quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Sequer imaginado

Entra no carro.
Shhhh, silêncio. Deixa eu colocar essa música aqui.
O que tá acontecendo? 
Acontece que sonhei com esse dia por muito tempo.
Me dá tua mão enquanto dirijo.
Isso, fica em silêncio.
Deixa que eu te enxergue pelo canto do olho, sem que tu entendas nada.
Viu que passei batom?
Que bom que tu estás aqui.

Que lindos teus olhos tristes 
emoldurados de Caetano 
nesses dias cinzas.

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Começar a contar anos em décadas.
Amores em décadas.
Primeiras vezes em décadas.

Não há mais nada de novo. Sem tédio, mas também sem novidade.
Meu corpo disponível a nutrir, criar, embalar e desenvolver outros seres. 
Ser mãe é perecer no paraíso.

"Nunca mais outros corpos", ela dizia no poema. Naquele poema onde enterrei a última primeira vez aos pés de um manjericão em flor. Ele mata o manjericão, mata o poema, retorce suas raízes, cavouca as entranhas da terra. A terra que por último saiu de mim.

sábado, 26 de junho de 2021

Sazonal

Encontrei um rabisco, nunca publicado, de três ou quatro anos atrás. Nele o título: sazonal. Nele as mesmas dores que ainda hoje abro para contar.

Faz sete anos que despiroquei pela última vez. 
(...)
Ela me diz que o nome disso é ferida narcísica. Eu, que nada sei sobre psicologia, chamo de orgulho ferido. Chamo de cultuar o passado com aquela vaga esperança de que um dia ele vá se materializar na minha porta. Não vai, eu sei que não vai, mas não esqueço.

Comecei a escrever esse texto em abril. aquele mês que todo ano me faz revirar gavetas, buscar Sartre e encarar o vazio. Finalizo em junho, noite sozinha, chuva lá fora, É o Tchan tocando, sem que nada disso faça sentido algum. 

Queria saber escrever poesia. O que será que rima com despirocar?
Todo abril desfolhar.
Todo ano lutando para abafar esse mesmo eco.