Mesmo mofados, os morangos ainda são morangos.
Mesmo cretina, a nossa vida ainda é a nossa vida.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
tempo
"Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo:nem ele me persegue, nem eu fujo dele, um dia a gente se encontra"
(Mário Lago)
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Para Uma Avenca Partindo
Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viveras superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualqueratraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um diadestes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ......... ............ ............. ............ .......... ........... ............. ............ ............ ............ ......... ........... ............ ............ sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê.
(Caio Fernando Abreu)
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Sol
Eu acordei e pude ler, sentada naquela poltrona que desde a primeira vez me encantou. Eu acordei e tive tempo para ver o sol, a rua, as pessoas, o mar. Acordei e acendi um incenso, acordei e desejei essa felicidade - cumulada com esse sol, essa casa e esse amor tão belo - por todas as outras manhãs da minha vida.
Mesmo que em algumas delas o sol possa querer se esconder.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Satisfação
Sinto uma incomum sensação de satisfação. Com a vida e os rumos que estou tomando, com as coisas que tenho construído, comigo mesma. Me sinto satisfeita e orgulhosa das minhas atitudes e isso é muito estranho para uma eterna insatisfeita como eu. Me sinto plena, por mais que o trabalho ainda seja muito, a faculdade uma merda, a grana pouca e o tempo feio. Nas coisas que são realmente importantes, me sinto mais feliz. Mais realizada. Ouso até dizer que mais humana. Me sinto importante, única e devo tudo isso a mim mesma - por mais que isso possa soar egocêntrico e estranho - por todas as decisões que eu tomei nos últimos tempos.
Somos os únicos responsáveis pela nossa felicidade. A cada dia isso fica mais claro e, a cada dia que passa, eu tenho mais e mais a certeza de ter feito a coisa certa. Deve ser essa estranha sensação de satisfação aquilo que as pessoas costumam chamar felicidade. Que não precisa custar caro, nem ter grandes gestos. Basta um pequeno montante de minúsculas vitórias diárias. Once a day. E minha vida brilha feliz.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Baby
Hoje eu vou chegar mais cedo, amor. Estou levando flores, vou levar um porta-retrato com a nossa foto mais bonita, quero brindar a nossa casa, o início da nossa vida. Hoje vou chegar mais cedo, amor. Me espera com a cama feita, com um banho quente e a disposição de só me encher de beijos. Me espera para abrir as caixas. Me deixa desfazer mala por mala e te dispor organizado na minha vida, como eu quis, pedaço por pedaço nas minhas mãos e pode deixar que tratarei de tudo com todo o cuidado e amor e atenção e delicadeza do mundo. Hoje eu vou chegar mais cedo, amor. E mesmo que eu tenha a minha própria chave, quero que no primeiro dia eu te encontre me esperando na porta do elevador, eu aperto o quinto andar e te encontro lá em cima, quero que tu abras a porta da nossa casa como te abri, pela primeira vez, as portas da minha vida. Hoje eu vou chegar mais cedo, amor. Me espera de braços abertos que eu vou de coração pulando. Me espera com um sorriso no rosto, me espera de qualquer jeito, me espera como quiseres. Me espera que eu vou mais cedo.
Separa um vaso, amor. Estou levando flores. Separa também um cobertor quentinho, uma taça cheia de vinho e um mundo de carinho que hoje eu vou chegar cedinho.
domingo, 5 de setembro de 2010
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Trocando Em Miúdos
"(...)
Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me roubou
E nunca leu
Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde"
Uma maravilhosa do meu cd novo e maravilhoso do Chico. O primeiro de vinte. :)
Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me roubou
E nunca leu
Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde"
Uma maravilhosa do meu cd novo e maravilhoso do Chico. O primeiro de vinte. :)
terça-feira, 31 de agosto de 2010
para as paredes 002
Vou voltar às minhas calças rasgadas
Vou voltar às minhas roupas esquecidas no fundo do armário
Vou voltar para me encontrar no cheiro do mofo
Vou voltar àquela velha
Voltar a mim
Vou voltar
Vou voltar às minhas roupas esquecidas no fundo do armário
Vou voltar para me encontrar no cheiro do mofo
Vou voltar àquela velha
Voltar a mim
Vou voltar
As sutilezas de um amor
"Qualquer frase, em se tratando de nós, que absolutize o amor é um erro. Eu arriscaria dizer que absolutizar o amor é um erro. O amor é o mais relativo dos sentimentos, e aí, meu amor, começamos com o primeiro dos meus paradoxos, afinal essa sentença absolutizou no relativo. Mas explico, amor, o amor é relativo porque ele é individualizável, ele é só nosso e de mais ninguém, o ser não compreende o todo para amar, apenas tenta compreender o seu par, o seu lado... Nisso a razão vira fábula, somos sentimentos, sentir, amar... o amor é a própria condição da alteridade quando o outro falar por si sem dizer nada, o amor é uma amizade rasgada, o amor é um par de olhos verdes e um par de olhos castanhos, o amor é um sorvete, o amor é um milkshake, o amor são quatro letras perdidas no mundo que só ganham sentido conosco, mas eu preferiria dizer com-nós... e quando falo em nós, falo em nós mesmos (eu e tu, tu e eu), essa conjunção improvável de belezas dentro de toda a improbabilidade que é amar. O amor é esse desaguar num e no outro, sem sabermos muito bem como é o fenômeno físico de um rio desaguando no outro, mas tendo a certeza absoluta que sabemos muito bem o que essa expressão significa. O amor é com açúcar, com afeto. O amor é grand hotel. O amor é quem te viu¿ quem te vê¿ o amor é tudo que podemos dizer, porém pouco dele conseguimos falar. O amor é a falta de luz e mesmo assim a diversão. O amor é a foto com teu sorriso cristalizado. O amor é aquela foto. O amor é caminhar de mãos dadas. O amor é estar ao teu lado. O amor é a cabeça no meu peito. O amor é um dia rolando na cama. O amor é roubar a internet do hotel só pra ver o que escreveste. O amor é ficar apreensivo à 1 da manhã. É, o amor é injustificável na sua justificativa. Contudo uma coisa preciso dizer: eu te amo! Obrigado por fazer parte da minha vida."
Valeu
dois namorados
olhando o céu
chegam à mesma conclusão
mesmo que a terra
não passe da próxima guerra
mesmo assim valeu
valeu
encharcar este planeta de suor
valeu
encarar esta vida que podia ser melhor
valeu
esquecer as coisas que eu sei de cor
valeu
valeu
(...)
beijos e abraços
intoxicados de saudade
Leminski
olhando o céu
chegam à mesma conclusão
mesmo que a terra
não passe da próxima guerra
mesmo assim valeu
valeu
encharcar este planeta de suor
valeu
encarar esta vida que podia ser melhor
valeu
esquecer as coisas que eu sei de cor
valeu
valeu
(...)
beijos e abraços
intoxicados de saudade
Leminski
Justificativas de um amor injustificável
Sem nenhuma razão ele me tomou pelos braços e me conduziu à sua vida. Não, não me pegou do braço nem me disse "vem!" nem me levou ao cinema - não naqueles tempos, que nos retraíamos a cada instante que o outro se aproximava - nem me obrigou a decidir instantaneamente o que eu queria da minha vida. Mas me conduziu como um cavalheiro conduz seu par pelo salão de bailes, gesticulando com maestria e me levando a dar cada um dos belos passos da dança, me fazendo dançar ao seu ritmo, me fazendo inevitavelmente cair em seus braços. Me tomou pela mão, aquela mão do pensamento, puxou-a com toda sutil gentileza indispensável à condução de uma mulher teimosa feito eu e soube administrar com paciência e suavidade todas aquelas crises e os momentos de hesitação e dúvida e choro e cenas dignas de Hollywood - com um pouco menos de maquiagem e bem menos glamour, pelas ruas da cidade, um glamour da vida real.
