sábado, 26 de maio de 2012

Continuar

Eu preciso de férias. Férias desse sentimento que me consome, me intriga e me confunde. Eu me perco tanto e tantas vezes no mesmo caminho. Dou meia-voltas, voltas inteiras e paro, também, em qualquer barreira. Fico parado por tempo demais. E sofro. Sofro muito. Esse desejo agudo, sim, é um desejo agudo, de querer que as coisas fiquem imóveis, paradas, do que jeito que estavam. Por que pessoas não são feitas de cera? E momentos não são fotografias? Por que tem que ter tanto desvio e tanta gente passando por esse caminho. Aí que eu fico perdido pra burro, sem saber pra onde ir. Sinto vontade de voltar, mas para onde? Para o quê? A solidão me consola, mas me cansa. Bebe até a última gota da minha esperança. Também estou farto dela. Estou farto de tudo. Farto e desolado. Desolação. Quando me ergo, pesa mais. Quando tento olhar para cima, algo ofusca minha visão. Sinto-me em um túnel longo e escuro. E por alguma razão, ouço alguém falar de longe, baixinho, quase um susurro: continue.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Único caminho

Espere por mim, meu bem.
Venha de mansinho. Chegue, assim, devagarinho. Sem fazer muito barulho que eu não gosto de confusão.
Não me pegue pela mão. Não ande na minha frente. Não finja estar contente.
Não procure gostar do que leio, do que escrevo ou até mesmo do que falo.
Seja crítico, meu amor, seja sincero.
Não fale comigo quando não quiser falar, não me diga que me adora por conveniência.
Não desista de mim, meu bem. Apesar de querer, todos os dias, um pouquinho, desistir.
Não deixe de querer desistir porque é a tua vontade maior que fiques que te faz ficar.
Não deixe de me dizer bom dia e nem agradecer pela minha preocupação.
Não me deixe completamente nua. Eu não sei ser nua, nem quando nasci.
Não me deixe esperando... numa conversa, do outro lado da linha, no meio de uma multidão.
Não se irrite com minha ingenuidade, nem com a minha preguiça demanhã.
Não se queixe da minha mania de viajar por galáxias distantes em busca de mim mesma. Às vezes eu não te levarei comigo.
Não grite comigo, mesmo quando quiser, mesmo quando quiser muito.
Não me trate mal, se não quiser me tratar bem, suma por alguns dias.
Não banque o interessado, não desminta mentiras minhas, finja que acredita nelas. Um dia eu conto a verdade.
Não faça piadas desnecessárias, não ria dos outros na minha frente, não condene minha família desestruturada.
Não mude de humor muito seguido, não durma de mau humor comigo.
Não me deixe maluca, ou deixe, mas só quando for a última opção para me chamar a atenção. Eu sei que posso ser distraída.
Não me exiba para seus amigos, não me esconda deles também.
Não me ofereça um cigarro, jamais.
Me compre bebidas às vezes, whisky, de preferência.
Não me leve para o pagode, para o sertanejo, para o samba reggae rock, "whatever".
Deixe tudo claro, tudo certo, tudo limpo para facilitar as coisas para a minha imaginação e para a minha insegurança.
Não tente me convencer, não tente me persuadir, não tente usar palavras complicadas para me confundir.
Sim, não me confunda. Jamais.
Me faça um café forte de madrugada quando eu estiver escrevendo coisas que nunca lerás.
Me olhe enquanto eu estiver ocupada, sem que eu perceba.
Me surpreenda todos os dias.
Me faça voltar para tua cama por desejar algo a mais. Me faça lutar por algo a mais em nós.
Entre no mar comigo, entre fundo, onde há tubarões. Se arrisque.
Reserve um jantar para nós dois, reserve um olhar especial para mim e um sorriso, "it would be nice too".
Seja intenso e não reclame da pimenta que eu coloco na comida que eu fiz, é claro que eu não gosto de cozinhar e é melhor se acostumar com isso.
Não reclame demais de mim, não me canse. Eu me canso fácil de reprovações. Eu não sei falhar bem.
Não aponte o dedo para mim. Não diga "eu te avisei".
Não reclame do meu salto. Do meu batom. Da minha roupa e do meu cabelo. Ele não é liso, sorry.
Não desconte os problemas em mim, não aja como se não soubesse o que está acontecendo.
Não seja relapso, por favor! Nada pior que alguém que não se importa e finge que é sonso.
Não me mande flores. Não escreva cartões comuns. Não diga que está com saudades sempre.
Não me deixe mal acostumada. Faça-me duvidar da realidade e depois me mostre como estava enganada.
Conte-me uma história antiga, conte-me do seu dia, conte-me algum sonho.
Me inclua no seu futuro. Me escolha para estar nele.
Não me descarte facilmente. Valorize meu jeito diferente.
Não reclame que sou muito calma, que sou muito lenta, que sou devagar. Eu gosto de andar devagar.
Não me dê relógios. Nem perfumes. Nem bolsas.
Não exija demais de mim. Não me iluda. Não me teste.
Não reclame que eu gosto de comer a sobremesa antes ou que eu bebo muito. Eu não vou beber cerveja, também.
Não me chame de louca. Nem quando eu parecer louca.
Não se esconda de mim, não me deixe no escuro. Não pare no meio do caminho.
Tenha coragem para enfrentar nossos problemas. Não deixe que os empecilhos da vida tirem o que temos de melhor.
Não se acostume comigo, mas me conheça melhor que ninguém.
Tente me entender. Tente mesmo. Eu nunca te faria mal.
Eu vou escutar música alto, vou deixar tudo uma bagunça, vou estragar seu adoçante por apertar demais a embalagem.
Vou esquecer de alguma data, vou esquecer de algum prazo, de algum evento. Vou esquecer.
Vou cantar muito, o tempo inteiro. Compre fones.
Vou reparar em coisas esquisitas, e perguntar coisas esquisitas. Vou ter atitudes esquisitas. Não me julgue.
Não esteja comigo querendo estar em outro lugar. Não converse comigo enquanto coma, no telefone.
Não me desaponte freqüentemente. Não me suje de falsas esperanças. Não me diga coisas óbvias.
Não exija minha simpatia com quem não gosto. Não exija que eu fale quando não quero. Não insista. Nunca insista.
Não me encurrale. Não me abandone também.
Eu já pedi para ficares? Pois, fique.
Fique a vontade, fique o tempo que quiser, fique sem razão, ou por umas mil.
Fique não por ser o único caminho. Mas por, na verdade, ser.

