terça-feira, 26 de julho de 2011

A cabeça demora um tempo para reorganizar os pensamentos. Os olhos demoram algum tempo para conseguir voltar a focar algo além dos minúsculos dedos que apertam meu nariz logo pela manhã. Não perdemos, apenas readequamos o foco. Preciso lhe contar algumas coisas, lhe confessar alguns segredos que me invadiram nos últimos tempos, preciso lhe dizer que ele esteve aqui, que ele vasculhou a nossa casa e os nossos retratos, porém guardarei para lhe dizer todas essas coisas assim que eu puder ordená-las de forma mesmo mais ou menos mas com alguma maneira que faça sentido. Por hoje eu só gostaria de olhar nos seus olhos e dizer que estou feliz, sem mais. Que os meus pensamentos e a minha vigia estão em torno de algo que sempre desejei e sempre pareceu distante e até mesmo inatingível e hoje estou realizada ouvindo músicas, comendo minhas bolachas brancas e envolvida no cheiro doce que não me abandona mais.
Volto outra hora para poder lhe contar todas as coisas que me aconteceram enquanto eu estive longe de mim mesma.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Aos amores

Todo mundo sabe como o amor começa.

O amor começa com um olhar, um beijo, um cheiro. Começa com a cumplicidade, com os dedos entrelaçados, as juras de amor eterno e as noites intermináveis sob um céu cravejado de estrelas. Todo mundo sabe como o amor começa e como o amor acaba, mas poucas pessoas conseguem descobrir como o amor se mantém.
O amor se mantém com as bolachas amanteigadas, se prolonga no sabor da geleia de frutas espalhada sobre as torradas, engrandece com o encaixe dos corações estampados nas xícaras, se multiplica na espuma que se avoluma sobre a louça da cozinha. O amor se alimenta do rastro da bagunça que ela deixou, dos cabelos perdidos nos azulejos do banheiro, das flores que ele embrulha pela casa, das manias que ela compartilha em silêncio.
O amor começa com dois e se prolonga com três. Cresce infinitamente com uma pele rosada e minúsculos pés que se cruzam de felicidade. O amor se materializa com um choro fino e um cheiro doce, um par de olhos brilhantes e bochechas gordinhas - e amarelas. E é nesse ponto, entre biscoitos e canecas, entre móveis e paredes, entre sonhos e realidade, que o amor toma sua real forma e se torna verdadeiramente infinito (e deliciosamente mais bonito).


Originalmente rabiscado no primeiro pedaço de papel que encontrei pela frente.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Perdi as Chaves

As cobertas entrelaçavam as minhas pernas e me lembravam de quando você as puxava para si. Hoje tenho todas para mim e nunca passei tanto frio. O café esfriou, a luz apagou, a porta fechou. Tudo parou aqui dentro. Há de fato um vento gelado que aumenta nos finais de semana, junto aos goles de uísque que descem queimando minha garganta cheia de palavras trancafiadas.

Se, por acaso, um dia me perguntarem o que mais me lembro de você vou dizer que é quando enrolava seu cabelo com as pontas dos dedos delicadamente e deixava seu pensamento voar longe. Ninguém seria capaz de adivinhar o que se passava na sua cabeça nessas horas. Você ainda tem esse hábito? Diria na verdade que você brinca com esses seus belos longos fios cor de ouro. Como estará seu cabelo? Por favor, nunca o corte.

Puxa, o tempo passou rápido. Já não foi ontem que lhe vi pela última vez. Incrível como o tempo pode roubar os momentos para si. Tomou-me meu presente e o transformou em seu passado. Queria dizer que meu presente anda bem. Que anda leve, que anda tranqüilo. Mas não, infelizmente. Acho que escolhi me tornar distante de tudo, de todos. Ando lendo muito. Ando caminhando sozinho, olhando para o chão. Talvez queira encontrar alguma pista na calçada de algum caminho que deva tomar. Ou talvez não queira melhorar. Estou agarrado demais a minha tristeza, a minha solidão. Apeguei-me a ela. Fico me perguntando se haverá alguém para me acordar desse sono profundo em que me encontro ultimamente. Tem sido uma fase estranha em minha vida, verdade.

Mas o que mais me incomoda é esse espaço que há entre nós. Há tanto espaço em minha vida também mal preenchido. As coisas saíram do lugar. Eu acordei e além do frio, senti como se minha vida não fosse minha. Parece que perdi o que eu tinha de especial. Ou talvez fosse você que me lembrava das coisas especiais que eu possuía dentro de mim. Tenho a impressão que perdi as chaves de casa. Escondi tão bem que eu me esqueci de onde as guardei. E agora? Como faço para entrar? Como faço para ter você de volta?

domingo, 10 de julho de 2011

Espatódea


Em homenagem ao maior amor do mundo, que ainda estou descobrindo, tocando, cheirando, conhecendo.
Uma música, pois não tenho ainda palavras.
Quando tiver, prometo que venho aqui louvar o amor mais cheiroso e delicado que já conheci.

domingo, 3 de julho de 2011

as horas, a carta

Uma hora dessas eu vou sentar aqui para te escrever uma carta e dizer de todas as angústias que eu sinto, de todos os amores que eu tenho e de todo o tempo que te carrego aqui dentro. Alguma hora eu vou parar de rabiscar teu nome nos cadernos e vou finalmente atualizar o livro colorido com as páginas que já merecem teu nome e com as mudanças que tu já trazes e com todo o amor que já representas. Nessa hora eu vou deixar transparecer tudo o que escondi durante os últimos tempos e vou deixar que todos saibam o tamanho da falta de palavras e de nexos e de sensações para expressar os pequenos carinhos que recebo e todas as demonstrações tão sutis que me deixam ainda mais sem fôlego e com um tantinho a mais de felicidade, bem no meio desse coração que bate por três.