terça-feira, 6 de julho de 2010

Janela

Ela espera, observando a rua vazia através da janela. Ela vê a neve esbranquiçar o pátio, o sol sair, as folhas caídas pela grama verde, o desabrochar das flores... E o tempo vai passando. Ela espera, mesmo sem nunca ter declarado que lhe esperaria, não deixa um dia de ir até a janela e se flagrar fitando os carros que param por aí, na esperança de ver aquele rosto descer de braços abertos e malas na mão.
Ela espera mesmo tendo dito sempre não. Ela quer mais, o mais que nunca demonstrou que desejava e o mais que nunca soube se ele seria capaz de lhe dar. O mais que a enche de vida, que rubra a face, esquenta as mãos e faz as veias saltarem animadas na expectativa de ver a porta abrir a qualquer momento. As cartas se acumulam, as folhas caem no chão e as do calendário caem igualmente, arrancadas com raiva de tanto esperar por algo que ela sabe que nunca vai chegar - mas que, mesmo assim, espera.

Nas suas mãos, um bilhete amassado; no seu coração, partes de um todo desmoronado. No papel amarelado, a tradução de um sentimento em cacos. No papel, amassado, velho e meio apagado, duas frases: "Você não veio amor, você já me esqueceu."

Um comentário:

  1. Lindo demais Gaby. Fez-me sentir o sentimento de corpo inteiro. Como as coisas do dito "coração" mexem com a gente, mesmo sem querer, mesmo sem saber. Questão de instante, de momento, de minuto, de cheiro, de pele, de voz. Não existe explicação, não existe racionalidade. É sentir-se grande demais, comprimido demais. Angustiado e feliz. Nervoso e risonho. Tudo sempre ao mesmo tempo.

    Bjssssssssss

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