terça-feira, 26 de março de 2013

Há quem lembre

Há quem falará de nós. Duas meninas aprendendo com as lições que a vida ensinava. Aos 14 anos, conheci um tipo de conexão que eu não sabia que poderia existir. Pelo menos, não pra mim. Conheci uma garota que mudou minha vida. Conheci um novo modo de ver o mundo, de ver as pessoas, de ver a mim mesma. Conheci não só uma pessoa incrível, inteligente, perspicaz, sagaz e generosa. Conheci a pessoa certa para ocupar um cargo muito especial na minha vida. Um papel que ninguém melhor que ela poderia desempenhar, e ainda, graças ao nosso jardim, desempenha. Nunca vou entender como construímos essa ponte tão florida. Tão bonita. Tão infinita. Nosso entendimento é sublime. É feito de puro amor. Cuidados e carinhos sempre foram marca registrada de nossa cumplicidade.
Há quem lembre de duas meninas andando pra cima e pra baixo numa cidade que costumava ser pequena. Duas meninas cheias de sonhos jogadas na grama, negando a existência de uma aula de matemática na sala ao lado. Eu estava no início de tudo, diante de tudo, diante dela. Despertei para o que sou hoje graças a ela. Graças as nossas conversas ricas em reflexões. Graças aos nossos gostos e prazeres convergentes. Graças ao nosso amor. Há quem lembre da nossa amizade. De como costumávamos fazer tudo juntas. De como tu sempre estavas lá por mim. Há quem lembre de como éramos diferentes, mas mesmo assim, nossa combinação era exatamente como deveria ser. Há o cais, o café, o bar da escola. Há girassóis, rosas amarelas, e barras de chocolate Napolitano. Há lágrimas, risos, deboches e tristezas tão profundas que jamais serão contadas da maneira que nós as vivemos. Nossas memórias estão lacradas no fundo do meu coração. Memórias que ninguém, nunca, terá como competir. Não porque não existem outras pessoas incríveis por ai... Claro que não. Mas porque aquela riqueza de descoberta nunca conseguirá bater outras. A entrega para ela nunca poderá ser comparada a outras entregas, mais sutis, menos puras. Hoje o mundo não é o mesmo para mim do que naquela época. Estou mais dura, sim. Porém, meu amor ingênuo e puro está guardado, guardado para ela. E agradeço por isso todos os dias.
Há quem saiba dessa amizade. Há quem inveje. Quem admire. Quem não entenda... Mas com certeza, ela está no ar dessa cidade que logo vou abandonar também. Está no cheiro da maresia espalhada pelos cantos estreitos das ruelas daqui. Está nas fotos, nas cartas, atrás das fotos 3X4. Está em nós. Está em quem conviveu com a gente para poder lembrar também, de duas meninas, duas meninas que compartilharam tudo que havia para ser compartilhado e vivido na mais pura simplicidade das rotinas possíveis... mas não menos inesquecíveis.

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