segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Forever Lost

Hoje durante a aula caiu a ficha: o tesão acabou. Há algum tempo eu já me perguntava porque a conversa comigo mesma já não tinha a mesma fluência e hoje a resposta veio sutil e devastadora, ao mesmo tempo. Eu perdi, lentamente, a capacidade de me olhar. De me reconhecer. De conversar comigo mesma. E precisei ter um trabalho de antropologia enfiado goela abaixo para ver que já não flui mais. Eu perdi a capacidade de pensar profundamente, perdi a capacidade de dissertar, de escrever, de contestar, de criar, de mandar tudo pro raio que o parta e começar do zero. Estou acomodada, escorregando pela pelagem do coelho, como diria o filósofo no O Mundo de Sofia. Eu perdi a capacidade de olhar bem dentro dos olhos do mágico que tirava o coelhinho da cartola. Parece que estou anestesiada, forever lost mesmo. Não é à toa que venho buscando mais cronistas do que nunca, buscando que os outros escrevam por mim aquilo que eu sinto. Estou me juntando aos que querem apenas ser representados. Quero é só me identificar. Como se alguém arrancasse os pensamentos da minha cabeça, colocasse num papel e fizesse o favor de me comunicar o que eu sinto. E é como o tesão que se esvai, como a areia que escorre por entre os dedos: não sobrou nada, n-a-d-i-n-h-a.
Sentimentos, sensações óbvias hoje passam completamente despercebidas. Estou anestesiada para o mundo, estou inerte ou, pra me expressar melhor, NÃO ESTOU. Fui dar uma volta em mim mesma e pode ser que não volte nunca mais, que não reencontre minhas críticas, minhas crises, minha identidade confusa e minha. Odeio ter que escrever sobre as crises. Hoje poemas me fluem melhor que os meus próprios sentimentos. Hoje eu não consegui escrever sobre algo que, em qualquer outro tempo, não teria faltado palavra nem linha nem argumento nem profundidade. Estou inerte. Preciso de um tapa na cara, nem precisa ser real, pode ser dos metafóricos mesmo, pode ser uma xícara de chá de depressão ou meia xícara de euforia. Eu estou morna, e eu nunca soube trabalhar em temperatura ambiente. Parece que bailo em mim, coisas automáticas, tum tum tum e acabou o dia, não tive cinco minutos para esfregar a cara no espelho e dizer pra mim mesma "vem cá hein o que tu pensa que tá fazendo da vida?". Cadê as minhas crises, meu Deus? Eu tenho que passar pelo vexame de ter uma crise por não ter mais crises, tsc tsc tsc, mamãe se envergonharia, não é essa a filhinha que ela conhece. Nunca fui eu a conformada, a certinha, a preocupada. Hoje quero agradar, mas eu não nasci pra agradar não, e isso soa tão tão tão falso que não sei se odeio mais quem eu agrado ou se as pessoas que eu tento agradar conseguem me odiar mais.
Once again eu preciso de um choque de realidade. Eu preciso de um pouco de tempo. Eu preciso olhar pra minha cara, mas olhar de verdade, olhar fundinho, me enxergar mais uma vez. Eu preciso me reencontrar. Eu preciso nunca mais me perder.

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