segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mais

A cada dia percebo que meus sentimentos ficam melhor explicados através de melodias do que de palavras, por mais que eu tente colocá-las em ordem correta, organizadas com a pontuação que o português manda e com a coerência que eu me esforço para conseguir. As músicas vêm tão de leve, tão suaves, as melodias sempre me desarmam e as letras traduzem momentos, sensações e bailes particulares; particulares de ambiente, particulares de sensações, de coração. As músicas suprem as lacunas e desapropriam as palavras, tomam nossas mãos, nosso silêncio e transformam o momento em beleza pura, em uma mensagem sutil e, ao mesmo tempo, na mais forte das mensagens. Cada música é carregada de significado, muitas vezes mais de um. Cada música tem sua história para contar, seus bailes para embalar e seus amores para encantar. Cada uma delas deixa um pouco de si e leva um pouco de nós. Cada uma delas tem o seu momento e essa é realmente para hoje. Para ouvir de manhã e levantar bem disposto, enfeitando a cara com um belo sorriso; porque beleza vem de dentro, e não me importa mais se hoje o céu está cinza. Eu vou sair cantarolando por aí.






P.S.- bom dia!

domingo, 30 de maio de 2010

Bem mais


Como é fantástica a sensação de flutuar enquanto os castelos, as montanhas, os céus estão desmoronando ao seu redor. Eu encontrei o mais seguro refúgio no meu sorriso. E não é fingimento. Meus anjos estão comigo, me protegendo de mim mesma e daqueles que não me querem bem. Eu não me preocupo com nada a não ser minha própria felicidade e ela não está em suas mãos. De início, é doloroso descobrir que você simplesmente se enganou com tudo. Que foram apenas cenas de um filme com roteiro, com início e final certo. Com prazo de validade prévio. Mas, já que a vida não é algo que podemos controlar, aceitei o que veio a mim com serenidade. Como aprendi a fazer com minhas batalhas perdidas. Mas não me dou por vencida, não. Afinal, na vida, não se trata de perder ou ganhar o jogo, e sim como você o joga.

E até então, lágrimas passageiras habitaram meu travesseiro, mas não mais. Nada mais disso. Hoje eu sou eu mesma, e nunca me senti tão completa. Nunca me senti melhor acompanhada. Não me sinto mais só comigo mesma. Há muito o que celebrar. Há muito pelo quê sorrir e levantar meu copo. Há tanto que você nunca vai conseguir compreender. E tudo bem, tudo é do jeito que deveria ser. Sofrer por isso é besteira se não há nada que possamos fazer para mudar os fatos. Eles falam pelas palavras que dissemos, pelas promessas que cantamos, pelos olhares que trocamos.

Tudo isso já ficou no passado. Não se faz mais presente no meu presente. E que belo presente de Deus isso é. Só restou o que é verdadeiro. Só o que devo considerar. Só o que me faz bem.
Sou bem mais do que era. Bem mais...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Dueto

"(...)
Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz
Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
Serás o meu amor, serás amor a minha paz"
(Chico Buarque)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Um amor maior



O bom de se estar perdido é que você pode estar perdido em qualquer lugar. Onde quer que você vá, os problemas vão com você. Pra qualquer lugar que se olhe, há sempre algo que nos faz lembrar que nada foi um sonho. Que realmente aconteceu. E que você está sozinho no meio de um labirinto, procurando pela saída, exaustivamente. O impasse invade a sua mente como um perfume numa sala pequena. Você não consegue se livrar das imagens, das cenas que se repetem na sua mente incessantemente em forma de lembraças mortas-vivas. Até que a dor é grande demais para se conseguir suportar e, então, só resta fechar os olhos e lembrar de respirar fundo. Você mal consegue se dar conta que ainda está lá. Por um momento parece que você é só a sua dor e não há espaço para mais nada. Ter o coração partido em milhões de pedaços é tão clichê. Eu detesto ambos.

E você vê a estrada que há pela frente. Um longo caminho a percorrer até que você se sinta bem de novo debaixo do céu azul. Colinas para subir e espinhos a retirar das flores colhidas. Há tanto para se aprender, para se melhorar, para se celebrar. E então, você ergue o copo e brinda com seus amigos a vida. Por um instante você está feliz e agradecido por estar vivo. Até que algo rompa o silêncio da satisfação e o traga ao poço escuro novamente. Algo inesperado que relembre o quanto você ainda se sente fraco e despreparado para enfrentar o que ainda lhe corta por dentro.

Palavras confortam, assim como tudo que lhe circunda. Porém, há sempre algo desencaixado. São as velhas promessas de sempre pairando no ar convidando você para dançar pela madrugada fria que se aproxima vagarosamente. São as lágrimas escondidas há tanto na transparência da alma. É o desespero de se sentir só, com ou sem ele. Já não faz tanta diferença tê-lo. Teria somente sua metade, quase nada. Pergunto-me porque quase nada parece tanto nessas tardes monótonas. Como pude me apegar tanto a mentiras passageiras sobre a verdade volúvel. Como pude. Há perguntas que jamais serão respondidas. Há entendimentos mais entorpecentes que eum bom vinho francês. Há mágoas que se transformarão em cicatrizes tão profundas que só o amor pode curar. Um amor maior que nós dois. O amor que trará o perdão tão desejado e tão merecido.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Trecho

"Em trabalhos práticos de física, qualquer aluno pode fazer experimentos para verificar a exatidão de uma hipótese científica. Mas o homem, por ter apenas uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese por meio de experimentos, por isso não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a seu sentimento."

