quarta-feira, 3 de abril de 2013

Hacía frio

Talvez aí no seu planeta faça tanto frio que já se esqueceu de mim
E esse seu mundo, ah! Que pena, ele gira rápido demais... 
Seu tempo acelerou no relógio do nunca mais 
Aqui na Terra, vai tudo bem, sim. 
O Sol vem todo dia me relembrar que não se morre de amor. 
E todo dia ele vai ser por... 
Avisando ao vento que já não é tempo do tempo que ficou pra trás.
Mas pode voltar, viu? Pode vir sem avisar, pois ainda tenho aquelas histórias pra te contar, ainda tenho a receita anotada, ainda tenho aquele vinho pra se tomar. 
E de falta de amor, você vai ver que também não morrerá.

terça-feira, 2 de abril de 2013

No embalo

Cresci ouvindo a minha mãe dizer: "quem ama de verdade, perdoa."
Feliz é quem sabe recomeçar, um pouquinho mais sábio e com o dobro de amor pra dar.
E nessa história toda, quem é que vai me perdoar?
Amor bom é amor de bom dia, no canto do ouvido, na doçura de um aconchego, no brilho de um sorriso.
Mas a vida chega pedindo errado, perguntando de trás pra frente.
A nossa história se embriagou na cumplicidade de um café amargo.
Nas horas que se separam, nas contas para serem acertadas depois.
Mas se todo pranto tem prazo, toda essa pressa de não ter pressa nenhuma acabou demorando a chegar. 
Encostei minha vida no seu ombro e prometi a cama arrumada.
Encostei-me para descansar, por um breve intervalo de tempo e acabei ficando, acabei me esquecendo de voltar.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Relacionamentos são que nem sapato. Conclusão depois de ficar meia hora olhando pra todos os sapatos novos que eu tinha no guarda roupa, praticamente que eu nunca usei com medo de estragar, ou porque não são confortáveis realmente. A verdade é que nenhum sapato no início é confortável. Causa bolha, calos, assaduras, arranhões. A gente demora pra se acostumar a eles. Melhor dizendo, a gente demora pra se adaptar ao novo jeito de andar com eles. Com certeza tropeçamos e queremos logo tirá-los no final do dia, com aquela sensação de alívio do pé descalço. Pois é. Aqueles sapatos que antigamente machucavam nossos pés, depois de um tempo, se tornam um encaixe perfeito.
Enfim, depois de meia hora fitando meus novos pares, fiquei procurando aquele velho, de longa, longa data, pensando que eu infelizmente e provavelmente o teria doado. Foi quando eu vi ele escondido, embaixo de todos os outros, esquecido há um tempo. O preto não brilha tanto, o salto está meio torto, o bico esfolado. Mas ele é familiar. É conhecido. Meus pés cansados se sentem em casa com ele. Muito melhor que começar tudo de novo com um novo par: duro e sem nenhuma história pra contar. Vou aproveitar os meus velhos sapatos... enquanto meus pés ainda não estiverem prontos para um novo relacionamento.

