segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O breve e longo e relativo tempo

Porque quando passa esse filme todo na cabeça, a única confusão que me acontece é a incerteza do tempo real de tamanho acontecimento, é a dúvida sobre quantos são os anos a olhar no fundo dos mesmos olhos, a incerteza das mãos que já podem ter sido outras mãos e os toques outros toques mas, mesmo que outros, ainda os mesmos e ainda com os mesmos sentidos e as mesmas sensações e aquele mesmo brilho místico de fundo e ainda as mesmas belas baladas de embalo, mesmo que estas fossem outras mais condizentes com os tempos que se passaram, mesmo que ainda nem houvesse baladas e nem brilho místico e quem sabe nem um vínculo nem uma mão dada, ainda tudo sempre igual, sempre o mesmo, sempre intocável, imutável, firme e certo. O eco de antigas palavras, já diria Chico, hoje refletido quem sabe em outras histórias que no fundo a mesma história, que se confunde, se perde, se renova e se acha no mesmo chão, nos mesmos passos, na mesma cadência - na cadência dos teus passos (...), no carinho dos teus braços -, mesmo que em outros corpos, outros tempos, outros continentes, outros sonhos, sempre o mesmo. Aquele velho, os escafandristas vieram, encontraram e reencontraram algo que só se reencontra dentro daquele mesmo peito. Por isso me perco no tempo, aquele tempo que não sei mais se é tanto ou tão pouco, se é novo acontecimento ou velha lembrança, pois tudo acontece de maneira tão sutil e (sobre)natural que o relógio e o calendário se confundem e já não há mais tanta importância em contar naqueles dias que inventaram divididos naqueles mesmos meses e naqueles mesmos anos, já que faltariam meses e anos e décadas e séculos e milênios .para saborear a infinidade daqueles sentimentos tão engrandecidos pelo tempo e tão bem concebidos através das eras, faltariam braços e abraços e certamente coração para dimensionar cada uma dessas sensações que, mesmo tão novas, tão velhas e tão conhecidas, tão comuns, naturais e mesmo assim tão raras e tão únicas. Tão breve, tão longo, tão relativo tempo. Tempo todo que me perco bem no meio dos teus braços.

"Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você"


(Futuros Amantes - Chico Buarque)

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