segunda-feira, 19 de maio de 2014

Voltar (ou tanto tempo depois)

Mais uma segunda-feira.

Voltar e te encarar depois de tanto tempo, ainda confessor dos meus maiores segredos. Voltar e ler em ti os mesmos sentimentos, tão conhecidos e ao mesmo tempo tão novos ao serem relidos através da luz de um sol poente. Te reler sob as mesmas árvores, o mesmo banco. Te ouvir sendo meu eco, como se estivesse logo ali do outro lado da mesa. Ter que deitar para olhar por baixo as folhas embaladas pelo vento do fim da tarde que me sopram tudo o que já te disse e que jamais permaneceu em segredo. Ler em ti as tão velhas novas angústias diárias, o amor tão desfeito, refeito e malfeito. Te beber inteiro em um só gole, sem jamais me saciar nem me dar um porquê. Voltar pra ti, depois de tantas folhas jogadas fora, tantas canetas gastas, tantas músicas mal empregadas, tanto pouco sofrimento mal sofrido, depois de tantos outros amores. Te ver abrir os braços, poder quase sentir teu cheiro, e me aceitar de volta mesmo depois de tanto tempo posto fora. 
Tanto tempo imaginei o que te escreveria ao voltar e nenhuma palavra restou. O cursor permanece piscando, reticente, como há cinco anos. Falta tanto que ao escrever no diário só sobrou a frase "hoje fiz sopa". Falta tanto quanto a falta que me fazes. Falta tanto quanto ter que te escrever mensagens cifradas para dizer que tudo vai voltar ao seu lugar. Falta tanto quanto poder te escrever tudo o que senti nesses últimos dias e meses e ano. Desaprendi as despedidas, fico cada vez pior na arte de te dizer adeus. Meu texto não termina, e só me resta te dizer que hoje fiz sopa e que, mesmo que eu não volte mais, vai ficar tudo bem. Pelo menos é isso que me convenço diariamente.

É só mais uma segunda-feira, dentre tantas outras que virão...


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