sábado, 20 de novembro de 2010

Seu Nome

“se eu tivesse um bar ele teria o seu nome
se eu tivesse um barco ele teria o seu nome
se eu comprasse uma égua daria a ela o seu nome
minha cadela imaginária tem o seu nome
se eu enlouquecer passarei as tardes repetindo o seu nome
se eu morrer velhinho, no suspiro final balbuciarei o seu 
[nome
se eu for assassinado com a boca cheia de sangue gritarei o 
[seu nome
se encontrarem meu corpo boiando no mar no meu bolso 
[haverá um bilhete com o seu nome
se eu me suicidar ao puxar o gatilho pensarei no seu nome
a primeira garota que beijei tinha o seu nome
na sétima série eu tinha duas amigas com o seu nome
antes de você tive três namoradas com o seu nome
na rua há mulheres que parecem ter o seu nome
na locadora que frequento tem uma moça com o seu nome
às vezes as nuvens quase formam o seu nome
olhando as estrelas é sempre possível desenhar o seu nome
o último verso do famoso poema de Éluard poderia muito 
[bem ser o seu nome
Apollinaire escreveu poemas a Lou porque na loucura da 
[guerra não conseguia lembrar o seu nome
não entendo por que Chico Buarque não compôs uma 
[música para o seu nome
se eu fosse um travesti usaria o seu nome
se um dia eu mudar de sexo adotarei o seu nome
minha mãe me contou que se eu tivesse nascido menina 
[teria o seu nome
se eu tiver uma filha ela terá o seu nome
minha senha do e-mail já foi o seu nome
minha senha do banco é uma variação do seu nome
tenho pena dos seus filhos porque em geral dizem “mãe” 
[em vez do seu nome
tenho pena dos seus pais porque em geral dizem “filha” em 
[vez do seu nome
tenho muita pena dos seus ex-maridos porque associam o 
[termo ex-mulher ao seu nome
tenho inveja do oficial de registro que datilografou pela 
[primeira vez o seu nome
quando fico bêbado falo muito o seu nome
quando estou sóbrio me controlo para não falar demais o 
[seu nome
é difícil falar de você sem mencionar o seu nome
uma vez sonhei que tudo no mundo tinha o seu nome
coelho tinha o seu nome
xícara tinha o seu nome
teleférico tinha o seu nome
no índice onomástico da minha biografia haverá milhares 
[de ocorrências do seu nome
na foto de Korda para onde olha o Che senão para o 
[infinito do seu nome?
algumas professoras da USP seriam menos amargas se 
[tivessem o seu nome
detesto trabalho porque me impede de me concentrar no 
[seu nome
cabala é uma palavra linda, mas não chega aos pés do seu 
[nome
no cabo da minha bengala gravarei o seu nome
não posso ser niilista enquanto existir o seu nome
não posso ser anarquista se isso implicar a degradação do 
[seu nome
não posso ser comunista se tiver que compartilhar o seu 
[nome
não posso ser fascista se não quero impor a outros o seu 
[nome
não posso ser capitalista se não desejo nada além do seu 
[nome
quando saí da casa dos meus pais fui atrás do seu nome
morei três anos num bairro que tinha o seu nome
espero nunca deixar de te amar para não esquecer o seu 
[nome
espero que você nunca me deixe para eu não ser obrigado a 
[esquecer o seu nome
espero nunca te odiar para não ter que odiar o seu nome
espero que você nunca me odeie para eu não ficar arrasado 
ao ouvir o seu nome
a literatura não me interessa tanto quanto o seu nome
quando a poesia é boa é como o seu nome
quando a poesia é ruim tem algo do seu nome
estou cansado da vida, mas isso não tem nada a ver com o 
seu nome
estou escrevendo o quinquagésimo oitavo verso sobre o seu 
nome
talvez eu não seja um poeta a altura do seu nome
por via das dúvidas vou acabar o poema sem dizer 
[explicitamente o seu nome”
 
(Fabrício Corsaletti)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

De "Júblio, memória, noviciado da paixão"

"
IV

Que boca há de roer o tempo? Que rosto
Há de chegar depois do meu? Quantas vezes
O tule do meu sopro há de pousar
Sobre a brancura fremente do teu dorso?
Atravessaremos juntos as grandes espirais
A artéria estendida do silêncio, o vão
O patamar do tempo?
Quantas vezezs dirás: vida, vésper, magna-marinha
E quantas vezes direi: és meu. E as distendidas
Tardes, as largas luas, as madrugadas agônicas
Sem poder tocar-te. Quantas vezes, amor
Uma nova vertente há de nascer em ti
E quantas vezes em mim há de morrer."

