quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Como poucos

Pois é fácil dizer-te... talvez tenha demorado tanto
Por tamanha obviedade do que seria dito e do não-dito, demorei-me anos para dizê-lo:
Gosto de ti como de poucos
Te procuro nos meus livros
Te levo junto nas conversas de botequim
Te comparo com outros homens
Te desejo quase de afeiçao paternal
Quiçá, historia não escrita pelo desencontro dos nossos tempos. Culpada as décadas espassadas que nos originaram, culpados nossos pais, e os pais dos nossos pais, e o tempo. Tempo que nos colocou juntos na cumplicidade do estarmos em trocas singelas de olhar, mas, só(s)
Sou ingrata.
Pois sou quem me fizeste, não parida de ventre, mas de linguagem. Te inseriste dentro do que chamo de palavras, do meu suposto olhar, e mudando meu jeito, meu traço, retraço meu todo, e todo mundo passa a me traçar diferentemente também.
Eu nem sabia que em minha língua faltava tu. Meu Maestro. dos dizeres, do que não sei ler, do meu silêncio. Do que direi daqui 25 anos. Do que ensinarei meus filhos. Estarás nas entrelinhas da esquina da minha boca quando falar alto e  em bom tom em público. Te levarei comigo quando partires. E tu não o sabes, não sabes... Meu maior segredo És tu.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Aurora

Desenho à mão estas palavras que se borram pela sombra da tua luz
Ganham vida
Porque és isto, de uma amizade não vista, de amar sereno
Nos tocamos no olhar de quem não entende a vida
Mas sente-a nas suas dores, na loucura da construção do não sentido ao tentar sentir tudo
Queremos engolir o mundo, mesmo que entale na garganta, mesmo que isso nos mate
Queremos mesmo é morrer de viver!
Temos disso de saber da ingenuidade tardia
Dos sonhos roubados, da inocência perdida
De um otimismo trágico, do bailar nos pedadelos
Do encostar de mãos frias
Na verdade, não entendemos quase de nada, só pairamos embaixo de um céu estrelado e por ora todas as coisas parecem boas e mansas.
E o mundo parece um bom lugar para depositar esperanças e encontrar amores
Ao som da musica que tocavas hoje, teu cabelo escuro reluzia, soavas tão delicadamennte bonita
E única no meio de tantas pessoas.
Meu coração se sentia abençoado por te amar
Em tuas mãos um violão desafinado. Em tua voz um espanhol nativo
Tornavam aquele momento
Eterno em mim
Memória que não venderia, que vale por mil
Era a tua voz que entrava em mim e voltava pra ti vívida
Intensa
Capaz de acordar qualquer um nesta cidade
Capaz de me fazer acreditar no amor de novo
Em uma noite dessas quaisquer de inverno.

quarta-feira, 31 de maio de 2017

das memórias tiradas

O que é isso que se repete, que de tanto não se fala mas que não cessa de durar?
Que não nomeio, porque ninguém ainda nomeou, que é isso de uma promessa que une a todos,
que nos faz sermos mais parecidos, que está nas expressões dos sentimentos mais escondidos ou quem sabe, está ali para ser visto na imensa e não abrupta margem de nós?
O profundo das mudanças que assim com o tempo e como o tempo nos deixam as marcas na pele
E mudar não é estranho antes mesmo de mudar, porque mudamos desde que nascemos,
E as estórias que se contam mudam, essa memória que trazemos conosco, que a mim, se me tirassem, já estaria morta, muda
Nesse aprendizado da vida e de nós quase que paranoico, de escolha intuitiva, de um universo de flores que caem antes que possam ser flores de novo
Como o amor, que muda, que vaga por aí, solto, livre, voraz e que nos invade por vezes, e nos abandona por tantas outras
O que é disso que só os poetas conseguem falar? Deste capricho sorrateiro que brinca com as palavras, que brinca com as emoções, que brinca com o que fica ali e que nos conecta na identificação dos nãos ditos nos espaços que se alargam nas relações, porque as palavras não dizem e não se dizem as palavras
E isso varre o mundo e volta e nunca pára, mas nunca, nunca, nunca.

