segunda-feira, 5 de abril de 2010

Velhas Lembranças


Nunca pensei que fosse sentir isso. Em plena era da informação, do download, do mp3, mp4, mp-sei-lá-quanto, nunca imaginei sentir tamanho prazer descobrindo velhos cds, revirando os armários de velharias, encontrando cds da época do meu pai. Empoeirados, um pouco arranhados mas, ainda assim, cds de verdade. Palpáveis, com a capa assinada "Rubens, 2000" ou "Rubens, 1998". E eu não ouvi na frente do computador, como eu sempre faço, deixando as músicas simplesmente passarem pelos ouvidos sem dar muita importância.

Deitei na cama, chocolate em punhos e coloquei o cd para ouvir, ouvir de verdade, como na época do meu pai. Onde se comprava o álbum, ouvia o álbum e não só uma música arrancada dele. Ouvi um cd inteirinho e, com ele, voltaram a mim lembranças meio em preto e branco da minha infância, talvez tão empoeiradas quanto o cd que as embalava. Memórias dos passeios no velho chevette cinza escuro com o adesivo brilhante do piu-piu no "meu" vidro do carro. Lembranças das idas até o porto, das idas até a praia, do meu maiô azul com bolinhas brancas e uma abelhinha bordada, de quando o pai me acordava com essas músicas, do cheiro de café com o som tocando baixinho quando ele me chamava para o lanche antes da aula. Lembranças que eu nem mesmo pensava que ainda estariam lá. Das vezes que montávamos as pipas, ou que eu subia na bicicleta da barbie e ele me levava, chimarrão no braço. Das vezes que ele ia correr na praia, eu de monark roxa  pedalando ao lado, a nossa cadela correndo junto.

Nunca pensei que eu, tão adepta (e viciada) nesse troço de tecnologia, fosse me sentir tão bem ao deitar e ouvir um cd como a uns anos atrás; nunca pensei também que um cd pudesse me trazer tantas lembranças. E foi só o primeiro, Dire Straits. Encontrei também o cd em italiano do Renato Russo, um do Muddy Waters, B.B.King, James Brown e Joe Cocker e, junto com todos eles, a certeza de que muitas outras noites virão, regadas a chocolate e lembranças em branco e preto, com a mesma força das pipas que voavam na beira da praia. Com a força inexplicável que só a música pode trazer.

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