo dormindo ao meu lado na nossa cama. E tenho a estranha sensação de que quero viver sempre vigiando o teu sono nas minhas madrugadas em claro. Partilhando muito mais que um edredon: dividindo uma casa, uma vida e o mesmo sonho. Aquele de ser feliz sempre.

P.S. não vou escrever mais. Tu acabou de mexer e fiquei com medo de te acordar.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Morangos Mofados

Mesmo mofados, os morangos ainda são morangos.
Mesmo cretina, a nossa vida ainda é a nossa vida.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

tempo

"Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo:nem ele me persegue, nem eu fujo dele, um dia a gente se encontra" 
(Mário Lago)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Para Uma Avenca Partindo

Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viveras superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualqueratraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um diadestes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ......... ............ ............. ............ .......... ........... ............. ............ ............ ............ ......... ........... ............ ............ sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê. 

(Caio Fernando Abreu) 

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

THE END



Para finalizar em grande estilo. Thank you!

Sol

Eu acordei e pude ler, sentada naquela poltrona que desde a primeira vez me encantou. Eu acordei e tive tempo para ver o sol, a rua, as pessoas, o mar. Acordei e acendi um incenso, acordei e desejei essa felicidade - cumulada com esse sol, essa casa e esse amor tão belo - por todas as outras manhãs da minha vida.
Mesmo que em algumas delas o sol possa querer se esconder.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Satisfação

Sinto uma incomum sensação de satisfação. Com a vida e os rumos que estou tomando, com as coisas que tenho construído, comigo mesma. Me sinto satisfeita e orgulhosa das minhas atitudes e isso é muito estranho para uma eterna insatisfeita como eu. Me sinto plena, por mais que o trabalho ainda seja muito, a faculdade uma merda, a grana pouca e o tempo feio. Nas coisas que são realmente importantes, me sinto mais feliz. Mais realizada. Ouso até dizer que mais humana. Me sinto importante, única e devo tudo isso a mim mesma - por mais que isso possa soar egocêntrico e estranho - por todas as decisões que eu tomei nos últimos tempos.
Somos os únicos responsáveis pela nossa felicidade. A cada dia isso fica mais claro e, a cada dia que passa, eu tenho mais e mais a certeza de ter feito a coisa certa. Deve ser essa estranha sensação de satisfação aquilo que as pessoas costumam chamar felicidade. Que não precisa custar caro, nem ter grandes gestos. Basta um pequeno montante de minúsculas vitórias diárias. Once a day. E minha vida brilha feliz.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Baby

Hoje eu vou chegar mais cedo, amor. Estou levando flores, vou levar um porta-retrato com a nossa foto mais bonita, quero brindar a nossa casa, o início da nossa vida. Hoje vou chegar mais cedo, amor. Me espera com a cama feita, com um banho quente e a disposição de só me encher de beijos. Me espera para abrir as caixas. Me deixa desfazer mala por mala e te dispor organizado na minha vida, como eu quis, pedaço por pedaço nas minhas mãos e pode deixar que tratarei de tudo com todo o cuidado e amor e atenção e delicadeza do mundo. Hoje eu vou chegar mais cedo, amor. E mesmo que eu tenha a minha própria chave, quero que no primeiro dia eu te encontre me esperando na porta do elevador, eu aperto o quinto andar e te encontro lá em cima, quero que tu abras a porta da nossa casa como te abri, pela primeira vez, as portas da minha vida. Hoje eu vou chegar mais cedo, amor. Me espera de braços abertos que eu vou de coração pulando. Me espera com um sorriso no rosto, me espera de qualquer jeito, me espera como quiseres. Me espera que eu vou mais cedo.
Separa um vaso, amor. Estou levando flores. Separa também um cobertor quentinho, uma taça cheia de vinho e um mundo de carinho que hoje eu vou chegar cedinho.

domingo, 5 de setembro de 2010

Sun

See the sun. All that I need. :)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Trocando Em Miúdos

"(...)
Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me roubou
E nunca leu
Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde"

Uma maravilhosa do meu cd novo e maravilhoso do Chico. O primeiro de vinte. :)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

cinza

A depressão é indispensável à criação.