Me deparei com esse trecho num livro que é mais do que uma surpresa, é uma caixinha de revelações. Enquanto leio, parece que parte de mim se traduz naquelas palavras, nos sentimentos, nas agonias e tantas vezes na incerteza; pareço com o homem que se perde, com a mulher que se encontra, com quem vai e com quem vem. Me identifico em diversos papéis, cada um em sua realidade. 

A propósito, o livro é A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Outro Lado

Pela primeira vez, em anos, sentei por vontade do lado direito do ônibus. Eu que tenho a maldita mania de só sentar do lado esquerdo, hoje decidi me determinar a ver a viagem pelo outro lado. E talvez seja sentando do outro lado que eu consiga começar a enxergar pelo outro lado. E hoje escolhi cor-de-rosa, logo cor-de-rosa que eu odeio tanto, pra contrastar com o preto que sempre me veste e tentar vencer as manias que me dominam.Talvez seja com pequenos passos que eu vá me livrar de todos os medos que me imobilizam, me deixam sem ar e não me deixam viver em paz. Talvez seja assim que eu vá começar a tomar minhas próprias decisões e escolher sozinha qual o lado do ônibus que quero sentar. E talvez a partir disso eu possa começar a escolher não só o lado do ônibus ou a cor da roupa, que as minhas manias quase sempre determinam, mas eu possa escolher também quem vai caminhar comigo e não mais deixar que os meus medos paralisantes escolham por mim o que eu quero ou o que devo fazer da vida. É pouco, mas hoje estou de rosa. E hoje estou do lado direito. Quem sabe o primeiro passo era o empurrãozinho que eu precisava para fazer as coisas funcionar. É sempre a partir do primeiro passo que se aprende a caminhar e, dessa vez, caminhar com as próprias pernas.


Mude

"Mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde
você passa.

Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.

Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.

Durma no outro lado da cama...
depois, procure dormir em outras camas.

Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais...
leia outros livros,
Viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.

Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.

Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado...
outra marca de sabonete,
outro creme dental...
tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira,
de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.

Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda !

Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena."
(Clarice Lispector)

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Prato do Dia

"Como arroz e feijão, é feita de grão em grão
Nossa felicidade como arroz e feijão
A perfeita combinação soma de duas metades
Como feijão e arrozque só se encontram depois de abandonar a embalagem
Mas como entender que os dois
Por serem feijão e arroz
Se encontram só de passagem
Me jogo da panelaPra nela eu me perder
Me sirvo a vontade... que vontade de te ver
O dia do prato chegou é quando eu encontro você
Nem me lembro o que foi diferente!
Mas assim como veio acabou e quando eu penso em você
Choro café e você chora leite"
O Teatro Mágico

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Perfeitamente Sozinho

"Nothing to do
Nowhere to be
A simple little kind of free
Nothing to do
No one to be
Is it really hard to see

Why I'm perfectly lonely
I'm perfectly lonely
I'm perfectly lonely
I'm perfectly lonely
'Cause I don't belong to anyone
Nobody belongs to me

And this is not to say
There never comes a day
I'll take my chances and start again
And when I look behind
On all my younger times
I have to thank the wrongs that led me to a love so strong"

John Mayer e suas sábias palavras.

Nem sempre

Meu sorriso foi verdadeiro e o meu olhar, transparente. Nem sempre as pessoas que eu escolhi foram aquelas que optaram por permanecer do meu lado. O lugar delas realmente não era junto do meu peito. Nem sempre cuidei de corações alheios da maneira que eles mereciam, embora tenham sido nada mais que provações para ambos os lados. Nem sempre acertei, mas era preciso errar para aprimorar minhas virtudes e reconhecer falhas. Por isso, deixei a culpa para trás porque aprendi a ser melhor plenamente. Nem sempre as escolhas que fiz foram as corretas, mas foram as que eu precisava fazer naquele momento de aprendizagem. Nem sempre meu sonho se realizou, minha opinião foi aceita. Nem sempre fiz o que eu quis. Por medo, por insegurança, por egoísmo. Não vivemos exatamente o que sonhamos, vivemos o que cativamos, o que nos foi guardado, o que nos foi destinado e merecido. Geralmente, sofremos quando esperamos mais do que alguém pode dar. O ideal é não esperar nada de ninguém e se surpreender a cada ato inesperado. Devemos perdoar, acima de tudo, e nos sentirmos gratificados por tudo aquilo que Deus nos destinou, porque nada na vida é por acaso. Não devemos esquecer que as pessoas que nos cercam são humanas e estas erram, assim como nós poderíamos errar ou já erramos anteriormente. A compreensão é uma dádiva. Todos nós somos felizes com nossa presença unicamente e para todos nós o Sol continua brilhando, de maneira diferente a cada manhã, porém com muito calor. Nem sempre saí ganhando o que queria, embora tenha ganhado muita sabedoria com as discórdias e desventuras. Devemos saber perder. Devemos viver e aproveitar o que a nós foi oferecido, sem mais demais e apesar de todos os apesares.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Eu Te Amo

"Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir"
(Antônio Carlos Jobim e Chico Buarque)

Contas

Adoro os dias quando eu acordo e penso com clareza. São poucos os dias que consigo organizar meus pensamentos como tópicos, como pautas. São raríssimos os dias que eu consigo pensar nos fatos separadamente e evitar aquela mistura confusa e até engraçada de sentimentos. Hoje eu não tô atando um fato a outro, parei de fazer associações e consigo enxergar as coisas em sua forma mais simples sem precisar de imensas equações e ladainhas sem fim que muitas vezes não me levam a lugar nenhum.