E sem mais nem menos me apaixonei por toda aquela forte delicadeza paradoxal - puxa, como ele adora esse termo, tudo é paradoxal, vivemos num paradoxo, sentimentos paradoxais, me perco no tempo me perco na cama me perco em meio aos lençóis e volto num suspiro para falar de quê? -, é, paradoxal pois, ao mesmo tempo que imperava a sutileza de uma brisa, havia no mesmo trono a fúria de um furacão prestes a me arrancar do lugar frente a tanto comodismo e apego. E sem mais nem porquê as coisas foram crescendo e tomando proporções que ninguém - ninguém leia-se eu e ele, o resto do mundo suspeitava do contrário -, digo, ninguém imaginaria. As mãos se procuravam de leve, os olhos fugiam uns dos outros, um par de verdes se enchia de pequenos diamantes ao encontrar o par de mele as coisas foram crescendo como um bolo feito às pressas, sem muita expectativa e exagerado no fermento - eu sei, péssima metáfora, mas são mais de meia-noite e eu preciso da minha cama e eu preciso ao mesmo tempo te explicar o inexplicável, te fazer compreender o incompreensível, vai me desculpar pela metáfora mas talvez não haja nada nada melhor do que um bom bolo então estou perdoada. E aquela mão me levou para bailar e, não mais satisfeita em segurar esporadicamente a minha, decidiu juntar-se rente ao meu corpo, colar o braço na minha cintura, ajeitar meus colares, me por os brincos e me por a sorrir os dias inteiros. E aquela mão conduz meus passos, aquele braço guia minha dança mesmo por caminhos tortuosos, ao som de Chico ou de qualquer coisa que faça nossos corpos vibrarem, os ruídos das nossas próprias vozes, os embalos de nossos próprios pensamentos ou aquela música, é, aquela mesma que é o silêncio em movimento.
São mil tentativas de justificar o injustificável. De tentar descobrir e redescobrir e ler e reler nos mesmos traços, nos mesmos gestos, na mesma trajetória espontânea de encontro de nós dois, o porquê de um amor. Mil tentativas de racionalizar o irracional e de tentar te explicar coisas que só um par de olhos pode te contar. Um dia ainda listarei todas as razões porque me apaixonei; quando talvez eu conseguir descobri-las.
Um dia ainda te justificarei o injustificável. E voltaremos, mais uma vez felizes e dançantes, ao nosso amor injustificado e irracional.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
para as paredes 001
Deprimente é ver que quitamos as dívidas com livros mais rápido do que podemos dar conta deles.
Deprimente é ver que o dinheiro disponível para adquiri-los é inversamente proporcional ao tempo para saboreá-los.
Vejo isso em mim mesma,
Credo
Deprimente é ver que o dinheiro disponível para adquiri-los é inversamente proporcional ao tempo para saboreá-los.
Vejo isso em mim mesma,
Credo
Here Comes The Sun
Há algum tempo eu acordo odiando as segundas e hoje, por mais inacreditável que seja, esse sentimento desapareceu. Hoje vi algum brilho na segunda, algum brilho naquela mesma rotina de que eu nunca tenho tempo para nada, algum brilho nos dias cheios, nos horários marcados. Deve ser só algum otimismo passageiro e provavelmente eu vá voltar a odiar a segunda, toda segunda, o recomeço. Mas é por ser recomeço que hoje me encanto por ela. O reencontro, o recomeço, o renovar de uma velha rotina. E a culpa de todo esse otimismo deve ser a ligação das sete e a música dos Beatles, não há nenhuma justificativa melhor pra tanto brilho nos olhos numa segunda de frio.
domingo, 29 de agosto de 2010
Palavras de Chico
Já ouvi muitas pessoas falarem de um amor embalado a Elvis ou Beatles. Mas embalado a Chico, acho que é mais difícil. Chico, que sempre rouba as palavras certas e traduz o amor em finas linhas, suficientes para encher de emoção o coração e fazer passar pela cabeça um filme feito de imagens e fotos e alegrias e imagens e felicidades cotidianas. Falando em Chico, falo em tantas músicas mas só hoje tive coragem para escrever sobre aquela música, sabe. Aquela que faz o coração pular; aquela que, muito antes do amor ser amor, já embalava os corações. Falo de uma música toda especial, que eu cantarolava pelas ruas na esperança daquela outra voz vir me fazer companhia num dueto. Queria eu ser Nara naquele momento, no meio da rua, encontrar meu Chico para dividir a canção no meio da chuva, no meio do dia, no meio do nada. E, no meio de tudo, nós dois. Toda semana eu fazia o seu doce predileto, esperando você parar em casa. E você veio. E parou. E eu abro meus braços pra você.
Deve ser Chico o som ideal para embalar dois apaixonados - apaixonados por ele e por nós mesmos.
Deve ser Chico o som ideal para nascer uma paixão.
E deve ser Chico o som ideal para um amor nunca morrer.
"E abro meus braços pra você..."
