terça-feira, 30 de novembro de 2010

Poema

A poesia está guardada nas palavras - é tudo que
eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.

Poema, Manoel de Barros, em "Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo".

Cara de Pau


Não pretendia escrever nada hoje pela manhã. Mas me deparei com uma situação um tanto aborrecedora logo agora, tomando meu café com leite depois de (no máximo) quatro mal-dormidas horas. Hoje tenho que trabalhar o dia todo, tenho prova às sete e meia e ainda sou obrigada a dar de cara com essas coisas - e olha que eu nem tive que procurar. Não sei se me sinto ofendida ou lisonjeada. O fato é que uma menina desconhecida me visitou no orkut. Até aí tudo bem. Visitei o orkut dela de volta, logo agora. Ok, nada de anormal. Eis que, lendo a descrição do perfil, algo me soa estranho. Conheço essas palavras. Conheço essa pontuação. Conheço o itálico daquele P.S.. Conheço até mesmo o meu arrastado característico de fúria em cada uma daquelas linhas.
Ok. Meu texto foi plagiado. Sem dó nem piedade. Sinto uma dorzinha chata, apesar de ficar até meio contente que alguém além de mim ainda leia esse blog. Mas pô, custava nada acrescentar os créditos de quem realmente fez o trabalho, não é? Meio chato ter, além das ideias copiadas, cada uma das palavrinhas I-D-Ê-N-T-I-C-A-S, supostamente criadas por outra pessoa. Agora acho que sei bem o misto de orgulho - pois, ainda assim, alguém se identificou com as coisas que escrevo - e frustração que isso causa em quem cria, mesmo que seja um escritor de fundo de quintal tipo eu. Fiquei momentaneamente sem palavras. E sinto que todas elas podem estar prestes a ser roubadas.
E não, isso não é fúria. É só um pouquinho de frustração mesmo.

p.s. abençoado seja MESMO Freddie Mercury.
p.s.² não custa nada MESMO dar o crédito ali embaixo, né.

Planos

Fim do ano chegando e, para a maioria das pessoas, é essa a época de colocar o ano na balança e pensar o próximo na ponta do lápis. É em dezembro, já batendo à nossa porta, que formulamos toda aquela lista de uma ou mil coisas para começar a fazer ou deixar de fazer. São maus hábitos para se livrar, dietas para iniciar, metas a cumprir, poupanças a engordar, compras a fazer, mudanças, viagens, casamentos, filhos, livros para ler, lugares para conhecer, pratos para saborear, manequins para reduzir, etc etc etc. A única pena na listagem de todos os anos é que - além do fato óbvio que nunca cumprimos nem metade das pequenas metas que estipulamos a nós mesmos - nunca nos importamos em fazer apontamentos simples das coisas que não deixaremos de fazer. Para dois mil e onze, eu decidi fazer essa lista. Pensando bem, há muitas coisas que eu não quero deixar de fazer, muitas coisas das quais a rotina nem o cansaço podem se apoderar. Em 2011... Eu não vou deixar de entrar no chuveiro de roupas, quando der vontade. Não vou deixar de comer leite condensado na lata porque eu posso estar engordando. Não vou deixar de engordar meu guarda-roupas de personagens infantis. Não vou deixar de dançar no meio da rua, nem de cantar sozinha pela cidade. Não vou deixar de ser implicante com a minha mãe, nem vou deixar de mimar a minha irmã. Não vou deixar de comer papel. Não vou deixar de escrever as maiores bobagens que eu escrevo. Não vou deixar de ouvir muita música ruim. Não vou deixar de ouvir muita música. Não vou deixar de dar espaço aos meus pequenos acessos consumistas. Não vou deixar de olhar para o lado. Não vou deixar de sorrir para estranhos. Não vou deixar de dar doces para crianças que choram no ônibus. Não vou deixar de cuidar de algumas plantas. Não vou deixar de correr na praia com meu cachorro. Não vou deixar da minha vida de pequenas alegrias. Não vou deixar.
E se eu precisasse colocar em uma lista os meus planos para 2011, um pedacinho de folha já estaria mais do que bom.
Em 2011, serei trezentos e sessenta e cinco vezes mais eu.
Trezentos e sessenta e cinco vezes mais surtos, mais crises, mais felicidades e mais surpresas. Para o deleite e desespero do meu bem.
Trezentos e sessenta e cinco dias de olhos vendados e coração aberto.