Por outro lado, quanto mais clara fica a minha cabeça, menor a qualidade das coisas que eu consigo escrever. A minha essência precisa, eu acredito, de um teor constante de confusão para funcionar do jeito que sempre funcionou. De uns tempos pra cá, ando com essa mania de simplificar tudo e ficar agoniada quando não consigo resolver minhas equações sentimentais. Há um tempo atrás, as contas complexas eram a minha diversão e a certeza do meu conhecimento... Mas acho que vamos envelhecendo e, por mais que ainda não apareçam rugas pelo meu rosto, meus sentimentos já estão um pouco retraídos e enrugados, daí a necessidade da simplificação excessiva, como se todas as sensações fossem cálculos matemáticos cujo objetivo é chegar no mínimo múltiplo comum. Um mais um nem sempre é dois nas contas do coração, por isso não é confiável contar sempre com nossa balança racional no que diz respeito aos assuntos emocionais. Tenho que aprender a equilibrar a calcudadora da mente com a balança do coração, coisa que eu nunca soube fazer. Talvez por medo, por insegurança, por qualquer coisa.

Tenho medo de me entregar às coisas que sinto, isso é fato. Tenho medo de não ser recíproco o que sinto. Tenho a necessidade da retribuição, infelizmente eu ainda estou muito longe daquela evolução que permite, em todas as situações, amar sem ser amado. Ainda preciso de um pouco mais de equilíbrio e de um voto de confiança e rendição, para que eu pare de desconfiar de tudo e de todos; preciso voltar a levar na flauta os descaminhos e desencontros. Preciso parar de calcular, de encontrar mínimos para aquelas coisas que deveriam ser máximos. Eu preciso, de verdade, de um pouco de sanidade. Um pouco de sanidade pra recobrar minha insanidade natural. Aquela, que me ditava o ritmo e que me faz tanta falta; aquela, cuja falta me faz perceber que o mundo pode pesar mil toneladas nas costas, se não soubermos como dançar com ele.


Tiro ao Álvaro


Só porque é um doce essa musiquinha.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Vontade não falta de escrever aqui. O que falta é um pouco de descanso pra essa cabecinha que precisa por as coisas nos seus devidos lugares, antes de começar a transcrever todos os pensamentos malucos e desordenados que aparecerem. Quando a casa estiver em ordem, eu volto. Minha cabeça está um turbilhão de informação.

domingo, 16 de maio de 2010

Mamma Mia

"Mamma mia, here I go again
My my, how can I resist you
Mamma mia, does it show again
My my, just how much I've missed you
Yes, I've been brokenhearted
Blue since the day we parted
Why, why did I ever let you go
Mamma mia, even if I say
Bye bye, leave me now or never
Mamma mia, it's a game we play
Bye bye doesn't mean forever"
ABBA

Olha

"Olha você tem todas as coisas
Que um dia eu sonhei prá mim
A cabeça cheia de problemas
Não me importo, eu gosto mesmo assim
Tem os olhos cheios de esperança
De uma cor que mais ninguém possui
Me traz meu passado e as lembranças
Coisas que eu quis ser e não fui
Olha você vive tão distante
Muito além do que eu posso ter
E eu que sempre fui tão inconstante
Te juro, meu amor, agora é prá valer
Olha, vem comigo aonde eu forS
eja minha amante, meu amor
Vem seguir comigo o meu caminho
E viver a vida só de amor"

Palavras fáceis


Tem momentos que ao fechar meus os olhos não vejo nada além de incertezas. Descobri-me em um desses momentos, mesmo numa fase de certezas quase absolutas. A sensação de que tudo mudará, de repente. Talvez a calmaria de um lago não caiba realmente em uma mente cheia de quedas como a minha.
Uma vez, me disseram que eu era um barco a vela. Ainda preciso refletir sobre essa colocação, esta de uma pessoa que me conhece bem. Pois não creio que eu me ajuste realmente ao vento e, muito menos, saiba dar todos aqueles nós complicados a fim de manter minhas velas certas para meu barco ir na direção que eu desejo. Todos os meus planos não deram certo. E de alguma forma, não me arrependo de não ter me esforçado pra que dessem. Não era verdadeiro. Em algum ponto eles eram falhos, se não, teriam funcionado, não é mesmo? A verdade é que a vida toma conta da gente, de uma forma ou de outra. A verdade sempre bate a nossa porta, mais cedo ou mais tarde nos fazendo enxergar o que não queríamos ou não conseguíamos tolerar. Não sem dor.
E de que vale uma vida baseada em mentiras? Baseada em palavras? Palavras são fáceis. São mentirosas e discretas. Elas são parte das histórias que eu sempre montei na minha cabeça, desde criança, como um quebra-cabeça impreciso. Antes de dormir eu imaginava inúmeras histórias, cenas vindas de nenhum lugar com personagens que eu gostaria que fizessem parte dessa magia, e, sinceramente, não somente da minha história criativa, mas da minha vida. Desejava que apresentassem um significado maior do que realmente possuíam. Nas minhas fantasias eles falavam coisas que jamais cogitaram em falar. Frases românticas harmonizadas com belas palavras shakespearianas. Socorriam-me de apuros, me lançavam em aventuras incríveis, ou simplesmente me encantavam com gestos simples de carinho e cuidado. Coisas que nenhum deles fez. E nem pensou em fazer. E foi assim que vivi até agora, suportando a apatia das pessoas, a falta de sensibilidade, de romantismo, de um comportamento espontâneo no meio dessa massa de gente bitolada por regras sem propósitos os quais façam o coração bater mais forte. O que pra mim, é o essencial. É a razão única e honesta de estarmos na Terra. Para amarmos de todas as formas da maneira mais intensa que soubermos fazer. E eu, bem... Eu não encontrei maneira melhor do que minhas histórias tolas. Mas estou começando a cansar delas. Estou exausta de imaginar o que eu adoraria que fizessem. Estou farta de palavras. Quero alguém que me torne real. Que torne minhas histórias reais. Não quero mais que minha imaginação seja a melhor parte do meu dia. Que seja o que há de extraordinário no ar que respiro. Meu refúgio, minha metade. Talvez um dia ponha todas essas histórias dentro de um livro pra que as pessoas possam também sonhar com elas e usá-las como um esconderijo secreto a fim de combater a monotonia daqueles que não são criativos o suficiente para reinventar a vida e o amor. Para recriarem a paixão, todos os dias, todos os minutos. E enquanto bastar, que isso as faça felizes e satisfeitas, mesmo que seja de olhos bem fechados.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Desabafo