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
queridíssimos
vi ontem na tv o "three seconds to hell" do aldrich
é a história de um grupo de desmontadores de bomba
na alemanha do após guerra
um erro mínimo e a bomba PUM ! na cara do desmontador
escrever poemas é assim
um erro e o poema explode na tua cara
Leminski
é a história de um grupo de desmontadores de bomba
na alemanha do após guerra
um erro mínimo e a bomba PUM ! na cara do desmontador
escrever poemas é assim
um erro e o poema explode na tua cara
Leminski
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
22:49
Preciso urgentemente voltar a escrever. Faz muita falta nos meus dias esse tempo que eu reservava só para olhar para dentro e ver e rever e descobrir e reencontrar meus traços, minhas ambições, minhas saudades, alegrias e frustrações. Me faz falta pensar em mim. Faz muita falta olhar pra si mesmo.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Bom Dia
Eles eram a água e o vinho. Ela era o vinho, um bom vinho, com qualidades nobres, um vinho jovem, por assim dizer, mas, mesmo assim, um vinho de grande qualidade. Um vinho de uma família nobre, orgulho por suas qualidades, como todo o bom vinho, exigiria do seu degustador uma tripla habilidade e uma extrema sensibilidade: exige o olhar, o nariz e a boca, esses três, sem falta. Mais do que três sentidos, requer-se sensibilidade dos três sentidos, sensibilidade extrema, não basta sentir, não basta ver, não basta cheirar, é preciso uma conjunção quase sobrenatural para compreender o que se vê, o que se cheira, o que se sente. É isso que esse vinho exige, como uma mínima moralia existencial, ou seja, ou o degustador tem essa habilidade ou perdeu de provar o melhor dos vinhos. O vinho é a bebida dos deuses para alguns, cultuado e adorado por gerações, passou pela idade da pedra, pelos egípcios, pelos cânticos chineses (receitando-o para aliviar a tristeza). E ela era o vinho que via em outras famílias de vinho a qualidade, a nobreza e o retinto igual ao seu, vinhos com traços jovens, verdes, por assim dizer, com um bouquet jovem, que precisariam ainda de tempo para saber se se tornariam um bom vinho ou eram apenas um vinho. Dela, todos sabiam, a espécie de uva e a cepa que pertencia, seu bouquet encantava a todos revelando traços que só esse vinho tinha, nenhum outro seria capaz, por isso vivia entre os melhores vinhos e assim seguia, de garrafa em garrafa, de bouquet em bouquet procurando uma conjunção capaz de produzir uma uva e um vinho superior. Ele era a água, observava com distância tudo, invejando-a por suas qualidades, sem que pudesse se aproximar, afinal era simplesmente uma H2O, duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio, era facilmente trocável por qualquer outra bebida que se fosse encontrada à mesa, bastava um daqueles refrigerantes, aos quais alimentava uma ojeriza incrível, que seria trocado. Diferente do vinho, quando muito era insípida, inodora e incolor, qualidades precípuas de uma boa água, mas que, em geral, não correspondem as qualidades apresentadas. Ficava extremamente triste por não ter degustadores em seu entorno, debatendo suas qualidades, sua família, seu bouquet. Aliás nem bouquet tinha, o que deixava a água extremamente entristecida. Ela nutria uma admiração e paixão por aquele vinho, que deixava todos à mesa estupefatos. Essa atitude gerava riso entre os outros vinhos. Ela, que era um vinho nobre, olhou com bons olhos o amor da água, mas sentia não poder corresponder, por ser um vinho. Não menosprezou ou fez troça do amor d’água, apenas não via compatibilidade. A água seguia indelével no seu desejo de estar com aquele vinho, sabia que tinham diferenças, que eram diferentes, mas e daí, por que não a água com um vinho? O vinho começava, pouco a pouco, a acreditar numa conjunção improvável e dessas improbabilidades o vinho começou a querer estar com a água. Num dia desses, desses que são tão mágicos que não precisam ser datados, ela foi de mansinho e ingressou na garrafinha d’água, misturaram-se e, dizem os especialistas que presenciaram o fenômeno, que ali surgia o melhor vinho já conhecido na história. Os outros vinhos caíram em inveja, as águas disseram que aquilo seria fugaz, mas até hoje, dentro de uma dimensão de tempo, que só os deuses sabem contar, essa conjugação permanece intacta, alimentada pelo amor entre o vinho e a água. Te amo.
Beijos, Hector
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