para as paredes 002

Vou voltar às minhas calças rasgadas
Vou voltar às minhas roupas esquecidas no fundo do armário
Vou voltar para me encontrar no cheiro do mofo
Vou voltar àquela velha
Voltar a mim
Vou voltar

As sutilezas de um amor

"Qualquer frase, em se tratando de nós, que absolutize o amor é um erro. Eu arriscaria dizer que absolutizar o amor é um erro. O amor é o mais relativo dos sentimentos, e aí, meu amor, começamos com o primeiro dos meus paradoxos, afinal essa sentença absolutizou no relativo. Mas explico, amor, o amor é relativo porque ele é individualizável, ele é só nosso e de mais ninguém, o ser não compreende o todo para amar, apenas tenta compreender o seu par, o seu lado... Nisso a razão vira fábula, somos sentimentos, sentir, amar... o amor é a própria condição da alteridade quando o outro falar por si sem dizer nada, o amor é uma amizade rasgada, o amor é um par de olhos verdes e um par de olhos castanhos, o amor é um sorvete, o amor é um milkshake, o amor são quatro letras perdidas no mundo que só ganham sentido conosco, mas eu preferiria dizer com-nós... e quando falo em nós, falo em nós mesmos (eu e tu, tu e eu), essa conjunção improvável de belezas dentro de toda a improbabilidade que é amar. O amor é esse desaguar num e no outro, sem sabermos muito bem como é o fenômeno físico de um rio desaguando no outro, mas tendo a certeza absoluta que sabemos muito bem o que essa expressão significa. O amor é com açúcar, com afeto. O amor é grand hotel. O amor é quem te viu¿ quem te vê¿ o amor é tudo que podemos dizer, porém pouco dele conseguimos falar. O amor é a falta de luz e mesmo assim a diversão. O amor é a foto com teu sorriso cristalizado. O amor é aquela foto. O amor é caminhar de mãos dadas. O amor é estar ao teu lado. O amor é a cabeça no meu peito. O amor é um dia rolando na cama. O amor é roubar a internet do hotel só pra ver o que escreveste. O amor é ficar apreensivo à 1 da manhã. É, o amor é injustificável na sua justificativa. Contudo uma coisa preciso dizer: eu te amo! Obrigado por fazer parte da minha vida."

Valeu

dois namorados
olhando o céu
chegam à mesma conclusão
mesmo que a terra
não passe da próxima guerra
mesmo assim valeu

valeu
encharcar este planeta de suor
valeu
encarar esta vida que podia ser melhor
valeu
esquecer as coisas que eu sei de cor

valeu

            valeu


(...)

