terça-feira, 29 de março de 2011

Mãe...

Sabe mãe, eu arrumava a minha pequena coleção de dvds quando lembrei de ti. Lembrei exatamente da pose com as duas mãos na cintura que fazias atrás de mim, admirando aqueles que eu já tinha na estante, dizendo que sempre quis que eu tivesse muitos e muitos de música. Acho que fiz do teu desejo um pequeno altar na minha casa, na minha sala, na minha estante. Hoje aqui contei trinta, enquanto limpava um por um do pó que lentamente se assenta como a saudade que lentamente dói e te vi atrás de mim, mãos na cintura, dizendo como é legal ter muitos desses em casa para assistir quando quiser.
Deixei por aí alguns já repetidos, mas que gostaria de ter por perto hoje. Mentira, eles não fazem falta alguma, mas queria estar perto deles só para estar perto de ti. Sentir o teu cheiro de casa, teu cheiro de mãe, aquele cheiro inconfundível que tens, que não é nem da pele nem dos cabelos, nem é dos cremes e muito menos de perfumes: é o teu amor que exala perfumando a roupa e a casa inteira. Te queria batendo à porta do quarto, pedindo para que eu baixasse o volume do último da coleção. Coloco algum para ouvir: a saudade alivia como se tu entrasse para ouvir e dançar comigo. A falta dá lugar à felicidade de te ter por perto.
Tu me ensinou a gostar de música, mãe. Tu me ensinou a amar. 
Cada um que compro, cada um que ganho, abro alegremente e disponho na ordem que já é habitual. Cada novo que ouço, ouço contigo aqui. Faltam alguns que desejo, faltam outros que só tu gostaria de ouvir comigo, mas encontrei meu modo de te amar. À distância, teu desejo de som se fez meu pequeno altar.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Onde

Para onde vai o amor depois que o amor se vai? Ou melhor, para onde vai o amor depois que o relacionamento acaba? A relação e o amor não terminam ao mesmo tempo, mas não é isso que parece quando o fim bate à porta. 
Depois do fim, as juras, as promessas, os sonhos e principalmente o respeito já não têm valor algum, a história é rasgada e jogada no lixo, condenada ao esquecimento, às fotos encaixotadas e às velhas cartas abandonadas em algum canto esquecido. Depois do fim, não olhamos mais nos olhos do outro. Criou-se (ou criamos nós mesmos) a ideia que, depois do adeus, não há nem deve haver mais nenhuma ligação entre aqueles que até ontem eram principais amigos e confidentes. Modernos que me perdoem, eu não consigo compreender isso. Não consigo conceber que amanhã tenhamos que atravessar a rua para negar um olá à pessoa que ainda hoje nos deu um beijo de bom dia. Não consigo entender porque tentam nos convencer que temos que demonstrar indiferença ou superação, já no dia seguinte à separação. Não entendo o porquê de negar uma história, negar um sentimento que muitas vezes ainda não se foi - e que, em algumas vezes, nunca irá -, negar a mão estendida a quem muitas vezes nos segurou e esteve ao nosso lado.
Depois do fim, nos ensinam que devemos ser indiferentes, que devemos virar o rosto, fingir que esquecemos, demonstrar felicidade, forçar felicidade, forçar uma risada que nos ensurdece e cala o que nossos sentimentos desejam falar. Mais do que um motivo para o fim, precisamos perceber que para o início também houve um motivo, igualmente importante, igualmente comovente, igualmente extasiante. O fim nem sempre é fácil, nem sempre é pacífico, nem sempre é aceitável. As razões muitas vezes não nos parecem claras, as justificativas soam injustificáveis, os sonhos se quebram até se recompor outra vez por um novo começo. Pode haver raiva, tristeza, mágoa, amor, ressentimento e é justo que haja. O que não pode haver é negação. Negar o outro, um outro tão íntimo, é como negar a si mesmo. É virar a cara à própria história. É rasgar grande parte da nossa identidade.