terça-feira, 26 de março de 2013

Há quem lembre

Há quem falará de nós. Duas meninas aprendendo com as lições que a vida ensinava. Aos 14 anos, conheci um tipo de conexão que eu não sabia que poderia existir. Pelo menos, não pra mim. Conheci uma garota que mudou minha vida. Conheci um novo modo de ver o mundo, de ver as pessoas, de ver a mim mesma. Conheci não só uma pessoa incrível, inteligente, perspicaz, sagaz e generosa. Conheci a pessoa certa para ocupar um cargo muito especial na minha vida. Um papel que ninguém melhor que ela poderia desempenhar, e ainda, graças ao nosso jardim, desempenha. Nunca vou entender como construímos essa ponte tão florida. Tão bonita. Tão infinita. Nosso entendimento é sublime. É feito de puro amor. Cuidados e carinhos sempre foram marca registrada de nossa cumplicidade.
Há quem lembre de duas meninas andando pra cima e pra baixo numa cidade que costumava ser pequena. Duas meninas cheias de sonhos jogadas na grama, negando a existência de uma aula de matemática na sala ao lado. Eu estava no início de tudo, diante de tudo, diante dela. Despertei para o que sou hoje graças a ela. Graças as nossas conversas ricas em reflexões. Graças aos nossos gostos e prazeres convergentes. Graças ao nosso amor. Há quem lembre da nossa amizade. De como costumávamos fazer tudo juntas. De como tu sempre estavas lá por mim. Há quem lembre de como éramos diferentes, mas mesmo assim, nossa combinação era exatamente como deveria ser. Há o cais, o café, o bar da escola. Há girassóis, rosas amarelas, e barras de chocolate Napolitano. Há lágrimas, risos, deboches e tristezas tão profundas que jamais serão contadas da maneira que nós as vivemos. Nossas memórias estão lacradas no fundo do meu coração. Memórias que ninguém, nunca, terá como competir. Não porque não existem outras pessoas incríveis por ai... Claro que não. Mas porque aquela riqueza de descoberta nunca conseguirá bater outras. A entrega para ela nunca poderá ser comparada a outras entregas, mais sutis, menos puras. Hoje o mundo não é o mesmo para mim do que naquela época. Estou mais dura, sim. Porém, meu amor ingênuo e puro está guardado, guardado para ela. E agradeço por isso todos os dias.
Há quem saiba dessa amizade. Há quem inveje. Quem admire. Quem não entenda... Mas com certeza, ela está no ar dessa cidade que logo vou abandonar também. Está no cheiro da maresia espalhada pelos cantos estreitos das ruelas daqui. Está nas fotos, nas cartas, atrás das fotos 3X4. Está em nós. Está em quem conviveu com a gente para poder lembrar também, de duas meninas, duas meninas que compartilharam tudo que havia para ser compartilhado e vivido na mais pura simplicidade das rotinas possíveis... mas não menos inesquecíveis.

Atualizações Sentimentais

Meu amor, não sei o que acontece por aqui, mas tenho a sensação de estar entrando a terceira primavera seguida. Por essas bandas, a natureza se equivocou e vem enchendo as árvores de flores.  No clima floral, nossa calandiva também está permanentemente florida desde outubro, toda laranja, cheia de vida e logo precisará ser transplantada para que possa continuar crescendo. Tu precisavas estar aqui para ver isso.

Asfaltaram as duas ruas próximas da nossa casa, tu não reclamarias mais das crateras no meio da avenida. Houve um evento na praça do coreto, aquela por onde passávamos quase diariamente, que a encheu de crianças e famílias e a ocupou da forma como sempre concordamos que praças deveriam ser ocupadas. Chegaram alguns livros que há tempos estavam em nossos desejos e completei a biblioteca com mais uma estante, que já está praticamente lotada também. Houve uma tragédia, um incêndio; morreu o Amigo, o cachorro do teu avô herdado pelo teu pai. Também nasceu o filho dos amigos. E fizemos por aqui bons e grandes amigos. Nosso canto tem novos ares por causa da disposição dos móveis. A casa que gostamos na subida da rua está à venda. O prédio aqui perto está ficando pronto, só imagino como adoraríamos a vista  dos últimos andares. Aqui do lado abriram uma oficina que faz barulho o dia inteiro. Construíram um muro que deu o que falar aqui na cidade, sabia? Tu precisavas estar aqui para ver isso.

Aprendi a operar com segurança uma panela de pressão - e aprendi que tirar a pressão levantando a válvula não faz a panela explodir, como minha mãe sempre me dizia e eu repetia para ti. Aprendi a pular por cima da bagunça e sair de casa para me divertir com a Helena, como tu sempre havia sugerido. Aprendi a me virar em espanhol. Aprendi a otimizar o tempo. Meu celular se espatifou num dia e foi dessa pra uma melhor. Continuei assistindo todos os campeonatos possíveis e imagináveis de tênis. Conheci algumas músicas legais, vi documentários interessantes. Chegaram muitos postais. Tenho pintado mais as unhas. Li muita literatura nesse tempo da tua ausência, precisava preencher teu espaço com histórias quase tão boas quanto as que improvisavas para mim todos os dias. Arrecadei mais três livros da Isabel Allende para aumentar minha paixão; um deles, li em um dia. Comecei a ser mais segura de mim mesma, meu amor, como mãe e como mulher. Tirei nove numa prova, mesmo com casa, Helena e algum cansaço nas costas. Tu precisavas estar aqui para ver isso, tu estarias orgulhoso de ver isso.

