segunda-feira, 11 de abril de 2011

Manhã Branca

Hoje acordei com frio. Acordei e fui refazer teus passos na procura de algum vestígio de calor ou de amor que ainda tenha ficado caído pelo corredor. Desenhei teu caminho, percorri tua trilha buscando algum carinho esquecido atrás da porta que fosse capaz de me aquecer nessa manhã branca, sem sol, sem nuvens, sem graça. Acordei junto comigo as tuas roupas, os teus traços, teu travesseiro e os teus cheiros esparramados, carinhosamente juntei teus pedaços esparsos e em momento algum me senti menor por buscar nos teus resquícios algo suficientemente caloroso para me fazer suportar essa manhã quase insuportável. Não me senti menor pois não catei teu amor como sobras, não te peço o amor, não te imploro, como nunca ousaria te pedir ou implorar ou exigir algum amor - inexigível por natureza; esse amor é dado de graça todos os dias através das tuas pequenas demonstrações cotidianas, as marcas de um corpo que faz questão de me mostrar que esteve ali, que faz seu rastro para que eu o percorra e o desfaça quantas vezes forem necessárias para que seja notado. 
Teu amor se mostra no cheiro do café que me espera na borda da cama todos os dias, as mãos cuidadosamente aquecidas antes de se aproximarem do meu corpo sempre frio ao acordar, na escolha das minhas unhas e das frutas da tarde, na casa preparada para me ver despertar no domingo, sempre tarde, sempre cansada. Se mostra quando se esconde, faz questão de se mostrar quando nem te vejo sair.
Não me sinto menor por procurar os teus sinais quanto tu sai pela porta; ao contrário, levanto correndo para que as xícaras não esfriem, os dedos ainda estejam marcados na superfície gelada do banheiro, a cama quente, o travesseiro largado, a chave balançando na fechadura, a toalha sempre pendurada em alguma das portas. Teus sinais são preparados cuidadosamente por ti e seria menor, aí sim, ao desprezar a forma mais bonita que um amor pode tomar: o apreço pelo cotidiano. É a rotina que engrandece o nosso amor.

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