sábado, 5 de maio de 2012

Ventos fortes

São ventos que passam e nos arrastam. E nos levam para longe onde não temos força para acreditar. São ventos fortes esses. Possivelmente muito fortes. Podem arrancar nossos pés do chão. Mesmo com os olhos fechados eu posso sentir as nuvens no meu rosto, e dentro da minha mente, está você. Meu coração sente a pressão quando eu volto para a Terra. Somos tão humanos. Maravilhoso, se às vezes, não doesse tanto. Se às vezes os ventos não nos levassem para longe de nós mesmos. Sinto saudades de tempos de calmaria. São tempos difíceis esses. São tempos de coisas não óbvias. São ventos incertos. Nada de meia-estação. Sinto o calor do Sol queimar, sinto o frio rasgar. Sinto tudo demais. E quando não sinto, é como se eu tivesse perdido algo pelo caminho. Talvez eu dormi tempo demais. Talvez minha calmaria tenha sido alienação. Talvez viver realmente seja um vento forte. Mas eu posso ser mais forte ainda.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Carta para Gabi

Gabi, estava aqui pensando em jardins. Acho que somente tu vai entender a metáfora, pois ela está atrelada as nossas memórias. Aprendi com meus jardins que a maioria deles são passageiros, por inúmeros motivos. As vezes não suportam o frio, os temporais, o calor excessivo. As vezes o terreno não foi bem preparado, ou eu não comprei o adubo correto para que florecesse. A verdade é que a vida nos meus jardins precisavam de mais cuidados, ou dos cuidados corretos. Meus jardins não deram certo. E que ficou no lugar, foi um terreno devastado, com uma cerca alta para ninguém ousar pertubar a paz ou a solidão que se intalara ali. Muitos jardins... Mas foi contigo que vi que posso ter um jardim florido, duradouro, regado de felicidade. Vi que era possível me envolver, compreender, respeitar, perdoar, recomeçar. Vi que as estações moldaram o jardim, fizeram-no mais forte, mais bonito. Visito esse maravilhoso jardim todos os dias, para cuidá-lo, admirá-lo. Porque ele é único para mim. E quando nada parece dar certo, me deito por entre suas flores, e não há no mundo sensação igual a esta.

Obrigada.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O azul pintado de claro entrava pela janela do meu quarto, me fazendo parar por um segundo e me assustar com a velocidade com que o tempo havia passado por entre meu café gelado, minhas mãos trêmulas e meus olhos cansados. Eu podia sentir meu esforço se esvaindo por debaixo da porta com a fumaça que meu incenso queimava. Meu esforço tão interligado com meu desespero na tentativa de fazer com que ela acreditasse em nós. E como se planta uma ideia na mente de alguém? Como seria possível?