E que venha dezembro.
Para o surto das compras de Natal.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Something like this

Alguns dias eu sinto que não presto pra nada. Nem o que eu tento produzir me tira da vala comum. Alguns dias me sinto tão mas tão mas tão impotente, queria gritar, espernear, esbofetear alguém só pelo prazer do tapa, mesmo. Alguns dias eu queria ser menos polida e menos tranquila, alguns dias eu queria que pequenos deslizes me tirassem da minha sanidade habitual, que algo cutucasse o meu eterno marasmo existencial e queria poder dizer todos os desaforos e até mesmo todas as coisas boas que eu tenho vontade de dizer. Alguns dias eu queria chegar no meu trabalho e poder abraçar as pessoas, sabe. Alguns dias eu queria deixar de ser eu mesma - aquela eu que todo mundo conhece para ser um pouco mais daquele eu que eu guardo sempre escondidinho só pra mim. Alguns tapas iam sair mas, surpreendentemente, alguns bons abraços apertados também.

para as paredes 004


Aí eu sinto falta de todos os amigos que eu não fiz. 
Sabe, bem, você sabe, sabe tão bem ou até melhor que eu, do quanto eu sou distante de todo mundo e como as pessoas foram sendo substituídas por músicas e livros na minha vida, meu bem, você sabe que eu sempre achei um desperdício de tempo ser simpático com todo mundo, sabe como eu sempre fui desconfiado e mal-educado com quase todos ao meu redor e isso se reflete basicamente na enorme coleção de ficções e na interminável lista de LP's e CD's que eu já ouvi e que muitas vezes ainda te surpreendem; cada disco se tornou um amigo, cada melodia me serviu de ombro em cada momento, cada acorde vibrou comigo uma diferente vitória ou me chorou uma derrota - e hoje eu não estou muito orgulhoso disso, dear. Hoje eu senti falta das coisas que eu não fiz seja pela teimosia, pelo humor ácido ou pela chatice que me é característica.
Você sabe como eu sou nostálgico e como em alguns dias as minhas melhores amigas músicas me encravam uma dor fina porém constante no fundo do peito e me fazem repensar e assim eu vivo repensando e refazendo e reestabelendo na minha mente dez mil diferentes planos que eu nunca cumprirei pois em dez minutos aparece outra amiga música que novamente me alegra (não muito, mas) o suficiente para me dissuadir da ideia de virar bonzinho e sair pela rua abraçando os outros e me esforçando para trazer para casa algum amigo que não seja de vinil nem que se conte pelo número de páginas/ E sabe, bem, eu não sei explicar porque eu mais tenho vontade de te escrever quando estou triste, ou nostálgico como prefiro dizer, já que a tristeza profunda não costuma se apoderar de mim há muito tempo, como gosto de me orgulhar de um certo equilíbrio interno no meu pequeno mar de solidão mas eu te escrevo sobre minhas nostalgias e saudosismos e pensamentos e reflexões talvez porque eu tenha a mais absoluta certeza de que é com você que a compreensão vem tão calma e tão certeira que eu me tranquilizo de ter alguém em quem eu tenha investido (e me orgulho disso).
Toca um beautiful jazz aqui em casa, apareça você por aqui, faça uma visita mas venha para ficar como você sempre fica, sabe bem, sua presença enfeita a minha bagunça de livros e músicas, silencia um pouco meus pensamentos melódicos e me auxilia a elaborar frases que não sejam citações de muitos dos meus amigos que me cercam empoeirados e meio abandonados dos meus cuidados - droga, não sou bom em cuidar nem de amigos inanimados -, mas você aparece e essa sujeira nuvem cinza e fina que me rodeia vai temporariamente embora. Você traz muita luz para essa casa. Você nem precisa trazer maçãs, nem jazz, nem livros, nem um vinho para olharmos para as estrelhas a noite toda. Traga apenas o seu coração que, do resto, eu me encarrego. 
Você faz falta todas as semanas, de segunda a terça, quando o único jeito de me compensar de tudo é recorrer aos meus amigos inanimados. Dusty Springfield nos ouvidos e alguma boa literatura nas mãos. Estou sempre esperando você voltar.
Você é a única falta das coisas que eu realmente fiz.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Hey Jude