terça-feira, 30 de maio de 2017

De uma noite

Eu estava saindo do mercado quando um homem esbarra em mim correndo como se sua vida dependesse disso. Olhei a volta meio assustada, e não tenho pessoas para fazer um contato visual, continuei andando, estava quase na esquina de uma das grandes ruas de Porto Alegre. Eram 19:30 e estava muito escuro, já, pois o inverno já estava deixando a cidade um pouco mais sombria e bastante mais deserta. Abrirei um parênteses na estória aqui. Porto Alegre são muitas. Fico impressionada com as cidades que cabem dentro desta cidade. E o clima tem tudo a ver com isso. Quando começa a esquentar o povo bota bíquini para ir pular carnaval em pleno domingo de manha. Enquanto em julho, tu convidas algum amigo pra tomar uma cerveja no bar da esquina, e a pessoa tem sempre muitas tristezas guardadas e só quer ficar em casa vendo série. Nunca vi alguém dizendo que está deprimido para pular carnaval em dezembro. Me parece mesmo que a clima das pessoas anda junto com o clima da cidade que anda junto como clima do tempo. Enfim. Claramente isso não deve ser algo peculiar à cidade, mas já que é aqui que moro, é daqui que falo. Continuando a cena, dobrei a esquina e uma moto passou rapidamente pelo meu lado, uma baita moto, diga-se de passagem, uma custom, dessas poderosas em que o cara se sente a pica das galáxias sentado nela. Pois bem, pra completar o estereótipo de bad boy daquele que dirigia à moto, a cena perde um pouco o glamour, quando ele saca uma arma do casaco na minha frente e aponta para o rapaz, aquele, que esbarrou em mim correndo como se sua vida dependesse disso, pois não é que dependia mesmo? Eu paraliso. Uma mulher que está do outro lado da rua paralisa. Uma menina que está a alguns metros de mim e que caminhava na minha direção, põe a mão no peito. O cara da moto pára. O único a se mover nessa cena é o rapaz. Ele atravessa a rua e se ouve o motociclista hardcore mocinho ou bandido gritando: "Põe as mãos na cabeça! Põe as mãos na cabeça!". A mulher que estava do outro lado da rua faz contato visual comigo e grita: Ele tá armado!!!! Volta!!! A menina corre em minha direção. Eu me viro e volto por onde vim. A mulher me alcança e diz, "vamos ficar juntas!" A menina se junta a nós e nós começamos a fazer o caminho inverso dos dois homens. Nenhuma de nós entende muito bem o que aconteceu, cada uma conta da sua perspectiva a cena. "Que dia é hoje? Nasci de novo. Ele apontou a arma pro cara, mas parecia que era pra mim, porque o cara continuou correndo e eu que fique na frente dele, pronta pra receber um tiro no peito!". "A vida mesmo não vale nada, tu vê, sete e meia da noite e a gente podia ter morrido, porque esses dois tão resolvendo as suas coisas na rua." "Será que era policial?" "Será que era com droga?" Daí eu falo: "Acho que agora eles devem ter ido embora, eu realmente preciso ir pro outro lado". Quando entramos na rua que acontecera o episódio, vemos pessoas andando como se nada tivesse acontecido. Tudo absolutamente normal. "Pois, essas pessoas nunca vão ter a mesma percepção dessa rua que nós, agora". Fiquei pensando nesse cruzamento de histórias tão desconexas que se conectaram por um momento, por um breve momento, numa noite violenta da capital. Ali estavam pintadas as facetas da humanidade. A violência, o caos, o risco, o quase, o encontro, a ajuda, a vida. Após algumas quadras, cada uma seguiu seu rumo, contudo o rumo não seguiu o mesmo.

sábado, 27 de maio de 2017

do beijo

Sinto a vida Puir o que trago da infância
Sinto já saudades do que não poderei contemplar
Sinto saudades do que não entendo hoje, da confusão que amanhã não fará sentido perguntar mais que razão
Sinto saudades dessa dor gostosa de não saber
De ouvir Sobre bochechas rosadas do bebê doce que minha mãe conta que fui
De sentar de frente pro mar e sentir meu corpo ser tomado por uma estranha leveza
Sinto saudades da vida que não sentirei saudades mais
Do chão de terra molhada, do cheiro do café passado, do primeiro raio de sol entrar pela janela do quarto
Sinto saudades das perguntas repetidas, dos sofás, dos vinis mofados
Já sinto saudades deste corpo jovem, e dos risos desperdiçados nas madrugadas da noite urbana
Sinto saudades de ler pela primeira vez meu futuro autor preferido
Daquela poesia ainda não escrita.
De te beijar, infinitamente, de te beijar, já sinto saudades mesmo sem ter beijado.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Óculos escuros

