sexta-feira, 11 de julho de 2014

Interminável Escuridão

Passei a noite em claro, encarando a lua cheia que banhava a janela, para organizar tudo que preciso te dizer, de uma forma mais ou menos coerente. Contar como as noites se tornam especialmente silenciosas quando não contam com a melodia tranquila da tua respiração ao dormir, enquanto contabilizo estrelas cadentes. Contar como me envolvo em histórias de todos os tempos e todos os personagens, mesmo sem querer, para te perceber em cada romance frustrado e te descobrir me esperando na minha próxima contradição. Contar que toda profundidade de olhares, memórias, aromas e gestos torna-se superficial quando projetadas à nossa tão entranhada relação.
Joguei pequenos punhados de areia pela janela do sétimo andar, uma para cada pendência a resolver. Poderia ter soterrado o mundo nessa noite. Joguei um punhado para cada amor passado, para cada caminho que percorri e para cada atalho que me fez chegar até teus olhos, tão distintos de todos os olhos que já haviam percorrido minhas marcas e o meu corpo. Teus olhos que não se esquivam de me encarar e não deixam um momento de me dominar. Para minhas turbulências individuais, mais um punhado de areia, que se esvaiu lentamente entre os dedos. Sei da minha constante retomada do passado, sei das tuas objeções e sei das nossas diferentes percepções. Sei ainda que poderia escrever hoje de forma menos superficial do que faço.
Prometi que não me estenderia ao amanhecer. Olhei para baixo, toda a terra quase imperceptível pela altura. Eu não tinha medo da distância que me separava do solo. Findo o arremesso, pois não sobrara grão de areia, restava arremessar as flores, os frutos, as folhas repletas de distintos aromas. Cogitei juntar meu corpo aos punhados atirados ao vento. Me lancei sobre o parapeito, mas impediu minha visão o primeiro raio de sol. Na cama teu corpo, teus olhos que cerrados não expressavam todo o impacto que tinham sobre mim, tuas mãos conhecedoras de cada vinco do meu ser. Dormir, ao teu lado, mais uma noite. Sem os demônios que atormentam, sem os dilemas que angustiam, todos desprezados feito porções de terra ao vento do sétimo andar. Ao menos até o sol se por outra vez...

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