A imagem de um futuro sem a presença dela nos meus dias matava o que havia de mais bonito em mim: esperança. É tão doloroso rasgar os sonhos, romper os elos, esconder o sentimento numa caixa para ser esquecido lá. Como é difícil ir em direção contrária a do coração. Parecia inútil. Já estava desistindo quando talvez o que ela quisesse fosse a demonstração do meu afeto, do quanto eu me importava, do quanto a queria. Foi no momento que disse adeus, então, meu bem que ela mais uma vez se rendeu a mim. Exatamente como da primeira vez em que assustada me olhou, inundada por aquele sentimento de entusiasmo e medo.

Nossas histórias são fragmentadas, nossos dias são cortados em mil pedaços, nossos finais de semana programados. Mas eu queria acreditar. Eu precisava acreditar por mim, por nós dois. Não podia demonstrar cansaço, desânimo e muito menos apatia. Mesmo quando me sentia fraco, era necessário mostrar a ela que era possível. Tinha medo que ao primeiro hesitar ela fugisse de mim mais uma vez. Mas era cansativo ser mais forte do que eu mesmo poderia ser. Era renovador, mas cansativo. Eu me inventava todos os dias para ela. Fazia-me o mais interessante e paciente possível, nada poderia atrapalhar nosso amor. Pudera...

E agora eu estava aqui, de joelhos para ela novamente. Esquecendo tudo que havia feito, para poder fazer mais. Somente para vê-la sorrir, para vê-la caminhar ao meu lado pelo canto dos meus olhos e me sentir bem. Mas me sentir bem mesmo, como se a vulnerabilidade da vida não existisse, como se aquele momento fosse eterno. E para mim, na realidade, era. Eu recomeçaria quantas vezes fosse preciso, eu partiria da onde ela estivesse, eu iria continuar o que havíamos começado infinitamente.

sábado, 7 de abril de 2012

Na estrada

O vento batia forte no meu rosto e os meus cabelos dançavam com a melodia do ar. Podia sentir meu coração descompassado, alucinado de emoção por estar com ele, tão perto dele. A estrada debaixo daquela moto me dava uma enorme sensação de liberdade. Tinha o conhecido há algumas semanas somente, porém nada me fazia acreditar que o tempo não media tantas coisas assim. Um novo mundo a ser descoberto tinha se aberto diante de mim. E eu pulei da ponte diretamente para essa correnteza de afinidades, emoções e coincidências que existiam entre nós. Não me importava muita coisa além daquele momento que nos unia por uma hora, talvez um dia, talvez uma vida.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Letras letras letras

Tanto tempo para perceber o óbvio. Para tocar, sentir, pisar e chutar o óbvio. Levamos uma eternidade para compreender as coisas de uma maneira que faça mais ou menos algum sentido, para formular uma sequência sem arrependimentos e para olhar sem receios. Cinco minutos são suficientes para desconstruir cinquenta anos de auto-tortura (existe o termo?), de culpas, medos e até uma certa incompletude. Meia dúzia de imbecilidades sem sentido. Letras letras letras vírgula letras sem sentido algum, sem a tentativa de um meio-termo, de entrelinhas, sem a expectativa das letras que não vieram. Letras que desejam escrever palavras mais ou menos ofensivas, caluniosas mas que só riem, dançam, sambam, l-i-v-r-e-s. Liberdade só tem sentido quando o coração se liberta. Toda outra liberdade é incompleta e insensata quando o coração se prende, a cabeça se culpa, a alma se corrói. Palavras que bailam sem amarras no ar, palavras que perdem a razão mas, da mesma forma, dão razão a todo o resto. São as palavras que prendem as mesmas capazes de libertar. São os sonhos que prendem aqueles capazes de libertar. É a vida que nunca prendeu aquela capaz de mostrar o quão preso se poderia ser.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Fácil

Algumas coisas são mais fáceis se não pensadas. É não ensaiar na cabeça os gestos, medir as frases, calcular a rima e a significância das palavras, dos acenos, dos carinhos. Agir no susto. Fechar os olhos e simplesmente deixar ir embora o ímpeto e a vontade de reagir. Algumas coisas são mais fáceis se contarmos até dez. Ficam mais fáceis com o tempo, com o hábito, se tornam "acostumáveis". Algumas coisas são melhores com um pouco menos de tempo ocioso, melhores de cabeça ocupada, melhores se não existissem.
Apesar de conselhos, de tentativas, de empenho ou até de esquecimento, algumas coisas nunca serão fáceis.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Esposa Fragmentada