Quero que saibas de pronto
Tocaste-me como poucos fizeram
Depois de te conhecer, não te quero mais desconhecido
Envolves-me com a tua arte, na tua voz rouca de insône,
De quem gosta de devorar a madrugada como eu
De quem gosta dos silenciosos beijos telepáticos dados em um outro sentir
Eu te acho mesmo tão bonito
Com teus olhos cansados e teus óculos escuros
Lembro-me do teu sorriso invadindo meus sentidos, pintado no teu rosto com tamanha sintonia
Teu interesse eu já percebia
Da tua energia de me observar de longe, pela tua câmera desfocada, eu percebia...
Surgido do que temos mais em comum, do nosso sensível caminhar por entre as coisas, por entre as ruas duras
Tu és um refúgio, um álibe, um brinde
Surgimos desta nova criação, do desenhar confissões românticas no papel, de sermos isso, de uma essência fluida, de leveza, de inexplicável encontro de sintonia plena,
 do se permitir permutar e flutuar por entre tudo.
Anota meu endereço, vem tomar café comigo, vem estar comigo.
Que não seja permitido, mas te quero nas minhas entranhas.
Porque te quero assim e não sei te querer de outro jeito.
Porque não te querer não me parece ser a vida, seria outra coisa, uma negação disso que tenho de mais bonito em mim e que tu o tens também...
Esse encantamento da não razão, do sonho, da fantasia.

Da beleza

O mar tem mesmo disso
Do ser leve, do ser forte,
Do saber que pode ser maior
Mas sem porque, não quer.
Assim como o mar pela manhã,
tu me chegaste de mansinho, tomando-me pelos pés, depois ventre, depois tudo
Como maré baixa, foi chegando, onda a onda,
Trazendo-me pra perto, curando-me dos males,
Fazendo do meu corpo morada, da minha pele salgada
Um caminho para o teu querer.
Assim como com o mar, esse meu encontro nunca se desfez
Não se esquece algo assim tão grandioso, belo como ele só pode ser.
Desejo entrar-te nas profundezas,
Mar adentro, onde não haja mais luz, nem perder,
Somente a própria beleza desse azul
Onde a minha morte seja a tua vida,
e que eu renasça dessa ferida
que é amar até morrer.

Espera

Meu corpo era universo em explosão
Todas as minhas células pareciam debater-se
Somente no ímpeto de uma incontrolável urgência por ter-te
Como átomos em choque, colidiam ao buscar-te
Criavam uma outra coisa,
Uma nova condição de vida, um novo estado de existir
Retiravam tudo do lugar
O mundo se tornava diante de mim algo incorruptível
Eu estava a fundir-me com o desconhecido ininterrupto do estranho
A cada gole que descia pelo que chamara de garganta,
Tudo em seu absoluto transformava-se em algo a ser redescoberto pelos meus sentidos aprimorados
A vida se esculpiu no momento em que eu a te entregara
E tu me dizias para ter cuidado, quase como pedido, como aviso, como denúncia
Nada atendia pelo mesmo nome, tudo havia se modificado, eu não via nada igual.
As cores, a cadeira, a gente, a rua, os prédios, o ar, a Lua, o chão
Era como se tudo ganhasse uma nota a mais antes faltante,
Uma nova linguagem decodificava o que eu nunca entendera,
Os sinais, os signos atravessavam-se por mim
Eu era a tua espera, toda, eu era meu desejo, todo.
Ser a tua dúvida e a tua ambição
Estava aconselhada somente pela minha angústia
Da possibilidade remota de não te ver entrar pela porta
Eu estava, estou, pronta.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Exílio

Tenho as cortinas da alma rasgadas
Guio-me por dentre as coisas todas e me parece que
Sempre acabo onde comecei no princípio
É falácia de que sou uma pessoa boa
Porque nem sei mesmo se o bom existe nesse mundo
E o que sou é um tanto fingimento.
Confesso que fiz um acordo com Deus quando tinha oito anos.
Fiz porque me contou um velho que conheci que ele havia feito.
Hoje já não me lembro o que Deus me prometeu.
Para uma criança podia ser mesmo qualquer coisa tola dessas que qualquer criança deseja.
Mas aprendi desde ali que a vida é trançada por trocas e apostas
E digo que nunca abandonei minhas derrotas,
Porque ainda sinto o gosto delas quando estou distraída.
E deve ser porque a cada derrota penso que ou Deus me traiu ou pedi pouco dele.
Há um submundo que habita em mim.
Por vezes à noite um ser oculto que não sei anjo ou o quê me descobre pelos lençóis
E me leva consigo para flutuar pelos seus pensamentos mais estranhos.
Ali me sinto abandonando tudo, um certo medo me toma, mas logo estou nos braços do que poucos conhecem...
A mais pura solidão.
Sinto-a no meu âmago como sei que poucos a sentem.
Como se fosse exílio.
Como se fosse a vida.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Partida