(Hilda Hilst)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

One day

Há umas duas semanas eu ouvi me perguntarem que, se eu pudesse escolher um único dia para viver, qual dia seria esse e eu não soube muito bem o que responder, não sabia se algum dos momentos que eu já vivi teria carga suficiente para ser o único dia a ser vivido novamente e, como boa indecisa, não respondi nada. Pois acontece que, em um único dia, eu reformei a minha (ausência de) resposta e tive a certeza que aquele dia poderia ser o único a ser vivido e revivido e repetido centenas e milhares e milhões de vezes. O dia foi este último domingo que, como e muito mais do que eu imaginava, ficará na memória. Claro que pelo show maravilhoso do Paul McCartey (o que já era previsível dada a "Síndrome Pré-Paul" que me fez virar noite e chorar descompensada antes, durante e depois da apresentação) e, certamente muito mais, pela surpresa linda que me aconteceu nesse dia. A gente sempre imagina que certos momentos vão ser como nos filmes mas a gente nunca ousa sonhar que os momentos mais especiais podem ser ainda melhores do que as cenas na telona. A gente sempre imagina que vai ter joelhos, um anel lindo e flores.. Mas é impossível imaginar que vai ser embalado a Beatles, com o próprio Paul fazendo a trilha ao vivo, com cinquenta mil pulando e cantando, chorando e vibrando o mesmo momento, mesmo que não pelas idênticas razões. A gente nunca se permite sonhar que a realidade um dia pode ser melhor que a ficção. Que o anel era o único, e tinha que ser aquele e que, surpreendentemente, serviu perfeitamente. Que o par era único, a ida única, a noite única, o final de semana único em que todos os momentos conspiraram para o sete, três dias que 3+7 resultaram num belo dez, o número da perfeição, do equilíbrio entre o homem e a mulher, de pontos brilhantes numa noite cheia de estrelas e chuva de papel picado.
E voltando ao dia único, aquele que eu reviveria pelo resto da vida, escolho o último sete. Porque quando a vida nos surpreende de maneira tão magnífica e conspira para uma conjunção inacreditável de emoções e beleza, sortudos somos nós que vivemos e elencamos para que seja revivido para sempre, mesmo que só na memória do dia mais incrível de toda a minha vida.


"All my loving I will send to you
All my loving, darling, I'll be true."

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Síndrome Pré-Paul

Acho que nunca fiquei tão ansiosa para algum evento, muito menos para um show. É, talvez isso se deva ao fato de que nunca fui apresentada a nenhuma ocasião que merecesse essa sensação estranha que estou sentindo agora, talvez por não ter realmente muitos ídolos, talvez por nunca me importar muito mesmo com eventos dessa dimensão, talvez por não gostar muito de amontoados de gente, talvez por ser pobre mesmo e não ter saco (leia-se: dinheiro) para poder ir a outros desses mega-super-shows. 

Pois então. Meu querido Hector me deu de presente o ingresso para o show do Paul. Tudo bem se fosse só um ingresso e fosse só um show, tudo bem se fosse só um tal de "Paul". Mas não. Paul é aquele, isso, aquele mesmo, dos Beatles, do cabelo de penico dos anos 60, daqueles quatro bonitinhos que revolucionaram a música no mundo inteiro, daqueles sabe, que eu tenho uma camiseta, daqueles que eu tenho a discografia e um livro lindo, daqueles que cantam a minha música favorita (e aqui um claro protesto por saber que não vou ouvir esse Paul cantar a minha "Don't Ever Change" nesse domingo), daqueles que tenho um bottom e dez mil vontades de ter sido uma adolescente no auge dos 60's. O mesmo Paul daqueles Beatles, daquela década que é a mais próxima de resumir meu gosto musical, é a década de ouro de Elvis, Ronettes, entre dez mil outros, incluindo os brasileiros que também amo de paixão. E, quando eu penso em tudo isso, "Paul" deixa de ser "Paul" e passa a ser algo como uma lenda, um mito e eu encho o olho de lágrimas de ouvir aqui Hey Jude e pensar que domingo serei eu lá, junto com 50 mil, "na na nananana nanana hey juuuuuuuude". Paul passa a ser o mesmo pretty face, o mesmo rostinho que emociona multidões há meio século. Meio século, vai saber o que é isso...