Mesmo com tanta coisa acontecendo, há algum tempo todos os dias são iguais, contabilizando as saudades na descida da Câmara e te contando com o coração tudo o que não posso te mostrar com teus próprios olhos. Já se foi dez dias, vinte, um mês, dois, foi a metade, o pior já passou, foi três e agora quase quatro. E parece que o tempo continua se arrastando, todos os dias as mesmas cenas, as mesmas perguntas. Tu estás presente no cotidiano, presente nas conversas, nos passeios, na escola da pequena e nas aulas que frequento. Tu estás presente em cada livro que não consigo encontrar. Tu precisavas estar aqui para ver isso. Tu, definitivamente, precisas estar aqui. Nós precisamos de ti, da tua presença bagunceira e teu espírito divertido, das tuas noites insones perambulando com um livro embaixo do braço, das invenções culinárias e das toalhas penduradas pelas portas da casa. Queremos mesmo sem isso, queremos de qualquer jeito, porque agora sabemos que não precisamos. Que te queremos aqui. E por não precisar, te quero ainda mais.

Estou sempre te esperando.

domingo, 24 de março de 2013

Histórias para Helena

Três meses de jejum e escrevo mentalmente todos os dias para ela, Helena. Escrevo para o dia em que se tornar adolescente, para o dia que quiser marcar a pele com fatos inesquecíveis, para aqueles dias onde a felicidade dominar de forma explosiva ou para aqueles onde o fim da tristeza não for visível a olho nu. Para que ela saiba que todos temos os mesmos dramas, mas que mesmo assim os seus serão únicos, que serão ouvidos por uma amiga compreensiva.
Sonho com o dia em que me perguntará sobre meus namorados. Com os dias que fará as contas sobre o tempo do meu casamento e sua idade e que constatará que, mesmo tão jovens, não casamos grávidos e que ela foi uma linda consequência do amor que nos transbordou desde o primeiro momento. Imagino as histórias, direi os nomes, os endereços se os souber, permitirei que conheça o meu passado, minha vida, meus amores, minhas desilusões, desnudar minha alma perante esse ser frágil que me conheceu desde seu primeiro instante de vida e que me gerou mãe. Nós vamos encolhendo diante dos filhos, meu bem. A grandeza da sua inocência, as roupas que deixam de servir rápido e as lições diárias de amor e compreensão fazem com que nos tornemos todos os dias um pouco menores ao lado desses gigantes, os filhos. Sonho com o dia em que eu dormirei no seu colo. Que ela será meu primeiro e último refúgio de intimidade e carinho, que ela foi e sempre será minha grande amiga.
Penso em imprimir páginas desse blog adolescente, em dar-lhe um punhado dos meus sofrimentos para que ela os conheça, para que pergunte quem os causou, para que saiba que também fiz alguém sofrer. Não penso em mudar a história, não cogito ser a mãe puritana. Quando chegar o tempo, ela saberá de tudo que quiser saber, sem mentiras, sem omissões, sem culpas. Direi a ela que o melhor gosto do passado fica com aquelas pessoas que nunca imaginamos que seriam tão marcantes. Contarei tudo porque acho linda a cumplicidade que pais e filhos podem ter quando se empenham em uma relação baseada na confiança e na verdade e porque queria muito ter tido essa relação quando foi a minha vez. É sempre a nossa vez.

Registro os fatos, tento relembrá-los da forma mais verídica para que a poeira das memórias não me faça cometer injustiças ao contar essas histórias. Talvez seja por isso que vivo revisitando as mesmas velhas memórias, para que estejam sempre frescas, os odores, os lugares, como um livro que tiramos da estante para arejar suas páginas. 
Enquanto esse dia não chega, é hora de juntar os brinquedos espalhados pelo chão e arrumar a mochila para a escolinha amanhã.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Seus cabelos eram conduzidos pelo vento de um lado para o outro no alto da montanha. Ela tentava se encontrar ao fitar a imensidão do mar. Olhar para trás era difícil. Esperança é um doce veneno. Mata devagar, engana o maior dos realistas. Mas a verdade vem de longe como uma flecha, na hora em que deve surgir, direto no coração.
Ela se sentia forte, então, por que a lástima? Por que a dor? Afinal, a ampuleta já havia sido quebrado. Era suficiente. Ela tinha que continuar lutando. Não havia escolha. O caminho era um só. O árduo caminho de se estar só.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Letter