Sempre fui apaixonada por essa música, Hey Jude. Mas ela começou a me emocionar de verdade no dia em que vi o Flash Mob Londres da música, que eu cheguei até a postar quando descobri (aqui, pra quem ainda não assistiu) e, depois, quando assisti o show do Paul McCartney "Live in Red Square", em Moscou (aqui), que mostrava milhares de pessoas cantando juntas - inclusive, no vídeo, aparecem pessoas chorando, emocionadas com a canção -, e aquele "nananana" que não precisa de fluência no inglês para fazer um belo coro. Mostrei para a minha irmã, que não era lá grande fã do Fab Four, e foi suficiente para que ela ficasse na mesma emoção que eu. Enfim, quando caí em mim, percebi que não podia mais nem cantar a música na rua que começava a ficar emocionada. Foi quando veio o show do Paul, e o acerto de que a Hey Jude (engraçadamente, a maior música do show), seria a que eu ganharia de presente para assistir nos ombros do boyfriend. Quando chegou o dia, quando chegou a hora, 28 músicas depois do início do show, caem as luzes e Paul entoa, no piano bonitinho, a minha Hey Jude. Prontamente caçei a máquina e gravei a música toda para a minha irmã, que tinha ficado em casa. E nunca chorei tanto. A emoção de mais de cinquenta mil pessoas cantando juntas um hino tão lindo me faz chorar agora, enquanto escrevo esse post. E escrevo não porque alguém gostaria de saber sobre isso, mas porque eu precisava desabafar sobre a emoção doida que foi assistir, na minha frente, o mesmo Paul que eu passei a vida inteira assistindo na tv, nas músicas, nos vídeos, na vontade de ter nascido nos 60's. O mesmo Paul que, junto com John, Ringo e George, ajudou a mudar para sempre os rumos da música. O mesmo Paul que, duas semanas após o show, não consegue me fazer parar de chorar. O arrepio de todos juntos entoando aquela música nunca mais vai sair da minha pele.




P.S. só não posto minha gravação da música porque o canto e o choro descontrolado estão quase vergonhosos - vergonhosos só se não fossem em frente ao Paul, lógico.
P.S.² ali na frente, bem pequena, mexendo só o braço esquerdo (porque com o outro eu tava gravando a música), estou eu. :o)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Alguma Vez

Alguma vez numa manhã de segunda-feira paramos para observar o sol despertar por entre as nuvens e os prédios do meio dessa cidade que às vezes nos sufoca e outras vezes nos permite olhar pra cima e, nesses poucos momentos de lucidez perante a insanidade da correria e da rotina, podemos perceber o quanto a vida é generosa e perfeita, mesmo em todos os seus 'acasos' e imperfeições. Alguma vez numa manhã de segunda-feira, conseguimos finalmente enxergar o que há muito estava coberto e aquela clara certeza de que somos construídos por tudo o que vivemos mas também por tudo aquilo que optamos por não viver surge como um leve suspiro de alívio e rendimento aos pequenos milagres diários que o mundo nos proporciona. Alguma vez numa manhã de segunda-feira, as coisas fazem mais sentido do que nunca e podemos nos sentir gratos por todas as experiências e podemos também sentir se esvair todo o sentimento de culpa e de arrependimento, que dá lugar à convicção de que nada nesse mundo é por acaso e que todas as nossas pequenas e grandes aventuras e acertos e tropeços são nada mais do que lições que surgiram num momento ideal com a intenção de nos ensinar alguma coisa. Alguma vez, numa mesma manhã de segunda-feira, respiramos aliviados, mesmo sabendo que o trabalho espera, que as provas estão aí, que a correria é muita e o dinheiro é pouco; alguma vez, pelo menos uma vez, somos invadidos por um desprendimento incomum, onde já não importa mais o trabalho, nem as notas, nem o dinheiro nem as contas que temos para pagar: somos invadidos pela sede de sermos um pouco mais humanos. Alguma vez, mesmo que em apenas uma manhã de segunda-feira na vida, todos nós olharemos para cima e compreenderemos o milagre de estarmos vivos, compreenderemos a alegria dos aprendizados e a certeza de cada uma das experiências. Nessa segunda-feira em que acordamos brilhantes para o mundo, ele não só brilha de volta como inaugura um novo ciclo: não aquele de sete dias, iniciado pela segunda no nosso calendário semanal, mas um ciclo de uma vida inteira mais satisfeita e completa.
Alguma vez, nessa segunda-feira de manhã, eu olhei para o céu.
Ainda bem.


