terça-feira, 17 de maio de 2011

Certezas

Nascemos em cima de convicções. Nossos pais decidem, desde muito antes de nascermos, quais serão os melhores caminhos para nós, se usaremos chupeta ou não, quando tiraremos as fraldas, qual será a idade certa para entrar para a escola, quais as características que deverão ser aprimoradas desde pequenos para que sejamos pessoas boas e honradas. Crescemos em cima de convicções. Cremos que seremos os melhores para nós mesmos - ou para os nossos pais e seus anseios -, que a escola é o único caminho de nos tornarmos alguém, que a faculdade é a única opção após o ensino médio, que a vida possui um roteiro a ser seguido para que não soframos ou nos decepcionemos e que, caso nos desviemos do caminho inflexível que ensinam desde que nascemos, seremos infelizes e frustrados. Crescemos acreditando que homens bem-sucedidos são aqueles que têm carro do ano, casa própria e diploma na mão; mulheres felizes são as que conjugam diversas funções, são as que nunca cogitariam abandonar a faculdade ou a profissão para se dedicar aos filhos, à casa ou simplesmente à musica ou alguma atividade que lhes dê mais prazer do que algo que traga dinheiro.
Nascemos e crescemos reproduzindo certezas, convicções infundadas e apenas repassadas de pai para filho, sem muitas vezes questionar se é essa a vida que queremos levar, se fazemos questão da faculdade, do carro zero, da segurança financeira. Nascemos e crescemos construindo, acumulando e reproduzindo frustrações. Quando crescemos mais um pouco e de dentro de nós está próxima a saída de um ser indefeso diante de tantas convicções, repensamos muitas das coisas que nossos pais e todos ao nosso redor sempre ensinaram como o certo a fazer. Questionamos as atitudes e as posturas daqueles que, apesar de terem pregado tantos ideais, muitas vezes se desviaram do caminho ensinado - seja por vontade, por falta de outra opção, seja para consertar algo que ficou para trás, seja para recuperar um tempo dado como perdido. Questionamos os valores que construímos para as nossas vidas e se realmente são aquilo que queremos e devemos passar adiante e, assustadoramente, descobrimos que uma reciclagem de nossos hábitos e principalmente de nossos pensamentos é necessária para que não sejamos responsáveis pela formação de alguém infeliz na sua essência.
Depois de um tempo, conseguimos libertar um pedacinho de nós mesmos dessas certezas absurdas e do molde ao qual tentávamos a vida toda nos adaptar e que, por alguma razão, não nos caía muito bem. Depois de um tempo, conseguimos perceber que nem sempre as convicções são tão convictas assim e que as certezas se esvaem diante da primeira pergunta a qual a submetemos. Depois de algum tempo, na ânsia de sermos diferentes, de proporcionar aos nossos uma perspectiva mais humana e a possibilidade de um pouco menos de frustração do que os nossos pais, mesmo que com a melhor das intenções, puderam nos proporcionar, reconsideramos as nossas atitudes diante da vida e reavaliamos a importância de diversas atitudes na composição daquilo que chamamos felicidade. Temos que descobrir sozinhos o caminho da felicidade e aprendemos da maneira mais difícil que a vida não é linear nem rígida, temos que nos descobrir e encontrar sozinhos o caminho que nos realiza, precisamos enxergar que os próximos passos serão sempre opções e não sentenças, que a felicidade pode se esconder atrás das menores coisas e que alguns de nós nunca nos consideraremos felizes apesar do carro do ano, a casa própria, o marido e os dos filhos.

Os pais não nos ensinam mas, depois de um tempo, percebemos que o amor supera as certezas e, principalmente, a falta delas. Os pais também têm que guardar os seus segredos, têm que nos cobrir de certezas para que possamos reagir, nos descobrir delas e encontrar nossos caminhos. 
O bom da vida é se mover de paixão, do despertar ao adormecer.

P.S.- ainda agradeço à minha mãe pelos conselhos com as drogas, com as minhas escolhas e, ultimamente, com as roupas de bebê. A felicidade ela confiou que eu descobriria sozinha, ela nunca duvidou que eu conseguiria.

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