segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sentimentos - para as paredes 009

Hoje eu li algo que falava sobre paixão, que exalava paixão. Não aquela paixão da carne, não a paixão física, não por alguém, não a paixão direcionada, mas li sobre uma vida que se definia como sendo puramente paixão. Simples paixão.
Fiquei surpresa, atordoada com aquele tanto de paixão e comecei a procurar em mim onde estariam os vestígios dessa paixão gratuita, se é que ela existe em mim. Procurando paixão, encontrei-a nos lugares mais óbvios, consegui materializar a palavra em alguns rostos somados com mais uma meia dúzia de outras palavras igualmente apaixonantes, consegui encontrar paixão em alguns gestos, em determinadas atitudes e em uma pequena quantidade de objetos. Em nenhum lugar consegui encontrar aquela paixão gratuita. Não encontrei paixão em nada que faço além das atividades cotidianas. Tentei reduzir a significação de paixão para prazer - novamente não o físico, não o direcionado, não o personificado -, mas o prazer em algo além das obrigações cotidianas. Busquei o prazer e só consegui encontrar sentido semelhante nas coisas que não faço mais, nas coisas que não me permito mais. Encontrei em alguma quantidade significativa de livros, em algum gênero de música, em uma breve exposição ao sol e em alguns longos passeios despretensiosos pelas ruas de uma cidade quase desconhecida. Não consegui encontrar nada na minha rotina que me remetesse a paixão e prazer e que estivesse ligado somente a mim, sem personificação, sem rostos, sem terceira pessoa. Não consegui encontrar nem um rastro de paixão nas aulas que assisto, nos livros que sou obrigada a ler, nas pessoas com quem me deparo durante toda a semana. Ainda um pouco perdida nas buscas de significados no interior e na briga pela redução de sentidos para me convencer que nem tudo está tão perdido assim, tentei uma última redução. Busquei a satisfação, como algum rastro da generalização da paixão e em seguida do prazer também. Encontrei satisfação nas mesmas coisas onde encontrei paixão e prazer, mas não a encontrei onde já não havia encontrado seus irmãos mais velhos. Encontrei uma fresta de sol por entre as nuvens que hoje insistem em acinzentar o céu e que penetra com timidez a minha sala e encontra minhas pernas estiradas no sofá. Encontrei um rasgo recém aberto no peito com aquela frase que falava de paixão. Só não encontrei a satisfação nas coisas que precisava encontrar.
Mas às vezes é bom rasgar tudo, se perder. Uma leve batida de depressão faz todo o sentido com uma segunda-feira pela manhã. Vou sair buscando paixão, preciso me apaixonar, buscando vida, alguns sorrisos e, caso não encontre nada, pelo menos ganho as esperanças de um sol que conseguiu se desprender de trás das nuvens.

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