quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Eu, tu, ele

"(...)Sei pouco de ti, apenas suspeito da tua existência desde quando descobri que nem eu nem ele éramos os donos de certas palavras. Como se tivesse percebido um espaço em branco entre ele e eu e assim - por exclusão, por intuição, por invenção - te adivinhasse dono desse espaço entre a luz dele e o escuro de mim. Tateias, também? De ti, quase não sei. Mas equilibras o que entre ele e eu é pura sombra."

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

cinza

preciso fazer tudo logo, logo, logo pra ver se o tempo
passa, deve ser o caio me afetando eu não sinto mais vontade de pontuação
tô me obrigando a colocar vírgulas onde não quero "virgular" talvez me
sinta assim ofegante queira dizer tudo emendado grudado colado sem sentido
nem respiração parece agora que és meu blog pessoal parece que me sinto à
vontade pra compartilhar todas as coisas que eu sinto mesmo quando falta a
respiração pros pensamentos (seria respiração mental o espaço entre um
pensamento e outro?) mas sei que contigo me sinto em casa sofá fofo chá na
mesa pés pra cima e tu aqui como se fosse meu psicólogo (respiração mental)
mesmo eu sabendo que és meu companheiro nunca em sã consciência teria a
cara de pau de dividir contigo essas coisas que tô dividindo agora
(respiração mental procuro processo respiração mental mordo a borracha abro
a bala tiro a pulseira reclamo do esmalte descascado abro página computador
lento respiração mental batuco a régua merda de computador lerdo que não
anda merda de tarde cinza que não azula nunca merda de cabelo molhado que
eu não posso prender respiração mental não posso falar tanto palavrão assim)
sinto sua falta sem ponto nem vírgula nem nada que separe todas as razões
de só querer estar contigo nessa tarde cinza nesse dia frio nesse cais
vazio nessas nossas tantas razões de querer e de gostar e de valorizar que
eu já perco tudo perco a vírgula perco o ponto perco o trilho o caminho a
vontade e escrevo já e que vá pro raio que o parta se reclamarem que estou
escrevendo respiração mental não devo mandar todos ao raio que os parta ia
ficar feio eu gosto daqui gosto do sol na cabeça do cais brilhando atrás de
mim de ver teu sorriso às seis quando me esperas descer as escadas do
antigo prédio amarelo quando trazes balas ou quando eu escrevo mil bilhetes
que nunca te entreguei talvez porque sejam tão sem sentido que eu teria
vergonha que tu os abrisse ainda mais na minha frente respiração mental
porque tens a mania de abrir meus bilhetes na minha frente aí fico roxa
azul e já não me aguento mais de tanta vergonha acho tudo que escrevo bobo
feio estúpido estúpido sem sentido como tudo o que escrevo agora e não sei
porque clicarei naquele botão que diz "send" ali em cima e te enviarei
todas as minhas loucuras respiração mental talvez minha cabeça não esteja
mais pensando e sim só os meus dedos digitando e vejo carro placa carro
placa computador flor mesa café maçã mulheres trabalho trabalho papel
processo processo óculos uma mancha de dedo nos meus óculos só não vejo a
ti procuro em todos os lados e tu és a única coisa que não encontro nem na
mesa nas cadeiras nas plantas nas estantes nos livros na carteira nos
processos nos papéis nos colegas nos monitores nas maçãs nem nos cafés só
te vejo aqui e isso merece um ponto pra separar de todas as outras
maluquices porque talvez seja a única coisa mais sã que possa aparecer
entre tantas as bobagens que estou escrevendo e dizendo que bobagem mas que
mesmo assim vou enviar de qualquer jeito. só te encontro em mim. 

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ando

"Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis."