Enfim, pela primeira vez eu sinto o mais próximo que eu talvez vá sentir na minha vida inteira daquele sentimento que chamam de fã. Tenho certeza que nessas duas noites que faltam, eu mal vou dormir. Mal consigo controlar a minha ansiedade e não tô conseguindo dormir, única razão para vir escrever a essa hora mesmo sabendo que amanhã cedo preciso deixar tudo arrumado para me jogar para Porto no sábado pela manhã. Ouvindo Beatles, bebendo suco de uva e sonhando com a noite do dia sete. Sete né, tinha que ser sete. A noite que, muito provavelmente, vai ser uma das mais mágicas da minha vida. É a oportunidade única de ver o sonho se tornar realidade. De deixar os vídeos em p&b para ver ao vivo a minha paixão de pequeninha. Para me juntar aos outros 50 mil para brindar a vida, a música e nananana hey juuuuuuuuuuude.

P.S. - Agora talvez eu entenda aquela legião de fãs histéricas dos 60. E certamente logo logo serei mais uma nessa multidão.

domingo, 31 de outubro de 2010

Carta de amor

"Queria te escrever uma poesia. Queria te acordar no meio da madrugada te repetindo pela milésima vez o tamanho do amor que eu sinto. Queria conseguir transformar em belas palavras um sentimento tão lindo que se deixa transparecer nos meus olhos. Queria sussurrar no teu ouvido que vamos embora daqui, pra qualquer lugar. Queria poder te dizer "eu caso", e casar no mesmo momento.

Essa noite, queria que as coisas fossem todas mais simples. Que não existissem nem estradas, nem ônibus, nem uma distância imensa entre nós. Queria poder ouvir teu coração no meu ouvido e não somente no meu coração. Queria virar a madrugada lendo e relendo todos os trechos e frases e músicas e rabiscos que marquei pra nós. Queria virar a noite mergulhada nos teus olhos, e quem sabe virar um dia e mais uma noite e mais um dia talvez. Queria te pegar pela mão, só por hoje. Te pegar pela gola da camiseta, daquele jeito que entrega as minhas intenções. Queria poder simplificar essa equação insolúvel e enigmática que somos nós. Queria poder entender todas as razões que nos trouxeram até aqui.

Queria relembrar tudo o que já vivemos e, ao mesmo tempo, não precisar lembrar de mais nada. Queria não lembrar do passado, nem que há futuro, nem das horas, nem da rotação da Terra, nem do ar dos meus pulmões, nem dos mais se seis bilhões de seres que não conseguem se parecer contigo - porque, pra mim, rudo em ti é especial e encantador, não importa o quão banal tal coisa possa parecer aos outros -, nem de quantas estrelas eu já tentei contar e de quantas vezes eu te espero a semana toda pra te ver voltar pela mesma porta de onde eu te disse adeus pela última vez.

Essa noite eu queria simplificar todas as coisas do mundo. Pode parar de girar a Terra, só por essa noite. Pode faltar o ar, o mar, o chão, eu não me importo. Desde que eu possa ter você aqui, só por hoje, só por essa noite. Pra poder transformar tantos quereres em realidade. Pra poder te beijar a boca de um jeito bem real e te fazer entender aquelas três palavras que não se dizem em português para que a gente possa continuar sempre fingindo que nunca disse. Eu te amo. Mesmo que só por essa noite."

Assinado, com açúcar e muito afeto.
P.S. - se dane o evangelho e todas aquelas outras mil coisas que já cansei de tentar lembrar da ordem.


