O Grito

Tudo preso na garganta. Todas as frases pela metade, milhões de pensamentos sobrevoam sem saber exatamente onde se encaixar, minha covardia esconde todas aquelas palavras que queria soltar, sem ordem, sem raciocínio, sem lógica. As palavras que ficaram trancadas, que estão engasgadas e me sufocam, me fazem acordar no meio da madrugada sem ar. Eu faço tudo pela metade. Se fosse mais corajosa, teria dito desde o início tudo que eu penso e que fiz. Se me importasse um pouco menos contigo, teria falado tudo que não me agradava e enumeraria os milhares de motivos que me levaram a fazer o que eu fiz. Se não tivesse nem aí, se, se. Tudo que eu escrevo é condicional. Se tivesse feito tudo diferente, se tivesse dito. Não posso voltar no tempo, então deu de condições.

Agora vai ser diferente, não quero mais falar baixinho dos meus sentimentos. Não quero mais esconder minha frustração. Não vou mais deixar de lado as coisas que me incomodam. Não vou me submeter nem vou me entregar. Agora eu vou falar alto. E cala a boca porque eu tô falando, porra! Eu vou gritar até te enlouquecer e te fazer enxergar. Vou te ensurdecer, vou gritar tudo que está aqui dentro, engasgado, trancado, contido. Eu vou perder a noção, vou perder os limites, vou bancar a doida. Mas, pelo menos assim, tu vai ser obrigado a me escutar. O meu grito vai ser tanto, mas tanto, que vai ensurdecer uma rua inteira, e tu não vai ter mais como fugir. Nessa hora, vai ser obrigado a olhar pra dentro e ver que não foi só um lado o culpado.
E ah, não vou mais sentir pena, muito menos dos teus ouvidos, tu que nunca teve pena do meu coração.