Eu sonhei uma vez que eu tinha te perdido. Eu não sei exatamente o que
aconteceu no sonho, não lembro mais dos detalhes, mas lembro de acordar e
te ver dormindo do meu lado.
Provavelmente
já havia passado do meio dia e fazia Sol, assim como hoje. Eu te ouvi
respirar, me acalmando. Era como se pudéssemos falar sem palavras. Eu me
pergunto, como e quando nós aprendemos isto. O nosso silêncio. Essa
linguagem secreta. Eu só sei que de alguma forma nos nossos silêncios,
juntos ou separados, eu te ouvi. E agora estou aqui com estas palavras,
estas palavras inúteis, quando tudo que eu queria era estar ao teu lado
de novo. 
Pra te fazer sentir seguro. Te ajudar a dormir. Te trazer de volta pra mim...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Abstinência. É como se um grande vazio se instalasse dentro de você. Como se só importasse a dor da falta. É mais do que saudade. É o não ter desesperado em busca do que já não faz bem. É um vício, apenas.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Invisível Visibilidade

Foi um dia comum, ontem. Até que ela parou e, na saída do restaurante, acenou para uma criatura visivelmente invisível e longamente conhecida dos frequentadores do local. Heleninha parou, encarou o velho senhor maltrapilho que pedia moedas em um copo de requeijão e imediatamente se dirigiu a ele, abanando efusivamente. Ela queria me ensinar que nós construímos a invisibilidade daqueles que estão ao nosso lado. Como todos os outros, eu fingia - e me envergonho profundamente disso - que ele não estava ali. Fingia que não via a sua miséria, sua tristeza, sua dificuldade para falar e as mãos corroídas pelo tempo. Ignorei a sua decrepitude para não ter que encarar a miserável que a vida fez de mim. Ela parou, tirou o bico da boca e logo ofereceu ao senhor, que riu. Naquele momento, ele foi vestido da visibilidade de que o privamos todos os dias, enquanto não encaramos suas misérias para não esbarrar na nossa própria mesquinharia. Ela parou e conversou na sua língua ininteligível com o senhor invisível, que respondeu prontamente. Senti vergonha de mim e, confesso, não agi para mudar a minha atitude. Estava abismada com a lição que tinha acabado de aprender com ela, tão pequena, tão leve e tão certa. Ela que não consegue ver os mantos de invisibilidade a que condenamos os nossos semelhantes, ela que ainda enxerga a dor dos outros como se fosse sua, ela que me mostrou que ele é tão visível quanto a "mama", que ela chamou em seguida. Me aproximei. Ele era real, era um homem, tinha os olhos tristes de quem só observa e vê os outros passando. Ele tinha uma fala contida, quase muda, de quem se acostumou a não ser ouvido.
O senhor maltrapilho e a bebê com passos ainda desequilibrados me ensinaram que os invisíveis somos nós que fazemos; me despertaram de um profundo sono de insensibilidade. Me deram uma segunda chance.
Ela deu tchau. Os olhos dele não saíram mais da minha memória.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mas aí..

Para onde foste, amor? Em quê se transformou a ausência das palavras doces? Em que encruzilhada da vida te perdeste ou mudaste de rumo? Acordei pensando que a saudade virara um hábito. Pensar em ti é quase inevitável, porém vivo em um mausoléu de promessas e declarações fora de contexto.
As imagens vão ficando escuras e nesse momento há um pedaço de mim que sofre. Tenho saudades desse amor que não sei onde está. Sinto saudades da promessa do fantástico que era te ver. Sinto falta dos telefonemas tardios. Da nossa troca de olhares perdidos. De alimentar nossa história com fantasia. 
Não vejo nada muito claramente.  Parece que um foco de luz atrapalha minha visão. Uso óculos escuros para poder enxergar melhor, mas às vezes, sabe como é, nada adianta. Aí eu voô longe, quem me olha logo vê que estou viajando pelo espaço que nos une ainda, no tempo em que tudo fazia sentido. 
Acho que no fundo, te preparaste bem. A tua queda não foi alta, construíste em volta um muro e me deixaste do lado de fora. Medo de quê, meu bem? Te forçaste a me esquecer. Assim, enjoaste das minha filosofias e dos meus vícios de linguagem. A vida agitada, te agitou também por dentro. E minha calma já não agradava mais. Mas aí me ligas... para dizer o quê mesmo? Mas aí me ligas, e eu me apaixono de novo. E aí... pouco importa. 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Letras miúdas

Terminava o filme que passava na tela
Letrinhas miúdas subiam ao som de uma música qualquer
Vi seu primeiro nome por entre os nomes desconhecidos e para mim, era mais como um letreiro
E pensei que um desconhecido em minha vida, um dia tu o serias também
Nossas cenas se repetiam no cinema interrompido do nosso roteiro.
E casualmente, seu nome em letrinhas miúdas, voltaria a ficar.

