quarta-feira, 3 de abril de 2013

Hacía frio

Talvez aí no seu planeta faça tanto frio que já se esqueceu de mim
E esse seu mundo, ah! Que pena, ele gira rápido demais... 
Seu tempo acelerou no relógio do nunca mais 
Aqui na Terra, vai tudo bem, sim. 
O Sol vem todo dia me relembrar que não se morre de amor. 
E todo dia ele vai ser por... 
Avisando ao vento que já não é tempo do tempo que ficou pra trás.
Mas pode voltar, viu? Pode vir sem avisar, pois ainda tenho aquelas histórias pra te contar, ainda tenho a receita anotada, ainda tenho aquele vinho pra se tomar. 
E de falta de amor, você vai ver que também não morrerá.

terça-feira, 2 de abril de 2013

No embalo

Cresci ouvindo a minha mãe dizer: "quem ama de verdade, perdoa."
Feliz é quem sabe recomeçar, um pouquinho mais sábio e com o dobro de amor pra dar.
E nessa história toda, quem é que vai me perdoar?
Amor bom é amor de bom dia, no canto do ouvido, na doçura de um aconchego, no brilho de um sorriso.
Mas a vida chega pedindo errado, perguntando de trás pra frente.
A nossa história se embriagou na cumplicidade de um café amargo.
Nas horas que se separam, nas contas para serem acertadas depois.
Mas se todo pranto tem prazo, toda essa pressa de não ter pressa nenhuma acabou demorando a chegar. 
Encostei minha vida no seu ombro e prometi a cama arrumada.
Encostei-me para descansar, por um breve intervalo de tempo e acabei ficando, acabei me esquecendo de voltar.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Relacionamentos são que nem sapato. Conclusão depois de ficar meia hora olhando pra todos os sapatos novos que eu tinha no guarda roupa, praticamente que eu nunca usei com medo de estragar, ou porque não são confortáveis realmente. A verdade é que nenhum sapato no início é confortável. Causa bolha, calos, assaduras, arranhões. A gente demora pra se acostumar a eles. Melhor dizendo, a gente demora pra se adaptar ao novo jeito de andar com eles. Com certeza tropeçamos e queremos logo tirá-los no final do dia, com aquela sensação de alívio do pé descalço. Pois é. Aqueles sapatos que antigamente machucavam nossos pés, depois de um tempo, se tornam um encaixe perfeito.
Enfim, depois de meia hora fitando meus novos pares, fiquei procurando aquele velho, de longa, longa data, pensando que eu infelizmente e provavelmente o teria doado. Foi quando eu vi ele escondido, embaixo de todos os outros, esquecido há um tempo. O preto não brilha tanto, o salto está meio torto, o bico esfolado. Mas ele é familiar. É conhecido. Meus pés cansados se sentem em casa com ele. Muito melhor que começar tudo de novo com um novo par: duro e sem nenhuma história pra contar. Vou aproveitar os meus velhos sapatos... enquanto meus pés ainda não estiverem prontos para um novo relacionamento.