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

15 minutos

As tardes estão cada vez mais corridas. A vida passa bem debaixo do meu nariz e mal tenho tempo de senti-la passar por mim, não tenho tempo de sentar e observar o sol descer, nem nascer, nem brilhar. Minha frase favorita - ou, se não favorita, ao menos a mais utilizada - tem sido "NÃO TENHO TEMPO". Não tenho tempo de dar um longo abraço em quem eu amo ao me despedir, nem de me perder na cama por mais quinze minutos ao acordar, nem de me pegar lendo um livro no meio de uma tarde de sol na beira do cais. Não tenho tempo, corro de um lado para o outro sem tem a mínima ideia de onde quero chegar. E, quanto mais corro, mais me sinto perdida. Menos vejo sentido em todos esses papéis, em toda a burocracia, rituais e pequenos sacrifícios a que me submeto. Porque se a vida é feita de pequenas delícias, pequienos prazeres, tenho morrido sozinha nos meus pequenos sacrifícios. É o tempo que me falta para o abraço, para o beijo, para dizer eu te amo, para dizer eu sinto sua falta. Falta da minha casa, dos meus livros, de andar de pijama, da minha amiga com quem eu ando tão relaxada. Ela é o que mais me dói em toda a correria, é a parte que mais me machuca de toda essa vida passando assim. É dela que eu sinto falta quando viro as costas à essa montanha de papéis inúteis e que não me trazem nenhuma felicidade. É dela que eu sinto falta, quando viro as costas e vejo, logo atrás de mim, o cais a brilhar e as lembranças nossas que ele traz, suaves como a brisa e devastadores como o mar.

E volto ao trabalho.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

caio

"Eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada só olhando e pensando meu deus mas como você me dói de vez em quando"

domingo, 1 de agosto de 2010

Sunny



P.S.: you make the sun come up on a cloudy day.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Teresa

Com aquela caneta azul, que rabiscava o vidro, rabiscava em mim, voltava ao vidro, ao espelho, escrevia em meu corpo, me desenhava corações, escrevia em si próprio, voltava ao vidro, apagava para reescrever. Com aquela caneta azul, com aquele rabisco em mim, me senti Teresa. Como parte de um livro, um livro escrito em mim, com as páginas perdidas pelas paredes do nosso banheiro, a história misturada com o cheiro do nosso apartamento, o sabor em nossas taças de cristal com o resto do vinho da noite passada, com a vela perfumando o ambiente e o sol entrando por aquela fresta tímida que ele fazia questão de tapar para me proteger dos olhares curiosos. Com um pequeno rabisco, me senti viva. Um desenho no peito, um número, um coração e me senti Teresa. Realmente o centro de alguma coisa, talvez por uma única vez.

E quem sabe eu vá desistir disso aqui para me tornar Teresa. Para deixar que ele escreva toda a sua história em nossas paredes, em nosso chão, nas nossas taças, nossos livros, em mim.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Apaixone-se

"Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada dois em um: duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.  
Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto. Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém."

( John Lennon )

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Baby I Love Your Way




Uma música maravilhosa embalando um final de semana maravilhoso.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Fragmentos disso que chamamos de "minha vida"

"Há alguns anos. Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos.

Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania."

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ordinary World

 
"What is happening to me?
Crazy, some'd say
Where is my friend when i need you most?
Gone away

But i won't cry for yesterday
There's an ordinary world
Somehow i have to find
And as i try to make my way
To the ordinary world
I will learn to survive"

(Duran Duran)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Cinza

Hoje o céu pode estar do azul que quiser. Pra mim, ele ainda estará cinza.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Veja Bem, Meu Bem

"Enquanto isso, navegando vou sem paz.
Sem ter um porto, quase morto, sem um cais.


E eu nunca vou te esquecer amor,
Mas a solidão deixa o coração neste leva e traz.


Veja bem além destes fatos vis.
Saiba, traições são bem mais sutis.
Se eu te troquei não foi por maldade.
Amor, veja bem, arranjei alguém
chamado "Saudade'."

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Será

Deve ser amor o nome dessa pontinha doída no meu coração. Deve ser amor o que me faz olhar mil vezes para a mesma janela, abrir mil vezes a mesma porta, mesmo sabendo que não há ninguém ali. Deve ser amor o nome que se dá à essa esperança de te encontrar em cada esquina. Deve ser amor o nome que se dá ao meu sorriso bobo e meu coração quase pulando fora do peito. Deve ser amor o nome de todas as formas como eu te olho e como te imagino e como sonho que seremos nós. Deve ser amor o nome de toda a vontade de te ver e também deve ser amor o nome daquela contagem dos dias que eu faço pra te reencontrar.
Deve ser amor tudo isso que eu sinto. Deve ser de amor tudo isso que eu falo.

