domingo, 11 de outubro de 2015

Sem mais, nem menos

Tenho a impressão que ele está voltando a ser como era antes. Irritações e momentos de grosserias com motivos estranhos. Ontem vendo TV, eu falei pra ele botar no canal das motos que ele queria ver a corrida. Estava feliz, mesmo com um momento delicado, estávamos ali, juntos, dividindo uma noite qualquer. E aí, abracei ele e disse te amo. Ele não sorriu. Nem me olhou. Estava sério. Compenetrado. No momento não percebi que era o final da corrida. Havia retirado os óculos e tenho forte miopia. Repeti baixinho perto do ouvido dele: "eu disse te amo"; emiti um risinho constrangido de quem tem medo do silêncio. Ai, Márcia, não tá vendo que tá acabando a corrida???? Poxa! 
No mesmo momento tomei uma certa distância no sofá. Fiquei dura, ouvindo aqueles roncos de moto fino de quem corre leve, de quem corre rápido. Mas não enxergava nada. Meus olhos embaçaram muito para ver qualquer coisa, na verdade. As lágrimas caíam com extrema facilidade. Meu peito apertava. Fazia tempos que não ouvia uma grosseria  daquelas dele. Um trauma súbito passou pelo meu corpo todo. Me arrepiando. Me pondo nos meus piores pesadelos. Por que ele estava assim? Seria minha culpa? Não. Não podemos botar a culpa no outro pelos nossos temperamentos tempestivos. Eu não pus, e bem que poderia. Fiquei refletindo nas nossas diferenças em ataques de fúria. Eu pareço louca. Fico indignada. Berro. Causo tumulto. Mas não sou grosseira assim, num momento de carinho, de ternura. Não estou certa, mas não percebo causar mágoas gratuitas. Mas isso, bem, é subjetivo e parcial. Eu reconheço que quanto menos esperneio, mais me fecho dentro da minha casca de indignação. O que incomoda, sei que incomoda ele profundamente. Mas fico me perguntando se ele sofre como eu sofro em momentos assim: de violência sem precedentes. Me pergunto se o peito dele aperta, se ele tem vontade de sumir. 
Não queria que ele me visse chorar. Então deslizei pra um cantinho do sofá e lá fiquei, encolhida, afundada nas minhas mágoas, sabia que o passado me visitava e esquecera de bater na porta. Se ao menos ele quisesse entender como me sinto. Se ao menos conseguisse me enxergar daquela maneira.. tão pequena, tão frágil. Foi aí que ele resmungou: não acredito que vais ficar assim. Agora a corrida acabou. Por que tu não esperou a corrida acabar? E eu, respondi, de maneira até meio estupidamente ingênua, que não tinha visto. E ele, te falta é atenção então. Naquela hora não achava que me faltava atenção. Achava que me faltava carinho, afeto, respeito, dedicação. Foi então que ele disse que eu demandava muito. E fiquei refletindo sobre isso também. Nessas horas a culpa sempre parecia minha. Senti que meu sonho tinha acabado ali. Ele voltara a ser como era antes. Um descuido e uma prepotência que eu jamais vi em ninguém. Já podia sentir falta dos dois meses que convivi com o seu melhor eu. Calmo e justo. Por quem eu tinha me apaixonado à terceira vista. Lembro que no terceiro dia que começava a falar com ele, sentia uma forte pulsão de largar tudo e correr para seus braços e ficar ali, adormecida,  junto de seu perfume e de seu calor para sempre. Foi paixão abrupta, foi devaneio, não foi parecido com nada do que já tinha provado. Era como se eu pudesse me apossar da alma dele, como se pudesse unir meus motivos com os dele com beleza e maestria. E tudo estaria explicado. O universo para mim se resumiria nos caminhos que trilharíamos juntos e isso bastaria. E foi em meios disso que chamo de o começo de nossa história que me perdi, me deixei levar, fugi do que eu conhecia de mim até então. E ontem, minha satisfação se dissipou no ar gelado da madrugada. Depois da tristeza, veio o medo de ele continuar assim. E que para mim, não haveria escolha a não ser me despedir. E dessa vez, para sempre. Mesmo eu, que não acredito em para sempres mais. Sei que não há mentira que repetida não se torne verdade. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Por que nós?

Ou por que não?


"fomos serenos num mundo veloz

nunca entendemos então por que nós

só mais ou menos"





Porque nesses dias todas as inquietações se transformam em música.