quarta-feira, 16 de junho de 2010

Vermelho


Tão natural quanto o fluir das águas que valsam no rio. Deveria ter sido uma porta para a redenção. Uma chance do inesperado e belo acontecer, enfim. Um capítulo colorido. Um andar de mãos. Um sonhar sincero. Músicas embalariam a história mais bonita. E a Lua enfeitaria o cenário, como se estivesse escrito em algum lugar, os passos e até mesmo as quedas.
Para ela, ele foi como uma estrela cadente. Tão brilhante que ela teve que fechar os olhos no momento em que ele cruzou o seu céu de estrelas. Mas ele caiu. Como todas as estrelas cadentes fazem. E as palavras, as poucas palavras que trocaram colidiram ocasionando desastre e beleza, como dois planetas em desordem no infinito. O impossível.
E era mesmo impossível. O que poderia ter sido, não foi. E o que foi, poderia não ter sido. De repente, um invadiu os pensamentos do outro e há quem diga que era algo parecido com paixão. Como o vermelho do blusão dela, o seu coração bateu tão forte que ela não conseguiu controlar a confusão em que a sua cabeça se encontrava. O chão havia sumido, havia nuvens por todo o lugar. Ela se lembrava do jeito que ele falava e na singularidade dos assuntos. Da delicadeza dos cuidados e das afinidades sem querer descobertas entre ambos. E decidiu que não era real. Que era imaginação. Mais uma vez. O personagem perfeito.
Ele cruzando a cidade pensou no que havia acontecido. No que iria acontecer. Entre as pessoas que passavam e os sinais que o caminho havia preparado, ele simplesmente se perguntava por que se envolveu tão absurdamente no perigo, na insensatez. Será que havia perdido a cabeça? Quanto tempo ele precisaria para enxergar os buracos que na estrada havia? Era loucura. Seu coração estava selado. Ela também era um personagem, era claro que não era verdadeiro. Não podia ser, podia?
E ela voltou para o lugar em que havia parado. Na sinaleira do amor, estava vermelho. Assim como ele o fez. De volta para a realidade. De volta para o café. Para os livros de romance no bidê. Ele voltou para as juras, os carinhos, as dúvidas diárias de uma relação da qual ele gostava de fazer parte. Retornar para aquela que tinha o coração quente e gloss de cereja parecia certo. Ela apostou em quem podia levá-la para dar uma volta, tomar um chocolate quente numa tarde qualquer. Pra quem pudesse aquecê-la nos dias que seu coração poderia cair, como uma pedra de gelo, igual ao do suco de laranja que ele havia tomado na manhã passada.

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