Para onde estávamos indo? Nos perdemos em alguma encruzilhada do nosso mapa mal traçado.
Não sabíamos a hora da partida e perdemos a largada,
Chegando em lugar nenhum, onde todos os amores mal resolvidos chegam.
Onde?
Não está mais.


domingo, 16 de setembro de 2012

Permanecido

Agradeço a inspiração. http://poetasdefimdesemana.blogspot.com.br.


Eu sentia falta dos abraços apertados que sufocavam meu medo de perdê-lo
Eu sentia falta do brilho dourado por meio da barba negra quando o sol iluminava a nós dois, ao mesmo tempo.
Sentia falta da sombra que nos unia no chão, por entre nossos passos, cruzando nossos caminhos, nos tornando intocáveis.
Sentia saudades daqueles risos demorados que iluminavam e rodopiavam na minha cabeça,
Como uma música entorpecente, me faziam esquecer o motivo da graça.
A falta dos risos e sorrisos me dilacerava, deixava um vazio, sonoro, visual, químico. Arrasava minha paisagem descolorida, constantemente fragilizada, arruinava minha razão.
Percebi, então, que via aqueles sorrisos muito mais do que quando os tinha. E percebi que eles nunca haviam de fato ido embora.  

Me falas de saudades


Viraste minha inspiração. Poesia advinda da dor.
Todo mundo precisa de uma fonte. Uns bebem água, eu bebo amor.   
            
Na nossa correnteza de palavras, quase promessas, era razão para o nosso viver. 
De que vale tanta certeza se o que nos faz seguir em frente é o não saber?


Me falas de saudades, me contas do teu dia-a-dia e reclamas da minha ausência, na mais pura ironia.
Me falas de saudades, do vazio na tua cama, no banco da moto, na tua nuca sem a minha boca.
Me falas dos resquícios de mim deixados por todos os lados
Nas gavetas das nossas despedidas. 

E eu te falo de sonhos. (Não dos que tenho contigo, meu orgulho me cala). 
Te falo de metas a serem saboreadas. Tento mostrar que o caminho é mais que a chegada.
Que os sonhos quando são grandes não demandam de tamanha pressa para serem alcançados.
Eles sobrevivem a longas distâncias, aguardam longas esperas em relógios quebrados. 
Esforço-me ao dizer que para andar, não se precisa de calçados.

Te digo que podemos ser donos do nosso tempo, apesar de sabermos que o tempo não pára.
Te peço em silêncio que me deixes por perto, que eu seja qualquer sorriso escondido na tua feição.
E que me deixes  viva nos batimentos ligeiros e descompassados do teu coração.

Te pergunto calada, o que sobraria se a saudade fosse sufocada?
Se minha foto ficasse amarelada no fundo da tua confusão?


Me falas de família, de trabalho, de bares.
Eu te pergunto por que tamanha solidão?