terça-feira, 26 de março de 2013

Há quem lembre

Há quem falará de nós. Duas meninas aprendendo com as lições que a vida ensinava. Aos 14 anos, conheci um tipo de conexão que eu não sabia que poderia existir. Pelo menos, não pra mim. Conheci uma garota que mudou minha vida. Conheci um novo modo de ver o mundo, de ver as pessoas, de ver a mim mesma. Conheci não só uma pessoa incrível, inteligente, perspicaz, sagaz e generosa. Conheci a pessoa certa para ocupar um cargo muito especial na minha vida. Um papel que ninguém melhor que ela poderia desempenhar, e ainda, graças ao nosso jardim, desempenha. Nunca vou entender como construímos essa ponte tão florida. Tão bonita. Tão infinita. Nosso entendimento é sublime. É feito de puro amor. Cuidados e carinhos sempre foram marca registrada de nossa cumplicidade.
Há quem lembre de duas meninas andando pra cima e pra baixo numa cidade que costumava ser pequena. Duas meninas cheias de sonhos jogadas na grama, negando a existência de uma aula de matemática na sala ao lado. Eu estava no início de tudo, diante de tudo, diante dela. Despertei para o que sou hoje graças a ela. Graças as nossas conversas ricas em reflexões. Graças aos nossos gostos e prazeres convergentes. Graças ao nosso amor. Há quem lembre da nossa amizade. De como costumávamos fazer tudo juntas. De como tu sempre estavas lá por mim. Há quem lembre de como éramos diferentes, mas mesmo assim, nossa combinação era exatamente como deveria ser. Há o cais, o café, o bar da escola. Há girassóis, rosas amarelas, e barras de chocolate Napolitano. Há lágrimas, risos, deboches e tristezas tão profundas que jamais serão contadas da maneira que nós as vivemos. Nossas memórias estão lacradas no fundo do meu coração. Memórias que ninguém, nunca, terá como competir. Não porque não existem outras pessoas incríveis por ai... Claro que não. Mas porque aquela riqueza de descoberta nunca conseguirá bater outras. A entrega para ela nunca poderá ser comparada a outras entregas, mais sutis, menos puras. Hoje o mundo não é o mesmo para mim do que naquela época. Estou mais dura, sim. Porém, meu amor ingênuo e puro está guardado, guardado para ela. E agradeço por isso todos os dias.
Há quem saiba dessa amizade. Há quem inveje. Quem admire. Quem não entenda... Mas com certeza, ela está no ar dessa cidade que logo vou abandonar também. Está no cheiro da maresia espalhada pelos cantos estreitos das ruelas daqui. Está nas fotos, nas cartas, atrás das fotos 3X4. Está em nós. Está em quem conviveu com a gente para poder lembrar também, de duas meninas, duas meninas que compartilharam tudo que havia para ser compartilhado e vivido na mais pura simplicidade das rotinas possíveis... mas não menos inesquecíveis.

Atualizações Sentimentais

Meu amor, não sei o que acontece por aqui, mas tenho a sensação de estar entrando a terceira primavera seguida. Por essas bandas, a natureza se equivocou e vem enchendo as árvores de flores.  No clima floral, nossa calandiva também está permanentemente florida desde outubro, toda laranja, cheia de vida e logo precisará ser transplantada para que possa continuar crescendo. Tu precisavas estar aqui para ver isso.

Asfaltaram as duas ruas próximas da nossa casa, tu não reclamarias mais das crateras no meio da avenida. Houve um evento na praça do coreto, aquela por onde passávamos quase diariamente, que a encheu de crianças e famílias e a ocupou da forma como sempre concordamos que praças deveriam ser ocupadas. Chegaram alguns livros que há tempos estavam em nossos desejos e completei a biblioteca com mais uma estante, que já está praticamente lotada também. Houve uma tragédia, um incêndio; morreu o Amigo, o cachorro do teu avô herdado pelo teu pai. Também nasceu o filho dos amigos. E fizemos por aqui bons e grandes amigos. Nosso canto tem novos ares por causa da disposição dos móveis. A casa que gostamos na subida da rua está à venda. O prédio aqui perto está ficando pronto, só imagino como adoraríamos a vista  dos últimos andares. Aqui do lado abriram uma oficina que faz barulho o dia inteiro. Construíram um muro que deu o que falar aqui na cidade, sabia? Tu precisavas estar aqui para ver isso.

Aprendi a operar com segurança uma panela de pressão - e aprendi que tirar a pressão levantando a válvula não faz a panela explodir, como minha mãe sempre me dizia e eu repetia para ti. Aprendi a pular por cima da bagunça e sair de casa para me divertir com a Helena, como tu sempre havia sugerido. Aprendi a me virar em espanhol. Aprendi a otimizar o tempo. Meu celular se espatifou num dia e foi dessa pra uma melhor. Continuei assistindo todos os campeonatos possíveis e imagináveis de tênis. Conheci algumas músicas legais, vi documentários interessantes. Chegaram muitos postais. Tenho pintado mais as unhas. Li muita literatura nesse tempo da tua ausência, precisava preencher teu espaço com histórias quase tão boas quanto as que improvisavas para mim todos os dias. Arrecadei mais três livros da Isabel Allende para aumentar minha paixão; um deles, li em um dia. Comecei a ser mais segura de mim mesma, meu amor, como mãe e como mulher. Tirei nove numa prova, mesmo com casa, Helena e algum cansaço nas costas. Tu precisavas estar aqui para ver isso, tu estarias orgulhoso de ver isso.

