quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Primeiros Erros

Primeiro veio a necessidade de alimentar, a preocupação com a saúde, o cuidado com as fraldas. Depois veio o conhecer, o decifrar daquela pequena criaturinha de grandes olhos que me encaravam franzidos ainda desacostumados com a claridade do nosso mundo. Veio a ansiedade com doze longos dias de hospital, a insegurança ao levá-la para casa e me julgar incapaz de zelar por aquela pequena indefesa. Sobravam planos e certezas, nunca me passou pela cabeça que as coisas poderiam não sair exatamente da maneira como planejei. Mas depois de tantos cuidados, entre mamadeiras e fraldas e roupas e banhos, algo ainda estava incompleto. E, em um desses longos dias onde me flagrei pasma com a maravilhosa sensação de perceber a pequena moça a quem o destino havia me confiado a vida, consegui finalmente encontrar o espaço ainda vazio.
É do meu feitio planejar, mas a vida não é lugar para vidas linearmente organizadas e perfeitamente dispostas. Helena nasceu desafiando meus planos e eu teria aprendido um pouco mais rápido caso fosse menos resistente e teimosa. Decidiu vir ao mundo (bem) antes do tempo. Já havia me programado para o nascimento, então no dia que fui à médica e saí do consultório com a notícia de que, aos oito meses de gestação, ela não passaria daquele dia, pirei. Depois do nascimento, os planos de trazê-la imediatamente para casa foram igualmente frustrados pelas lições que ela, que acabara de nascer, já teria que me dar. Foram doze dias de internação, encarando firmemente o quarto verde, decorado e vazio. Foram doze dias intermináveis de conversas com enfermeiras, sentada numa poltrona preta em uma pequena sala onde ficava a morada provisória da mocinha. Sutis goles de paciência que eu bebia à força. Em casa, a decisão de dormir no seu próprio quarto foi desaconselhada pelos médicos (e mais uma das minhas determinações pelo ralo) pois prematura ela precisaria de cuidados especiais.
Foi então que, num desses longos dias de que já falei, pude finalmente me dar conta do que faltava em todos os meus planos e em mim. O que faltou nos planos foi rasgar os planos. O que faltou em mim foi espaço para a intuição, para deixar o coração na mão, para me entregar a um amor que eu não saberia como mensurar ou mesmo como explicar. Faltou em todo o meu planejamento deixar espaço para o amor. Faltou deixar o amor fluir naturalmente, ditar seu ritmo, fazer sua parte. E foi encarando enquanto ela dormia tranquilamente que me veio a certeza de que a maior prova de amor é o improviso. É deixar o amor falar mais alto. É dar importância, além da alimentação e das fraldas limpas, ao tempo. É valorizar cada descoberta, cada minuto. O amor constrói a confiança, a segurança, a tranquilidade. O amor engrandece o maior dos amores, alimenta a felicidade. O amor improvisa e não se cansa de acertar.

P.S. E ontem ela já dormiu no seu quarto.

3 comentários:

  1. Impossível não se emocionar.

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  2. Esses olinhos ainda vão nos ensinar muita coisa, né?
    Fico tão feliz de te ver assim, tão feliz de ver a familia linda de vocês.
    Meu coração tá sempre ai, sempre!

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  3. Gabiiii, que coisa mais linda!
    Chorei. To trabalhando, nao me faz mais passar vergonha! Affff!

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