Foi ele quem disse isso enquanto catava, como de costume, meus vestígios espalhados pela casa; me descreveu esparramada por todos os cômodos em cada pequeno detalhe, embaixo do sofá ou em cima da cama. Não senti crítica nem desafio no tom com que me chamou de fragmentada, senti uma admiração desconfortável por já ter se acostumado a sutilmente acomodar meus objetos quando chega o final da noite, por reencontrá-los todos em algum canto, alguma caixa, depois do meu esforçado trabalho de desfazer tudo durante o dia. Sou assim mesmo, espalhada. Sou fragmentada em todas as coisas, iniciando em sentimentos e terminando com os tradicionais pares de sapato na entrada da casa. Preciso me esparramar para sentir meu aquele espaço, preciso me esparramar para que, todos os dias, ele tenha as pistas exatas das coisas que fiz enquanto esteve fora. Percorre a minha trilha, acumula as minhas coisas no colo e, sem perceber, faz de mim um pequeno altar - como faço com as toalhas penduradas nas portas da casa e os livros empilhados por todos os ambientes que ele faz questão de deixar -, uma gentil lembrança para que se faça presente mesmo nos momentos de ausência. Não vejo maldade nem desorganização que justifiquem os sapatos sempre na porta de casa nem nas canecas em ordem ao lado da escrivaninha nem no livro marcado com embalagem dos biscoitos que comi; vejo uma forma discreta, sincera e amiga de dizer que estou em casa, que eu estou bem.
Ser fragmentada é mais do que divisão, é o esparramar durante o dia para só me rever inteira com ele, no chegar da noite.

É o amor percorrendo a sua trilha.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Helena...

Deve ser culpa de todo esse simbolismo que carrega o que chamamos de ano novo o que me sufocou até me acordar hoje pela manhã, mas preciso te pedir desculpas. Erro todos os dias desde muito antes de te carregar, de te gerar, te saber e te ter no colo. Erro praticamente todos os dias desde que me conheço por gente. Errei já muitas vezes comigo e erro - certamente, ainda mais - contigo. Preciso te antecipar as desculpas por todos os erros que cometerei; pois sim, continuarei errando como sempre fiz. Errando por amor, errando por convicção, errando muitas vezes sem saber. Preciso que já tenhas guardados os perdões para os meus passados, presentes e futuros erros que, te garanto, não serão poucos. Não enumero os que já passaram afinal teu pai vive me relembrando que a vida é demasiadamente curta para remoer o passado. Procuro sempre usar dos meus antigos erros para evitar cometê-los novamente, porém a vida tem um leque infindável de situações onde errar e, provavelmente, errarei em algum momento em todas elas.

Meu erros se confundem com o meu amor e com o misto de culpa e responsabilidade que, desde a primeira vez que te soube no meu ventre, passei a carregar. Carregarei para sempre o fardo de uma responsabilidade maior que meu próprio ser; fazer, crescer e amadurecer uma pessoa íntegra, honesta, madura. Carregarei comigo a culpa por todos os teus erros na vida e, por mais que nunca possa querer vivê-la no teu lugar, guardarei como erro meu todos aqueles que cometeres em teu caminho. Peço-te desculpas por ser humana e grandemente falível, mas também é lição de vida o ensinar da diversidade e do respeito a cada um em suas falhas e, principalmente, em suas virtudes. Peço desculpas pois muitas vezes não conseguirei te dar tudo aquilo que esperarás de mim, mas espero que compreendas que é muito difícil dar o que não fomos acostumados a receber. Não peço desculpas por todas as vezes que terei que dizer não, pois sei que, como eu, um dia reconhecerás a importância de cada negação imposta a ti na vida. Mas peço desculpas pelas lágrimas que, em consequência desses sim e não, irão rolar. Pais são humanos, apesar de ti, com teus pequenos quase 6 meses, hoje acreditar que nós somos mágicos e incríveis, fortes e inabaláveis, fazendo a fome sumir, a fralda magicamente voltar a ser limpa, os brinquedos aparecerem e o choro cessar. Vou errar, minha filha, vamos errar. Nós juntos erraremos infinitas e repetidas vezes. Muitas vezes te direi coisas que nem quis dizer, coisas que não serão verdade (e sei que, enquanto isso, pelas costas, me mandarás ao inferno). Te perdoarei por me mandar ao raio que parta e espero que me perdoes pelos impropérios que provavelmente direi algum dia, da boca para fora.

