quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Um vinho, uma vírgula, o ponto: o porvir

Um dia eu juro que ponho um ponto final nessa loucura que há tanto me atormenta, que me quebra em dois e me provoca e reinventa inteira. Prometo que jogo fora as recordações - que não são mais físicas, se reduzem ao ilimitado campo da memória -, que aprendo a escrever sem evocar cheiros e sem mencionar as palavras olhos e perfume. Um dia aprendo a bailar sozinha no ritmo da música, com a garrafa de vinho na mão, sem procurar no vazio do vento um outro corpo que jamais encontrei. Um dia eu porei pontos, todo dia sabendo que a hora está cada vez mais próxima. Enquanto isso, abuso das vírgulas que nos permeiam na dança das intenções implícitas, marco livros de poesias que falam de vagos olhos e línguas e passados e futuros. Enquanto isso, confundo as letras, me perco nas frases que nunca disse, encontro novos símbolos em cada reticência despretensiosa. Adio a despedida como quem tem consciência da sua incontestável proximidade.

Um dia eu juro que ponho fim nesse amor. E afogada na angústia de ter que me obrigar a esse momento, ponho a cada dia um pouco mais de fim em mim mesma.

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