Hoje passei a tarde cantarolando essa música, então resolvi compartilhar aqui...

"(...)
Você é mesmo essa mecha
De branco nos meus cabelos
Você prá mim é uma ponta
A mais dos meus pesadelos...

acontece que eu
Não sei viver sem você
Às vezes me desabafo
Me desespero, porque...

Você é mais que um problema
É uma loucura qualquer
Mas sempre acabo em seus braços
Na hora que você quer..."

(Roberto e Erasmo Carlos)

Deserto

Te conheci cedo demais
"Cedo demais prá imaginar
Que um dia o tempo
Iria voltar atrás
Só prá te buscar
Agora eu já posso dizer
Que o que eu busquei
Está dentro de você
Eu já cansei de procurar
O que eu não encontro
Em nenhum lugar

Só agora entendi
Que estava no futuro
O que no passado não vi
O teu amor maduro
Pois meu coração
É um deserto sem você

Mais longe do que perto
Não tem razão, nem porquê
Se estou errado ou estou certo
Isso eu não quero saber
Pois meu coração
É um deserto sem você"
Izmália
Quando minhas palavras já não brotam, encontro a chuva para suprí-las.

O melhor de nós


Algumas pessoas despertam o melhor de nós. Entre tantas as pessoas que há no mundo, apenas algumas conseguem despertar o nosso coração para os melhores sentimentos. São aquelas pessoas que entram nas nossas vidas arrombando a porta ou de mansinho pelo canto, são aquelas que tomam todo o espaço ou aquelas tímidas que invadem aos pouquinhos, com delicadeza. Não consigo formular uma equação que resolva o problema: qual o tipo de pessoa que consegue nos encantar? Encontro poucas semelhanças entre as poucas pessoas que me fascinam e isso me faz crer ainda mais naquelas coisas que não podemos enxergar. 
Acredito que as pessoas que nos despertam tamanho encantamento são aquelas que vibram na mesma frequência, que entram em sintonia com nossos sentimentos e esperanças. Acredito que, com elas, podemos ser o melhor que conseguimos ser. Com elas, acordamos para as coisas realmente importantes, para os sentimentos verdadeiros, para as felicidades diárias e para o otimismo insuperável. Vestimos as capas de herói, podemos ser soldados, podemos ser deuses, podemos ser santos. Com elas, podemos ser tudo e até um pouco mais. Com elas, a vida vale a pena e certamente vamos mais longe.
Podem ser amigos, amores ou amantes. Podem ser de longas datas ou muito breves, mas isso não importa pois,  por alguma razão invisível, essas pessoas nos cativam e nos fazem perceber o brilho da vida. Por pessoas assim, percebemos mais cores e aprendemos que a vida pode ser muito mais vida se tivermos essas companhias deliciosas para nos deleitarmos durante a breve estadia nesse plano. Com essas criaturas abençoadas, somos os melhores amigos e as melhores companhias, damos a elas tudo de melhor que podemos oferecer. Vibramos na mesma sintonia, emanamos as mesmas energias e por isso talvez sejamos tão parecidas, apesar de tão diferentes. Pessoas distintas com almas semelhantes, com objetivos semelhantes, nos fazem realizar que o mundo pode ser muito mais do que uma breve passagem e sim uma inesquecível experiência; nos fazem crer que a vida é boa para aqueles que assim a desejam. Que recebemos aquilo que emitimos e, como Saint-Exupéry eternizou, somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos.

Se queremos o bem, o bem vem para nós. Em energias, em situações e, principalmente, em presentes.
Presentes em forma de gente, os presentes mais raros e preciosos que alguém pode ter.