Mesmo com tanta coisa acontecendo, há algum tempo todos os dias são iguais, contabilizando as saudades na descida da Câmara e te contando com o coração tudo o que não posso te mostrar com teus próprios olhos. Já se foi dez dias, vinte, um mês, dois, foi a metade, o pior já passou, foi três e agora quase quatro. E parece que o tempo continua se arrastando, todos os dias as mesmas cenas, as mesmas perguntas. Tu estás presente no cotidiano, presente nas conversas, nos passeios, na escola da pequena e nas aulas que frequento. Tu estás presente em cada livro que não consigo encontrar. Tu precisavas estar aqui para ver isso. Tu, definitivamente, precisas estar aqui. Nós precisamos de ti, da tua presença bagunceira e teu espírito divertido, das tuas noites insones perambulando com um livro embaixo do braço, das invenções culinárias e das toalhas penduradas pelas portas da casa. Queremos mesmo sem isso, queremos de qualquer jeito, porque agora sabemos que não precisamos. Que te queremos aqui. E por não precisar, te quero ainda mais.

Estou sempre te esperando.

domingo, 24 de março de 2013

Histórias para Helena

Três meses de jejum e escrevo mentalmente todos os dias para ela, Helena. Escrevo para o dia em que se tornar adolescente, para o dia que quiser marcar a pele com fatos inesquecíveis, para aqueles dias onde a felicidade dominar de forma explosiva ou para aqueles onde o fim da tristeza não for visível a olho nu. Para que ela saiba que todos temos os mesmos dramas, mas que mesmo assim os seus serão únicos, que serão ouvidos por uma amiga compreensiva.
Sonho com o dia em que me perguntará sobre meus namorados. Com os dias que fará as contas sobre o tempo do meu casamento e sua idade e que constatará que, mesmo tão jovens, não casamos grávidos e que ela foi uma linda consequência do amor que nos transbordou desde o primeiro momento. Imagino as histórias, direi os nomes, os endereços se os souber, permitirei que conheça o meu passado, minha vida, meus amores, minhas desilusões, desnudar minha alma perante esse ser frágil que me conheceu desde seu primeiro instante de vida e que me gerou mãe. Nós vamos encolhendo diante dos filhos, meu bem. A grandeza da sua inocência, as roupas que deixam de servir rápido e as lições diárias de amor e compreensão fazem com que nos tornemos todos os dias um pouco menores ao lado desses gigantes, os filhos. Sonho com o dia em que eu dormirei no seu colo. Que ela será meu primeiro e último refúgio de intimidade e carinho, que ela foi e sempre será minha grande amiga.
Penso em imprimir páginas desse blog adolescente, em dar-lhe um punhado dos meus sofrimentos para que ela os conheça, para que pergunte quem os causou, para que saiba que também fiz alguém sofrer. Não penso em mudar a história, não cogito ser a mãe puritana. Quando chegar o tempo, ela saberá de tudo que quiser saber, sem mentiras, sem omissões, sem culpas. Direi a ela que o melhor gosto do passado fica com aquelas pessoas que nunca imaginamos que seriam tão marcantes. Contarei tudo porque acho linda a cumplicidade que pais e filhos podem ter quando se empenham em uma relação baseada na confiança e na verdade e porque queria muito ter tido essa relação quando foi a minha vez. É sempre a nossa vez.

Registro os fatos, tento relembrá-los da forma mais verídica para que a poeira das memórias não me faça cometer injustiças ao contar essas histórias. Talvez seja por isso que vivo revisitando as mesmas velhas memórias, para que estejam sempre frescas, os odores, os lugares, como um livro que tiramos da estante para arejar suas páginas. 
Enquanto esse dia não chega, é hora de juntar os brinquedos espalhados pelo chão e arrumar a mochila para a escolinha amanhã.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Seus cabelos eram conduzidos pelo vento de um lado para o outro no alto da montanha. Ela tentava se encontrar ao fitar a imensidão do mar. Olhar para trás era difícil. Esperança é um doce veneno. Mata devagar, engana o maior dos realistas. Mas a verdade vem de longe como uma flecha, na hora em que deve surgir, direto no coração.
Ela se sentia forte, então, por que a lástima? Por que a dor? Afinal, a ampuleta já havia sido quebrado. Era suficiente. Ela tinha que continuar lutando. Não havia escolha. O caminho era um só. O árduo caminho de se estar só.