sexta-feira, 30 de julho de 2010

Teresa

Com aquela caneta azul, que rabiscava o vidro, rabiscava em mim, voltava ao vidro, ao espelho, escrevia em meu corpo, me desenhava corações, escrevia em si próprio, voltava ao vidro, apagava para reescrever. Com aquela caneta azul, com aquele rabisco em mim, me senti Teresa. Como parte de um livro, um livro escrito em mim, com as páginas perdidas pelas paredes do nosso banheiro, a história misturada com o cheiro do nosso apartamento, o sabor em nossas taças de cristal com o resto do vinho da noite passada, com a vela perfumando o ambiente e o sol entrando por aquela fresta tímida que ele fazia questão de tapar para me proteger dos olhares curiosos. Com um pequeno rabisco, me senti viva. Um desenho no peito, um número, um coração e me senti Teresa. Realmente o centro de alguma coisa, talvez por uma única vez.

E quem sabe eu vá desistir disso aqui para me tornar Teresa. Para deixar que ele escreva toda a sua história em nossas paredes, em nosso chão, nas nossas taças, nossos livros, em mim.

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