Sorte a minha de vocês existirem.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Diariamente


"(...)
Para o outono, a folha: exclusão
Para embaixo da sombra: guarda-sol

Para todas as coisas: dicionário
Para que fiquem prontas: paciência
Para dormir a fronha: madrigal
Para brincar na gangorra: dois."
(Marisa Monte)

do que passou

Sabe aquele dia que bate uma saudade? Uma saudade de um cheiro, de um gosto, de uma situação. Aquela saudade de cenas que gostaria de reviver mas infelizmente só posso relembrar. Aquela saudade gostosa das coisas que já se foram e que não voltam mais, e também aquelas saudades nem tão gostosas assim. Eu acho que ando muito saudosista...
Bem, é a saudade dos cheiros, porque sempre tive o olfato como sentido mais aguçado e todos os cheiros me lembram coisas e todas as coisas remetem a outras coisas, que remetem a outras coisas, ou a outros fatos ou a outras pessoas e assim sucessivamente. A cabeça da gente é um emaranhado sem fim, tem uma lógica quase ilógica de associar as coisas. A saudade do cheiro de beijo, saudade do cheiro das tardes, cheiro de cobertores e cheiro de noites mal-dormidas, com o sol da manhã batendo à janela entreaberta do quarto azul. Saudade do cheiro de longas conversas, dos longos amores e dos efêmeros mais saudades ainda. Saudades de não ter que sentir saudades.
Tem aquela saudade que é do gosto, da música; a da música me é frequente. Ligar quase automaticamente determinadas músicas a determinadas pessoas ou acontecimentos é completamente normal para mim. É como se meu cérebro funcionasse vinte e quatro horas por dia no modo musical, sempre preenchendo as lacunas de palavras e de sentimentos e de emoções com letras feitas, melodias e acordes apropriados. Aquela letra de música rabiscada na última página do caderninho de anotações, que remete ao passado, que direciona o pensamento à alguém e finalmente a um cheiro e, assim, minha cabeça anda em círculos infinitos de viver das lembranças das coisas que passaram.
Eu nasci sendo passadista e creio que essa tendência já tão forte comigo ainda jovem só tende a piorar conforme a idade for se aproximando e as lembranças forem consumindo cada vez mais espaço na minha memória e nos meus sentimentos, até chegar ao ponto de espremer o passado em uma esquina qualquer do pensamento e fazer para minhas antigas memórias um imenso salão dentro de mim, por onde elas vaguem fantasiadas, escondendo seus rostos já com minha idade avançada, jogando comigo um eterno esconde-esconde de quem não consegue mais viver sem viver somente daquilo que já foi vivido. 
Isso é tudo muito desconexo, mas já é madrugada e com o silêncio da noite o baile em minha mente se enche ainda mais, com as memórias barulhentas dançando e dando altas gargalhadas. Vou deitar e tentar dormir, tentar encerrar com este baile que há muito se prolonga aqui dentro. Encerrar só por hoje, pois ele sempre estará aqui, dividindo o espaço com a minha realidade presente, que me parece sempre tão menos interessante do que as velhas rugas naqueles que há tanto conheço. Que há tanto se foram. E que tão vivos permanecem.

"No mais estou indo embora
No mais, estou indo embora
No mais estou indo embora
No mais..."

terça-feira, 11 de maio de 2010

Maybe

Pra embalar uma tarde azul.


Janis Joplin

domingo, 9 de maio de 2010

Mães

Acho uma injustiça com as mães que o dia delas seja apenas um no ano. Afinal nós, filhos, não escolhemos somente uma data do ano para dar trabalho. Nem só um dia no ano em que adoecemos, ou que quebramos a perna, ou torcemos o braço, ou choramos a noite toda, ou decidimos que vamos bagunçar ou decidimos que hoje não vamos comer. Não é somente uma vez no ano que pedimos conselhos, que pedimos colo, que choramos as mágoas, que desejamos a presença dela mais do que tudo no mundo, quando chegamos da aula. Não é uma única vez no ano que ela se levanta cedo no domingo para fazer aquele almoço especial, não é uma só vez no ano que ela dorme tarde em função do sono desregulado do adolescente da casa que não dorme antes das quatro da madrugada - e que também, nesse tempo, não consegue ficar sem o som ligado, de preferência no maior volume possível. Não é uma vez no ano que ela nos traz presentes, que lembra de nós, que nos agrada, que nos aconselha, nos orienta e nos pega das mãos.  Não é uma vez no ano que uma mãe ouve a frase: "Manhê, me dá dinheiro?". Não é, definitivamente, uma vez no ano que saímos para a noite, com a condição de que ela nos leve e busque, e ainda dê carona para as amigas.
Como todos bons filhos ingratos que somos, dedicamos apenas um dia a estas mulheres, o norte das nossas vidas. Que já pensavam em nós nove meses antes de darmos o primeiro choro (primeiro de muitos que certamente vieram) e que, desde lá, não deixaram um segundo de nos colocar em seus planos como prioridades máximas e indiscutíveis. Como todos bons filhos ingratos, não damos a elas, neste único dia de homenagem, as honras que realmente merecem. Porque toda mãe merece um outdoor em seu dia, merece faixas num avião lhe dedicando amor e felicidades e mil pedidos de desculpas pelos vasos e janelas quebradas, pelas noites insones, pelas notas baixas e pelas chamadas na diretoria; toda mãe merece o maior campo de flores do mundo. E elas, como todas as boas mães que são, se contentam que acordamos antes das três da tarde para sentar à mesa do almoço (que ela preparou, mesmo no seu dia), que as entregamos um pacotinho meio amassado que ficou dentro da bolsa com um simples presente ou o menor vasinho de flores de toda a floricultura, porque era o que o salário de estagiário permitia comprar, e os recebem com a maior emoção do mundo, como se estivéssemos entregando a elas as maiores jóias, as maiores raridades, os mais lindos presentes.
Sinto uma imensa admiração pela minha mãe. Ela que me gerou, que só comeu coisas saudáveis durante a gestação para que eu nascesse com saúde, ela que sabe todas as pintas que eu tenho no corpo, ela que conhece quando meu suspiro é de tristeza ou felicidade, ela que me guiou de mãos dadas da primeira aula na escola e sentou do meu lado quando quis me ensinar a dirigir. Ela que quando eu tinha dois meses, reparou que eu tinha a cabeça torta para um lado e precisava de fisioterapia. Ela, que não mede esforços pela minha felicidade, que merece esse amor tão imenso que eu sinto, mas que se torna algo tão pequeno e até mesquinha se comparado ao que ela sente, aos cuidados que ela tem, às preocupações que ela me dedica, ao orgulho com que ela me vê quando eu venço alguma batalha. Minha mãe segurou minha mão desde o meu primeiro choro e eu sei que continuará segurando por todos os outros choros da minha vida, sejam eles de euforia ou frustração. Pois ela sabe que esse amor relapso, desnaturado, esse amor de filho, é assim mesmo. A gente que realmente não consegue entender e, muito menos, valorizar, o amor de mãe. Amor maior do mundo, que merece todas as honras e homenagens. Se amanhã o exército sair às ruas, mãe, fui eu que pedi para que eles desfilassem. Quero a banda tocando, os holofotes brilhando, o pessoal aplaudindo e as bandeirinhas voando, todas homenageando a minha mãe.

