terça-feira, 24 de maio de 2011

Terças-feiras de solidão

Admiro quem sabe viver sozinho. Admiro aqueles que nascem sabendo seu lugar no mundo, que se orientam sem precisar de ajuda e que perseguem seus objetivos sem que haja alguém para guiá-los. Admiro quem sabe apreciar a solidão em tempo integral, o único prato na mesa, quem troca os móveis de lugar e fica satisfeito mesmo sem ter ninguém para quem mostrar a nova organização da casa. Eu não sou assim.
Sempre adorei solidão, porém aquela solidão com hora marcada para ter fim, aquela que se esvai com apenas um telefonema ou às quatro da tarde de uma quinta-feira, quando o outro deixou claro que chegaria em casa. Preciso de um tempo sozinha, mas minha solidão não é exigente. Sei ser sozinha com outra pessoa em casa, sei ser mais sozinha com alguém estalando os pratos na cozinha ou arranhando notas de violão pela sala. Com companhia, minha solidão é mais feliz.
Eu admiro e reconheço aqueles que vivem e erguem sozinhos suas vidas, mas pra mim esse caminho não funciona. Fico perdida sem o outro prato na mesa, sem o corpo do outro lado da cama, sem o rastro de toalhas molhadas que torna óbvio que mais alguém esteve ali. Não sei me arrumar para mim mesma, me enfeitar para mim, cozinhar para mim, viver só para mim. Preciso de elogios matinais, beijos inesperados, preciso ouvir o ranger da maçaneta enquanto preparo a comida ou ter a certeza de que há alguém lá, mesmo que do outro lado da casa. De alguém para quem me vestir, de alguém por quem me despir, de alguém em quem pensar em tempo integral. A vida só tem graça quando temos alguém por quem viver.
Hoje é o meu dia de ficar sozinha; são as vinte e quatro horas mais torturantes da semana. É a solidão indesejada, a que não vai ser perturbada nem interrompida, a certeza de que lerei o livro até o fim sem precisar parar para descrever o que leio ou para prestar atenção no que ele lê. Hoje é o dia que viro as costas para a minha casa, vou almoçar fora, remover da memória o lado vazio da cama, o prato e a casa que acordou hoje exatamente como a deixei ontem. Preciso de alguém que interrompa meus pensamentos, critique minha solidão, minha roupa, meu molho, minha maneira de organizar os livros. Preciso de alguém que divida comigo a casa, as tarefas, os sonhos, as angústias e os sentimentos. Preciso de amor, em tempo integral.

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