sábado, 20 de novembro de 2010

Seu Nome

“se eu tivesse um bar ele teria o seu nome
se eu tivesse um barco ele teria o seu nome
se eu comprasse uma égua daria a ela o seu nome
minha cadela imaginária tem o seu nome
se eu enlouquecer passarei as tardes repetindo o seu nome
se eu morrer velhinho, no suspiro final balbuciarei o seu 
[nome
se eu for assassinado com a boca cheia de sangue gritarei o 
[seu nome
se encontrarem meu corpo boiando no mar no meu bolso 
[haverá um bilhete com o seu nome
se eu me suicidar ao puxar o gatilho pensarei no seu nome
a primeira garota que beijei tinha o seu nome
na sétima série eu tinha duas amigas com o seu nome
antes de você tive três namoradas com o seu nome
na rua há mulheres que parecem ter o seu nome
na locadora que frequento tem uma moça com o seu nome
às vezes as nuvens quase formam o seu nome
olhando as estrelas é sempre possível desenhar o seu nome
o último verso do famoso poema de Éluard poderia muito 
[bem ser o seu nome
Apollinaire escreveu poemas a Lou porque na loucura da 
[guerra não conseguia lembrar o seu nome
não entendo por que Chico Buarque não compôs uma 
[música para o seu nome
se eu fosse um travesti usaria o seu nome
se um dia eu mudar de sexo adotarei o seu nome
minha mãe me contou que se eu tivesse nascido menina 
[teria o seu nome
se eu tiver uma filha ela terá o seu nome
minha senha do e-mail já foi o seu nome
minha senha do banco é uma variação do seu nome
tenho pena dos seus filhos porque em geral dizem “mãe” 
[em vez do seu nome
tenho pena dos seus pais porque em geral dizem “filha” em 
[vez do seu nome
tenho muita pena dos seus ex-maridos porque associam o 
[termo ex-mulher ao seu nome
tenho inveja do oficial de registro que datilografou pela 
[primeira vez o seu nome
quando fico bêbado falo muito o seu nome
quando estou sóbrio me controlo para não falar demais o 
[seu nome
é difícil falar de você sem mencionar o seu nome
uma vez sonhei que tudo no mundo tinha o seu nome
coelho tinha o seu nome
xícara tinha o seu nome
teleférico tinha o seu nome
no índice onomástico da minha biografia haverá milhares 
[de ocorrências do seu nome
na foto de Korda para onde olha o Che senão para o 
[infinito do seu nome?
algumas professoras da USP seriam menos amargas se 
[tivessem o seu nome
detesto trabalho porque me impede de me concentrar no 
[seu nome
cabala é uma palavra linda, mas não chega aos pés do seu 
[nome
no cabo da minha bengala gravarei o seu nome
não posso ser niilista enquanto existir o seu nome
não posso ser anarquista se isso implicar a degradação do 
[seu nome
não posso ser comunista se tiver que compartilhar o seu 
[nome
não posso ser fascista se não quero impor a outros o seu 
[nome
não posso ser capitalista se não desejo nada além do seu 
[nome
quando saí da casa dos meus pais fui atrás do seu nome
morei três anos num bairro que tinha o seu nome
espero nunca deixar de te amar para não esquecer o seu 
[nome
espero que você nunca me deixe para eu não ser obrigado a 
[esquecer o seu nome
espero nunca te odiar para não ter que odiar o seu nome
espero que você nunca me odeie para eu não ficar arrasado 
ao ouvir o seu nome
a literatura não me interessa tanto quanto o seu nome
quando a poesia é boa é como o seu nome
quando a poesia é ruim tem algo do seu nome
estou cansado da vida, mas isso não tem nada a ver com o 
seu nome
estou escrevendo o quinquagésimo oitavo verso sobre o seu 
nome
talvez eu não seja um poeta a altura do seu nome
por via das dúvidas vou acabar o poema sem dizer 
[explicitamente o seu nome”
 
(Fabrício Corsaletti)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

De "Júblio, memória, noviciado da paixão"

"
IV

Que boca há de roer o tempo? Que rosto
Há de chegar depois do meu? Quantas vezes
O tule do meu sopro há de pousar
Sobre a brancura fremente do teu dorso?
Atravessaremos juntos as grandes espirais
A artéria estendida do silêncio, o vão
O patamar do tempo?
Quantas vezezs dirás: vida, vésper, magna-marinha
E quantas vezes direi: és meu. E as distendidas
Tardes, as largas luas, as madrugadas agônicas
Sem poder tocar-te. Quantas vezes, amor
Uma nova vertente há de nascer em ti
E quantas vezes em mim há de morrer."