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Nessa Segunda Azul


E quem diria que eu iria mesmo afundar sozinha? Pois é. A história acaba assim mesmo. Eu, agarrada no mastro, no meio de uma tempestade, afundando, sozinha. E eu penso, ainda bem que sei nadar.
Eu fui paciente e cautelosa, porém, decidi ceder. Eu baixei a guarda, tirei a armadura, entreguei meus pensamentos e meu afeto com todo cuidado e com toda a ousadia necessária. Cinco meses de bom dias, de confissões, de entrega, de uma amizade apaixonada. Cinco longos meses que passaram rápido demais. Sinto ainda o gosto da ansiedade na minha boca. O brilho nos meus olhos ao pensar em ti. Sinto minhas veias latejando ao pensar em te encontrar. Sinto aquela emoção exacerbada e estupidamente pura quando eu te vi pela primeira vez. Ou melhor, eu sentia. Sentia-me incrivelmente abençoada e grata, todos os dias, por ter alguém que eu queria dar todo o meu amor, do outro lado do mundo, pensando em mim. E depois, há algumas horas. E depois, na minha frente. Poder te tocar e te abraçar foi uma das melhores sensações da minha vida. Poder olhar nos teus olhos e dizer o quanto eu esperei por aquele momento, foi mágico. E todo o tempo de espera, que foi ótimo para mim, derreteu quando tu pegaste em minha mão com tamanha delicadeza e carinho. Era uma energia simplesmente fantástica. Eu podia sentir aquele amor em todas as células do meu corpo. E tu me perguntava, o quanto eu te amava. E eu nunca soube responder completamente. Porque eu te amaria de todas as formas e quantas vezes fosse necessário pra que tu acreditasse no meu amor. E eu sei que tu o sentia. Era palpável como calor. Era um fluido transparente que passava das minhas mãos para o teu peito nas tantas vezes que ficamos em silêncio, deitados um ao lado do outro, de olhos fechados. Eu posso afirmar que vivi um sonho de um sonho. E escrever sobre isso, torna o nosso sonho real e imutável. Sabe, minha memória me prega peças. É a primeira vez que me lembro da gente. Fiz um esforço muito grande para apagar as coisas boas que vivemos, para não doer. E funcionou, por incrível que pareça. Mas decidi deixar no papel algumas lembranças porque elas valem a pena por si só. São bonitas demais para ficarem esquecidas. A nossa história daria um livro, na minha opinião. Estou aqui de coração dilacerado escrevendo trechos. Mas há muito mais. Uma infinidade de detalhes belíssimos escondidos nos minutos compartilhados contigo. A nossa poesia de mãos dadas. Como a gente costumava dizer, “é muito amor”. Lembro daquela maneira única que tu me beijavas: era um beijo com carinho e com um sentimento enorme; um beijo com saudades prévias e tardias. Um beijo de angústia, de posse, de medo. Um beijo de te quero para sempre. Eu sentia isso. ISSO não foi fantasia. Porém, o meu beijo era de pura gratidão e esperança de que a tua dor passasse. Que de alguma forma eu pudesse te curar com a minha segurança e a minha generosidade. Eu queria arrancar as tuas dúvidas, queria tirar o teu medo, queria cicatrizar as tuas feridas. Mas não dependia de mim. E esse foi o meu erro. Eu acreditei demais em ti, por mim e por ti, de uma só vez. E superestimei meu talento em ajudar as pessoas. De alguma maneira devo ter te ajudado, talvez os frutos não tenham ficado maduros ainda para serem colhidos.  Talvez.
Estou anestesiada pela ausência das falas. Pelo celular desligado. Pelo meu silêncio, pelo nosso silêncio. Estou atada nessa história e às vezes, penso, foi real? Terá sido algo inventado de forma tão bela, sem falhas? Será que me dediquei a apagar as imperfeições? Será que não vi as cicatrizes tão aparentes? Será que eu não quis ver? Será que minhas expectativas tornaram as coisas maravilhosamente especiais?
Hoje está tudo diferente. Peguei minha parte de volta. Meu coração está inteiro. Meio colado, mas inteiro novamente. Não acho justo deixar nenhuma parte de mim por aí. Não acho justo comigo, que fique claro. E nessa segunda azul, já não imagino mais segundas ao teu lado. Estou presa ao presente com pessoas que querem estar nele. Não preciso de restos, de talvez, de possivelmentes.
Deixei-me levar pelas palavras fáceis, pelos sonhos da tua cabeça inconstante. E eu gostei da idéia. Mas não fui sincera comigo. Eu gosto muito do presente. Me teletransportei pra um futuro de suposições e esqueci de  olhar para o que estava a minha volta. Nosso presente era muito importante para mim. Foi um dos melhores presentes que eu já vivi. Mas me acostumei com a falta dos bom dias. Com a falta das ligações. Me adaptei a minha nova vida sem ti. Acho que um dia ainda vou acordar chorando, perguntando, por quê? Ou em alguma cena, em algum filme que tenha muitas manhãs e muitos parques verdes, eu fique reflexiva e nostálgica. Ainda não aconteceu. Não sei se é porque o único caminho para mim agora é o de estar firme ou se é porque ainda não te coloquei no meu passado, por mais que no presente, tu não estejas mais. Deveria existir um tempo entre esses dois tempos. Um pretérito-presente ou presente-quase-pretérito. E como conjugar os verbos nesse tempo? Eu te amei? Eu te amo? Ah! Eu teria te amado para sempre.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Não Estou de Dieta