P.S.(outro) - porque um sentimento tão bonito não merece ficar guardado numa caixa de e-mail pelo resto dos seus dias.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Em Xeque


Por à prova, todos os dias, os mesmos sentimentos. As mesmas sensações, confrontar o velho e o novo, descobrir e redescobrir paixões empoeiradas num canto do peito. Acreditar em destino, duvidar dele, não acreditar em nada. Mas não conseguir desacreditar do cheiro que parece não apagar nunca mais do olfato, daquelas velhas memórias que invadem e das novas que vêm para repartir o espaço e tentar tomar-lhes o lugar e, feliz ou infelizmente, não conseguirem. O que me importa, já está há muito demarcado no coração. E parece que as velhas-novas sensações são tão surpreendentes como se fosse sempre uma nova primeira vez.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Nós e os ET's

"(...)
Se formos os únicos no Universo, deveríamos nos perguntar por que tratamos tão mal a nós próprios?
Por que boa parte das pessoas busca o dinheiro como se fosse o bem maior do Universo?
Por que somos incapazes de saciar a fome, resolvendo uma das necessidades fundamentais de tudo o que vive?
Por que somos tão estúpidos a ponto de acharmos que não somos tanto assim?
            Se os alienígenas existirem, e um dia nos visitarem, deveríamos nos apresentar como criaturas menos rústicas do que temos sido.
Deveríamos demonstrar que a Terra é um mundo que pertence a todos os que vivem aqui e isso significa que todos deveriam ter abrigo, alimentos e respeito.
            Mas, costumeiramente, nos referimos aos alienígenas como instâncias exóticas e isso faz com que sejamos incapazes de aprender nada com eles.
            Mesmo se, de fato, eles não existirem."

Ulisses Capozzoli, no blog da Scientific American Brasil

A Noite do Meu Bem

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem

Hoje eu quero paz de criança dormindo
E abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de um barco voltando
Quero a ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ah, eu quero o amor, o amor mais profundo
Eu quero toda a beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de um barco voltando
Quero a ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ah,como esse bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda a pureza que quero lhe dar


P.S. Belo achado num cd de Maysa e Dolores Duran.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Monday, monday

Tem dias que bate uma saudade gostosa, não chega a ser aquela deprimente e sufocante, não chega a ser uma saudade que massacra mas é aquela que faz criar asinhas no peito e mais asinhas ainda nos pés. Nesses dias, eu viro as costas para o trabalho e encaro por alguns minutinhos a rua e finalmente consigo ver um sorriso estampado na cara, tenho vontade de sair daqui e fugir do caminho do ônibus da aula e da responsabilidade - essa última que nunca foi o meu forte -, fugir do caminho do sempre e sentar feliz para tomar um sorvete na beira do cais, o sorvete que eu tanto queria hoje não por estar muito calor nem eu por muita vontade do sabor geladinho e doce, muito mais pelo sabor refrescante que o sorvete me traz de uma liberdade ainda que temporária e fugitiva e imediata; tem dias que eu sinto uma pequena vontade de bombardear minhas fraquezas de trabalho e estudos e a insegurança e a frustração e a acomodação que me incomodam tanto pelas escolhas não tão acertadas que fiz nesse sentido, e essa vontade se transforma numa vontade de sair por aí de pés descalços, de abandonar vez por todas o protocolo que tenho que seguir e perder meu tempo por aí, olhando o mar, lendo os meus livros e quem sabe pintando um quadro ou aprendendo música... pois nesses dias a frustração bate mansinha, feito a água da lagoa que beija o cais logo aqui em frente mas que mal tenho tempo de olhar, e sinto a vontade mais intensa ainda de me entregar à poesia ou à dança ou quem sabe somente me entregar à vida, quem sabe alguma vez tomar as rédeas daquilo que desejo fazer e me encontrar em algum cantinho meio escondido, meio escurecido, algum cantinho não importa onde, mas um canto onde eu possa ter um pouco mais de certeza de me ver contente e sorrindo, de frente pro mar, com o meu tão sonhado troféu gelado na mão.

