segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Let's Talk About Love

Quase madrugada de uma quase segunda-feira, ao som de chuva e ao som de Chico.
Impossível não querer falar de amor.
Mas hoje as palavras me fogem e, se escrevesse, não saberia mais escrever sobre um amor genérico. Tenho um tipo de amor único que me acomete, amor primeiro em sua forma e conteúdo, primeiro em substância e primeiro em intensidade, que me mantém suspensa em um êxtase constante que já fico muda aos outros amores e às outras relações, fico muda, surda e cega aos outros amores, às outras situações, aos outros sambas que não esses que me embalam nesse sentimento que parece nunca mais ter fim, que me parece tão vasto que chego a perder de mim mesma as pontas desse amor que já se tornou um emaranhado de sensações e metáforas e hipérboles e outras diversas figuras de linguagem que me visitam desde a hora que abro os olhos e pulo violentamente da cama em busca de iniciar mais um dia até a hora em que os fecho, abraçada num coração que parece me abraçar inteira e me fazer desnortear do mundo, flutuar, little wings on my shoes, acho que agora eu sei o que a expressão gostaria de dizer. Me sinto forte e absolutamente vulnerável aos caprichos desse sentimento que agora me dita as regras, não o inverso, como me acostumei que fosse, um amor que é uma grave doença e sua cura - ao mesmo tempo -, e me faz congelar e derreter como mais uma das figuras de linguagem como esse amor se apresenta e se esconde e se metamorfoseia sessenta vezes por segundo. Tenho um amor que é impermanente dentro de sua permanência, uma apresentação inconstante da constância e coerência de um sentimento que não se esvai como a areia que escorre por entre os dedos, mas como a areia de uma ampulheta, que oscila entre os bulbos mas que se mantém sempre no mesmo vidro, contando o tempo, em movimento, em contato, em dança, em beleza, em sintonia. Tic tac tic tac tic tac. Um amor que não permanece o mesmo, apesar de no fundo ser sempre igual, um amor antitético, hiperbólico, metonímico, metafórico, paradoxal, entre tantas outras que não consigo recordar. Um amor que possui uma face nova a cada dia mas que nunca deixa de ser um "amor-pleonasmo". Se repete e repete e repete. Passado, presente e futuro dentro de sua singularidade.
Passado, presente e futuro se surpreendendo com as novas delícias de um velho amor.
Um novo. O mesmo. Um paradoxo só.

Te amo.
Sem antíteses. Sem hipérboles. Sem metáforas. Sem catacreses.
Me vejo crescendo no fundo dos teus olhos.
Obrigada por essa sensação única.

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