Parabéns, mãe! Hoje o dia é teu.

P.S.- Obrigada por tudo.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Quero

O engano que a tua ausência me causou
É mais desconcertante que a certeza do vazio da presença do não ter
Já que a poeira se misturou à areia da praia, eu deixei o ritmo da brisa nos levar
Praquele lugar que costumávamos ir ver as estações mudarem
Para que fossemos corajosos para transformar tudo.

Há momentos em que os erros se tornam cicatrizes pulsantes em nossos corações adormecidos
E o que havia de certo, torna-se o esquecido
Quando é o teu perfume que exala e me entristece no outro lado do meu universo
Prefiro ficar calado, não digo nada ao cair no abismo que criei
Apenas digo adeus por dois minutos ao que me agarrava antes de não saber mais o que fazer.

Quero ir onde nunca fora, conquistar aquilo tudo que estivera fora de meu alcance
Finalmente, gritar com a voz que me calara por tanto
O que jamais deixou de fazer parte da teia das veias que tecem meu corpo todo

Eu e Você

"Podem me chamar
E me pedir
E me rogar
E podem mesmo falar mal
Ficar de mal
Que não faz mal
Podem preparar milhões de festas ao luar
Eu não vou ir, melhor nem pedir
Eu não vou ir, não quero ir
E também podem me intrigar
E até sorrir, e até chorar
E podem mesmo imaginar
O que melhor lhes parecer
Podem espalhar que eu estou cansado de viver
E que é uma pena para quem me conheceu
Eu sou mais você e eu!"
Tom Jobim

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Carta

Tive uma época, como toda pré-adolescente, em que eu adorava cartas. Já há mais de um ano que não remexo minha caixa de cartas, uma caixa gigantesca com conteúdo pré-histórico. Mas hoje, enquanto procurava por folhas em branco em um caderno já de anos passados, encontrei uma carta rabiscada. Uma carta que eu escrevi, não bem uma carta, mas A Carta. A Carta, música do Erasmo Carlos, que não acredito que muita gente da minha idade vá conhecer (e muito menos gostar), mas que é uma canção maravilhosa. Um dia, no meio de alguma aula tediosa, por alguma razão eu decidi escrevê-la para alguém. E ela nunca foi entregue.
O mais interessante não foi o que eu escrevi no caderno, e sim encontrar nele uma outra carta, endereçada a mim e que eu nunca tinha visto. Talvez quem a escreveu, em uma página do meio do caderno, imaginasse que eu iria usar o caderno inteiro e algum dia, no meio de qualquer aula sem graça e sem muito sentido, iria dar de cara com aquela cartinha simpática, declaração bonitinha. Pena que eu sou folgada e nunca gostei muito de escrever o que dão nas aulas, droga. Poderia ter jogado fora sem que eu nunca soubesse da tal carta, assim como essa pessoa nunca soube da minha Carta. A Carta de Erasmo, que dizia no finalzinho: "do sempre, sempre teu...", e que tinha, por incrível que pareça, as mesmas palavras em outra folha tão próxima.
A vida é realmente algo incrível. As voltas que ela dá são quase inacreditáveis e, depois que as coisas passam, ficamos nos perguntando como certas coisas aconteceram. Ficamos pensando nas coisas que já fizeram todo o sentido e que hoje em dia não significam mais nada. A carta e A Carta vão continuar guardadas, junto com todas as outras que fizeram minha história, que contam um pouco de mim. Mesmo aquelas que jamais foram entregues, essas que dizem ainda mais, pois dizem pelos meus próprios punhos os meus grandes - ou nem tanto - sentimentos.



"Tanto tempo faz que li no teu olhar
a vida cor de rosa que eu sonhava
e guardo a impressão de que já vi passar
um ano sem te ver, um ano sem te amar"

