segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Janela

Poderia ir a qualquer lugar. Poderia fechar o que restou das bolsas ainda desorganizadas pelo chão dos últimos tempinhos do nosso espaço aqui e me contentar com qualquer outro lugar. Poderia ser feliz em quase qualquer circunstância. Só faço uma pequena exigência, mesmo sem conseguir exigir. Queria poder levar a janela. É, os vidros e as nuvens que a preenchem todos os dias pelo lado de fora e que sempre me preenchiam de felicidade por ter um observatório particular. Assim como a criança faz manha para ganhar o brinquedo ou o doce ou o salgadinho ou o colo dos pais durante o passeio na Avenida, eu queria fazer manha para carregar a janela. Queria que ela fosse comigo, para que eu não me sentisse assim tão longe de tudo nem tão triste por abandonar uma das coisas mais gostosas do meu dia. Mas vou a qualquer lugar, não sou criança teimosa. Vou mesmo, apesar de deixar, a cada novo dia, crescer a saudade daquela janela que me acordava com algodão enfeitando os olhos.

Mas um dia eu volto. E aí me atiro no chão. Vou aprender a ser criança teimosa e ter, someday, minha janela de volta. Quem sabe em outra janela ou em um novo lugar, mas ainda assim uma para chamar de minha. Para acreditar que o céu é todo pra mim e que as nuvens só se desenham para me acordar. Bem bonitas, como me acordaram hoje. Pela última vez.

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