domingo, 27 de março de 2011

Rotina

Caso algum dia eu deixe de me encantar com teus pequenos e grandes defeitos, posso te dizer com certeza que meu amor morreu. Pequenas marcas que deixas no nosso cotidiano, na nossa vida comum, naquele rastro da rotina que sempre desejamos para nós dois. Há alguns detalhes que me encantam, há sempre uma roupa esparramada pela casa, um livro entreaberto ou marcado com qualquer coisa, uma beirada da cama que não foi arrumada, um perfume fora do lugar, uma toalha pendurada em alguma das portas da casa, uma surpresa ou uma flor escondida me esperando voltar... Sempre algum sinal claro de que estamos, estivemos e em breve voltaremos para o nosso lugar. Não é a tua arrumação que me dá certezas, mas as tuas bagunças. Onde fica algo por fazer, tenho certeza que voltaremos. Onde ficar algo por fazer, terei sempre a oportunidade de te reencontrar no final do dia. A bagunça me dá a certeza de que a única organização que preciso está dentro do meu coração. O que assenta meus sentimentos é te espiar no fim da noite, dobrando vagarosamente as roupas, atirando os tênis para o lado da porta, os jornais pelo tapete, as surpresas pela mesa, as cobertas pelo chão. A bagunça ao redor me garante que amanhã será mais um dia. Mais um dos nossos dias.

A rotina é o combustível do nosso amor.

quarta-feira, 23 de março de 2011

para as paredes 007

Eu queria te escrever, queria te contar aos outros, queria descrever as minhas expectativas e a tranquilidade que surpreende até a mim mesma, nunca me imaginei dessa maneira. Queria encontrar as palavras exatas das sensações que eu sinto e verbalizar as emoções que me proporcionas. Queria te imaginar e dividir as minhas imaginações, mas não encontro palavras que sejam o suficiente ou termos que não sejam equivocados ou abrangentes demais. Queria um termo que só definisse a ti, que abarcasse o que eu sinto, espero, desejo, sonho e acredito. Queria te dizer algo, te definir em alguma palavra além da definição óbvia, muito mais que óbvia, da palavra amor. Me acordo todos os dias apaixonada, mas esse sentimento ainda não tem nome exato.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Recorte


"It's hard for people to comprehend that someone can be born a cartoonist but I believe I was. Why do musicians compose symphonies and poets write poems? Because life would have no meaning for them if they didn't. That's how I feel about drawing cartoons. It's my life."
(Charles M. Schulz)

Depoimento extraído do livro Celebrating Peanuts 60 Years. :)
Não conheço nenhum poeta famoso pela sua felicidade nem nenhum escritor conhecidíssimo pela sua alegria de viver e sua estabilidade emocional. A inconstância que faz o artista. É o surto, o choro, a crise, a raiva, a saudade, a depressão, a oscilação que fazem com que a poesia brote, com que as linhas e os romances pulem dos punhos para as folhas. Quando fora da zona de conforto, é a emoção que toma as rédeas e que delimita as palavras. É o sentimento de estar fora do normal que motiva a escrever, a sensação de que algo não está no seu devido lugar, a impressão de que batendo nas teclas ou lentamente marcando o papel com a tatuagem da caneta as marcas, euforias e as dores sairão de nós e se transmitirão a eles. Tatuados eternamente com a marca de nossas palavras.
Desaprendi a ter crises. Desaprendi a questionar. Desaprendi a escrever. Não sei mais manejar as palavras, não consigo mais fazer com que elas fluam ao meu modo quando fazia enquanto a raiva tomava conta de mim, ou a saudade, ou a solidão. Só consigo diagnosticar que estou feliz.
E quem sabe só conhecemos poetas tristes por não haver termos suficientes para descrever a felicidade.