(Hilda Hilst)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

One day

Há umas duas semanas eu ouvi me perguntarem que, se eu pudesse escolher um único dia para viver, qual dia seria esse e eu não soube muito bem o que responder, não sabia se algum dos momentos que eu já vivi teria carga suficiente para ser o único dia a ser vivido novamente e, como boa indecisa, não respondi nada. Pois acontece que, em um único dia, eu reformei a minha (ausência de) resposta e tive a certeza que aquele dia poderia ser o único a ser vivido e revivido e repetido centenas e milhares e milhões de vezes. O dia foi este último domingo que, como e muito mais do que eu imaginava, ficará na memória. Claro que pelo show maravilhoso do Paul McCartey (o que já era previsível dada a "Síndrome Pré-Paul" que me fez virar noite e chorar descompensada antes, durante e depois da apresentação) e, certamente muito mais, pela surpresa linda que me aconteceu nesse dia. A gente sempre imagina que certos momentos vão ser como nos filmes mas a gente nunca ousa sonhar que os momentos mais especiais podem ser ainda melhores do que as cenas na telona. A gente sempre imagina que vai ter joelhos, um anel lindo e flores.. Mas é impossível imaginar que vai ser embalado a Beatles, com o próprio Paul fazendo a trilha ao vivo, com cinquenta mil pulando e cantando, chorando e vibrando o mesmo momento, mesmo que não pelas idênticas razões. A gente nunca se permite sonhar que a realidade um dia pode ser melhor que a ficção. Que o anel era o único, e tinha que ser aquele e que, surpreendentemente, serviu perfeitamente. Que o par era único, a ida única, a noite única, o final de semana único em que todos os momentos conspiraram para o sete, três dias que 3+7 resultaram num belo dez, o número da perfeição, do equilíbrio entre o homem e a mulher, de pontos brilhantes numa noite cheia de estrelas e chuva de papel picado.
E voltando ao dia único, aquele que eu reviveria pelo resto da vida, escolho o último sete. Porque quando a vida nos surpreende de maneira tão magnífica e conspira para uma conjunção inacreditável de emoções e beleza, sortudos somos nós que vivemos e elencamos para que seja revivido para sempre, mesmo que só na memória do dia mais incrível de toda a minha vida.


"All my loving I will send to you
All my loving, darling, I'll be true."

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Síndrome Pré-Paul

Acho que nunca fiquei tão ansiosa para algum evento, muito menos para um show. É, talvez isso se deva ao fato de que nunca fui apresentada a nenhuma ocasião que merecesse essa sensação estranha que estou sentindo agora, talvez por não ter realmente muitos ídolos, talvez por nunca me importar muito mesmo com eventos dessa dimensão, talvez por não gostar muito de amontoados de gente, talvez por ser pobre mesmo e não ter saco (leia-se: dinheiro) para poder ir a outros desses mega-super-shows. 

Pois então. Meu querido Hector me deu de presente o ingresso para o show do Paul. Tudo bem se fosse só um ingresso e fosse só um show, tudo bem se fosse só um tal de "Paul". Mas não. Paul é aquele, isso, aquele mesmo, dos Beatles, do cabelo de penico dos anos 60, daqueles quatro bonitinhos que revolucionaram a música no mundo inteiro, daqueles sabe, que eu tenho uma camiseta, daqueles que eu tenho a discografia e um livro lindo, daqueles que cantam a minha música favorita (e aqui um claro protesto por saber que não vou ouvir esse Paul cantar a minha "Don't Ever Change" nesse domingo), daqueles que tenho um bottom e dez mil vontades de ter sido uma adolescente no auge dos 60's. O mesmo Paul daqueles Beatles, daquela década que é a mais próxima de resumir meu gosto musical, é a década de ouro de Elvis, Ronettes, entre dez mil outros, incluindo os brasileiros que também amo de paixão. E, quando eu penso em tudo isso, "Paul" deixa de ser "Paul" e passa a ser algo como uma lenda, um mito e eu encho o olho de lágrimas de ouvir aqui Hey Jude e pensar que domingo serei eu lá, junto com 50 mil, "na na nananana nanana hey juuuuuuuude". Paul passa a ser o mesmo pretty face, o mesmo rostinho que emociona multidões há meio século. Meio século, vai saber o que é isso...

Enfim, pela primeira vez eu sinto o mais próximo que eu talvez vá sentir na minha vida inteira daquele sentimento que chamam de fã. Tenho certeza que nessas duas noites que faltam, eu mal vou dormir. Mal consigo controlar a minha ansiedade e não tô conseguindo dormir, única razão para vir escrever a essa hora mesmo sabendo que amanhã cedo preciso deixar tudo arrumado para me jogar para Porto no sábado pela manhã. Ouvindo Beatles, bebendo suco de uva e sonhando com a noite do dia sete. Sete né, tinha que ser sete. A noite que, muito provavelmente, vai ser uma das mais mágicas da minha vida. É a oportunidade única de ver o sonho se tornar realidade. De deixar os vídeos em p&b para ver ao vivo a minha paixão de pequeninha. Para me juntar aos outros 50 mil para brindar a vida, a música e nananana hey juuuuuuuuuuude.

P.S. - Agora talvez eu entenda aquela legião de fãs histéricas dos 60. E certamente logo logo serei mais uma nessa multidão.