segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Segundos Erros (ou Primeiras Observações)

[O amor cega]

O amor nos cega e assim percebo que os pais são condenados a nunca ver seus filhos crescerem.  A eterna infância dos nossos é a sina da vida de qualquer pai. 

Ontem a Helena chorou por manha pela primeira vez, queria colo. Há alguns dias, tomou suco pela primeira vez. Há umas semanas, sorriu pela primeira vez. E há algumas outras semanas, ela mal tinha nascido. Ela já dorme as noites inteiras, já consegue pegar os próprios brinquedos, já tenta segurar a mamadeira, já se expressa e consegue se fazer entender. E para mim ela ainda tem aqueles nem dois quilos e meio.
Só consigo perceber que ela cresceu quando vejo algumas fotos. Ou quando alguma roupa tem que ser rebaixada à gaveta das que já deixaram de servir. Só consigo perceber que ela está maior quando alguém me diz isso, ou todo início de mês quando ela é medida e pesada pelo médico. Os atuais cinquenta e seis centímetros não me parecem nada maiores do que os quarenta e quatro com que nasceu - praticamente ontem. 

Só consigo perceber que ela está crescendo com o último pacote de fraldas "P" indo embora.
Observo claramente todos os passinhos do seu desenvolvimento, mas não consigo vê-la crescer. Consigo vê-la sorrir, puxar uma cordinha, seguir com os olhos alguém que se movimenta pela sala, a atenção com que se fixa nos desenhos na televisão e nas músicas que ouve. Consigo vê-la ficar pequena para todas as roupas, o meu colo ficando pequeno para bracinhos que esticam tão rapidamente, consigo ver o calor dando as caras e as pernas já não tão magrinhas ficando de fora. Consigo vê-la acostumada ao banho, ao leite, à rotina, mas não consigo enxergá-la nem um centímetro maior do que quando pus os olhos nela pela primeira vez.

Quase três meses já se passaram. Parece pouco, mas juro que foi ontem mesmo que ela nasceu. Juro que foi ontem, quando cheguei em casa, que mal conseguia fazer caber uma fralda mínima naquela pessoa tão pequena e frágil. Juro que foi ontem que os banhos tinham que ser corridos, pois de tão magrinha ela perdia calor com muita facilidade. Juro que não faz mais de uma semana que descobri que estava grávida, que não faz mais de alguns dias que minhas calças deixaram de servir e que os pacotes de bebê começaram a chegar em abundância. Juro que não passei mais de umas horas com os olhos fechados e cá está ela, crescendo. Cochilei durante a noite e acordei com ela já desse tamanho, tenho certeza que foi só uma soneca. E em mais uma piscada pesada de olhos, provavelmente ela estará com três, com treze, com trinta anos. Talvez seja por isso que nunca deixemos de ser os bebês dos nossos pais. Eles estão apaixonados demais para nos ver crescer.
Mais do que nunca entendo quando minha mãe disse que parece que foi ontem. Deve parecer mesmo.

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