Bebê


Estranho como, com o passar dos anos, a gente vai perdendo a essência, o frescor. Meu afilhado tem dez meses, meu lindão. E ele tem um sorriso tão puro, uma risada tão gostosa, ele se diverte com tão pouco, ele não exige nada além das pequenas necessidades de um bebê de dez meses, ele não tem sentimentos mesquinhas e egoístas. Como será que chegamos ao mundo como criaturas tão puras, tão indefesas e ao mesmo tão cheias de força e vida, uma potência desmedida de ser, e nos transformamos em ladrões, assassinos, espancadores, revoltosos? Onde será que vai parar aquela risada de criança, quando nem precisávamos de dentes para poder digerir a vida e a falta deles não era pretexto para evitar o sorriso a alguém; onde será que vai parar toda aquela admiração, o encanto pelos "au-au", o fascínio de uma simples brincadeira de "cadê?... achou!"e aquele jeito gostoso de olhar para as coisas, aquele olhar sincero e que só transborda amor?
Hoje não precisei fazer nada, eu simplesmente abri a porta e lá estava ele, deu uma risada enorme e se atirou pro meu colo. Em algum ponto, nós perdemos o essencial. Perdemos a sinceridade no olhar, a felicidade do sorriso, a leveza e a confiança. Aprendemos a andar e falar e, logo em seguida, a contar e a escrever e junto com todos esses aprendizados começamos a aprender como fingir. Como ser aquilo que desejam que sejamos,  que não se fala para a titia que ela é feia, nem para a priminha que ela é boba, que não se atira comida no chão nem se joga as coisas longe; aprendemos como olhares são armas de julgamento e sorrisos meras formalidades na hora de tirar fotografias. Com o tanto que aprendemos, muito perdemos. Eu preferiria passar a vida no colo, dependente e sem dizer nada muito mais elaborado que "ma-ma", se isso me devolvesse a honestidade do olho e a alegria do sorriso.
Um pecado que a vida arranque de nós toda essa simplicidade. Seríamos muito mais felizes engatinhando sem dentes, num mundo cheio de amigos e mamadeiras.

P.S.- na foto, quando tinha um pouco menos de seis meses, ou seja, quando ainda parava um pouco quieto para que a gente tirasse alguma foto.

Always...


She don't know who she is,
Oh, I can take her anywhere,
Do whatever comes naturally to you,
You know she just don't care
You know she just don't care,
'Cause I'm always where,
I need to be,
And I always thought,
I would end up with you eventually...
Do do do-dododo, do do do-dododo,Do do do-dododo, do do do-dododo
(...)
'Cause I always think that I know how to be,
But I always thought I would end up with you eventually!

Ouro de Tolo


Ah!
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa...

Eu devia estar contente
Por ter conseguido
Tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado...

Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto "e daí?"
Eu tenho uma porção
De coisas grandes prá conquistar
E eu não posso ficar aí parado...

(Raul Seixas)

terça-feira, 4 de maio de 2010

Enquanto Isso..

Enquanto o mundo desmorona ao meu redor, eu vou deitar e abrir um ovo de chocolate. Vou ouvir Fernanda Takai cantando Nara Leão, vou fingir que as pessoas têm noção do mundo e que elas sabem se por nos seus devidos lugares. Enquanto escrevia, ela me ligou. Vamos tomar café hoje, antes da aula. Coisa boa poder contar com alguém que ainda guarda um pingo de bom senso, que ainda sabe que ninguém tem obrigação de dar satisfação da sua vida e da sua felicidade para os outros, vou conversar com ela sobre a vida e não sobre os outros - felizmente eu não tenho o hábito da fofoca. Enquanto o céu está cinza, vou fingir que os dias estão azuis e que as coisas se resolverão naturalmente; vou fingir que os problemas não existem, que as pessoas perdem seu tempo vivendo suas vidas e não se alimentando da vida dos outros. Vou fingir que o rancor saiu de moda, que ninguém mais passa o tempo julgando e condenando as atitudes alheias; vou fingir que todos têm consciência que não somos ninguém além de míseros mortais, e que não temos competência e muito menos moral para condenar ou absolver o comportamento dos nossos semelhantes. Vou me agarrar até as últimas forças àquela ideia de que o amor, só o amor, pode mudar o mundo.
Enquanto todo mundo entra em pé de guerra numa terça-feira modorrenta, enquanto uns vão vivendo com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar, como diria Raul, eu vou me ocupar de viver a minha vida, de saborear minha música e meu chocolate numa sinfonia combinada do crec-crec do chocolate mastigado na boca com a batidinha suave da trilha sonora. Enquanto uns perdem seu tempo se agarrando às coisas que já se foram, uns vivem a vida buscando pelo dia de hoje.
E todo mundo deveria se permitir uma tarde inusitada de pés pra cima, coração limpo de raiva e ódio e inveja, para saborear um bom som, um bom aperitivo e finalizar com uma conversa agradável como a do café de hoje. Parar para pensar um pouco mais além do que os outros fazem ou do que os outros deveriam fazer, parar de cobrar lealdade e consideração daqueles que não lhe devem nada, nem um sorriso amarelo no meio da rua. Todo mundo deveria se ater mais ao hoje, mais a si mesmo e deixar pra trás, pro lado, pra qualquer direção, os outros e as suas vidas. Todo mundo deveria entender que não estamos aqui a passeio, que temos propósitos muito maiores do que sequer cogitamos, e que perder o seu precioso tempo de estadia terrena tendo atitudes pequenas e mesquinhas, é a primeira grande prova falhada, a primeira grande reprovação. Mas o entendimento demora a vir e, até lá, eu só Lhe peço uma coisa:
Perdoai-os Senhor, pois eles não sabem o que fazem.

Enquanto isso, eu rezo por eles, por mim e por todos nós. É só isso o que eu posso fazer.

E agora, José?

A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?

(Carlos Drummond de Andrade)

Heaven

"Oh - thinkin' about all our younger years. There was only you and me, we were young and wild and free. Now nothin' can take you away from me. We've been down that road before. But that's over now. You keep me comin' back for more and baby you're all that I want wWhen you're lyin' here in my arms. I'm findin' it hard to believe, we're in heaven. And love is all that I need and I found it there in your heart. It isn't too hard to see: we're in heaven."

