sexta-feira, 28 de abril de 2017

Caminhar emPoesia

Pus-me a perguntar-me
a pergunta mais simples de todas:
Por que escrevo?
Daqui deste café, observo as pessoas irem e virem,
é para isso que escrevo.
Porque caminho em poesia
E confesso que me perco nesse espaço das palavras
e no que as palavras produzem em mim.
Reorganizo a vastidão que é ser quem se é, que é viver
Ponho em imagens o incorrigível, o incompreensível.
Desejo tanto uma vida simples, mas não sei se passei
a vida enganando-me sobre isso, de ser aquela que as pessoas
visitam a casa para comer o bolo da tarde com café recém passado
Que cuida das flores e se admira com o transformar das estações
Todavia, algo se rompeu
E apenas um espectro meu visita os lugares que frequento
Compreendo o mundo pelas lentes da minha arte
E repare, esta é a primeira vez que atrevo a chamar de arte o que
nos intervalos da vida me permito preencher as horas vazias do ser
Parece-me que esses intervalos se tornaram quase todo o tempo
e que ao dormir a arte vem em meus sonhos mexer comigo
Ouso dizer, pois ando ousada ultimamente,
que a arte brinca comigo nos meus sonhos
Sim. Ela faz ironias de mim, digo mesmo que se vinga até...
do tanto que passei mexendo com ela, sem entendê-la de fato,
manejava-a como podia, dissecava-a, estirava-lhe os braços, as pernas, retirava-lha as vísceras
para olhar de perto, para me sujar com sua tinta de sangue
Eu passei a vida flertando com a arte e desejando devorá-la, sem mais, sem volta, nós duas nuas num quarto vazio.
Acho mesmo que abusei da arte. E agora ela se abusa de mim.
Minhas fronteiras são indefinidas.
Finjo sorrisos e interesses o dia todo.
Me sinto inabitada da crueldade do mundo. Quero transar com todas as coisas que aceleram as emoções das pessoas todas.
Quero por horas ser a chuva torrencial que leva tudo de volta para o mar.
Mentira, eu quero ser mesmo é o mar. Dono de tudo, poderoso, que tem nas suas entranhas o mistério da vida, o mistério de tudo do mundo.
Quero ser o mar para não ter de me explicar comigo mesma, pois seria maior que isso, que as dúvidas, que o saber, que a matéria.
Eu poderia ser e seria o sentir. E bastaria.

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