beijos e abraços
intoxicados de saudade
Leminski

Justificativas de um amor injustificável

Sem nenhuma razão ele me tomou pelos braços e me conduziu à sua vida. Não, não me pegou do braço nem me disse "vem!" nem me levou ao cinema - não naqueles tempos, que nos retraíamos a cada instante que o outro se aproximava - nem me obrigou a decidir instantaneamente o que eu queria da minha vida. Mas me conduziu como um cavalheiro conduz seu par pelo salão de bailes, gesticulando com maestria e me levando a dar cada um dos belos passos da dança, me fazendo dançar ao seu ritmo, me fazendo inevitavelmente cair em seus braços. Me tomou pela mão, aquela mão do pensamento, puxou-a com toda sutil gentileza indispensável à condução de uma mulher teimosa feito eu e soube administrar com paciência e suavidade todas aquelas crises e os momentos de hesitação e dúvida e choro e cenas dignas de Hollywood - com um pouco menos de maquiagem e bem menos glamour, pelas ruas da cidade, um glamour da vida real.
E sem mais nem menos me apaixonei por toda aquela forte delicadeza paradoxal - puxa, como ele adora esse termo, tudo é paradoxal, vivemos num paradoxo, sentimentos paradoxais, me perco no tempo me perco na cama me perco em meio aos lençóis e volto num suspiro para falar de quê? -, é, paradoxal pois, ao mesmo tempo que imperava a sutileza de uma brisa, havia no mesmo trono a fúria de um furacão prestes a me arrancar do lugar frente a tanto comodismo e apego. E sem mais nem porquê as coisas foram crescendo e tomando proporções que ninguém - ninguém leia-se eu e ele, o resto do mundo suspeitava do contrário -, digo, ninguém imaginaria. As mãos se procuravam de leve, os olhos fugiam uns dos outros, um par de verdes se enchia de pequenos diamantes ao encontrar o par de mele as coisas foram crescendo como um bolo feito às pressas, sem muita expectativa e exagerado no fermento - eu sei, péssima metáfora, mas são mais de meia-noite e eu preciso da minha cama e eu preciso ao mesmo tempo te explicar o inexplicável, te fazer compreender o incompreensível, vai me desculpar pela metáfora mas talvez não haja nada nada melhor do que um bom bolo então estou perdoada. E aquela mão me levou para bailar e, não mais satisfeita em segurar esporadicamente a minha, decidiu juntar-se rente ao meu corpo, colar o braço na minha cintura, ajeitar meus colares, me por os brincos e me por a sorrir os dias inteiros. E aquela mão conduz meus passos, aquele braço guia minha dança mesmo por caminhos tortuosos, ao som de Chico ou de qualquer coisa que faça nossos corpos vibrarem, os ruídos das nossas próprias vozes, os embalos de nossos próprios pensamentos ou aquela música, é, aquela mesma que é o silêncio em movimento.
São mil tentativas de justificar o injustificável. De tentar descobrir e redescobrir e ler e reler nos mesmos traços, nos mesmos gestos, na mesma trajetória espontânea de encontro de nós dois, o porquê de um amor. Mil tentativas de racionalizar o irracional e de tentar te explicar coisas que só um par de olhos pode te contar. Um dia ainda listarei todas as razões porque me apaixonei; quando talvez eu conseguir descobri-las.
Um dia ainda te justificarei o injustificável. E voltaremos, mais uma vez felizes e dançantes, ao nosso amor injustificado e irracional.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

para as paredes 001

Deprimente é ver que quitamos as dívidas com livros mais rápido do que podemos dar conta deles.
Deprimente é ver que o dinheiro disponível para adquiri-los é inversamente proporcional ao tempo para saboreá-los.
Vejo isso em mim mesma,
Credo

Here Comes The Sun

Há algum tempo eu acordo odiando as segundas e hoje, por mais inacreditável que seja, esse sentimento desapareceu. Hoje vi algum brilho na segunda, algum brilho naquela mesma rotina de que eu nunca tenho tempo para nada, algum brilho nos dias cheios, nos horários marcados. Deve ser só algum otimismo passageiro e provavelmente eu vá voltar a odiar a segunda, toda segunda, o recomeço. Mas é por ser recomeço que hoje me encanto por ela. O reencontro, o recomeço, o renovar de uma velha rotina. E a culpa de todo esse otimismo deve ser a ligação das sete e a música dos Beatles, não há nenhuma justificativa melhor pra tanto brilho nos olhos numa segunda de frio.

domingo, 29 de agosto de 2010

Palavras de Chico

Já ouvi muitas pessoas falarem de um amor embalado a Elvis ou Beatles. Mas embalado a Chico, acho que é mais difícil. Chico, que sempre rouba as palavras certas e traduz o amor em finas linhas, suficientes para encher de emoção o coração e fazer passar pela cabeça um filme feito de imagens e fotos e alegrias e imagens e felicidades cotidianas. Falando em Chico, falo em tantas músicas mas só hoje tive coragem para escrever sobre aquela música, sabe. Aquela que faz o coração pular; aquela que, muito antes do amor ser amor, já embalava os corações. Falo de uma música toda especial, que eu cantarolava pelas ruas na esperança daquela outra voz vir me fazer companhia num dueto. Queria eu ser Nara naquele momento, no meio da rua, encontrar meu Chico para dividir a canção no meio da chuva, no meio do dia, no meio do nada. E, no meio de tudo, nós dois. Toda semana eu fazia o seu doce predileto, esperando você parar em casa. E você veio. E parou. E eu abro meus braços pra você.
Deve ser Chico o som ideal para embalar dois apaixonados -  apaixonados por ele e por nós mesmos.
Deve ser Chico o som ideal para nascer uma paixão.
E deve ser Chico o som ideal para um amor nunca morrer.









"E abro meus braços pra você..."