O breve e longo e relativo tempo

Porque quando passa esse filme todo na cabeça, a única confusão que me acontece é a incerteza do tempo real de tamanho acontecimento, é a dúvida sobre quantos são os anos a olhar no fundo dos mesmos olhos, a incerteza das mãos que já podem ter sido outras mãos e os toques outros toques mas, mesmo que outros, ainda os mesmos e ainda com os mesmos sentidos e as mesmas sensações e aquele mesmo brilho místico de fundo e ainda as mesmas belas baladas de embalo, mesmo que estas fossem outras mais condizentes com os tempos que se passaram, mesmo que ainda nem houvesse baladas e nem brilho místico e quem sabe nem um vínculo nem uma mão dada, ainda tudo sempre igual, sempre o mesmo, sempre intocável, imutável, firme e certo. O eco de antigas palavras, já diria Chico, hoje refletido quem sabe em outras histórias que no fundo a mesma história, que se confunde, se perde, se renova e se acha no mesmo chão, nos mesmos passos, na mesma cadência - na cadência dos teus passos (...), no carinho dos teus braços -, mesmo que em outros corpos, outros tempos, outros continentes, outros sonhos, sempre o mesmo. Aquele velho, os escafandristas vieram, encontraram e reencontraram algo que só se reencontra dentro daquele mesmo peito. Por isso me perco no tempo, aquele tempo que não sei mais se é tanto ou tão pouco, se é novo acontecimento ou velha lembrança, pois tudo acontece de maneira tão sutil e (sobre)natural que o relógio e o calendário se confundem e já não há mais tanta importância em contar naqueles dias que inventaram divididos naqueles mesmos meses e naqueles mesmos anos, já que faltariam meses e anos e décadas e séculos e milênios .para saborear a infinidade daqueles sentimentos tão engrandecidos pelo tempo e tão bem concebidos através das eras, faltariam braços e abraços e certamente coração para dimensionar cada uma dessas sensações que, mesmo tão novas, tão velhas e tão conhecidas, tão comuns, naturais e mesmo assim tão raras e tão únicas. Tão breve, tão longo, tão relativo tempo. Tempo todo que me perco bem no meio dos teus braços.

"Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você"


(Futuros Amantes - Chico Buarque)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Undecided



Não sei porque, mas são dias e dias cantarolando essa música sem parar.

"Ooh, It's time to let you know
I don't want to hear you cry no more
Step inside the door
I don't want to hear those lies, I'm sure
I've heard it all before

And you left me waiting so long,
I was waiting so long
I've been waiting so long

Ooh it's undecided love
But you never believe me and maybe I know
Oh, honey, I know, it's undecided love
But you never believe and maybe I know
Honey I know, it's undecided love"

(Magic Numbers)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

broken

O que se quebra, dificilmente volta a ser inteiro.
Infelizmente.

domingo, 17 de outubro de 2010

Te Amo

(...)
E se o tempo levar você, e um dia eu te olhar e não te reconhecer
E se o romance se desconstruir, perder o sentido e me esquecer por ai
Mas nós somos um quadro de Klimt, O beijo para sempre, fagulhando em cores
Resistindo a tudo seremos dois velhos felizes de mãos dadas numa tarde de sol
Pra sempre
Te amo, te amo, te amo
Te amo, te amo, te amo

P.S. E estás aqui do meu lado.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

07

Desconsidere o padrasto, desconsidere as outras 50 mil, desconsidere tão pouco tempo.
Sete é o nosso dia.
E tu sabes muito bem do que eu estou falando.

A dica é aquela do B.B. King. M. Y.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