Sabia que eu tinha de lhe deixar
Não poderia mais sustentar meu desejo
Que tempo é este da poesia que vivemos?
É a nossa própria memória
Vives agora aqui nas fissuras que se abrem neste espaço
Que não há lugar para nós
Que nada!
Do tempo do relógio só risco os dias no calendário
A verdade é que do tempo da vida entendo menos,
quem sabe, porque foi o tempo que estive contigo
que me tornei nos últimos anos
Recriar-me.. se os nossos tempos alinhados me desafiam
Fomos quem e para o quê juntos?
Andamos muitas vezes sem rumo
O que eu disse e tu bem o sabes é que cansei
Surpreendentemente algo da lógica que me eras tão fundamental
Se inverteu.
Comecei a perguntar-me se não haver rumo faria mesmo assim estrada?
Senti minha sanidade esvair-se por horas pelos ralos de tudo
Duvidei de tudo. Me desmontei. E fui embora.

Caminhar emPoesia

Pus-me a perguntar-me
a pergunta mais simples de todas:
Por que escrevo?
Daqui deste café, observo as pessoas irem e virem,
é para isso que escrevo.
Porque caminho em poesia
E confesso que me perco nesse espaço das palavras
e no que as palavras produzem em mim.
Reorganizo a vastidão que é ser quem se é, que é viver
Ponho em imagens o incorrigível, o incompreensível.
Desejo tanto uma vida simples, mas não sei se passei
a vida enganando-me sobre isso, de ser aquela que as pessoas
visitam a casa para comer o bolo da tarde com café recém passado
Que cuida das flores e se admira com o transformar das estações
Todavia, algo se rompeu
E apenas um espectro meu visita os lugares que frequento
Compreendo o mundo pelas lentes da minha arte
E repare, esta é a primeira vez que atrevo a chamar de arte o que
nos intervalos da vida me permito preencher as horas vazias do ser
Parece-me que esses intervalos se tornaram quase todo o tempo
e que ao dormir a arte vem em meus sonhos mexer comigo
Ouso dizer, pois ando ousada ultimamente,
que a arte brinca comigo nos meus sonhos
Sim. Ela faz ironias de mim, digo mesmo que se vinga até...
do tanto que passei mexendo com ela, sem entendê-la de fato,
manejava-a como podia, dissecava-a, estirava-lhe os braços, as pernas, retirava-lha as vísceras
para olhar de perto, para me sujar com sua tinta de sangue
Eu passei a vida flertando com a arte e desejando devorá-la, sem mais, sem volta, nós duas nuas num quarto vazio.
Acho mesmo que abusei da arte. E agora ela se abusa de mim.
Minhas fronteiras são indefinidas.
Finjo sorrisos e interesses o dia todo.
Me sinto inabitada da crueldade do mundo. Quero transar com todas as coisas que aceleram as emoções das pessoas todas.
Quero por horas ser a chuva torrencial que leva tudo de volta para o mar.
Mentira, eu quero ser mesmo é o mar. Dono de tudo, poderoso, que tem nas suas entranhas o mistério da vida, o mistério de tudo do mundo.
Quero ser o mar para não ter de me explicar comigo mesma, pois seria maior que isso, que as dúvidas, que o saber, que a matéria.
Eu poderia ser e seria o sentir. E bastaria.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Casa no campo

Uma vez, fui visitar uma casa no campo
Era toda de madeira, com detalhes de outra época
Ninguém ia lá, por isso estava coberta de pó
Tua ausência enchia aquela casa, mas eu, na verdade,
Não estava só.
No fim da tarde, tirei a roupa, me olhei no espelho como quem olha
Uma desconhecida
E enchi de água, enchi de mágoa a banheira
E ouvi tua voz dizendo que sentia minha falta até ao se banhar.

Contudo, não nego, eu me sentia bem comigo
Respirava fundo aquele ar de campanha
Lembro-me de estar próxima do que chamam de paz
Porém naquela cama, havia outro em seu lugar.
Os dias eram doces, as noites calmas e ternas,
Mas meu peito ruía, ruía de farsa
Pois quando fechava os olhos era tu quem encontrava.

