terça-feira, 4 de maio de 2010

Enquanto Isso..

Enquanto o mundo desmorona ao meu redor, eu vou deitar e abrir um ovo de chocolate. Vou ouvir Fernanda Takai cantando Nara Leão, vou fingir que as pessoas têm noção do mundo e que elas sabem se por nos seus devidos lugares. Enquanto escrevia, ela me ligou. Vamos tomar café hoje, antes da aula. Coisa boa poder contar com alguém que ainda guarda um pingo de bom senso, que ainda sabe que ninguém tem obrigação de dar satisfação da sua vida e da sua felicidade para os outros, vou conversar com ela sobre a vida e não sobre os outros - felizmente eu não tenho o hábito da fofoca. Enquanto o céu está cinza, vou fingir que os dias estão azuis e que as coisas se resolverão naturalmente; vou fingir que os problemas não existem, que as pessoas perdem seu tempo vivendo suas vidas e não se alimentando da vida dos outros. Vou fingir que o rancor saiu de moda, que ninguém mais passa o tempo julgando e condenando as atitudes alheias; vou fingir que todos têm consciência que não somos ninguém além de míseros mortais, e que não temos competência e muito menos moral para condenar ou absolver o comportamento dos nossos semelhantes. Vou me agarrar até as últimas forças àquela ideia de que o amor, só o amor, pode mudar o mundo.
Enquanto todo mundo entra em pé de guerra numa terça-feira modorrenta, enquanto uns vão vivendo com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar, como diria Raul, eu vou me ocupar de viver a minha vida, de saborear minha música e meu chocolate numa sinfonia combinada do crec-crec do chocolate mastigado na boca com a batidinha suave da trilha sonora. Enquanto uns perdem seu tempo se agarrando às coisas que já se foram, uns vivem a vida buscando pelo dia de hoje.
E todo mundo deveria se permitir uma tarde inusitada de pés pra cima, coração limpo de raiva e ódio e inveja, para saborear um bom som, um bom aperitivo e finalizar com uma conversa agradável como a do café de hoje. Parar para pensar um pouco mais além do que os outros fazem ou do que os outros deveriam fazer, parar de cobrar lealdade e consideração daqueles que não lhe devem nada, nem um sorriso amarelo no meio da rua. Todo mundo deveria se ater mais ao hoje, mais a si mesmo e deixar pra trás, pro lado, pra qualquer direção, os outros e as suas vidas. Todo mundo deveria entender que não estamos aqui a passeio, que temos propósitos muito maiores do que sequer cogitamos, e que perder o seu precioso tempo de estadia terrena tendo atitudes pequenas e mesquinhas, é a primeira grande prova falhada, a primeira grande reprovação. Mas o entendimento demora a vir e, até lá, eu só Lhe peço uma coisa:
Perdoai-os Senhor, pois eles não sabem o que fazem.

Enquanto isso, eu rezo por eles, por mim e por todos nós. É só isso o que eu posso fazer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário