domingo, 20 de junho de 2010

Selvageria

 
Deve ser a terceira vez que sento para assistir "Ensaio Sobre a Cegueira". Um ano antes do filme ser lançado, eu tive a oportunidade de ler o livro e fiquei imaginando, constatando algumas coisas que voltei a pensar hoje, agora, enquanto o filme passa aqui na televisão. Só consigo pensar que vivemos em uma completa selvageria disfarçada de civilidade, onde qualquer empurrão, mesmo de leve, consegue desequilibrar toda a estrutura da nossa sociedade. Somos o pior tipo de animais. Não poupamos mulheres, idosos, crianças. Não respeitamos ninguém. Somos o pior tipo de animais pois somos animais pensantes e que, infelizmente, usamos os limitados dez por cento de nossa capacidade para sermos egoístas e mesquinhos - o tempo todo.
Qualquer mínima alteração em nosso ambiente e abandonamos completamente toda o revestimento humano que usamos diariamente. E quem dera essa selvageria só acontecesse em caso da cegueira branca, diante de um mundo inteiro cego e desorientado, brigando por comida e sem saber como viver. Mas nos confrontamos todos os dias com a selvageria em sua forma mais pura, bem embaixo do nariz e bem no centro daquilo que chamamos civilização. Dentro do ônibus, em encontros de estudantes, em diversas situações onde esquecemos que a educação existe e deixamos aflorar aquilo que carregamos de nossos ancestrais: mulher pelos cabelos, tacape na mão. Basta uma ou duas garrafas de cerveja, não muito mais que isso, para enxergarmos selvageria por todos os lados. Gente estúpida, mal-educada, imbecis da melhor qualidade, verdadeiros animais. Parece que ainda nem descemos das árvores.
É incrível como Saramago - mais valorizado, como todos os outros, agora que morreu - conseguiu captar a essência do ser humano e retratar de maneira tão verossímil aquilo que somos e como nos comportamos quando nossa redoma de segurança e conforto é quebrada. Mais incrível ainda é não conseguir negar aquilo que assisto no filme, de que nos comportamos exatamente dessa maneira. E o pior de tudo é sentir vergonha da raça humana, é sentir vergonha de fazer parte de tudo isso. Nos achamos tão grandes, tão superiores, espertos e inteligentes, quando na verdade somos a pior espécie de selvagens. Não poupamos os mais fracos, não protegemos uns aos outros nem nos preocupamos com nada além de nossos umbigos e nosso egoísmo besta. Somos os piores animais do mundo, sem dúvida.
Nesse exato momento o filme acabou, portanto eu acabo por aqui também. Sem saber direito onde quero chegar, sem dizer muitas coisas relevantes, sem saber porque tive essa vontade de escrever.

P.S.- e o pior de tudo é que eu sei um curso de uma faculdade que é conceito "A" em formação de selvagens.

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