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

queridíssimos

vi ontem na tv o "three seconds to hell" do aldrich
é a história de um grupo de desmontadores de bomba
na alemanha do após guerra
um erro mínimo e a bomba PUM ! na cara do desmontador
escrever poemas é assim
um erro e o poema explode na tua cara

Leminski

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

22:49

Preciso urgentemente voltar a escrever. Faz muita falta nos meus dias esse tempo que eu reservava só para olhar para dentro e ver e rever e descobrir e reencontrar meus traços, minhas ambições, minhas saudades, alegrias e frustrações. Me faz falta pensar em mim. Faz muita falta olhar pra si mesmo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Bom Dia


Eles eram a água e o vinho. Ela era o vinho, um bom vinho, com qualidades nobres, um vinho jovem, por assim dizer, mas, mesmo assim, um vinho de grande qualidade.  Um vinho de uma família nobre, orgulho por suas qualidades, como todo o bom vinho, exigiria do seu degustador uma tripla habilidade e uma extrema sensibilidade: exige o olhar, o nariz e a boca, esses três, sem falta. Mais do que três sentidos, requer-se sensibilidade dos três sentidos, sensibilidade extrema, não basta sentir, não basta ver, não basta cheirar, é preciso uma conjunção quase sobrenatural para compreender o que se vê, o que se cheira, o que se sente. É isso que esse vinho exige, como uma mínima moralia existencial, ou seja, ou o degustador tem essa habilidade ou perdeu de provar o melhor dos vinhos. O vinho é a bebida dos deuses para alguns, cultuado e adorado por gerações, passou pela idade da pedra, pelos egípcios, pelos cânticos chineses (receitando-o para aliviar a tristeza). E ela era o vinho que via em outras famílias de vinho a qualidade, a nobreza e o retinto igual ao seu, vinhos com traços jovens, verdes, por assim dizer, com um bouquet jovem, que precisariam ainda de tempo para saber se se tornariam um bom vinho ou eram apenas um vinho. Dela, todos sabiam, a espécie de uva e a cepa que pertencia, seu bouquet encantava a todos revelando traços que só esse vinho tinha, nenhum outro seria capaz, por isso vivia entre os melhores vinhos e assim seguia, de garrafa em garrafa, de bouquet em bouquet procurando uma conjunção capaz de produzir uma uva e um vinho superior. Ele era a água, observava com distância tudo, invejando-a por suas qualidades, sem que pudesse se aproximar, afinal era simplesmente uma H2O, duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio, era facilmente trocável por qualquer outra bebida que se fosse encontrada à mesa, bastava um daqueles refrigerantes, aos quais alimentava uma ojeriza incrível, que seria trocado. Diferente do vinho, quando muito era insípida, inodora e incolor, qualidades precípuas de uma boa água, mas que, em geral, não correspondem as qualidades apresentadas. Ficava extremamente triste por não ter degustadores em seu entorno, debatendo suas qualidades, sua família, seu bouquet. Aliás nem bouquet tinha, o que deixava a água extremamente entristecida. Ela nutria uma admiração e paixão por aquele vinho, que deixava todos à mesa estupefatos. Essa atitude gerava riso entre os outros vinhos. Ela, que era um vinho nobre, olhou com bons olhos o amor da água, mas sentia não poder corresponder, por ser um vinho. Não menosprezou ou fez troça do amor d’água, apenas não via compatibilidade. A água seguia indelével no seu desejo de estar com aquele vinho, sabia que tinham diferenças, que eram diferentes, mas e daí, por que não a água com um vinho? O vinho começava, pouco a pouco, a acreditar numa conjunção improvável e dessas improbabilidades o vinho começou a querer estar com a água. Num dia desses, desses que são tão mágicos que não precisam ser datados, ela foi de mansinho e ingressou na garrafinha d’água, misturaram-se e, dizem os especialistas que presenciaram o fenômeno, que ali surgia o melhor vinho já conhecido na história. Os outros vinhos caíram em inveja, as águas disseram que aquilo seria fugaz, mas até hoje, dentro de uma dimensão de tempo, que só os deuses sabem contar, essa conjugação permanece intacta, alimentada pelo amor entre o vinho e a água. Te amo.

Beijos, Hector