E finalmente chegará um dia onde eu vou criar coragem e vou romper com esse silêncio. E nesse dia, mesmo que o teu rosto esteja cheio de rugas e meio desfeito pelo tempo, minha memória fará questão de refazer reorganizar rearranjar todos os teus traços e voltarei a te enxergar com os quase dezesseis com que te encontrei, voltarei a me enxergar no espelho como aquela velha que batia na porta e novamente nela baterei, meio escorada meio amparada por aquela parede rosada naquela ruela que demorei muito tempo para aprender o nome mas que nesses últimos trinta e cinco anos  - ou quarenta ou até quarenta e cinco, já não sei mais há quantos não te vejo - nao me sai nunca mais da cabeça, aquele nome comprido e esquisito que eu prefiro não escrever nesse diário; sei que encontrarei nesse dia novamente aquela porta branca da maçaneta engraçada que me deixava esperando do lado de fora e encontrarei mais uma vez teus olhos de menino encravados numa pele enrugadinha ou gordinha ou qualquer outro simpático diminutivo que dê a ti a graça com que te conservas nas minhas memórias. E nesse dia talvez mais uma vez eu te pegue pela mão ou te dê aquele beijo estalado na bochecha que ainda deve ser tão gordinha como costumava ser sob a sombra daquela mesma árvore há tantos verões atrás ou te encontre mesmo sem saber teu próprio nome como pode acontecer de um dia eu perder completamente os sentidos que me sobram mas com a certeza de que sem saber meu próprio nome eu recordarei teus olhos verdinhos corroídos por uma ferrugem natural e recordarei diversas noites sob a lua na beira da praia mesmo sem saber direito quantas primaveras se foram sem que eu pudesse ter o prazer de pegar a tua mão ou qual seria o nome do par de olhos com que sonhei por toda a minha vida. São todos os devaneios de uma velha louca que relembra um par de olhos, um cheiro, uma música e uma mão - e mais o nome da rua e a casa rosada e a portinha branca -, são as vontades de escrever a ti de quem já nem sei se lembro como pronunciar o nome, de te contar que vivi muito bem, obrigada, que passei feliz todos os últimos anos que pareceram décadas e todas as décadas que pareceram cada uma um milênio inteiro perdida a pensar em coisas que não deveria e me culpando por não poder pensar nas coisas que realmente pensei, de te contar do peso e te pedir desculpas por ter te deixado - mesmo quando sei que tu me deixaste também -, mas eu era para ter insistido, esperneado, batido muitas outras vezes na velha portinha branca e não só ter virado as costas deixando uma mensagem e um beijo no rosto e do não saber que cada um desses dias de ausência seria um peso que tantos anos depois eu descobriria que nunca se fora completamente e que a cada dia que passa a memória se torna mais viva e completa e enfeitada - deve ser o efeito dos meus remédios ou desses tantos anos que fazem com que a história adquira um brilho que originalmente não tinha e talvez nunca tivesse caso algo no rumo da coisa tivesse se dado de modo diferente. Te diria que não faria nada diferente e relembraria da imensa briga que comprei por ti - aquele outro que até hoje deve me odiar também - e te diria que depois de tudo também não mudaria nada, tua presença também se fez mais necessária nos meus sonhos do que na minha vida. Te agradeceria por manter por tantos anos o meu coração quente, te agradeceria por ter ido embora.
Te agradeceria por me fazer sentir um amor que eu jamais sentira.
Vou pegar o primeiro ônibus, quem sabe seja hoje o dia de bater à tua porta. Espero não te encontrar tão velho a ponto de não me reconhecer. Espero te encontrar tão jovem que eu consiga te encontrar. Tão jovem que eu possa fazer o que talvez sempre quis: me encontrar de volta de onde me tomou teus olhos.


"De você, não esqueço jamais."

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

desejo

Que seja doce e seja belo e raro e simples e mesmo que seja tão fluido tão rápido tão leve seja sublime seja inesquecível seja incomparável seja inesquecível e quem sabe assim seja tão eterno tão amável tão inigualável e se torne tudo tudo tudo - mesmo que por um instante não seja muito mais do que nada.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Outra Vez

Quando tudo desanima, me bate sempre a mesma saudade. E eu ouço todas as vezes a mesma música. Aquela que corta o coração, de um jeito gostoso, de um jeito saudoso, de um jeito que nenhuma outra música me faz. Um dia o coração ainda cai, a saudade se esvai, o amor se acaba, os sonhos se perdem. Um dia, que não precisa ser hoje.




"Ah!
Você foi!
Toda a felicidade
Você foi a maldade
Que só me fez bem
Você foi!
O melhor dos meus planos
E o maior dos enganos
Que eu pude fazer...

