quinta-feira, 17 de março de 2011

Não conheço nenhum poeta famoso pela sua felicidade nem nenhum escritor conhecidíssimo pela sua alegria de viver e sua estabilidade emocional. A inconstância que faz o artista. É o surto, o choro, a crise, a raiva, a saudade, a depressão, a oscilação que fazem com que a poesia brote, com que as linhas e os romances pulem dos punhos para as folhas. Quando fora da zona de conforto, é a emoção que toma as rédeas e que delimita as palavras. É o sentimento de estar fora do normal que motiva a escrever, a sensação de que algo não está no seu devido lugar, a impressão de que batendo nas teclas ou lentamente marcando o papel com a tatuagem da caneta as marcas, euforias e as dores sairão de nós e se transmitirão a eles. Tatuados eternamente com a marca de nossas palavras.
Desaprendi a ter crises. Desaprendi a questionar. Desaprendi a escrever. Não sei mais manejar as palavras, não consigo mais fazer com que elas fluam ao meu modo quando fazia enquanto a raiva tomava conta de mim, ou a saudade, ou a solidão. Só consigo diagnosticar que estou feliz.
E quem sabe só conhecemos poetas tristes por não haver termos suficientes para descrever a felicidade.

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