Bryan Adams

Love, Love, Love


John e Paul nos deixaram essa lição. O amor é realmente tudo o que nós precisamos.








P.S.- E, pelo visto, vieram pessoalmente me iluminar.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Achados e perdidos


Acostumei-me a sempre ter algo errado em que pudesse me concentrar para achar a melhor solução. Geralmente, nós criamos os nossos problemas.
Construí minha moradia, nos últimos anos, em cima de rochas. Às vezes eu me cortava pisando de pés descalços nas pontas afiadas das minhas mágoas e fracassos. Não sei exatamente em que parte da minha vida eu fiquei tão intolerante com erros e escolhas erradas. Quanto mais refletia para achar uma saída do buraco negro em que havia entrado, mais complicada a situação ficava, me parecendo irreversível, por momentos. O grande vazio era ensurdecedor. Hoje não sei como agüentei tanto tempo sem aquele brilho no olhar. Sinto que a maioria das pessoas que conheci não me vê como sou atualmente. Sinto que algo sugou do meu interior todo o meu desprezo e as minhas incertezas, completado o espaço com flores.
Nunca havia me sentido leve. E nem cogitava a idéia de assim me sentir. Eram tantas as questões não respondidas. Elas rodopiavam em danças incessantes na minha mente. Iam e vinham com tanta facilidade, sem que eu realmente pudesse controlar aquela insanidade toda. Eu, simplesmente não via um jeito de lidar com tudo que me transtornava de maneira decisiva. E tinha medo de me acostumar com o pouco que me era dado, com o pouco que mesmo não desejando, era o que eu escolhia! Flexibilidade pode ser um erro, nem sempre se adaptar ao que nosso coração não concorda é a melhor solução. Deveríamos lutar pelo que achamos certo e só. O resto é resto, e ninguém vive de restos. Sobrevive, implicitamente. Era sempre um dia após o outro. Descobertas e desilusões. Minha vida era uma grande caixa de achados e perdidos.
E agora, as minhas perguntas mais confusas e perspicazes me foram respondidas de uma forma tão natural e tão fantástica quanto à própria vida. Aprendi que tudo acontece em ciclos. Que a tempestade é sempre pior um pouco antes da calmaria. Que não importa quantas são as perguntas sem respostas que temos, há uma verdade somente para se enfrentar e, a ela, se adaptar. A melhor maneira possível é ser sincero em todos os segundos da nossa existência. Não há erro e nem dor em sermos honestos com as perdas, as dores, as vitórias e, principalmente, com os nossos sentimentos e sonhos. Não há engano, nem desmoralização. Não há ilusões. Somente a verdade, pura e íntegra.
Hoje, vejo o invisível com os olhos do coração, já que “o essencial é invisível aos olhos”. E todos os caminhos que percorri, errados ou não, me trouxeram até aqui. Sejam tortas as linhas, minhas palavras não calam mais.

domingo, 2 de maio de 2010

Droga...


Eu nunca gostei de me importar com muita gente. Na verdade, acho que eu nunca me importei com muita gente. Talvez seja por isso que sou uma pessoa de tão poucos amigos... Poucos não, pouquíssimos. Nunca fui de me importar com muita gente, só devo satisfações e lealdade para aqueles que eu acho que merecem, não sou de sorrisinhos e confidências com todo mundo. Mas sabe, as pessoas que tu é indiferente te odiarem não é tão ruim... Chato mesmo é alguém que tu te esforça pra agradar e que tu descobre que não vai com a tua cara. Aí é um porre.

Até porque eu não sou de agradinhos, sempre procuro ser a mesma chata de sempre, assim ninguém corre o risco de pensar que eu era legal antes de me conhecer. Mas pô, perceber isso com algumas das poucas pessoas com quem eu faço questão de me relacionar é um saco. Tanta parte dessa ideia deve ser culpa dessa mente criativa e ociosa que parece não ter mais nada a fazer do que imaginar o inimaginável. Ele vive tentando me convencer do contrário, mas eu sei, eu tenho certeza que ela não vai com a minha cara. Com algumas pessoas eu sinto isso. Saco... droga... merda. Boca suja. Me perdi.

Pois é, onde eu estava mesmo? Ah sim. Minha cunhada me faz pensar isso. Não sei porque raios, mas acho que ela não gosta de mim. Eu sei que eu não sou lá a pessoa mais agradável de se conviver, que eu falo demais, que eu digo asneira, que eu devo judiar do irmão que ela ama, bla bla bla. Mas ela não gostar de mim me chateia pra caralho, e olha que eu acho poucas as coisas que me chateiam. E o que me deixa pior é dizerem que é paranóia (pode até ser, e se for me perdoa), porque até hoje eu não errei UM palpite. Quando eu digo que não vai com a minha cara, pode fingir, pode sorrir, mas algo me diz que tem coisa errada. E infelizmente eu estou sempre certa.

Vai ver quem acha por aí que não sabe como alguém consegue ser meu amigo é que tenha razão. Eu sou chata mesmo, insuportável, com todas as letras em maiúsculo e com grifo. Mas que me esforçar para tentar ser uma pessoa menos pior e adquirir antipatia, ah isso me deixa muito chateada. Chateada não sei se é triste ou brava, só sei que chateada chateia e chateação é uma droga. Droga das maiores, com peso imenso nas costas, tristezinha chata e aquela pergunta inevitável... "Quando eu mais quis acertar, o que será que eu fiz de errado?"

Eu, definitivamente, não sei.