terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Maioridade Sentimental

Sempre imaginei que, ao fazer dezoito anos, teria as condições e a vontade para sair de casa. Imaginava que na data eu já teria um emprego fixo, apartamento encaminhado, móveis novos e um guarda-roupa cheio de novos sonhos para me vestir. Assim como a maioria dos adolescentes, me enganei. Pensava que no dia em que eu completasse dezoito anos, iria correndo encher a cara, afinal agora já era permitido beber - e não bebi nenhuma gota. Imaginava que no outro dia já estaria nas aulas de direção para a cobiçada carteira de motorista - que não tirei até hoje. Tinha a certeza que iria para alguma festa, para poder mostrar a todos que eu já era maior de idade e não era mais ilegal sair à noite - e ninguém nunca pediu a minha identidade.
Hoje tenho dezenove e meio e finalmente sinto como se estivesse fazendo dezoito anos. Estou saindo de casa, arrumando as últimas coisas para amanhã e olhando nostalgicamente para as paredes que me guardaram nos últimos dez. Estou fazendo as bolsas e curtindo a que pode ser a última tarde de adolescência, o dia inteiro no computador e a música alta com a mãe batendo à porta para pedir que eu diminua o volume do som. Hoje tenho que me preocupar com as contas, com os novos móveis da casa, com as compras que ainda faltam, com o carro que ainda não saiu, com o maldito vizinho que estaciona o carro na minha vaga, com quem vai me ensinar a fazer canjas quando eu precisar. Vão ficar aqui os meus bichos de pelúcia, a minha colcha da Mônica, a minha cama de solteiro, as conchinhas que eu catava quando era criança, a ampulheta que eu virava o dia inteiro quando tinha doze anos. Mas, mais do que isso, vão ficar guardados aqui os momentos mais importantes da minha vida, as coisas que eu nunca valorizei o suficiente e as coisas que eu valorizei como mereciam.
Só completamos dezoito anos quando conseguimos criar coragem para virar as costas para a nossa casa, para o nosso quarto, para (re)fazer uma vida inteira num novo lugar, com uma nova pessoa, sem aquelas pessoas que foram sempre referência na vida. 

Finalmente cheguei aos meus dezoito anos. E desejo mais do que nunca voltar aos quinze.
Só quero o colo da minha mãe e ter hora marcada para voltar pra casa.

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