Num mundo pautado pela beleza, é anormal ouvir "não estou de dieta" de alguma mulher com mais de vinte anos - e muitas vezes, também anormal ouvir de adolescentes de quinze já tão preocupadas com o número do manequim. Num mundo onde vestir 40 é crime capital, me afogo em chocolate, bolo e culpa. Sou mulher e facilmente enganada pela mídia que me diz a todo tempo que doce engorda, refrigerante dá celulite, fritura mata. O que eles escondem é que a preocupação exagerada com o corpo começa cedo e mata muito mais do que fritura, refrigerante e doce.
Me recuso a fazer dieta e explico o porquê. Acho que dieta não mata só calorias, mata a espontaneidade, mata o sorriso, frustra um desejo que aparece no meio da tarde. Dieta, pra mim, é tortura. Mesmo depois de uma gravidez, voltei facilmente ao meu peso, mas meu manequim jamais voltou a ser o mesmo. Resolvi o problema sem dieta, sem correr feito louca, sem comer mais alface do que estou habituada: comprei calças maiores. Claro que tive crises, falei que estou gorda, briguei com meu próprio corpo e, lógico, não adiantou nada. Mas, como posso e devo, sou bem resolvida com meu novo corpo e meu novo peso.
É ilógico desejar que mulheres de trinta tenham os mesmos corpos que aos quatorze anos, é idiota incentivar a corrida contra seus próprios corpos, é absurdo legitimar métodos de tortura pra tentar tornar isso possível.  
Fazer dieta é rejeitar a si mesma, o corpo, as formas, a beleza. Claro que ouço muito me dizerem que "se eu posso melhorar, por que não?" e aí que me pergunto, por que ser magra é melhor que ser gordinha? Nota: ser gordinha hoje em dia é estar com o peso adequado, vestindo o tão temido 40, comendo e vivendo sem culpas, sem grilos, sem ricota (argh!).
Respeito quem faz dieta, mas não me sugiram métodos mirabolantes para enxugar gordura. Não me sugiram fórmulas mágicas para enxugar a mim mesma. Não me peçam para rejeitar as maravilhosas receitas do meu marido, regadas a batatas (carboidratos, meu Deus!) e muito azeite. Não me digam para cortar a comida, pois sem prazer na comida e no amor, não há sentido nenhum em viver.

Brigar com o peso, para mim, é como brigar com as estrias que ficaram da gestação. São marquinhas que o tempo e a experiência de gerar alguém me deixaram. E, mesmo que fossem só de brigadeiro, seriam as marquinhas da felicidade de não me privar das minhas vontades.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A Fonte Secou

É difícil admitir algo tão óbvio e que há tanto tempo já é tão perceptível. A fonte secou.
Não sei em que ponto isso se desenrolou, mas as palavras já não fluem mais, as linhas não se conectam, a pontuação foge e a sensibilidade desapareceu. As mesmas músicas que faziam verter rios de palavras já não surtem mais efeito algum; o céu não me diz mais nada; os dias estão todos iguais.
Há algum tempo, não sei quando, não sei onde, parei de tentar recontar as mesmas velhas e gastas histórias, não encontrei mais aquela velha ânsia de amar e de compreender.
Me sinto ainda mais incompetente ao declarar publicamente: a fonte secou.

Se ao menos eu voltasse a enxergar o mundo como ele sempre me rodeou, se ao menos eu reaprendesse a tatear as palavras, as palavras... Se ao menos eu voltasse a desbravar a imaginação.

domingo, 12 de agosto de 2012

Pai



Meu pai não é herói. Aos meus olhos de criança era um gigante que, ao me tomar nos braços, emprestava a incrível capacidade de voar. Meu pai era um super-herói doméstico, na vista dos meus pequenos olhos de criança. Lavava a roupa, organizava a casa, fazia mágica e a comida aparecia pronta, outra mágica e, com um pequeno aparelho branco, usava seu poder para transformar as rugas das camisetas da escola em seda pura, lisinha, branquinha, brilhante. Meu pai me acordava com o perfume de mingau e com o rádio baixinho para ouvir as notícias. Meu pai era um super-herói sentimental. Chorava por qualquer coisa, a qualquer momento, sem qualquer pudor. Para mim, a frase "homem não chora" certamente não se aplicava aos super-heróis, assim como meu pai. Talvez as lágrimas que caíssem daquele par de olhos azuis também fizessem parte de algum dos seus poderes.

O tempo passou e o meu corpo cresceu em volta dos meus olhos de criança. Minha visão se alterou e, com ela, as coisas ao redor também mudaram. Pensando hoje, talvez seja por isso que precisei de óculos, para aprender a enxergar o mundo sem as mágicas e os poderes do meu pai.