Quero que saibas que errei inúmeras vezes desde que nasceste, mas farei ainda pior, tomarei decisões equivocadas, direi não quando deveria dizer sim e o contrário também. Teremos as nossas diferenças, os nossos gostos, manias e peculiaridades. E sei que sou autoritária e teimosa, mas prometo que até cresceres a ponto dessas características aparecerem, tentar me tornar um pouco menos cabeça dura e mandona. Preciso te pedir desculpas, meu amor. Porque muitas vezes estarei nervosa demais para superar o orgulho após a briga e te dar razão mesmo quando estiveres certa; porque outras tantas vezes vou descontar a fúria de um mau dia numa pequena pessoa - ou já nem tão pequena assim - que sempre me encarou com olhos brilhantes de amor e devoção. Enfim, quero que saibas que errarei, pura e simplesmente, por amor. Errarei por um amor desesperado, desmedido, que não consegue caber dentro do meu peito. Errarei sempre na esperança de estar fazendo o melhor, errarei com convicção e, daqui a vinte anos, saberei que errei porque te amei demais.

Feliz primeiro ano novo, minha pequena.
Um brinde à nossa vida cheia de erros e acertos. 
Um brinde ao nosso amor que cresce a cada dia.

Mil beijos da tua pequena,
Mamãe

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Change; we don’t like it, we fear it, but we can't stop it from coming. We either adapt to change or we get left behind. And it hurts to grow, anybody who tells you it doesn’t is lying. But here's the truth...the more things change, the more they stay the same. And sometimes, oh, sometimes change is good. Oh, sometimes, change is...everything.

Mudanças. Aquele frio no estômago do novo. Do velho que restou dentro de
nós. A gente carrega o nosso passado para onde quer que formos. E depois que
nos mudamos, parece que nunca mais conseguiremos ser um só novamente. Sempre
deixamos pedaços de nós por onde passamos, com as pessoas que compartilhamos
momentos, nas calçadas em que andamos, nas festas nas quais dançamos, nas
praças, nos bares.
É um mar infinito o das memórias. Porque recriamos as imagens, as falas,
os sentimentos. A saudade faz isso: deixa tudo mais mágico, significativo,
atraente. Apegamos-nos ao passado quando não temos um presente definido ou um
que nos acalme a alma. Ou, simplesmente, porque nos faz falta. Não seria um tanto
óbvio? Às vezes dói mesmo o peito, embora nossa situação seja satisfatória, há
um espaço vazio que jamais será preenchido, das coisas que fazíamos e das
pessoas com quem andávamos. É desse espaço que eu tenho medo.
Mas as mudanças são necessárias. Na vida nada permanece igual. Nem um
dia sequer. Grandes mudanças são o que marcam a nossa existência. São barreiras
vencidas, linhas de chegada comemoradas. São as mudanças que dão sentido a
nossa vida, que nos fazem crescer, amadurecer, ver o mundo de uma forma
totalmente diferente da que víamos antes. Faz-nos abrir o coração para novas
aventuras e novas ideologias. Damos valor a coisas que não dávamos antes. E é
aí que percebemos que estamos envelhecendo, que estamos passando pelo tempo e
que o tempo, também, está passando para nós.
Ah! Mudanças. São o que ficam na memória, são o que nos dão belas fotos,
são o que nos tornam pessoas “vividas”, com experiências para compartilhar,
cartas para mandar e uma enorme coleção de memórias. E o único jeito é se
adaptar a elas. É dar o nosso melhor, ver a vida com otimismo, tornar a
fraqueza em coragem e fé. Porque se tem uma coisa que aprendi é que, no final,
tudo dá certo.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Se não, bebe tudo de uma vez

