quinta-feira, 16 de julho de 2009

O Quarto

Hoje descobri a semelhança entre meu coração e meu quarto: ambos são uma zona.
No meu quarto, eu não sei direito o que tem dentro. Tenho milhares de gavetas que só guardam porcaria, velharia, inutilidade. Tenho vários anjinhos que coloquei em cima da estante quando tinha 11 anos, e lá eles continuam, sem nenhuma utilidade. Devo ter umas três caixas com cartas antigas. Devo ter mais bagunça aqui dentro do que um ser humano normal consegue ter numa casa inteira. Tenho poeira nos cantos, poesias marcadas, fotografias de pessoas que nunca mais vi (e algumas que pretendo não continuar vendo). Tenho roupas que não uso, sapatos que não servem, meias sem par, alianças que já não significam mais nada, cartas que juravam um amor que acabou, livros que nunca mais vou ler, recordações de festas de 15 anos de um século atrás, bolsas velhas, caixas que não guardam nada, e uma gaveta em especial, que tem toda parafernalha inútil que alguém pode imaginar. E, mesmo assim, não consigo me desfazer desse monte de coisas.
Não me surpreende que meu coração seja de desorganização semelhante a dele. Afinal, quem não consegue arrumar a própria bagunça, não deve conseguir mesmo organizar seu coração. No meu, guardo frases antigas, amores antigos, juras antigas, memórias que se foram, momentos que se foram, pessoas que já não significam nada e, do mesmo jeito que minhas gavetas, mantenho-as cheias sei lá porque. Tenho medo de esvaziá-las e não encontrar nada que possa depois preencher o espaço que vai ficar. Tenho muito medo do vazio, pra falar a verdade.
Agora, vou fechar os olhos e esvaziar meu quarto. Prometi a mim mesma que vou dar conta dele, que vou fazer um esforço especial para manter a organização ou, no mínimo, evitar o caos em que ele normalmente se encontra. Vou jogar fora as cartas, as fotos e doar tudo aquilo que não me serve mais. Vou me desfazer dos bonecos que enfeitam a estante, dos livros que não vou ler e dos poemas que não tenho para quem recitar. Quando eu conseguir, aí será a vez de esvaziar o coração. Porque, com o tempo, sempre haverá novas coisas para ocupar as gavetas vazias e no fim das contas um pouco de espaço sobrando não faz mal a ninguém. Não preciso estar cheia para ser completa. Preciso apenas aprender o que é realmente necessário. O resto? Eu jogo no lixo ou dou pra alguém que precise mais que eu.

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