quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Fora do eixo - ou voltando a ser Tereza

Escanteio a crescente pilha de projetos que me encaram enquanto retomo livros velhos de poesia. Absorta na segunda releitura do mesmo romance, perco as horas escrevendo mentalmente muitas páginas sobre a poesia que me desconcerta e o amor descrito que me maltrata. Encontro-me novamente sendo Tereza, que carrega um livro debaixo do braço como um código secreto para outra realidade possível, a mesma que bate à porta trazendo consigo todas as bagagens do mundo e um coração desfeito. Ainda a mesma Tereza que rabisca incessantemente poesias pelas pernas, pelos braços, pelo dorso nu, para finalmente convencer-te a findar o péssimo hábito de interromper pela metade as leituras - dos livros, dos corpos. Ainda que Tomás, ainda que a proximidade não signifique o pertencimento, ainda que adormecer no sofá não seja a porta de entrada para um novo - e teu - mundo. Ainda que estar lado a lado possa não representar absolutamente nada.
Continuo sendo Tereza: rabiscando-me, explorando-te. Desenho em mim toda poesia que os autores dedicaram, sem saber, ao cheiro da tua pele e ao hálito dos teus beijos. E quanto mais te procuro, mais me perco e me desencontro e desespero. Quanto mais te aprisiono, mais te esvais. E mais aumenta meu desconcerto pelas histórias nunca contadas, as memórias nunca ditas, os amores jamais compartilhados. Como meu Tomás, te espero resignadamente decidir voltar - mesmo que jamais tenhas partido.

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