E a cabeça gira, gira, gira
E tudo passa depressa, move-se depressa, se acaba depressa
As cores se confundem e se unem em um fio só de qualquer coisa nenhuma
A casa desarrrumada, a pilha de louças para lavar, o relógio que não para de contar
As horas que já nem vejo mais passarem, os pássaros que não vejo mais assobiarem
E a vida que grita para eu me acalmar.
É nessas horas que os sinos batem, que as crianças correm pelo quintal
Que a vida triunfa e se refaz
Para mim não mudou o mês, não mudou quase nada
Os latidos da vizinhança ainda são os mesmos e as páginas que folheio ainda são de Orgânica
Não conto os dias para não parecerem mais longos
A espera é dolorida e reflete nas minhas costas que sofrem de stress pré-traumático
E eu que prometi não pensar em amor, não deixar a corda arrebentar, não perder a cabeça
Chego a quase me orgulhar
Só não consegui cumprir uma coisa: ainda durmo demais
A verdade é que às vezes a rotina sufoca a gente, nos tranca em um quarto escuro
A gente esquece de querer saber o que há lá fora para ser visto,
Esquece de como é sentir o Sol bater forte, tão forte que tem que fechar os olhos bem fininho, assim, pra poder enxergar coisa qualquer
A gente esquece que é gente, ás vezes, e não se satisfaz com pão e água.
A gente esquece que prometer é coisa pra gente fraca, quem promete nunca cumpre porque já sabe que aquilo tá fora de alcance.
Quem promete é porque deve, pra alguém ou pra si mesmo uma prova de que consegue
O bom é ir assim, andando conforme a vida, fazendo o que dá, o que cabe no dia, o que cabe no peito, o que cabe no copo da vida
Se não, a gente fica esganado, bebe tudo de uma vez só, sem deixar nadica de nada para depois
E aí é que a vida fica chata, chata de doer a sola do pé
Tem que ter suspense, como filme mesmo
Tem que saborear a vida aos pouquinhos, assim, devagarinho, como um doce no final da tarde
Pra gente poder contar como foi, ou como achamos que foi
Pra gente ter as memórias que completam nossos dias, dias vazios assim, sozinhos, cinzas
Se não fossem os momentos degustados em lentidão
Ai que um domingo desses ia doer no coração!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Cartas para Liana - O Mundo de Sofia

Oi amiga!

Lembrei da nossa conversa de ontem sobre como a rotina nos absorve e acabamos nos esquecendo de olhar pra dentro, de refletir, de dar valor às coisas que são realmente importantes e isso me fez lembrar uma frase do "O Mundo de Sofia". A penúltima vez que tive em Porto Alegre comprei uma versão dele pra mim, lembro que a primeira vez que o li foi através de uma gentil cessão tua (obrigada, amiga ;)) e lembrei de uma frase do curso de filosofia quando o "professor" explica à Sofia que somos como bichinhos microscópicos que vivem na pelagem do coelho que é tirado da grande cartola do Universo e que, quando nascemos, estamos bem na pontinha dos pelos, vendo o truque acontecer e olhando dentro dos olhos do grande mágico mas, conforme passa o tempo, vamos sendo arrastados (ou nós mesmos nos arrastamos?) para cada vez mais fundo, onde formamos um ninho quentinho e de onde não queremos mais sair. Ele diz que os que permanecem a vida toda tentando escalar a pelagem do coelho são os filósofos, que ficam lá em cima gritando para nós que estamos quentinhos lá embaixo que há um mundo lá fora, que é um truque, que há um mágico, mas mandamos que eles calem a boca e continuamos imersos nos nossos cotidianos, sem nunca mais sair daquele conforto.

Será que estamos caindo assim tão depressa? Muitas vezes me deparo aqui com a caixinha de edição de texto e não sei mais o que quero dizer. Logo eu que dizia tudo que vinha na cabeça, será que estou me arrastando tão rápido lá para baixo? Tenho medo que nos tornemos imunes às belezas do dia-a-dia, à mágica da vida e é aí que fazes muito mais falta do que em todas as outras coisas. Canso de andar pelo parque e faz muita falta ter a tua companhia para dizer as coisas que ninguém mais poderia entender. O mundo nos pregou mais uma grande peça nos separando de novo, não é? Mas o engraçado é que existe uma "Liana" aqui dentro da minha cabeça pra quem eu conto e com quem eu discuto essas questões que me intrigam, que me comovem ou me emocionam. Tu fazes muita falta na minha vida, amiga. Sei que estás aí todos os dias, mas tu entendes perfeitamente o que quero dizer. É falta daquela saída despretensiosa para caminhar pela madrugada, das vezes que te busquei em aula ou da vez maluca que me escoltasse até a faculdade porque tu sabias que eu não estava bem. Faz falta ter uma amiga com quem a gente pode ser fraca de vez em quando. Faz falta ter um ombro pra reclamar bobagem, pra chorar tragédia. Mas eu sei que te tenho, meu bem. É por isso que faço questão de te escrever, sempre. Porque aqui dentro nós conversamos todos os dias, todas as horas, todos os céus azuis.

Tirei a foto do livro com os meus óculos por cima e lembrei do teu pai... "Ela ficou horrível com esses óculos!". 



