segunda-feira, 30 de maio de 2011

Cartas (e caixas) de amor

Guardo todas as cartas de amor num mesmo lugar. Percorro caixas, gavetas e classificadores em busca de mais alguma que tenha ficado perdida dos meus constantes cuidados de guardá-las na caixa preta de bolinhas brancas. Guardo todas as cartas de amor como um grande catálogo, um índice remissivo da minha paixão. Há aquelas que eu nunca consigo armazenar na caixinha que fica à vista bem no meio da sala, são as que se arquivam diante da nossa pequena (?) biblioteca de amor. Colecionamos livros com dedicatórias apaixonadas, como um adiantamento da herança aos nossos filhos. Empilhamos volumes e mais volumes com versos e diversas cartas na primeira e última página, amontoamos bilhetes e letras sublinhadas nos parágrafos dos tantos primeiros capítulos.
Guardo todas as cartas de amor pois não quero me perder nem do amor nem das lembranças. Guardo todas as cartas para que um dia elas sejam  lidas e tocadas por pequenos olhos e dedos curiosos em saber a origem de um amor anterior à sua própria existência. Guardo todas as cartas de amor pois vez por outra recorro à caixa para me deliciar durante a tarde; para que ele nunca se esvaia pelo meio dos nossos dedos. Conservo as cartas com a devoção de quem conserva o próprio amor, como uma forma de vê-lo sempre renascer e florescer diante de belas palavras e de poesias dedicadas. As nossas cartas de amor são como pequenos bombons em tardes de inverno, saboreadas devagar, apreciadas como a música de Elis, valsadas pela casa em silêncio.
Penso em separar os livros com nossas cartas dos outros volumes que se acumulam na nossa casa, em fazer  uma pequena biblioteca do amor - desde que tirei da cabeça a ideia absurda de arrancar as primeiras e últimas páginas de todos eles para que pudesse manter todas juntas na minha caixinha. Guardo todas as cartas como uma parte da herança dos nossos filhos. Para que a eles seja sempre palpável o amor que respiramos uma vida toda.

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