Descobri que meu pai era humano, sempre havia sido humano, para sempre seria humano. Descobri que meu pai possuía defeitos, que os braços dele não seriam capazes de sustentar o meu peso pela vida toda, que os seus olhos azuis choravam por motivos que talvez eu nunca vá entender. Um dia descobri que ele poderia ter outra vida, outro rumo, caminhar outros passos e tive certeza de que meu pai era realmente humano. Conheci suas falhas, seus defeitos e passei a me apegar ainda mais às qualidades, determinada a nunca esquecer do gigante que me fazia voar quando era criança.

Meu pai me deu muito mais do que características genéticas. Meu pai me deu muito amor, muito carinho e muitas decepções. Me ensinou a ser tolerante e a aprender a respeitar, dentro dos nossos limites, as características e as escolhas que cada um faz na sua vida. Me ensinou a ter paciência e a fazer chocolate quente. Me ensinou que os seres humanos são mais heróis do que os que transformam camisetas amassadas em trajes de gala, que é possível conviver com defeitos, respeitá-los e até amá-los. Meu pai me ensinou a tocar a vida sozinha. Me ensinou que eu não posso esperar ter alguém sempre ao meu lado, que muitas vezes a vida exigirá só de mim e não haverá ninguém para quem recorrer. Meu pai me mostrou que a vida é uma só e que não há espaço para arrependimentos e sonhos frustrados. Meu pai me mostrou tudo de si e por isso sou grata. Sei que ele não terá vergonha de pedir desculpas e reconhecer seus erros quando essa hora chegar e sei que algum dia ele ainda recuperará o tempo perdido e descobrirá que eu cresci em volta dos meus olhos. Sei que um dia ele verá na minha filha a oportunidade de fazer tudo de novo para ela e, principalmente, para nós. Sei que reconstruiremos o que ficou perdido.

Tenho certeza de que o tempo é sábio. O mesmo tempo que nos faz perder a visão dos nossos super-heróis e ganhar a visão de pais, companheiros, amigos, humanos e falhos, falhos como nós. O mesmo tempo que me faz feliz por não ter a pressão nem a culpa de pais perfeitos por trás de mim. Meu pai é admirável por muitas coisas, mas a maior delas eu sei contar aqui: ninguém jamais vai conseguir me fazer voar outra vez.

Feliz dia dos pais, meu pai.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Retomada

Não sabia onde estava com a cabeça. Pensou que o mundo andasse numa linha reta, que simplesmente jogaria algumas dúvidas inquietas para trás e elas nunca voltariam, batendo na sua cara com a força do vento de quem deu a volta ao mundo com o impulso de um desleixo. Pois o mundo é bem redondo e as nossas inquietações sempre voltam. Os fantasmas sempre descobrem um novo lugar para se esconder, ou melhor, para serem achados. Precisamos do dedo maldoso das dúvidas que nos tiram da calmaria, que nos cutucam em sonhos (nem tão) inocentes, que retorcem no nosso nariz as mais cruéis suposições sobre um outro passado - e um outro futuro.

Não imaginava que, num belo dia de sol, o passado beijaria o seu rosto com aquele ar irônico de quem teve todo o tempo do mundo para se mostrar na melhor oportunidade. Perguntas ficaram pairando pelo ar, de qualquer jeito precisaria tirar tudo a limpo. De qualquer forma, recontar as mesmas histórias pela milésima vez, juntar os fragmentos que a construíram. E isso é o que ela estava disposta a fazer.

Um dia, ele bateu a porta na sua cara sem dizer porquê. E assim, sem saber, convocou todos os adormecidos demônios a invadirem sua casa, sua vida, revirar seus armários e atirar suas roupas pelo chão. Sem que ele quisesse, convidou-a para perambular eternamente em sua sala, dançar através dos móveis. Ele sente o seu perfume de flores pela casa e não lembra de quem é, mas sabe que esse mesmo aroma o impede de modificar a disposição do divã. Mas ele vai lembrar.

sábado, 9 de junho de 2012

Igual a Qualquer Um


Melhor que eu não te conte novidades,
Nem diga nada muito diferente,
Nem faça teorias sobre a gente,
Nem fale dessa angústia que me invade.
Melhor juntar palavras já testadas:
Amor, Saudade, Beijo, Despedida.
Um saco de figuras repetidas,
Tão gastas que já não te digam nada.
Pois só o que for extremamente fácil,
banal como as canções do rádio,
Replay de algum clichê, lugar-comum
E nunca retratar a nossa vida,
Vai te deixar feliz e comovida
E te fazer igual a qualquer um.
(Leoni)