Das lembranças
Que eu trago na vida
Você é a saudade
Que eu gosto de ter
Só assim!
Sinto você bem perto de mim
Outra vez....
"

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Forever Lost

Hoje durante a aula caiu a ficha: o tesão acabou. Há algum tempo eu já me perguntava porque a conversa comigo mesma já não tinha a mesma fluência e hoje a resposta veio sutil e devastadora, ao mesmo tempo. Eu perdi, lentamente, a capacidade de me olhar. De me reconhecer. De conversar comigo mesma. E precisei ter um trabalho de antropologia enfiado goela abaixo para ver que já não flui mais. Eu perdi a capacidade de pensar profundamente, perdi a capacidade de dissertar, de escrever, de contestar, de criar, de mandar tudo pro raio que o parta e começar do zero. Estou acomodada, escorregando pela pelagem do coelho, como diria o filósofo no O Mundo de Sofia. Eu perdi a capacidade de olhar bem dentro dos olhos do mágico que tirava o coelhinho da cartola. Parece que estou anestesiada, forever lost mesmo. Não é à toa que venho buscando mais cronistas do que nunca, buscando que os outros escrevam por mim aquilo que eu sinto. Estou me juntando aos que querem apenas ser representados. Quero é só me identificar. Como se alguém arrancasse os pensamentos da minha cabeça, colocasse num papel e fizesse o favor de me comunicar o que eu sinto. E é como o tesão que se esvai, como a areia que escorre por entre os dedos: não sobrou nada, n-a-d-i-n-h-a.
Sentimentos, sensações óbvias hoje passam completamente despercebidas. Estou anestesiada para o mundo, estou inerte ou, pra me expressar melhor, NÃO ESTOU. Fui dar uma volta em mim mesma e pode ser que não volte nunca mais, que não reencontre minhas críticas, minhas crises, minha identidade confusa e minha. Odeio ter que escrever sobre as crises. Hoje poemas me fluem melhor que os meus próprios sentimentos. Hoje eu não consegui escrever sobre algo que, em qualquer outro tempo, não teria faltado palavra nem linha nem argumento nem profundidade. Estou inerte. Preciso de um tapa na cara, nem precisa ser real, pode ser dos metafóricos mesmo, pode ser uma xícara de chá de depressão ou meia xícara de euforia. Eu estou morna, e eu nunca soube trabalhar em temperatura ambiente. Parece que bailo em mim, coisas automáticas, tum tum tum e acabou o dia, não tive cinco minutos para esfregar a cara no espelho e dizer pra mim mesma "vem cá hein o que tu pensa que tá fazendo da vida?". Cadê as minhas crises, meu Deus? Eu tenho que passar pelo vexame de ter uma crise por não ter mais crises, tsc tsc tsc, mamãe se envergonharia, não é essa a filhinha que ela conhece. Nunca fui eu a conformada, a certinha, a preocupada. Hoje quero agradar, mas eu não nasci pra agradar não, e isso soa tão tão tão falso que não sei se odeio mais quem eu agrado ou se as pessoas que eu tento agradar conseguem me odiar mais.
Once again eu preciso de um choque de realidade. Eu preciso de um pouco de tempo. Eu preciso olhar pra minha cara, mas olhar de verdade, olhar fundinho, me enxergar mais uma vez. Eu preciso me reencontrar. Eu preciso nunca mais me perder.

Sem Fantasia

Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perde-te em meus braços
Pelo amor de Deus

Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu

Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver
Custou tanto penar
Não vou me arrepender
Só vim te convencer
Que eu vim pra não morrer

De tanto te esperar
Eu quero te contar
Das chuvas que apanhei
Das noites que varei
No escuro a te buscar
Eu quero te mostrar


As marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa
Dos carinhos teus

(Chico Buarque)

domingo, 26 de setembro de 2010

Insone

Te vejo dormindo ao meu lado na nossa cama. E tenho a estranha sensação de que quero viver sempre vigiando o teu sono nas minhas madrugadas em claro. Partilhando muito mais que um edredon: dividindo uma casa, uma vida e o mesmo sonho. Aquele de ser feliz sempre.

P.S. não vou escrever mais. Tu acabou de mexer e fiquei com medo de te acordar.