Agridoce

Ao passar café pela manhã
Quando ainda me despeço dos sonhos mal acordados
Lembro-me dos nossos lençóis brancos desenroscados
De nós, de tudo 
O cheiro fresco vai invadindo os cômodos, nota a tua ausência, parece te procurar.
Inocente como qualquer paixão, desesperado como um louco,
Sai do prédio e chega até a rua... Sem nada a encontrar,
Recordo-me do momento em que pela casa eu caminhava nua...
E ao me distanciar...
a cada passo, teu desejo aumentava pouco a pouco
Silenciosamente, tu me pedias para voltar.

Eu não conhecia esse sentimento devastador
É saudade, meu amor.
Te celebro todos o dias, te evoco ao cuidar do nosso jardim,
ao beber teu vinho cativo, ao ler uma poesia.
Lembro-me de ti quando estou só e sinto ainda mais a tua falta quando não estou.
Vivo contigo pelas montanhas de céu azul, onde nossos sonhos decoram o  dia
Aonde o sol nasce cedo e nós saímos de mãos dadas por entre os verdes e lilazes.
vivemos juntos em primavera dentro de mim,
em um tempo tão bonito que não data de fim.

Anseio por entrares à porta, por entrares na vida simples prometida,
Anseio pelos beijos tardios, pelo afagar d'alma,
Para que os momentos de espera sejam lembrança agridoce.
Mas venha logo, que meus dias insones me cansam sem ti
a música toca solta pela sala e atravessa meu coração solitário que começa a tropeçar em si
Desconfio até que a vizinhança já notou e me olha com um certo pesar
Pois então, meu amor, apresse esse seu relógio
As minhas horas estão cansadas de contar.


sábado, 22 de abril de 2017

que de leve, todo

E eu estava ali, toda mal contida no meu ser,
paralisada por uma até então desconhecida entorpecência.
Eu estava a admirar o meu novo amanhecer
por meio do toque da tua mão na minha existência.
Eras mais do que desejo de arder...
Eras um encaixe, um ruído dilacerante,
Uma dor de prazer de sentir-se envolver em um canto distante,
Eras um chamado para viver de tão leve flutuante.
Não sabia o que fazer com o tamanho desse ser,
Pois com toda sua história, me tomava a memória
fazendo-a insignificante, de passado quase alucinante,
meros caminhos errantes
me levariam até você.
E eu fitei meus erros que se enfileiravam diante de mim,
e perdoei-os, dizendo-lhes adeus de leve, mas com todo o meu querer
Minhas linhas mal traçadas haviam se findado
Pois se encaminhavam, se tramavam e se desenrolavam
No desfecho de te conhecer.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Andando pela vida

Aprendi a escrever a lápis de novo, feito criança
Apesar das possibilidades de apagar  
Nunca o fiz
Aprendi a ir no cinema para ver filme que não queria
Aprendi com as árvores a calma que pacientemente com suas raízes profundas observam quem sentam aos seus pés,
e depois, sem dizer por que, levantam e vão embora
Aprendi com o mar a guardar segredos, a colecionar mistérios e objetos perdidos,
a não permitir que todos nadem até o fundo. Aprendi a me defender.

Com a minha vó, aprendi sobre o tempo.
Pelos seus olhos azuis feitos de céu, eu vi memórias, perdas, saudades
Vi os seus ditados populares desfilarem na rua diante de mim e sorri para eles, discretamente..

Aprendi com o vento a mudar de direção e com a música, aprendi a ouvir
Aprendi a tomar café sem açúcar
Aprendi a ler só o que me interessa, a andar com quem me interessa, a ser gentil.

Com a minha mãe  eu aprendi a sorrir por pequenos motivos,
e quanto mais se acha graça da vida, parece que ela desconfia e começa a achar graça da gente também.
Com a minha irmã aprendi que para cada pergunta complicada existe uma resposta óbvia e simples.
Aprendi com o passado a agradecer.

Aprendi a fazer exercício todos os dias, a movimentar o corpo, a conhecer o corpo e os seus limites,
Então, eu me machuquei, pois é assim que sempre fui: audaciosa. Não por excesso de coragem, mas por puro otimismo.
Aprendi com as palavras a dar significado, a enlaçar as pessoas com um fio invisível que me atravessa e envolve o que ainda não está inscrito no outro
Aprendi com os sonhos a vivê-los e ao lê-los, aprendi a desviar de rotas perigosas.
Aprendi a andar sozinha

Aprendi que vou morrer sem ter aprendido tudo, e que há tanto, mas tanto erro nessa história, e por isso, aprendi a não ter culpa.
Aprendi com meu pai a questionar, e por isso, questiono tudo, e com o silêncio de Deus, aprendi a não ter respostas.
Aprendi ao escrever o meu momento santo, que toca o que sou, e depois do último ponto dado, estou pronta para aprender tudo outra vez

segunda-feira, 27 de março de 2017

deixa assim

Qualquer encantamento ainda resta nesse espaço de tempo
entre o meu coração e a razão
Se tu pudesses ver agora o meu olhar de pedra, que está assim: mais vazio... mais frio
Tenho a tarde livre para te fazer perguntas sem respostas
Sempre nos entendemos no silêncio, não é mesmo? Porém perdemos as apostas...