terça-feira, 15 de março de 2011

A Mochila

A mulher na minha frente estava com a mochila aberta. Hoje, no ônibus, ela se perdia nos pensamentos e a única coisa que não enxergava  - ou que não via, pois não conseguia imaginar que ela enxergasse algo - era aquele zíper aberto que deixava à mostra uma parte das suas coisas - e parte da sua ferida também. Lembrei imediatamente do que uma vez contou Carpinejar, ao falar do sofrimento da mãe logo após o abandono do pai, quando ela saiu com um pé de cada sapato e caminhou por horas com o pequeno e ele, angustiado com os diferentes pares e sem saber exatamente se diria à mãe que ela havia se enganado na hora de se calçar, permaneceu calado. Fiquei igualmente calada enquanto via a parte exposta daquela mulher, que também segurava o seu filho pela mão. Não consegui esboçar uma reação, não consegui tocá-la, não consegui avisar que ela havia cometido um pequeno descuido - que me pareceu uma demonstração clara de 'não perturbe'. Ela encostava o filho no peito e apontava, com o olhar perdido, coisas que nem ela enxergava, talvez tentando evitar que os olhos do pequeno se encontrassem com os seus. Às vezes deixamos parte de nós mesmos para fora como grandes feridas expostas e nem percebemos que as exibimos tão claramente como essa mulher se mostrava hoje. Os pequenos descuidos, as bolsas abertas, os livros caídos, os anéis e os olhares perdidos são, para mim, são a expressão desesperada de quem diz em silêncio "me ajude, me perdi em mim mesmo".
Ela pode ter descido do ônibus e nada ter realmente acontecido. Ela pode ter se atrasado. Ela pode ter pego um casaco na bolsa para entregar ao filho e, dispensando atenção a ele, esqueceu de fechá-la. 
Mas ela pode também ter dado esse sinal quase imperceptível, essa mostra de desespero e desapego de quando nada mais faz sentido. Não importa mais se perdermos os pertences pelo caminho, se deixarmos as carteiras e os documentos espalhados pelo meio da rua, nada mais importa quando o olhar e o coração se perdeu. E o nosso coração sempre faz questão de dar um sinal quando tudo dentro de nós está perdido.
 Até que alguém, quem sabe, nos reencontre e nos reorganize. Alguém que nos faça dar bola novamente aos fechos da mochila. Alguém que feche, bem fechado, o zíper doído e muitas vezes emaranhado do coração.


domingo, 13 de março de 2011

Confissões do Amor Distante

É fácil conviver com alguém. Dividir a casa, compartilhar os móveis e a vista do céu estrelado que a posição da cama proporciona. É fácil esperar para ler o jornal, recolher duas em vez de uma toalha no banheiro, assim como é fácil ter alguém para lavar dois pratos na hora do jantar. É relativamente fácil dividir uma casa e, muito mais do que dividir as contas e as tarefas, dividir os planos e os sonhos, a intimidade e dividir o sono. É quase fácil entrar em consenso nos móveis, é quase fácil ser feliz o tempo inteiro. É fácil se acostumar a encontrar uma luz acesa e um agrado ao chegar em casa, é facílimo se divertir e se deliciar com uma vida a dois.
Difícil é se acostumar com a ausência de quem se ama. Difícil é não sentir falta das roupas esparramadas, do lado da cama preenchido, do barulho logo cedo, que vai fazer falta a semana toda. Difícil é não se sentir metade, quando claramente falta outro pedaço. Difícil é entender que é só uma semana, que logo logo passa e que o amor volta pra casa, enchendo de luz a casa que fica cinza enquanto ele se vai. A nossa casa só faz sentido quando é preechida de amor. Não importa onde estivermos, nem com quem, nem como. Não importa se está pronta ou sendo lentamente construída. Não importa se já tem sala de janta ou estantes suficientes. O amor é que deve se fazer presente em todos os ambientes, em cada uma das caixas abertas, em cada dos móveis escolhidos, em cada das comidas preparadas. O amor é que faz a casa da gente ter sentido, ter ar, ter chão.
Sinto que meu coração morrerá sufocado ao longo da semana. Sufocado de saudades, sem o ar que só o amor poderá me devolver.
Esperarei ansiosa pelo final de semana e deixarei, propositalmente, as coisas esparramadas para que o amor refaça minha trilha e organize minha pequena bagunça como só ele é capaz de fazer.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Be My Baby




