quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Carta

Tive uma época, como toda pré-adolescente, em que eu adorava cartas. Já há mais de um ano que não remexo minha caixa de cartas, uma caixa gigantesca com conteúdo pré-histórico. Mas hoje, enquanto procurava por folhas em branco em um caderno já de anos passados, encontrei uma carta rabiscada. Uma carta que eu escrevi, não bem uma carta, mas A Carta. A Carta, música do Erasmo Carlos, que não acredito que muita gente da minha idade vá conhecer (e muito menos gostar), mas que é uma canção maravilhosa. Um dia, no meio de alguma aula tediosa, por alguma razão eu decidi escrevê-la para alguém. E ela nunca foi entregue.
O mais interessante não foi o que eu escrevi no caderno, e sim encontrar nele uma outra carta, endereçada a mim e que eu nunca tinha visto. Talvez quem a escreveu, em uma página do meio do caderno, imaginasse que eu iria usar o caderno inteiro e algum dia, no meio de qualquer aula sem graça e sem muito sentido, iria dar de cara com aquela cartinha simpática, declaração bonitinha. Pena que eu sou folgada e nunca gostei muito de escrever o que dão nas aulas, droga. Poderia ter jogado fora sem que eu nunca soubesse da tal carta, assim como essa pessoa nunca soube da minha Carta. A Carta de Erasmo, que dizia no finalzinho: "do sempre, sempre teu...", e que tinha, por incrível que pareça, as mesmas palavras em outra folha tão próxima.
A vida é realmente algo incrível. As voltas que ela dá são quase inacreditáveis e, depois que as coisas passam, ficamos nos perguntando como certas coisas aconteceram. Ficamos pensando nas coisas que já fizeram todo o sentido e que hoje em dia não significam mais nada. A carta e A Carta vão continuar guardadas, junto com todas as outras que fizeram minha história, que contam um pouco de mim. Mesmo aquelas que jamais foram entregues, essas que dizem ainda mais, pois dizem pelos meus próprios punhos os meus grandes - ou nem tanto - sentimentos.



"Tanto tempo faz que li no teu olhar
a vida cor de rosa que eu sonhava
e guardo a impressão de que já vi passar
um ano sem te ver, um ano sem te amar"

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