Mais que amor, isso se chama saudade.

O Ritmo da Chuva


"Olho para a chuva que não quer cessar
Nela vejo o meu amor
Esta chuva ingrata que não vai parar
Pra aliviar a minha dor

Eu sei que o meu amor pra muito longe foi
Numa chuva que caiu
Oh, gente! Por favor pra ela vá contar
Que o meu coração se partiu

Chuva traga o meu benzinho
Pois preciso de carinho
Diga a ela pra não me deixar triste assim...
O ritmo dos pingos ao cair no chão
Só me deixa relembrar
Tomara que eu não fique a esperar em vão
Por ela que me faz chorar 
(...)"

domingo, 11 de julho de 2010

Luz Negra

Pedida pro fim de sábado é o meu dvd novinho da Fernanda Takai. Lindo, gostosíssimo e que vou deitar pra assistir do início ao fim, com direito a todos os extras. Vai faltar o vinho, faltar aquela companhia, mas uma voz suave e músicas bonitas já são suficientes para encher uma sala de poesia e o meu coração de felicidade. O dvd chama Luz Negra e, como eu não entendo porra nenhuma de música, não sei dizer quais notas com inspiração de fulano de tal e quais melodias com inspiração em qualquer-estilo-musical-que-não-sei-de-onde-veio-em-1950. Só sei que são letras bonitas, algumas regravações de Nara Leão, um pouquinho de Roberto Carlos (resumindo, um deleite pra minha humilde opinião musical) e que ela, com a voz macia que tem, faz ficar delícia e com uma perspectiva nova algumas antigas conhecidas e me faz apaixonar por mil outras desconhecidas. Vale a pena dar stop na rotina pra aproveitar esse momento.

Já postei duas outras desse dvd. Mais uma não fará mal a ninguém.



"A saudade me dói, o meu peito me rói
Eu estou na cidade, eu estou na favela
Eu estou por aí
Sempre pensando nela."


P.S.- só vai faltar você.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

É (2)


Somos como bêbados que juram saber a hora de parar. Será que sabemos?

terça-feira, 6 de julho de 2010

Janela

Ela espera, observando a rua vazia através da janela. Ela vê a neve esbranquiçar o pátio, o sol sair, as folhas caídas pela grama verde, o desabrochar das flores... E o tempo vai passando. Ela espera, mesmo sem nunca ter declarado que lhe esperaria, não deixa um dia de ir até a janela e se flagrar fitando os carros que param por aí, na esperança de ver aquele rosto descer de braços abertos e malas na mão.
Ela espera mesmo tendo dito sempre não. Ela quer mais, o mais que nunca demonstrou que desejava e o mais que nunca soube se ele seria capaz de lhe dar. O mais que a enche de vida, que rubra a face, esquenta as mãos e faz as veias saltarem animadas na expectativa de ver a porta abrir a qualquer momento. As cartas se acumulam, as folhas caem no chão e as do calendário caem igualmente, arrancadas com raiva de tanto esperar por algo que ela sabe que nunca vai chegar - mas que, mesmo assim, espera.

Nas suas mãos, um bilhete amassado; no seu coração, partes de um todo desmoronado. No papel amarelado, a tradução de um sentimento em cacos. No papel, amassado, velho e meio apagado, duas frases: "Você não veio amor, você já me esqueceu."

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dura Na Queda

Perdida
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural


Esquinas
Mil buzinas
Imagina orquestras
Samba no chafariz
Viva a folia
A dor não presta
Felicidade, sim


O sol ensolarará e estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

O sol ensolarará e estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas


Bambeia
Cambaleia
É dura na queda
Custa a cair em si
Largou família
Bebeu veneno
E vai morrer de rir

Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chorar


O sol ensolarará e estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol,a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

O sol ensolarará e estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol,a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

Você Já Me Esqueceu


"Você já me esqueceu
E eu não vejo um jeito de fazer você lembrar
De tantas vezes que eu ouvi você dizer
Que eu era tudo pra você

Você já me esqueceu
E a madrugada fria agora vem dizer
Que eu já não passo de nada pra você
Você já me esqueceu"