segunda-feira, 6 de junho de 2011

Vidro

O frasco de perfume se partiu em mil pedaços ao encontrar o piso frio daquele quarto. Sem saber porque, ela desmoronou em prantos ao se deparar com os cacos misturados com o líquido que agora infestava todo o ambiente. Chorava pelo perfume, segurava com apego a tampa, juntava o vidro estilhaçado e temtava entender o motivo de tamanha importância dada ao frasquinho da tampa vermelha. Subitamente, compreendeu que, ajoelhada no chão, agrupava sobre o jornal os cacos de um amor que há muito se desfizera dentro de si e que se conservava unicamente pelo presente dado naquela semana. Ela tentara resistir àquela demolição, mas o coração nunca se deixa controlar pela racionalidade e toma os caminhos que bem quer. Ela chorava, segurando com força o último resquício daquele amor perdido que ela lastimava ter que deixar, o amor construído pelo apego e firmado na insegurança. O pequeno vidrinho era a última união que restara entre os dois e era a maneira que ela havia encontrado de ainda se prender a ele, de ainda se fazer pensar nele; somente com o cheiro que ele escolhera ela ainda se sentia presa por algum fio de compromisso.
Quebrou-se o vidro, ele estava lá, viu tudo, ajudou a catar os cacos e a consolar o que sobrara dela depois daquela tarde de domingo. Ele não sabia que ela chorava pelo fim dos dois, pelo fim que ela tentou evitar mas sempre soube que não conseguiria. Ele não sabia que dentro daquele quarto escorriam pelo chão as últimas gotas do amor que ela tentava preservar, mesmo convicta de que ele já não estava mais lá.
E o amor se foi. Como o perfume que evaporou e sumiu sem deixar rastros.

Um comentário:

  1. Ah, cara, dá uma alegria entrar no teu blog! Sempre tem textos lindos, mas esse me ganhou por inteira.
    Parabéns, Toothy, continua incrível!

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