:D

quinta-feira, 10 de março de 2011

Rock'n Roll Lullaby


"And she'd sing
Sha-na-na-na-na, na-na-na-na
It'll be all right
Sha-na-na-na-na, na-na-na-na
Just hold on tight
Sing it to me, mama
My, my, my, my, mama
Sing it sweet and clear
Oh mama, let me hear
That old rock and roll lullaby..."
Eu poderia dizer que sinto falta das coisas que vivi. Eu sei que depressão e saudosismo causam mais vontade de ler e mais curiosidade do que uma felicidade aparentemente sem razões. Poderia ouvir mais uma vez a música que estou ouvindo agora e dizer que me identifico com o Roberto Carlos desejando sentir "você bem perto de mim, outra vez". O problema - ou solução, como preferir chamar - é que não há ninguém de quem sentir saudades. Não há nada que eu queira reviver. Hoje me parei a pensar nos casos da vida, nos meus amores, nas minhas histórias, e eu relembro tudo de uma forma tão doce, tão serena, que eu não vejo fundamento algum de querer viver novamente nenhuma daquelas sensações. E hoje me encontrei absolutamente satisfeita com a vida que eu escolhi, com a felicidade que construi. Construi algo tão sólido, tão delicioso e sublime que me completa e que preenche todas aquelas lacunas que eu vivia acreditando serem impossíveis de serem completadas. Construi, com meu coração e minhas duas mãos, uma felicidade tão verdadeira que me fez esquecer as angústias que me tomavam. 
Sei que tristeza faz sucesso. Sei que quem ainda acompanhava o meu blog deve ter perdido muito do fôlego por me ver feliz. É muito bom escrever com raiva, é muito bom escrever triste, angustiada e deprimida. Mas eu não me sinto deprimida. Não sinto, nem de longe, nada que pareça com qualquer um desses sentimentos. Só tenho a pedir desculpas, então, pois a minha felicidade é sincera, leve, daquelas que não incomoda e que tenho certeza que não vai acabar tão cedo.

segunda-feira, 7 de março de 2011

para as paredes 006 - bailes

Como a vida é bela e como as coisas se encaixam sempre perfeitamente. Não cansarei nunca de me admirar com a beleza e com a maestria com que o mundo se guia e acaba nos guiando. Bailamos junto o baile da vida, bailamos no ritmo do universo as músicas que ele dita com os poucos passos que escolhemos e sabemos dançar. São muitas as chances, muitos os tons, as melodias, muitas as vozes que entoam os cantos e muitos os balés que dançamos vida afora - algumas vezes escolhidos por nós, muitas outras mais escolhidas pelo mundo que nos rodeia. Mas acontece que, quando nos deixamos levar pela música que a vida escolhe para cada um de nós, somos sempre surpreendidos. E (quase) sempre para melhor. Nunca poderíamos acreditar que acasos que pareciam tão desconexos se uniriam de forma tão sutil e ao mesmo tempo tão firme nas valsas e nos bailes da nossa jornada. É muito maravilhoso se deixar levar pela música. É um presente aprender a ouvir e a dançar conforme o som que toca, sem exigência de par, de iluminação, de confete e serpentina ou de banda a tocar o que desejamos bailar. É maravilhoso olhar para trás e ter a sensação aliviada da decisão acertada, de ter orgulho de cada uma das pequenas construções diárias.
Acho que nunca cansarei de me fascinar, de me pegar abobada com a perfeita condução que a vida mostra enquanto nos atira pelo salão, ora aqui, ora lá. Nunca cansarei de agradecer à vida pelos bailes inesperados que me deu e pelas felicidades imensuráveis que cada um deles me proporciona a cada dia.
Talvez seja o carnaval que me faz pensar na vida como música, como um baile. Talvez seja o batuque da avenida, o clima carnavalesco, a festa da época, ou talvez seja apenas mais um momento de estalinho. Talvez a vida me arraste mais uma vez para um ritmo que nunca soube dançar, mas ela é ao mesmo tempo tão magnífica que me oferece a oportunidade de aprender a coreografia enquanto me preparo em um cantinho do salão. Para algum dia, quem sabe, ser digna de brilhar no meio do palco, cheia de orgulho e da experiência que só as danças inesperadas podem nos trazer.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Isso

