quinta-feira, 9 de junho de 2011

Lentes

Mantenho o hábito de lustrar as lentes dos óculos de grau com um guardanapo de papel, toda vez que estou sozinha em casa. Não porque a sujeira me perturbe a visão ou pelos pingos de água que caem acidentalmente e deixam pequenas manchas translúcidas nas lentes não me agradem ao me fazer ver um mundo furta-cor. Não protejo meus óculos da sujeira, apenas deixo meus vidrinhos preparados para a rotina. 
Ao chegar em casa, ele carimba com o nariz a esquina das lentes, como se quisesse beijar os meus olhos que, de certa forma, se escondem. Quando chega, deixa sua marca nos meus olhos enquanto me beija, enquanto me abraça, quando não consegue calcular o tamanho exato da distância que nos separa ou da proximidade que nos une. Enquanto está fora, tenho comigo sempre um beijinho à mão, disponível, palpável, carinhoso. Tenho sempre um beijo nos olhos caso queira dormir, tenho sempre uma marca para me fazer companhia nos passos e nos sonhos - pois também não tiro os óculos quando quero dormir no sofá durante a tarde.
Quando está próximo o horário da volta, vou à cozinha e busco o papel para refazer meu pequeno ritual. Purifico meus olhos e limpo os velhos beijos para esperar o novo que, em breve, chegará. Quando ele chega, me carimba com o nariz e enche meus olhos de beijos acidentais. Me espalha a rotina pela casa, dá sentido aos guardanapos que, misteriosamente, se vão tão rápido. Faz minhas manias deixarem de ser secretas e faz minha loucura aparentar algum sentido.
O sentido de te buscar a cada dia.

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