terça-feira, 22 de junho de 2010

Voltei A Cantar


Hoje eu saí mais cedo. Pude ver o sol, ver um coelho fugindo do viveiro na praça e pude ver o mesmo coelho voltando ao viveiro de onde saiu. Pude ver uma pomba que tinha uma perna só. Pude ver uma menina cantando pelo centro que, assim como eu, cantava Chico. Pude ver o cais, o sol beijando a água, a reflexão dos pássaros que voavam indo pra qualquer lugar. Pude rever minha biblioteca, voltei ao lugar que já tanto me mostrou e fiz todas essas coisas em meia hora. Hoje eu posso dizer que vivi, de verdade, meia hora do meu dia.
Voltei a cantar, cantei e cantei e cantei pelo meio da rua, me espreguicei bastante no sol, comi bregeré no banco da praça, passei pelas crianças vestidas de caipira, dancei um pouco mais com o meu amigo sol. Eu já sentia a falta dos seus beijos no meu rosto, nos meus olhos fechados. Sentia a falta da sua luz me esquentando como um abraço carinhoso e que me faz sentir menos a falta dos abraços carinhosos que tanto me faltam.
Voltei a cantar. E cantei muito mais enquanto vinha pra casa. Estudarei cantando, feliz por estudar e mais feliz ainda por cantar. Feliz por esse tal de tempo que hoje a tarde de mostrou ao meu lado. Feliz por poder abrir tranquila um livro e poder dedicar meu tempo a algo que eu quero mesmo fazer. Minha voz se libertou do silêncio burocrático daquela sala em meia luz, por meio turno. Abençoado seja o meio turno. Graças a ele, minha voz saiu. E agora, ninguém mais a segura.

"Voltei a cantar
porque senti saudade
do tempo em que eu andava pela cidade
Com sustenidos e bemóis
Desenhados na minha voz
E a saudade rola, rola
Como um disco de vitrola
Começo a recordar
Cantando em tom maior
E acabo no tom menor"
(Chico)

P.S.- nosso cais, Liana. Ele ainda nos espera.

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