Isso que não tem nome é o que me move. Isso, tão indefinido quando a determinação que recebe mas internamente tão delimitado que não sobra espaço para dúvidas. Não sei dar outro nome a isso, a não ser isso. Não há significações suficientes nem correspondências das quais pudesse me apropriar para designar o devido nome e a devida importância ao que sinto, às proporções que isso toma dentro de mim, não somente fisicamente, mas sentimentalmente, é como um novo sabor de amor, de prazer, cuidado, saudades, um misto indissolúvel de diversas sensações que culminam n'isso'. Chamar de isso pode significar que nada signifique, mas também pode significar tanto, mas tanto, que não tenhamos palavras suficientes nem adequadas para descrever o que sentimos. Sinto, simplesmente, isso. Dentro de mim.

quarta-feira, 2 de março de 2011

para as paredes 005

Eu me sinto muitas vezes perdida. E acho que não estou sozinha. Encaro as pessoas nas ruas como se todas estivessem em busca de algo, como eu passo os meus dias inteiros à procura dos itens que ainda faltam, dos móveis que não foram escolhidos, dos lugares onde não sei bem como chegar e muito menos como voltar. Mas não é quando me perco das ruas ou dos móveis ou das chaves da casa que eu me desespero, nem é nesse momento que me atrevo a olhar para os outros buscando neles a mesma apreensão que encontro em mim. Penso que não estou sozinha, tento me consolar acreditando que não estou sozinha quando me sinto perdida dentro de mim mesma, quando não encontro muito sentido nas coisas que eu faço nem nas experiências que eu vivo. Faço tudo em nome do amor, mas o amor sobrevive da dúvida e essas dúvidas algumas vezes não me deixam ficar em paz enquanto cato nos olhares estranhos o mesmo distanciamento que algumas vezes encontro quando me vejo no espelho. Mas essa dúvida me perde e me acha, me faz reencontrar as chaves na bolsa, o mapa da cidade, o caminho de casa, a mobília faltante. Essa dúvida aquece meu coração e me traz de volta para mim, cada uma das vezes em que me perco. É como uma mão invisível que consegue me resgatar de mim mesma, de cada um dos labirintos que o medo é capaz de criar. Essa dúvida, que me consome e me alimenta.

De todas as dúvidas que constroem meu amor, minha única certeza é a felicidade.

terça-feira, 1 de março de 2011

Pause

Algumas vezes eu consigo silenciar o que me rodeia. Foi o que aconteceu hoje. Era tanta, mas tanta bobagem que eu consegui, por um pequeno e contente espaço de tempo, tornar mudo tudo ao meu redor. Ou me tornar surda, como preferir enxergar. Algumas vezes eu consigo pausar o tempo e flutuar num pequeno instante, por mais efêmero que ele possa ter sido, fazer com que possa ser saboreado um pouco mais, com maior intensidade, por um pouquinho mais de tempo. Mas eu não consigo trazer ao meu redor o brilho das pessoas que eu amo e que me fazem falta todos os dias. Não consigo silenciar o exterior e apenas maximizar o volume daquela risada saborosa e daquele abraço amigo que me aguardava todos os dias. Não consigo voltar no tempo nem pausar os pequenos instantes já vividos e fazer com que eles me acompanhem sempre, aonde quer que eu vá. Não consigo suprimir a minha tristeza com a alegria dos momentos já vividos, das lembranças que eu carrego e com a certeza do amor que eu certamente cultivei. Esse amor me faz falta e me dói todos os dias.
Algumas vezes eu consigo pausar a mim mesma para saborear o que me rodeia. O que eu não consigo, infelizmente, é pausar dentro de mim o sentimento de saudades e de falta, daquela falta cotidiana, que me fazem as pessoas que eu amo. E que me amam de volta. E que certamente teriam dado muitas risadas de tudo o que aconteceu hoje. Elas riem, dentro da minha memória e do meu coração. Eu quero sorrir, mas a distância abafa o sorriso e o som se cala diante de tanta estrada.
Sinto falta de todos os dias que ainda não vivi.