sexta-feira, 10 de junho de 2011

Cobertor

Não há briga que resista à cama. Não há magoa que perdure a noite inteira, não há orgulho que resista ao frio e à divisão das cobertas. Casal que briga à noite é o casal que dorme separado, onde há a ira das portas batendo, das feras esbravejando e não a necessidade de dividir o mesmo cobertor. Casal que dorme junto briga durante o dia e recompõe a paz durante o sono. Costuram a paz com suspiros, bordam o perdão com braços que acidentalmente se tocam ao longo da noite, emendam o sorriso no rosto com os pés que se encontram para vencer a noite fria. Não há casal que resista ao perdão do sono, não há briga que consiga durar depois que, vencendo o orgulho e a teimosia, os dois se encontram abraçados logo ao despertar. O coração dá o seu jeito de conciliar os ânimos: dribla a fúria com o sono, dribla o orgulho com o frio. Na manhã seguinte, resta o pedido de desculpas e já não há mais sentido em questionar quem estava errado. 
O coração também sabe anestesiar a memória.

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