Essa é só mais uma das mil coisas que me fazem lembrar de ti. Te amo!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Carta para Gabi

É tanta falta, é tanto detalhe, é tanta saudade, minha amiga. Acho que nunca vou me acostumar em não te ver cruzando a esquina com esse teu sorriso largo e teu caminhar saltitante. Sinto falta das palavras amigas nos momentos de insegurança, da companhia no "rien faire" sem igual.
Mas de volta aos Pampas! A Helena sentiu que eu estava por perto e não quis se demorar mais! hehe A vida é um bocado bonita mesmo, sempre nos surpreendendo com sua criatividade para nos emocionar.
Estou aqui, pensando no começo da semana. Acho que muito do jeito que me sentirei amanhã perante todas essas derrotas e vitórias será o perfil que eu vou ter até janeiro. É uma fase de altos e baixos, mas espero conseguir me firmar em terra firme e ficar mais serena. É nessas horas que o sorvete da De Marco faz milagres! Queria uma fita pra gravar que nem a Felicity fazia para a Sally. Todas essas coisas que eu te contava ao vivo, ficam entaladas no peito. E vão se perdendo dentro de mim, sem importância. Desde o céu azul até os pesadelos.
Mas sinto uma brisa leve no ar que ainda teremos muitas histórias pra contar. Te amo!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Cartas para Liana

Oi amiga!

Como dezembro é realmente um mês muito corrido prá todo mundo, resolvi te escrever pequenas cartinhas. Lembrei de ti enquanto voltávamos de Porto Alegre e a estrada estava tão linda, tão calma, que não me deu outra vontade senão me esparramar naqueles quilômetros de capim verdinho, então fui obrigada a tirar muitas fotos para que tu pudesses ver a paisagem lindinha que tem de lá até aqui (embora as fotos não consigam captar o calor do sol do fim da tarde nem o infinito verde que se perde no horizonte).




Tu tens que vir conferir de pertinho a paisagem dos pampas, hein? Ainda ontem lembrei que, logo no dia em que iriamos passear fronteira afora, a Heleninha resolveu nascer. Talvez ela soubesse que a irmãzinha da mamãe chegaria naquele dia e não conseguiu encontrar hora melhor pra nascer. Falando nisso, ela nasceu no dia que tu voltou de fora, lembra? 07/07. Incrível a mesma data representar dois momentos tão felizes pra mim. :)
Enfim amiga, por hoje é isso. O Hector ainda saiu pra buscar um chocolatinho que tu sabe bem que a tua amiga aqui não sabe viver sem roer um docinho né? hahaha

Beijos,
Gabi

domingo, 13 de novembro de 2011

O sofá, as pernas... te amo

Não peço licença. Vou esparramando as minhas pernas por cima das tuas tão logo me aconchego do teu lado. Não sei pedir permissão, não sei esperar um convite. Vou ocupando o espaço que me confunde ao não se definir bem se teu ou meu, se meu corpo ou teu corpo. Vou enchendo o teu espaço de mim, com as minhas pernas preguiçosas que insistem em se espalhar por cima das tuas. Uma vez tu mesmo me disse que, no dia em que eu começasse a pedir licença ou por favor para me espalhar pelo teu corpo seria porque nosso amor acabou. E ele não acabou. Ainda me tira o ar como naquela primeira vez em que te encontrei e passei a noite com o telefone na mão esperando uma desculpa para poder te ligar - e, curiosamente, tu também - e como em tantas outras primeiras vezes, que são caso para outra história. Não peço licença desde que entrei na tua vida, não pedi licença da primeira vez que arranquei o número do telefone dos teus olhos e nem da primeira vez que entrei na tua casa e fui logo colocando as coisas da minha maneira. Não sei pedir licença desde que invadimos um a vida do outro e não soube mais distinguir a minha da tua; desde que o nosso amor nos une de um jeito que dispensa as formalidades.
No sofá, sem nunca pedir licença, é meu modo secreto de dizer eu te amo.