Queria te contar por onde andei e o que assisti semana passada no cinema
Sinto o vento forte no rosto do nosso tempo,
Paralisa a memória do que poderia ter valido a pena
Ontem a noite estavas tão vivo enquanto dormia,
podia jurar que a nossa trajetória ainda seguia

Mas o erro aconteceu, não perca tempo tentando mudar, eu não posso mais te condenar
Me despeço de mim mesma, e os nossos desencontros não tem solução
Tem dias que o que sentia volta com tanta força e mexe com tudo aqui dentro, brinca com o meu coração
Me lembro do tempo que a gente conversava sobre a vida sem notar que amanhecia lá fora
Mas quer saber? Deixa assim...
não houve dor maior do que ter de ir embora
Não conseguiria fazer tudo de novo
E em falar em novo, sonhei que era reveillon
Estava todo mundo lá, notei a tua ausência na hora de brindar.
Lembra de quando a gente sentava na areia do Leblon?
Parecia que todos os nossos sonhos se encontravam com o mar.
Se eu tivesse uma pergunta apenas, eu te perguntaria,
Como que se faz planos com outro alguém?
Sinto meu coração ainda um pouco teu. Por que tem de ser assim?
Eu fui no teu enterro, eu joguei rosas no teu caixão e disse amém.
Me parecia mesmo o fim,
então eu disse adeus
Escrevo agora com os mesmos dedos que passavam pelo teu corpo todo adormecido e  que ainda são teus..

Assim como contigo, não consigo terminar esse poema, estou contando os grãos...
Então, fica assim... resta assim, longe de mim, um sopro no peito, um passo pra trás, um desencostar de mãos.


sol da manhã

Manhã. O sol entra lentamente pela janela iluminando o quarto. A casa em completo silêncio. Já consigo te imaginar esperando meu café recém passado, sentado em minha cama com um livro aberto no colo e a mente distante. Chego devagarinho, sento na beira, fico te observando na sua beleza amanhecida. Deslizo minha mão sobre as tuas pernas, por debaixo do lençol, fecho os olhos e sinto meu corpo esquentar. Lembro do café, e te alcanço. Tu me olhas, bebes um ou dois goles, e vens para perto de mim, o lençol que escorrega te deixa nu e eu começo a beijar a tua nuca, o teu ombro colocando minha língua quente na tua pele de inverno. Tu não dizes nada. De olhos fechados, me pergunto como te fazer sentir algo que nunca sentiste, descobrir teus prazeres escondidos, teus desejos ocultos. Pego o café da tua mão e ponho sobre a mesa. Te beijo a boca ainda quente e amarga, sentindo todo meu corpo entrar em sintonia com a tua língua.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Um led

Ouvindo Since I've been loving you. Como é diferente pensar na vida sem projetar tua figura silenciosa ao meu lado. Hoje repenso a música e a vida. E como diz a letra, estou quase perdendo minha cabeça preocupada. Passei tantos dias me preocupando com o que não estava ao meu alcance, quase fiquei louca, sim. Por um momento o mundo girou diferente, e o doce estava azedo. Mas cá estou. Sobrevivi. Acreditei que algo melhor era possível. E podia ser até mesmo minha própria companhia. Não sei se preferi, mas fiquei com meus próprios álibis e minhas próprias mentiras. Uma coisa é fato. Cansei dos seus jogos e das suas respostas pela metade. Cansei da linguagem que não cumpria função. Cansei do desejo pela metade. Cansei daquela vida. E todas as portas que se abrem eu agradeço por não ser a tua. E com toda a tua hipocrisia e desverdade, me vejo diante de um espelho em um quarto branco. Despida das minhas ilusões, das minhas crenças, eu começo a te esquecer. Eu começo a esquecer daquele tempo de dor e insanidade. Começo a pensar no agora. E o futuro não tem seu porta retrato na estante.