sábado, 12 de novembro de 2011

Noite Qualquer

Escorreu o corpo pela parede como se fosse um fardo já muito pesado para carregar. Abriu a janela, sentiu pela primeira vez a necessidade de um cigarro entre seus dedos, aceso escondido no pequeno espaço entre a cortina e a parede. Esticou o braço e abriu o chuveiro, agora a água caía firmemente encharcando o vestido comprido. Se imaginou no meio de uma grande tempestade quente de verão, era assim que se sentia, pega de surpresa, desprotegida, prensada por uma limitação muito mais que física. Era fácil arrancar as cortinas, quebrar os vidros, os azulejos, destruir o balcão e todas as coisas que sobre ele se amontoavam como um monstro adquirindo suas verdadeiras proporções. Era fácil fugir do visível, abrir a porta, sair correndo, rolar pela escada, era fácil até encontrar uma maneira de morrer. Mas era difícil, pra não dizer impossível, fugir das limitações do coração, das amarras que ele atava com seus truques indecifráveis, da tortura que as suas ideias causavam, da imaginação que não parava de fervilhar com os diferentes desfechos que poderia ter aquela história. Porém aquela história não teve final algum, pois ao menos teve chance de possuir um início. Nunca houvera nada entre eles dois - e todo o resto que a torturava era mero fruto da imaginação. Sentiu a água misturada às suas lágrimas que brotavam sem dizer porquê, sem justificar pra onde iam. Sentiu o corpo lentamente adormecer. Desejou agora uma garrafa de vodca, logo ela que largara o vício já há algum tempo depois de tanto lutar com as garrafas que sempre se mostravam tentadoras. Desejou alguém que a resgatasse daquela fraqueza, daquele estado miserável em que se encontrava atirada, encharcada, misturada aos azulejos, mesmo sabendo que ela não sairia dali por ninguém a não ser por ele. Ele que jamais viria, que nunca a surpreenderia abrindo a porta - nem correndo por ela, muito menos trazendo flores - pelo simples fato dele nunca ter sabido que ela se encontrava ali. Sentiu saudades de uns raros momentos e, mais uma vez, desejou a vodca. A vodca não veio, nem ele, nem o cigarro. E nenhum dos três jamais viria, de verdade. Descobriu entre as lágrimas que jamais precisaria de nenhum deles na sua mão. Era a memória da vodca, a curiosidade do cigarro e a tortura daquele ele as coisas que a mantinham viva. Fechou o chuveiro. O coração suporta com gosto a dor, mas a casa não tem espaço para ele.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Memórias

Sei escrever melhor quando estou com raiva. Na verdade, só sei escrever quando algo me perturba. Sei escrever quando meu sangue ferve, quando meu coração se espreme e me encolho no cantinho para chorar escondida. Sei expressar minha ira e também sofrer uma dor de cotovelo como ninguém. Sofro até as últimas consequências, gosto do tom dramático da maquiagem borrada que propositadamente uso quando sei que vou me esvair em prantos. Mas ainda não aprendi a dizer o que sinto quando não sinto nada, quando provoco os sentimentos e eles não vem; colocaram uma placa no meu peito dizendo "já volto" e não voltaram nunca mais. 

Sei sofrer, lamentar e me reinventar centenas de vezes no mesmo episódio, tenho diversas câmeras nos pontos estratégicos da minha imaginação e conto e reconto a história cada vez por uma diferente perspectiva, mas não sei contar quando eu não sei mais sentir. Preciso primeiro reencontrar os sentimentos dentro de mim, preciso da ferida aberta, da dor latente, do amor doído, do passado meio amarelado e do cheiro a esquecido no fundo de uma gaveta qualquer para voltar a me angustiar e poder sofrer e me deliciar como uma criança, com a mesma história, pela milésima vez.

Não sei onde foram parar os meus sentimentos, onde se escondeu toda a minha nostalgia e inquietude. Não sei onde minha memória foi deletada, quais os passos desse ritual desconhecido que apagou de mim os cheiros que tatuaram minha pele e o toque das mãos que se esvaíram pelos meus dedos. Só sei que se esvaíram. As angústias, os sabores, as lembranças, as poesias e as cartas que deixei para trás. Foram pegas de surpresa por alguma traça nas gavetas da minha memória que as roeram lentamente e não deixaram sequer um vestígio, uma pista, um sinal. E não tenho mais nada a relembrar, a não ser o cheiro doce do presente.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Primavera

Toda troca de estação é um bom momento para olhar para dentro. Não só para dentro dos armários e gavetas, não só tempo de reorganizar as tralhas e jogar fora aquilo que há muito deixou de servir e que só é guardado por um certo apego, mas também de olhar para dentro de si mesmo. Toda troca de estação é uma boa hora para jogar fora, junto com as roupas e calçados velhos, os antigos bilhetes, as amareladas cartas de amor e as palavras que ainda ecoam na cabeça e no coração. A saída do inverno abre espaço não só para os botões que se abrem em belas flores mas para a abertura dos corações em novos rumos, em busca de novos ares e novas aventuras. Desbravar o próprio peito pode ser uma árdua tarefa que exige persistência e confiança, paciência e uma alta dose de desapego. Faxinar os sentimentos é como podar uma árvore, transplantar suas mudas e regar suas raízes. A princípio não vemos resultado algum, mas quando a primavera chega abrindo novos botões e perfumando o coração de belos sentimentos, vemos florir em nós a flor da esperança e a certeza que tudo pode ficar ainda melhor (e mais colorido).

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O Poeta Está Vivo

 

 Essa música há alguns dias ecoa por aqui.